Quando François Hollande já ia bem avançado na sua campanha eleitoral, iniciámos a nossa perplexidade para com o tom e a energia com que este senhor se referia à necessidade de restabelecer políticas de crescimento (adiando o cumprimento do défice) e de abandonar temporariamente a austeridade.
Pensávamos nós: O que é que ele sabe que nós não sabemos?
Depois vieram as políticas propriamente ditas:
Introdução das Eurobonds
Mais despesa, mais défice e mais dívida para estimular crescimento.
E pensávamos nós: Como irá ele convencer a Alemanha de tal desígnio e arranjar o dinheiro? O homem até parece meio calmo. Duvidamos que ele "parta a louça toda" nas cimeiras.
E realmente não partiu nem parte coisíssima nenhuma. É político full time com todos os vícios que tal carreira profissional acarreta.
Merkel não foi na conversa e só aceita as Eurobonds se houver mais união política, fiscal e económica, ou seja, mais austeridade.
De uma cajadada matou 2 coelhos: arrumou as eurobonds e o estímulo estatal ao crescimento, as 2 grandes promessas eleitorais de Hollande.
E com um argumento adicional que retira toda a capacidade dos europeístas em criticá-la:
"Só com mais Europa e mais união é que saímos da crise".
Durão Barroso Hollande e outros ficam sem saber o que dizer, porque concordam com a tese, mas discordam do método. Aauchh!
Sempre desconfiámos de Monsieur Hollande por este não dar as respostas às perguntas que acima referimos. Parecia muita parra e pouca uva, mas por desconhecermos o passado do senhor e por sermos meio ingénuos por natureza, lá concedemos o tal estado de graça para ver se o que ele queria batia certo com o que viria a acontecer. Já sabemos a resposta.
Muito se escreveu na imprensa sobre o fenómeno Hollande e de certa forma até se criou uma certa uma opinião pública de que Merkel precisava de alguém que a desafiasse. Hollande era essa esperança (faz-nos lembrar Obama em 2008), essa luz que faria ver a Merkel que o caminho da austeridade não era possivel.
Houve quem fosse mais longe e anunciasse grandes ventos de mudança na Europa logo após as eleições.
Nada de relevante aconteceu politicamente, e há já quem se "atravesse" de que serão as eleições alemãs que farão a diferença.
Afirmamos desde já que serão mais tretas para encher páginas de jornal. A Merkel está pendurada pelo eleitorado e pelas pressões do resto da Europa. Quem vier a seguir, Merkel ou outro, continuará com a mesma camisa de forças.
Muita imprensa francesa e europeia deve sentir-se trés desolé.
Esta ideia ingénua de que havendo eleições tudo pode mudar só porque se trocam as caras é outro disparate. Só haverá mudanças políticas quando as ideologias partidárias vigentes forem substituídas no poder, como aconteceu com Lenine, Hitler, Mussolini, Lula da Silva, Tatcher, 25 de Abril, etc, etc.
Hollande é um situacionista: quer o euro, quer a europa, só não quer é a dor e o sacrifício de cumprir as regras. Cheira a Syriza, mas mais polido.
Claro, assim também nós sabemos fazer política...
Sobre os sonhos de Monsieur Hollande e do confronto austeridade vs crescimento já tivemos oportunidade de escrever aqui e aqui.
Tiago Mestre
2 comentários:
O Hollande nem com as palmadinhas nas costas de Obama vai lá. A lição está bem estudada na Alemanha para nossa sorte. Agora o Obama é que vai ficar verdadeiramente preocupado quando olhar para dentro de casa.
Deus te ouça
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