Ouvimos de manhã na Antena1 que o Daily Telegraph anunciava uma aprovação pelos líderes europeus de um fundo de resgate com capacidade para 700 mil milhões de euros para adquirir diretamente obrigações italianas e espanholas no mercado secundário.
Não foi referido, mas pelo valor anunciado ficámos com a impressão de que o tal fundo só poderia ser o ESM. Mas este ainda não foi aprovado pelos parlamentos e necessita de 80 mil milhões de euros de capital próprio, dinheiro que ainda não foi entregue pelos Estados-membros. Estamos curiosos para ver como é que a Itália e a Espanha irão contribuir para a constituição deste fundo.
Ouvimos a notícia e ficámos na dúvida se seria mesmo verdade. Este tipo de rumores "oficiais" são mais da estirpe do FT Deutschland ou do Guardian, verdadeiros porta-vozes do bullshit político europeu. Como foi o Telegraph, enfim, aceitámos a informação como sendo verdadeira.
Veio à memória o que escrevemos num post anterior, em que a Merkel merecia um beijo caso não cedesse às pressões de Obama no G20. Aparentemente cedeu e portanto já não merece o beijo.
O dia foi passando e ao fim da tarde começaram a aparecer alguns desmentidos:
- Ouvimos na Antena 1 que a Comissão Europeia desconhecia a existência deste plano de resgate
- O 1º Ministro finlandês já veio dizer que recusa o uso do EFSF e do ESM para comprar dívida
E não tarda teremos alguém da Alemanha a referir que nada está decidido sobre essa matéria, e realmente não está. O ESM ainda não foi constituído, faltam as aprovações parlamentares, os 80 mil milhões ainda não existem, a Espanha e a Itália terão que "arranjar" o dinheiro, etc, etc.
Não sabemos se o Telegraph foi enganado pelas suas fontes, mas fica mal na fotografia ao publicar uma notícia de extrema importância que influencia a formação da opinião pública e dos mercados.
Tivemos o cuidado de ler a notícia na edição online do Telegraph e o jornalista não refere qual foi a informação concreta que as fontes lhe passaram. Fica apenas a ideia de que o jornalista inferiu pelo comunicado do G20, pelo otimismo de Cameron numa curta declaração e por mais alguma informação off the record, de que a aquisição de dívida espanhola e italiana seria uma realidade no curto prazo.
Parece-nos muita parra e pouca uva, mas a julgar pela queda das yields de Espanha e de Itália ontem e hoje, talvez os mercados de dívida saibam (ou acreditam saber) alguma coisa que agente ainda não sabe, ou nem querem que saibamos... já!
O tal cheiro a napalm logo pela manhã parece que acalmou um bocado a malta.
Tiago Mestre
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