E também temos expressado a nossa relutância em acreditar como tal cenário é possível no futuro imediato, na medida em que os políticos continuam a adiar, a adiar, e ainda possuem algumas armas no seu arsenal para disparar, adiando ainda mais o que será inevitável.
Mas pensamos que há uma coisa em que todos concordamos:
A Alemanha tem caucionado todo o dinheiro que tem sido autorizado para formar o EFSF e o ESM, caucionou também o primeiro resgate à Grécia que foi com dinheiro dos próprios Estados, e permitiu também muita impressão de dinheiro pelo BCE com consequências negativas diretas no balanço do Bundesbank, como já falámos aqui no Blog.
Todos os outros países da UE só aprovaram estas políticas porque a Alemanha as aprovou, e o resto é conversa.
Mas fica-nos a pergunta no ar: E porque é que a Alemanha aprovou tudo isto?
A resposta mais natural será dizer que fê-lo porque é também do seu próprio interesse. Se não ajudasse, seria a própria Alemanha a ficar prejudicada.
E por irónico que seja, é bem verdade que a economia da Alemanha tem sido bafejada de sorte, sobretudo no seu setor mais vital: a indústria exportadora. Esta tem tido uma performance digna de registo, sobretudo por mérito próprio, mas porque também evitou que as compras dos países europeus à Alemanha não quebrassem tanto como teriam quebrado caso não houvesse ajudas financeiras.
Fonte: Eurostat
- Por aqui se vê que do grupo dos "ricos", só a Alemanha recuperou na totalidade aquilo que perdeu em 2009.
- A França do Monsieur Hollande mais vale estar caladinha, porque não tem energia interna para fazer frente às necessidades dos GIPS nem de si própria.
- Espanha e Itália nem oferece comentários, muito cá para baixo.
- Portugal é o país destes 7 que partia em 2002 com a posição mais favorável, mas em 9 anos teve uma aterragem bem difícil. Não se enganem com esta história da recuperação das exportações. A recuperação de que se fala só permite que não se caia ainda mais. Nem de perto nem de longe nos estamos a aproximar do que foi o índice em 2007, já para não falar de 2002.
- A Irlanda é que está em melhor condição para sair fora do euro sem grandes danos. A sua condição industrial aliada a uma moeda própria, políticas de um certo protecionismo e ligeira correção salarial para baixo tornariam esta ilha num paraíso para novos investidores industriais e o desemprego baixaria logo para valores socialmente aceitáveis.
Com estes dados chegamos a outra conclusão:
A Alemanha tem caucionado tudo isto porque julga que PODE, ou seja, a revitalização da sua indústria inspira confiança e dá garantias que pode arriscar um pouquinho mais neste
E aqui é que reside a nossa pergunta final:
E como reagirá o eleitorado alemão caso o gráfico volte a cair, o PIB desça e a economia entre em recessão?
É que a procura interna NUNCA compensará esta queda. O povo alemão é austero por natureza e não embarcará na história do hiper-consumo para compensar a falta de exportações. Se não o fez no passado, não é agora que o fará com certeza.
Talvez esta possa ser a pedra de toque que fará mudar as políticas dos alemães e assim poderem dar um pontapé no rabo aos restantes colegas da União. Dizemos talvez porque não sabemos, apenas suspeitamos.
Do lado dos GIPS, não acreditamos que seja eleito nenhum líder partidário (até porque nem os há) que esteja a favor de uma saída ordenada do euro e da UE. Ninguém quer perder a fatia do bolo.
E por esta via sim, concordo que a saída de um qualquer país do Euro seja um assunto verdadeiramente a ter em conta e a ser proposto numa qualquer cimeira europeia. Até lá, fico-me mais pelo delay and pray.
Tiago Mestre
8 comentários:
Eu admito a saída caso:
A Europa não preveja algum tipo de políticas protecionistas que defenda melhor a competitividade das economias do sul da Europa (no futuro breve as economias do norte irão precisar de aderir também nessa realidade). Nós entramos para um mercado comum que nos anos 80 e 90 funcionou muito bem pois o mercado era mais intra-comunitário que global. Hoje o mercado é global e vai nivelar a Europa por baixo.
A Alemanha não preveja a reestruturação de dívidas com o cumprimento do plano de austeridade.
Se saía do € para uma moeda estável e não inflacionária. De preferência indexada ao € (-20 a 30%).
Por enquanto partilho da ideia de que a nossa saída estará relativamente longe de acontecer, o Euro é um projecto politico que os políticos vão defender a todo o custo, custo para nós está claro.
Mas na hipótese de sairmos do Euro, teríamos de escolher um de dois tipos de moeda oficial, uma que seria indexada ao Euro ou mesmo ao ouro para evitar uma hiperinflação, ou uma moeda de câmbio livre que rapidamente perderia valor como um calhau em queda. Qual hipótese deveria o governo escolher?
No primeiro cenário as poupanças dos portugueses estavam a salvo mas o grande problema são as dívidas, e essas também se manteriam, ou seja de nada serviria uma saída do euro.
Na 2a hipótese todos os que tivessem as poupanças convertidas na nova moeda viriam o poder de compra desaparecer rapidamente, mas por outro lado a inflação livraria todos os devedores do fardo das dívidas.
Penso que a solução seria permitir a circulação de moedas paralelas, assim haveria uma moeda oficial em que todas as dívidas seriam redenominadas, inclusive toda a dívida pública (mesmo a que foi colocada sob a lei Inglesa) esta moeda seria para "queimar" imprimir imprimir, tão ao gosto dos nossos governos... :) e uma moeda em paralelo, não oficial baseada nas nossas reservas de ouro e que qualquer pessoa poderia chegar a um banco e pedir a redenominação dos seus depósitos nessa outra moeda.
Resultado, em pouco tempo as dividas ficavam reduzidas a zero e as poupanças eram mantidas em portugal mesmo sem controlo de capitais.
Outro resultado seria que os mercados financeiros durante muitos anos nunca mais emprestariam dinheiro a Portugal com medo do calote, e depois? O estado seria forçado a gastar apenas o que recebia nos impostos, remédio santo!
Claro que pelo meio haveria muitas, muitas dificuldades, sofrimento mesmo, com o desmame do crédito fácil, mas como diz o ditado popular: o que arde, cura!
É isto que o mexicano Hugo Salinas propõe para a Grécia e na minha opinião acho que para nós também seria uma boa saída, penso mesmo que só assim voltaríamos a ser um país livre e com futuro.
Sérgio, a ideia de ter 2 moedas, uma para entalar os credores, e outra para proteger os aforradores é no mínimo... inspiradora. Nunca tal me tinha ocorrido.
É grande ideia sim! Só que a comunidade internacional não nos deixaria fazer tal coisa. E o padrão-ouro?? Acho que mandariam a nato à procura do "Kadafi" lusitano que teve essa ideia. Alguma mudança no lado monetário tem de vir de cima (um país de dentro do sistema). Não se esqueçam que o € já é uma moeda non grata por alguns.
Pois, a troika estaria cá no dia seguinte...
Concordo, num cenário desses no dia seguinte tínhamos a NATO em Lisboa e não era para um congresso... :(
Deixo por curiosidade o link da entrevista do Hugo Salinas que referi:
http://maxkeiser.com/2012/06/08/max-keiser-and-hugo-salinas-price-on-sunny-tv-athens-greece/
Ele fala mesmo de moedas de prata em circulação, semelhante ao que acontecia no passado, eu penso que não seria necessário isso, desde que a emissão de papel moeda fosse ligada ao metal (seja ouro ou prata) seria a mesma coisa, apesar de eu ser um grande admirador de moedas de prata.
Seja como for, alguma coisa tem de acontecer, especialmente com os juros da Espanha e Itália já tão perto do número mágico dos 7%. Há uns tempos apostava que a Alemanha ia ceder na eurobonds, agora tenho dúvidas, talvez seja mesmo a vez do Super Mário como diz o Tiago, mas até quando? Se olharmos para os Estados Unidos é fácil perceber o caminho que vão seguir: print print... (o mesmo que sempre teem feito) por cá há tantas variáveis que um tipo fica confuso...
Sobre as eurobonds e a capacidade alemã vejam este artigo.
http://www.washingtonpost.com/opinions/can-germany-come-to-the-euro-zones-rescue/2012/06/10/gJQAVz2ITV_story.html
O vídeo que o Sérgio indica é muito bom.
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