18 de junho de 2012

Mercado de obrigações soberanas: noções básicas

Ouvimos hoje no início do programa Olhos nos Olhos João Semedo dar um lamiré sobre os juros das dívidas soberanas. O homem meteu logo os pés pelas mãos, mas não nos espanta nada. O assunto é complexo. Daremos aqui uma breve explicação.

MERCADO DE OBRIGAÇÕES SOBERANAS

Exemplo:

1.Estado português coloca à venda num leilão uma obrigação com valor de 100€ e maturidade de 1 ano.

2. Os credores fazem as suas proposta com o juro que acham o adequado. O Estado quer pagar o MENOR juro possível e o credor quer receber o MAIOR juro possível. A lei da oferta e da procura gera o preço do dinheiro: o juro. Vamos pressupor que o juro acordado é de 5% ao ano.O devedor fica com a obrigação de repor o capital (100€) e o juro (5€) no prazo de 1 ano, ou seja: 105€

3. O credor pode ficar com a obrigação ou tentar vendê-la no mercado secundário (disto não temos certeza). O mercado secundário funciona como uma bolsa: o preço das obrigações pode subir ou descer em função da perceção de risco dos investidores. Desde que haja liquidez, a formação de preço é constante.

4. Se a perceção de risco sobe, haverá mais gente a querer vender e menos gente a querer comprar. A obrigação que foi colocada no mercado por um valor facial de 100€ pode começar a descer para 90, 80, 70€. 0€ é o limite. O contrário também ocorre. Uns perdem, outros ganham.

5. Contudo, os 5€ de juros que o Estado se comprometeu a pagar ao credor no leilão primário continua em vigor, transitando esse ressarcimento para o investidor que detêm agora a obrigação. Grosseiramente, é como se fosse uma espécie de dividendos das ações.

6. Se hoje adquirirmos uma determinada obrigação no mercado secundário por 50€ que valia na sua emissão em leilão 100€, o ressarcimento dos 5€ em juros corresponderão a uma yield de 10%. A yield duplica apenas e porque o preço da obrigação caiu para metade. É assim que vemos as yields subirem para 7%, 10%, 100% ou 1000%.

À medida que o preço vai caindo por escassez de procura ou excesso de oferta, as yields sobem sem parar. Foi assim em 2010 com a Grécia e a Irlanda, 2011 com Portugal e 2012 com Espanha e Itália.

Preço [€] Yield [%]
   
100 5
80 6,25
66,67 7,5
50 10
25 20
12,5 40
6,25 80
3,125 160
1,5625 320
0,78125 640

Se estão com dúvidas ou se estamos a falhar nalgum ponto, não hesitem.

 Tiago Mestre

1 comentário:

Ricciardi disse...

Agora, coloque a possibilidade de shortar as bonds... e segurar (cds) as posições que elas próprias podem ser negociadas. Os interesses em sentido contrario são tantos que as cotações apenas dependem da qualidade dos investidores principais (poder dos market makers) que intervem no mercado. A cotação das bonds depende apenas do lado em que os market makers estiverem posicionados e NADA com o mérito intrinseco das bondas ou das politicas economicas subjacentes.
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Tudo depende, afinal, da percepção de alguns em perceber aonde podem ganhar mais dinheiro. Apostar na subida ou na descida? Curto ou Longo?
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Se os estados derem sinais INEQUIVOCOS de que, através do BCE, adquirem BONDS no mercado primário, todos os market makers deixam as suas posições Curtas e passam a Longas, valorizando as BONDS.
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Mas não. Pretendem continuar nesta fantochada em ir ao mercado secundário suportar a especulação mais básica que não serve os interesses dos estados nem da verdade da situação.
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Rb
Rb