12 de junho de 2012

Portugal não ficará imune ao que se passou ontem

Quando Portugal terminar o programa de assistência, mais de 50% da dívida soberana estará nas mãos de organismos oficiais: FMI, BCE, EFSF/ESM.

A fazer fé na reação que os investidores privados tiveram ontem com o anúncio do resgate à banca espanhola, no dia que se falar em reestruturação da dívida em Portugal, acreditamos que os privados fugirão a sete pés. E porquê?

Como escrevemos ontem, a classe política decidiu unilateralmente que as obrigações soberanas detidas por estes organismos oficiais não sofrerão haircut em caso de default soberano, ficando os prejuízos todos do lado dos privados.
Esta imoralidade jurídica foi aplicada no default da Grécia em Março de 2012 e ontem surgiram notícias que o mesmo se aplicará com as obrigações que o EFSF/ESM comprará a Espanha.
Itália foi o alvo imediato, acompanhando a par e passo as quedas dos indicadores financeiros espanhóis.

Mas Portugal não ficará imune a esta condição. Ninguém quer ficar na fila de espera para entrar no bar da última moda quando tanta gente passa à frente com o consentimento do porteiro.

A única coisa que poderá aliviar a tensão aos investidores de obrigações portuguesas é que a maior parte delas estão denominadas em english law, o que lhes confere mais direitos numa eventual litigância internacional em caso de incumprimento por parte da República.
Mas acreditamos que poucos quererão ir para a litigância, à excepção de alguns fundos especializados nessa matéria, como já explicamos aqui. O investidor comum mortal rapidamente perceberá que estará a remar contra a maré e com custos muito elevados, sendo que o melhor é saltar fora o mais depressa possível.

Ficaremos assim ainda mais dependentes do dinheiro das autoridades europeias e das suas condições de planeamento centralizado.

Para aqueles que, como nós, acreditam que uma das condições para Portugal se expurgar deste jugo será a reestruturação/default da sua dívida pública, essa opção fica cada vez mais distante, e se um dia chegar a acontecer, será um total caos, porque bastará um passarinho (rumor) informar os investidores de que a reestruturação vem aí, que nenhum, mas mesmo nenhum, quererá ficar na fila de espera. Como já escrevemos aqui, por cada dia que passa em que adiamos o inevitável, julgando que estamos a resolver os problemas, não percebemos que na tentativa de resolver uns estamos a criar outros ainda maiores, tornando o dia D cada vez mais doloroso.

Será um caos desordenado e imprevisível.
Por falta de coragem política, que é o que mais caracteriza a nossa elite, mais amarrados ficaremos a este jugo europeu.

Esta é uma das muitas consequências indiretas que não foi claramente pensada pelos líderes europeus no fim de semana. Não os responsabilizamos por não se terem lembrado, porque não são génios, mas responsabilizamo-los por julgarem que conseguem governar, planificar e prever tudo, como se a complexidade de uma economia com 500 milhões de pessoas estivesse ao alcance do seu intelecto.
É uma autêntica quimera que só pode resvalar em pesadelo.

Tiago Mestre

7 comentários:

Vivendi disse...

Temos um plano B. Padrão-ouro.

vazelios disse...

Meus caros:

Tudo bem, por mais que me custe, também concordo e estou farto de ver desde há 3 anos este tapa buracos que na realidade só os escava ainda mais.

Haircut, saída do Euro, dissolução do estado social tal como ele está, tudo o que vocês quiserem. Apenas um desses aspectos ainda estou relutante em aceitar: A nossa saída do Euro. Porque as consequências são dramáticas, e a permanência no Euro sinceramente não consigo quantificar as consequências e assim determinar qual a melhor solução.

Mas atendamos então ao vosso cenário: Haircut, saída do Euro, completa revolução social, e depois?

Que tipo de revolução social teremos no país? E as nossas poupanças? Valerá a pena ter o dinheiro por exemplo em Francos Suiços? Comprar ouro?

E se tal cenário acontecesse com Grecia, Portugal, não serão outros países arrastados? Todos têm dividas monstruosas, que tipo de caos será?

Depois ainda teremos de aturar os dramas dos EUA, que com a Europa fora de jogo, as atenções vão-se virar para eles. E aí como será?

É que eu não sei. E gostava de saber o que posso fazer para pôr diminuir o meu choque.

Abraços

Vivendi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivendi disse...

Viva Vazelios,

É tudo uma questão de pessoas. O maior problema está nas pessoas e não nas soluções económicas.

Quando as pessoas optam por caminhos fáceis em determinado momento sabe-se que mais cedo ou mais tarde virá um custo acrescido.

O € poderia perfeitamente ter funcionado como o padrão-ouro, só que ninguém esteve a altura para respeitar os seus princípios, nem políticos, nem cidadãos.

Enquanto a maioria das pessoas não procurarem esclarecer-se a fundo sobre os mecanismos da economia não haverá verdade e uma cultura mínima de exigência...

Quanto à diminuição de choque, creio que ainda estamos numa fase em que a principal atitude é ter o dinheiro disponível (à ordem).

Quem tiver reservas com montantes significativos, pode distribuir por: várias moedas, comprar prata e ouro, investir no estrangeiro, joías, arte, apostar em comodities, angel business...

Apesar da gigantesca ignorância seria mau demais para o mundo um colapso desordenado do €.

Abraço!

vazelios disse...

Eu percebo minimamente disto, e não consigo escrutinar um fim a este enredo.

Amigos meus formados noutras áreas continuam completamente a leste do que se passa. Sabem o que passa na imprensa e nos tais programas televisivos (não costumo ver o pros e contras, devo ter perdido muito ontem!).E como tal, têm o seu conhecimento acerca disto completamente desnorteado com tanta opinião contrária, ainda por cima mal formada. Eu prefiro vir aos meus blogues :)

E se pessoas com um minimo de educação continuam a leste do que se passa, imaginem os 70% da população Portuguesa que não tem ensino secundário completo. É a desordem geral.

Iria levar décadas, talvez meio século, para que a população Portuguesa tivesse literacia financeira suficiente para poder opinar decentemente.

Só me apetece viver em vila do bispo e esperar pelo tsunami.

Obrigado Vivendi!

T disse...

Não vai demorar muito tempo, até se dar conta, que não se pode dar nada em troca de tudo. Nem que para isso continue a mesma incerteza só que de outra façon, para saber viver nessa situação será preciso agradar a parte dos nadatudescos que nos trouxeram até aqui e continuar a mandar as culpas para cima do pueblo, que não tem para onde mais as atirar (Deus, destino, etc).

Anónimo disse...

Comprem ouro enquanto está barato. As rotativas vão imprimir e a massa monetária vai aumentar ainda mais até Novembro de 2012... depois, é o salve-se quem puder.