3 de junho de 2012

Cuidado com as empresas públicas do Estado. Análise às contas e conclusões de um cidadão anónimo

Sugerimos a Vitor Gaspar que comece já à procura de 1,3 mil milhões de euros para manter as empresas de transporte e outras do setor Estado à tona de água para 2013. Só no primeiro trimestre foram 316 milhões de euros de prejuízo. Ainda faltam os outros 3 trimestres e com os custos de financiamento a subir, talvez 1,3 mil milhões já não cheguem.

Eis as empresas públicas com aparência de privadas:
CP
CP Carga
Metro Lisboa
Metro Porto
Carris
STCP
SOFLUSA
REFER
EP
TAP
NAV
ANA
Arsenal Alfeite
Estaleiros Viana
CTT
e outras que agora nos escapam.
São, na sua esmagadora maioria, empresas deficitárias há décadas, salvo honrosas exceções como os CTT e a ANA.
No tempo do Estado Novo, a CP, por exemplo, já dava prejuízo, 1 milhão de contos em 1973, mas como o Estado tinha superavits orçamentais, todos os anos este passava um cheque para liquidar as contas da CP, mantendo-a como uma empresa de serviço público (tarifas baixas) mas sem estar falida. Não era preciso recorrer a endividamento nenhum. Marcello Caetano explicou muito bem este assunto no seu livro Depoimento.

E eis a CP de hoje, esse lindo exemplo da nossa democracia:
Receitas 2010:     272 milhões euros
Despesas 2010:   467 milhões. É quase o dobro das receitas
Prejuízo 2010:     195 milhões
Ou seja, teve que se endividar pelo menos em 195 milhões de euros só para compensar a diferença e a tesouraria não rebentar.
É assim desde 1975, e o resultado de anos e anos de gestão "pública" perdulária é um Balanço verdadeiramente miserável que deveria envergonhar qualquer gestor digno desse nome:
Passivo de 3,6 mil milhões de euros
Ativo de apenas 1,2 mil milhões.
Ou seja, possui um capital próprio negativo de 2,4 mil milhões de euros. (1,2- 3,6).
A receita anual de 272 milhões de euros é quase dez vezes inferior ao capital próprio. Nem há adjetivo para caraterizar este rácio!

Como é que esta empresa tem condições para se erguer? Não tem.
E já todos sabemos o que deve acontecer às empresas que não repõem os capitais próprios acima de zero após 2 anos consecutivos de capitais próprios negativos. São declaradas INSOLVENTES e deves-lhe ser nomeado um administrador judicial pelo Tribunal para despachar o assunto o quanto antes.

E o Metro de Lisboa?

Receitas 2010:            93 milhões
Despesas 2010:          241 milhões!! As despesas são quase o triplo das receitas.
É caso único, e portanto, um caso de estudo sobre o que NÃO deve ser uma empresa

Prejuízo 2010:            93-241 = -148 milhões de euros. O prejuízo é quase o dobro das receitas.

É mais ou menos assim há décadas! O governo é que dita o preço das tarifas (demasiado baixas) e os gestores que se amanhem em arranjar o dinheiro para cobrir os prejuízos. Toca de se endividarem até à ponta dos cabelos.

E um pormenor muiiiito interessante:
Gastos com pessoal 2010:     87 milhões de euros.
Só em pessoal gasta-se quase a totalidade das receitas, sobram 6 milhões (93-87) para financiar tudo o resto... É assim a gestão da coisa pública em Portugal.

A empresa teve que se endividar em 2010 em pelo menos 148 milhões de euros para se manter à tona de água. Mas como tem que amortizar créditos e juros contraídos em anos anteriores, o endividamento real em 2010 foi de, pasme-se: 433 milhões de euros. Ui!

Balanço:
Ativo: 520 milhões
Passivo: 1178 milhões
Capital Próprio: 658 milhões negativos.
Mais uma empresa do Estado totalmente INSOLVENTE.

2011 não terá sido muito diferente, para não dizer pior, já que os custos de financiamento devem ter aumentado, mas as contas ainda não estão disponíveis na net.

Podíamos continuar com o Metro do Porto, a REFER e a EP, etc, etc, mas os leitores e as leitoras já perceberam certamente a mensagem.

Tiago Mestre

3 comentários:

Vivendi disse...

É um mistério económico quando certas empresas estatais não quebram, mesmo quando o país já quebrou!

Filipe Silva disse...

O Caso do metro do Porto é diferente.

O Estado central não queria realizar o projecto, foi a junta metropolitana que decidiu realizar a obre, financiando-se a um custo muito maior caso tivesse sido o governo central a o fazer, alem do mais o facto de a divida portuguesa ter sido catalogada de lixo, permitiu aos bancos resolverem imediatamente os contractos.

O Vivendi colocou um link no seu blog, para um artigo de opinião em que o autor, exprime uma ideia que nunca tinha eu pensado dessa forma, sobre a actual crise nacional.

O autor diz, e com razão que o dito "agravar" da crise que vemos hoje na televisão, é antes o chegar da crise a lisboa, em que o rendimento per capita é superior em 40% ao do norte do país, onde o Estado desvia verbas da UE destinadas a áreas deprimidas do nosso país, etc...

O metro de Lisboa paga o que paga, a Carris gasta o que gasta porque são de Lisboa

Li que a STCP pela primeira vez teve lucro operacional.

Os transportes são muito baratas, basta ir a Espanha para perceber que os transportes são muito mais caros, por exemplo no metro de Madrid quem vem do aeroporto e não tem a isenção de turista paga um suplemento de 3€.

Os preços tem de aumentar, mas é triste que num país em que os salários são baixos, 10% da população empregada recebe o salário mínimo, os preços tenham de subir.

As empresas públicas é o mesmo que as PPP arranjar esquemas a amigos, e não comprar guerras com sindicatos.

É triste que o país tenha de quebrar para que exista uma esperança que as coisas se endireitem, mas duvido que aconteça, as pessoas estão demasiado dependentes do Estado

Anónimo disse...

Quando a "inteligência" das hierarquias é maior (em todos os aspectos: nº, etc) do que a obra, é isto que acontece!!!