25 de junho de 2012

Já temos novo Ministro Europeu das Finanças: George Soros

Ouvimos com bastante atenção uma entrevista que George Soros concedeu à Bloomberg, disponível aqui.

O timing da entrevista é curioso: 3 dias antes da cimeira
O tema da entrevista também: como deve a UE reagir ao problema da Espanha e da Itália
E o plano parece demasiadamente bem delineado: Criação de um tesouro europeu, gerido pelos ministros das finanças


Quem ouve este senhor pode ficar na dúvida se não será ele o orador principal da próxima cimeira.


George Soros informa-nos que a solução para conter o problema da crise financeira na Europa é esta:

Face à inexistência de uma União Fiscal Europeia, urge criar uma. O bébé nasceria com criação de um Fundo, apoiado pelo ESM ou outro, denominado Tesouro, gerido pelos ministros das finanças da UE, e que poderia adquirir dívida italiana e espanhola aos mercados. E como? Através da emissão de bilhetes do Tesouro de curto prazo, no máximo 1 ano de maturidade, que seriam vendidos ao mercado de dívida planetário. A yield esperada da venda destas obrigações seria de 1%, e com esse dinheiro comprariam a tal dívida espanhola e italiana. Esta compra massiva de dívida soberana puxaria as yields dessas mesmas obrigações para baixo. Com esta política firme por parte da UE, e tendo sempre o BCE como comprador de última instância, os investidores voltariam a percepcionar que o risco de default não se colocaria a estes países, e por confiança no sistema voltariam a aceitar obrigações com yields mais baixas, à semelhança do que acontece com a Inglaterra e com os EUA, onde as yields das obrigações a 10 anos estão abaixo dos 2%.

Com este folga nos juros, os países poderiam novamente pensar em "crescimento económico" sem estarem constrangidos pelo garrote financeiro. 

E posteriormente dar-se-ia a tal integração fiscal da UE, em que as Eurobonds, com maturidades maiores às dos bilhetes do Tesouro, entrariam em ação. Certas leis na área da fiscalidade, impostos e outros tornar-se-iam também comuns.

Com a retoma da confiança dos investidores, os 700 mil milhões de euros parqueados no BCE por investidores internacionais a render 0,25% ao ano poderiam "sair dessa gaveta estática" e entrar no tal Tesouro Europeu a render 1% e ajudando os países em stress.

Confessamos que a arquitetura deste esquema de tesouro é bastante atraente. A convicção de Soros ao falar neste plano faz-nos inferir que os gabinetes em Bruxelas já se deslumbraram por ele. Só falta convencer Angela Merkel. 28-29 Junho pode ser a data.

Mas infelizmente, por trás de grandes arquiteturas financeiras escondem-se sempre grandes falhas, revelando-se normalmente como consequências indiretas quando se parte para o terreno.

E parece-nos, que mais uma vez, é este o caso.
George Soros esquece-se que taxas de juro baixas são a panaceia para que políticos gastem o que têm e o que não têm. Foi com as taxas de juro em valores ridiculamente baixos que Portugal gastou muito (tanto no público como no privado) e que Espanha engendrou toda a bolha imobiliária que agora lhes rebenta nas mãos. O mesmo se passou nos EUA até a festa acabar em Setembro de 2008.

De modo grosseiro, este esquema consiste em empilhar dívida com dívida, mas com a esperança de que a nova dívida tenha juros de 1% e consiga "aniquilar" a dívida atual submetida a juros de 5 e 6%.

Temporariamente até poderemos assistir a uma redução das yields, mas isso é tão só um motivo para que se gaste ainda mais, agravando a dívida no futuro e semeando ainda mais desconfiança.

A intenção de Soros é boa, mas é tão só um mecanismo de transferência de risco de um país membro para a UE como um todo. Também essa transferência tem um limite, e se não for a Alemanha a impô-lo, mais cedo ou mais tarde serão os investidores, mal façam umas contas e percebam o logro.

Por outro lado, Soros não tem em consideração as diferenças culturais dos vários povos europeus, julgando que regras iguais para todos significa cumprimento igual. Foram este tipo de ideias ingénuas e sobretudo ignorantes que estimularam os fundadores da CEE a aprofundar esta ideia de União Europeia, vertida no Tratado de Roma.

Para povos diferentes é imperativo haver leis diferentes, já que estas tentam estabelecer os limites básicos da ética em comunhão com a cultura local, e como todos sabemos, a ética para uns é uma coisa, mas para outros é outra. O subsídio de desemprego é talvez dos casos mais evidentes de como povos com culturas bem diferentes reagem tão diferentemente a regras semelhantes. Para uns é uma vergonha, para outros é a conquista de um lugar ao sol.

A Taxa de Juro que os credores aplicam ao Estado soberano é uma lei tácita, ou seja, é a formação de um preço que analisa a realidade do país, adequando o ímpeto de quem vende e de quem compra. Com o advento do € e do BCE adensou-se complexidade ao sistema, iludindo investidores o tempo suficiente para que estes se amedrontassaem já muito tarde, e os políticos abusassem todo o santo dia desta ilusão dos credores. Para combater o MEDO entrou a planificação centralizada do BCE e da UE. Tentou-se corrigir um erro com outro erro, mas duas decisões erradas não fazem uma certa.

Grandes arquiteturas resvalam sempre em planificação centralizada, e com os regimes fascistas e comunistas  que tivemos no século XX percebeu-se que a "necessidade" justificava o aparecimento destas ideologias que apresentavam uma arquitetura "sem falhas". Mas quando elas foram para o terreno, esbarraram com as milhões de decisões discricionárias que os cidadãos tomam diariamente. Como resposta às decisões individuais que iam contra a política do governo manipulava-se ainda mais a realidade para induzir o povo a trilhar o caminho que o regime desejava. De manipulação em manipulação até à capitulação final.

Tiago Mestre

11 comentários:

Vivendi disse...

Problemas da Europa

1º problema

O problema da UE chama-se China. As indústrias do sul perderam competitividade para quem? As fábricas foram para a Alemanha? Ou desapareceram do mapa e outras fugiram para a Ásia? O grande erro da Alemanha e da França está aqui. Não terem protegido devidamente a agricultura e as indústrias europeias, claro que as indústrias do sul tem menos produtividade, menos tecnologia e menos valor acrescentado, mas a prazo vai tocar a toda a indústria europeia.

2º problema

As matérias-primas e o mercado energético, a era dos preços baratos chegou ao fim, e só é possível combater esta realidade com uma moeda não inflacionária.

3º problema

A dívida na civilização ocidental, entraram na loucura do crédito, bolhas de consumo, tudo baseado na indústria financeira e uma economia de construção e serviços, logo não sustentável a prazo. A receita para se alcançar prosperidade económica é, produzir e poupar, e Salazar sabia-o.

4º problema

O enfraquecimento político e da sociedade civil contra maçonarias, organizações secretas, tráficos de influências e grandes multinacionais, acompanhar aqui a história dos Rotschilds (imperdível a leitura)

http://artedeomissao.wordpress.com/2012/06/09/a-historia-dos-rothschild-parte-1/

Já vai em 9 capítulos.


5º problema

A falta de formação e orientação para uma engenharia social, a maior parte das pessoas vive em decomposição de inteligência, mas estão convencidos que são pessoas dinâmicas porque se sentem inseridas em sociedades modernas.

Sérgio disse...

Pelo que entendi um esquema destes será como baixar a febre de um paciente mas sem tratar a infecção. Claro que é urgente "baixar a febre" o problema está em como tratar a "infecção", não podemos esquecer que o tratado base da união europeia (tratado de Maastricht) previa défice máximo de 3% e dívida máxima de 60% do PIB, se essas regras tivessem sido respeitadas não havia crise, mas nem a Alemanha as cumpriu!
De qualquer forma com um esquema deste tipo poderá haver um alívio temporário... mas lá se vai o restinho de soberania que ainda temos, se bem que pelo (mau) uso que lhe temos dado certamente não notaremos qualquer diferença.

Vivendi disse...

Sérgio,

De acordo.

Enquanto houver capacidade para levar corruptos para o poder não adianta de nada a soberania.

Filipe Silva disse...

Boas Tiago.

Soros de bem intencionado não tem nada, apesar de ter nascido na Europa é Americano.
O que os Anglo saxonicos querem é arrebentar com o Euro, o vivendi tem no seu blog um artigo do Huerta de Soto, onde explica isto mesmo.

Se isto for para a frente é a primeira estocada que vai levar ao fim do Euro e a liquidação da Europa como a conhecemos.

Não existe necessidade nenhuma de um super Estado Europeu, isso são pretensões socialistas, o controlo de todas as sociedades europeias, isto não é os USA.
Se as contas fossem sanas, e não existisse socialismo o Euro estava em grande.

O que o Soros quer é continuar com o regabofe mais uns tempos antes de arrebentarem com a moeda.
Tem de proteger o seu Dólar, que se encontra em estado bem pior que o Euro, mas convêm manter o foco na Europa.

Então o problema é divida, e vai se criar mais divida como forma de resolver o problema?

O que eles querem é impressão há maluca, Deus queira que a Merkel resista, duvido, mas nunca quis tanto estar enganado.

Então por o Estado a gastar vai levar ao crescimento económico? mas os últimos 30anos em Portugal não demonstraram que isso é sub óptimo, e nos últimos 10 anos, por e simplesmente não resulta??


O problema da Europa não é a China, é mesmo o socialismo.
A China vai dar um estoiro mais cedo ou mais tarde, são piores do que nós.



Engenharia social? isso só acontece numa sociedade socialista, numa sociedade livre isso não existe.
Estas merdas dão sempre mau resultado, sempre a beneficiar uns poucos há custa de uns tantos.
A engenharia social meteu Portugal no buraco que está

Mas estamos fodidos, vi ontem um pouco o Prós e contras, bem o prof de historia que la estava e o outro de direito fiscal, demonstraram me que estamos lixados, não percebem nada mesmo do que aconteceu e se perspectiva que irá acontecer.
Achei degradante o gajo dizer que sempre fomos uns pedintes e que temos de continuar a ser..

Vivendi disse...

Filipe,

A China é um logro. Altamente protecionista e a Europa não pode continuar a promover o mercado de forma aberta quando os outros são fechados...

Quando falo em engenharia social é justamente lavar a cabeça das pessoas para sairem do socialismo, dos maus políticos estado social, e essas tretas todas, aprenderem o que é liberddade económica. Os libertários se nada fizerem deixam o caminho aberto para os outros. É importante a divulgação e a formação de novas políticas e políticos

vazelios disse...

De que serve a nossa soberania excepto para pormos bandeiras durante os campeonatos de futebol?

Sejamos realistas

Tiago Mestre disse...

Adormeci exatamente quando o Prós e Contras começou!

Mas vou ver hoje se já estiver na net.

Soros quer salvar a sua pele e o dólar, estou de acordo com o Filipe, mas este menino já deve ter seduzido muita gente em Bruxelas, para nosso mal, claro.

A China anda a mentir muito sobre o seu crescimento. Li há pouco tempo mais um artigo sobre esse mega logro.

O vazelios considera que a soberania é mais um tigre de papel do que outra coisa. Mas a falta dela é algo que os portugueses não gostam e não toleram por muito tempo. Boa ou má, a soberania em Portugal foi conservada durante muitos séculos, e se o foi, é porque nos fez muita falta nos momentos em que nos privaram dela.

Foram poucos na nossa história, mas os suficientes para nos reunirmos como povo e lutar pela liberdade e pela independência. Só é pena que depois não saibamos cuidar delas, nem da soberania, nem da liberdade, mas não há povos perfeitos.

Somos aquele povo que não se governa nem se deixa governar.

vazelios disse...

Tiago já lhe tinha respondido ontem mas não sei porquê o meu comentário não apareceu.

Se calhar o meu comentário anterior foi tão curto que levou a más interpretações.

Acredite que não tenho menos orgulho em ser Português que o Tiago ou o melhor de nós todos. Passo férias cá, compro produtos de todo o Portugal sempre que viajo, já pude emigrar e não o fiz nem o farei em principio.

Mas o que quis dizer é que somos Portugueses de gema para umas coisas, mas Portugueses burros para outras. Onde está a nossa liberdade como povo, a nossa união como Portugueses, quando:

Há greves por tudo e por nada, na NAV e Pilotos em Agosto e natal, greves da CP em horas de ponta, votos consecutivos em quem nos mente e rouba, quando temos 30% de população com secundário completo, alunos completamente selvagens nas salas de aulas, cada um a puxar para o seu lado.

Desculpe lá mas se isso é soberania...nos meus 26 anos de vida nunca nos vi pensar como povo e em prol da sociedade Portuguesa, a não ser em campeonatos de futebol. Aí sim, tudo se junta.

Culpamos a troika, UE, FMI, EUA, anglo-saxões, keynesianos, socialistas, etc etc tudo com muita razão mas não é a nossa soberania e liberdade que nos possibilita a escolha de um rumo?

Mas há alguém que pense no rumo de Portugal? Quando entramos na UE? no Euro? Quando deixamos destruir a nosso tecido produtivo e ninguém disse nada?

Sabe perfeitamente que antes de pensarmos como Portugueses, pensamos como seres individuais, infelizmente. Se não muito provavelmente não tinhamos batido tão no fundo.

Se queremos manter os nossos quase 1000 anos de historia e tradiões, que tanto prezo, temos de começar a pensar como um todo, mas não vejo isso a acontecer. Tanta mas tanta gente já a dizer que o rumo que este governo tomou é errado. Não digo que seja perfeito, mas antes de mandarmos vir convém pensarmos como chagámos até aqui e como podemos sair. Aprender com a historia. Uns não percebem nada e os que percebem não dizem a verdade - Como no prós e contras

Foi isto que quis dizer.

Cumprimentos

Tiago Mestre disse...

Caro Vazelios, em parte estou de acordo contigo: Cuidamos pouco da nossa soberania. Vive cada um para seu lado e estamo-nos todos nas tintas (tb concordo contigo)

Mas pelos vistos já cuidamos muito dela quando nos tentam tirá-la. É paradoxal mas é mesmo assim. Unimo-nos nestas ocasiões e descobrimos forças que desconhecíamos.

Só damos valor à saúde quando estamos doentes, e quando voltamos a estar sãos começamos outra vez a abusar. Somos mesmo assim e é exatamente esta dicotomia que preserva a nossa soberania. Não é perfeito, mas pelos vistos aguenta-se.

Os países que "lutam" muito pela sua soberania acabam por resvalar em nacionalismos, domínios, impérios , subjugação, etc, e depois acabam por perdê-la. O caso da Alemanha é tão flagrante que até mete impressão.

No fundo o que difere a minha opinião da tua é que para mim esta desorganização é um ingrediente importante na preservação da soberania, enquanto que tu consideras que ela não releva méritos, antes pelo contrário.

À primeira vista tenderia a concordar contigo, mas depois de ler Agostinho da Silva acabei por me apaixonar pelos "defeitos" da nossa cultura.

Há coisas do catano

vazelios disse...

Eu percebo o que queres dizer e consigo concordar contigo. Mas não deixo de manter as minhas criticas.

Não é por acaso que te venho ler todos os dias, é porque vais muito mais a fundo nos assuntos (como este especifico) do que a maioria das pessoas, incluindo eu neste caso, e isso é gratificante.

Mas para satisfazer o meu "sonho" de pensarmos como um povo a comunicação social tem de dar o primeiro passo, e ambos sabemos que isso vai ser complicado.

Por falar em comunicação social, tenho estado a ler a historia dos Rothschilds, até que ponto consideras aquilo verdade?

Eu gosto de ver gráficos e dados concretos, agora iluminatis e bilderbergs apesar de saber que existem em parte considero um pouco ficção, não sei...

Abraço

Tiago Mestre disse...

Sou descrente desse papel evangelizador que todos gostaríamos que a comunicação social tivesse.

Os media lutam pela atenção dos cidadãos para que o negócio seja rentável, e se os cidadãos querem festa e superficialidade, é isso que os media devem dar. Podem sempre dar um pouquinho de cultura e saber, mas será sempre lateral. A RTP2 é um caso que dá que pensar.

Sobre os rothschilds, bilderberg, maçonaria, Davos, encontros na selva e outros, faz-me sempre lembrar a maçonaria em Portugal:
Conspiraram para que liberalismo ganhasse ao absolutismo em 1820: conseguiram.
Conspiraram para que a república ganhasse à monarquia, usando até a Carbonária como braço armado: conseguiram.
Pelos vistos agora temos malta das secretas a segredar nas lojas e a tentar influenciar. Deslumbram-se pelo poder e julgam que o têm em muito maior quantidade do que realmente têm. São garotices que não se compatibilizam com a ética dos verdadeiros estadistas.

Mandam regimes abaixo e põe lá outros, mas é todo jogos de elites que lutam pelo poder. Pouco ou nada influencia as massas, daí o meu desinteresse por essa malta.
Quem é patriota e cidadão de corpo inteiro defende os seus ideais de forma humilde e em terreno aberto, sujeito à crítica e à refutação. Quem possui essa força move povos inteiros e transforma para sempre a sua cultura. Isto não vai lá com segredinhos.