1 de junho de 2012

Porque é que defendemos a austeridade aqui no Contas quando já poucos acreditam?

Por sugestão do nosso mui estimado e amigo Vivendi, respondemos com um novo post ao comentário publicado pelo Anonimo aqui, que questionava as nossas motivações pela austeridade, quando está comprovado que esta nos está a "enterrar" cada vez mais:


O que defendemos aqui no Contas é austeridade a sério, ou seja, muito mais forte do que aquela que o governo tenta implementar.
Na nossa opinião, o Estado terá que cortar inevitavelmente 30 mil milhões de euros na despesa pública, ou seja, descer de 80 para 50 mil milhões de euros. Em 2012 ainda não conseguiram reduzir nada face a 2011, até aumentou. E isto terá que ser feito porque a receita pública é hoje 65 mil milhões, mas amanhã será 60, 58, 55 até chegar aos 50. Este fenómeno ocorrerá por contração económica, fadiga fiscal e por redução da despesa pública por ausência de crédito, que influencia negativamente a receita pública.

Esta redução de receita e de despesa acontecerá sempre, quer queiramos, quer não. A única diferença é: 
ou seremos nós senhores do processo ou não.

Se não formos, adiar-se-á tudo até à última e caminhamos para o abismo assobiando para o lado, que é a apologia do "crescimento" que agora tanto se defende
Se formos nós os senhores, será muito doloroso mas temos que começar JÁ, com pena minha que não tivesse sido há 10 anos, porque seria infinitamente mais fácil:
. O desemprego irá bem para lá dos 20%;
. A dívida de 195 mil milhões e os 9 mil milhões de juros é TUDO para renegociar;
. Despedimentos e extinções de serviços públicos considerados hoje essenciais, como universidades, politécnicos, hospitais e muitos outros que só de ler até dói;
. Haverá insolvências de grandes empresas que operam em áreas como a grande logística, transportes e retalho.
. Haverá falhas no abastecimento de superfícies comerciais nas grandes cidades e às respetivas populações;
. A moeda, quer seja o euro ou o escudo, sofrerá desvalorizações,já que em caso de escassez de bens e produtos, os preços dos existentes tenderão a aumentar.
. Aumento generalizado da violência nas periferias urbanas
. Transferência de atividade e de pessoas do setor terciário para o setor primário, ou seja, regresso à agricultura, porque o dinheiro emprestado acabou-se e só podemos consumir aquilo que produzimos.
. Empobrecimento generalizado e massivo, igualando o poder REAL de compra dos portugueses ao seu poder de produção.

E por cada dia que passa em que adiamos a austeridade, ou seja, a transição de menos consumidores para mais produtores, pior será lá mais à frente.

Em 2000 tínhamos 4,4% de desemprego e 60 ou 70 mil milhões de dívida pública. Em 12 anos, triplicámos estes 2 índices. Quanto mais esperamos, mais nos enterramos.

E mesmo esta espera só é consentida devido à decisão de terceiros, ou seja, só adiámos a verdadeira austeridade porque alguém nos emprestou 78 mil milhões em 3 anos. NUNCA nos deveriam ter emprestado esse dinheiro, NUNCA. É infame e adia, mais uma vez, o encontro com a nossa verdade. Há 1 ano devíamos aos credores 160 mil milhões, hoje devemos 195 mil milhões. O PIB português são 170 mil milhões.

Custa-nos ter consciência destas coisas desagradáveis e transmiti-las a quem quer ouvir, mas por dever de verdade e de rigor técnico e histórico é nossa obrigação partilhá-las.



Tomámos consciência desta inevitabilidade em Novembro de 2010, depois de muitos, muitos meses de estudo. Em Dezembro surgia o Contas, e desde aí que as coisas têm vindo sistematicamente a piorar, independentemente do que os políticos digam ou façam. Eles apenas tentam adiar o inevitável agravando a nossa condição, e com isso nós não pactuamos:
Fomos resgatados em 2011, a Grécia recebe 2º resgate, Itália e Espanha são devoradas, EUA agravam condição fiscal, bancos TOTALMENTE falidos com aparência de solventes, impressão de dinheiro planetária, LTRO, QE, TWIST, TARGET2, estímulos e mais estímulos. Para quê? Para comprar mais uns meses, só!

Não recomendamos a ninguém com problemas cardíacos o futuro que se desenrolará à nossa frente nos próximos anos.


Tiago Mestre

4 comentários:

Vivendi disse...

A austeridade de hoje é a liberdade de amanhã!

Qualquer pessoa tem direito a ser livre.

Anónimo disse...

O melhor é "sacar" (quem o tem) os euros depositados nos "bancos falidos com aparência de solventes" para casa ou então investir em ouro... muito ouro. Vai dar jeito, para manter o poder de compra. Observem antentamente a China e Emergentes.
JB

Anónimo disse...

Caro Tiago,

Desde já agradeço o tempo que perdeu ao tentar elucidar-me das razões que o move. Quando converso com colegas sobre a situação a que chegamos, cada vez mais fico espantado com a leviandade das opções tomadas pelos nossos governantes!! pergunto-me constantemente se andamos todos a dormir! A resposta não é tão facil como se poderia prever. A anestesia é de tal maneira forte que estamos todos "confortably numb". Já que temos de tomar medidas extremamente agressivas, pois bem, que saiamos do pseudo "euro". Que encaremos a aquilo que nos espera como uma situção de pós-guerra com atenuante de as nossas infraestruturas não foram destruídas! Gostaria de saber a sua opinião em relação a esta opção. A renogociação da divida só iria, na minha opinião, alargar o prazo de pagamento e ela continuaria a crescer. "Mais do mesmo e por mais tempo".

Tiago Mestre disse...

Meu caro, como as infra-estruturas não estão destruídas, damos demasiado valor às mesmas. Mas gosto da ideia porque nunca tinha pensado nela.
Do mesmo modo que continuamos a dar muito valor ao status quo porque ele é suportado e apadrinhado por uma boa parte da sociedade.
Propor a sua alteração é ser considerado louco pelos que se julgam sãos nos dias que correm, daí opiniões como esta que te dei estarem ainda muito fora do radar.
Não sei se haverá sucesso na defesa destas ideologias pró escola austríaca, mas quando temos a força das ideias, do bom senso e dos factos do nosso lado, já não voltamos atrás.
É como descobrires a tua verdadeira vocação profissional aos 5 ou 10 anos. Aquilo entranha-se e já nada te fará mudar.
A minha paixão pela eletricidade começou antes de saber ler e escrever, e nunca mais a larguei.