30 de agosto de 2012

Mais um que sai do caminho...

Depois de Alex Weber em 2010 e Jurgen Stark em 2011, parece chegar a hora de Jens Weidmann.



Um a um, todos os que nao concordam com a impressao de dinheiro estao a cair que nem tordos.

Na batalha dos desavergonhados vs envergonhados, ganham os desavergonhados para ja.

Draghi e Constancio la continuam a trilhar o seu caminho.

Veremos quem ganha a guerra.

Tiago Mestre

Austeridade às mijinhas

é sempe assim que começam as decisoes dificeis em Portugal:

Algo corre mal, ou pior do que o previsto, e so assim se começa a mexer naquilo que é verdadeiramente importante e que faz a diferença.

Tendo a execucao orcamental em 2012 derrapado fortemente face ao previsto, la se vai tentar mais alguma austeridadezinha:


Para os leitores do Contas, penso nao haver duvidas de que para atingir Défice ZERO urge mexer nas rubricas mais importantes, aquelas que tem mais peso na despesa do Estado.

O ESTADO SOCIAL é  essa rubrica, com um peso de 37 mil milhoes de euros de um total de 85, quintuplicando em valor a despesa imediatamente a seguir: os juros da divida, com 8 mil milhoes de euros.

Esta politica às " mijinhas", perdoem-nos o termo, nao é ma de todo porque até se vai fazendo qualquer coisa, mas peca por nao ser incisiva e eficaz.

Basicamente, aplicar medidas aos bocadinhos faz com que o povo antecipe essas mesmas medidas e atue profilaticamente (o que é uma coisa boa), nao dando hipotese ao governo de corrigir a despesa e consequentemente o defice.

A julgar pela sintese orcamental de Agosto, as despesas mantem-se face a 2011, mas as receitas dos impostos cairam 3 mil milhoes face ao previsto, o que nos leva a inferir que caso nao houvesse aumento de impostos para 2012, as receitas fiscais provavelmente estariam tambem abaixo do valor de 2011.

Moral da historia: o povo retraiu-se antes da "pancada" chegar, e o governo chegou atrasado à estaçao, tendo o comboio ja partido.

Politicas destas complexidade devem ser altamente ambiciosas (defice zero) e a realizar no menor espaco de tempo possivel, "atacando" os interesses que devem ser atacados de uma so vez.
é doloroso, sem duvida, mas a eficacia que subjaz a qualquer tomada de decisao nunca aparece sem esforco nem sem determinacao.

Tiago Mestre

29 de agosto de 2012

Deixem-me chorar


Parece que o SEFIN ainda tem gente que acredita no Pai Natal.

Estando os bancos carregados de casas nos seus inventarios, queriam o que?

Quando este tipo de ativos pesa no portfolio dos bancos, e normal que estes entrem no jogo do salve-se quem puder. é proibido? Nao, entao aguentem-se.

E temos mais novidades para o Sefin:

Quando se tornar "legal" a entrega das casas pelos particulares aos bancos como forma de liquidar a divida, por motivos de falta de pagamento, entao ai mais casas entrarao nestas esquemas que os bancos estao a montar e mais o Sefin ira ganir.

A manipulaçao é isto mesmo. Estimulou-se o crescimento, e no desmame ninguem é poupado, inclusivamente aqueles que nem sequer possuem casa mas que até pagam uma taxa so por terem conta aberta num qualquer banco.

A manipulaçao das elites para com os seus vassalos tras sempre consequencias nao previstas. é esse o seu preço, que depois é distribuido novamente pelos vassalos.

Os bancos emprestam dinheiro a quem querem, da forma que acham mais proveitosa. Quem nao quer emprestimos tem bom remedio: nao recorre aos bancos nem lida com essa gente, que é o melhor que fazem.

O Sefin acha que os bancos concedem credito preferencialmente a quem compra as casas deles. E depois?

O Sefin que monte um banco e que defenda os seus interesses. Escusa de vir para a rua fazer chorar as pedras da calçada.

Tiago Mestre

Breves impressoes italianas

Vim dar um passeio de 5 dias a Roma para conhecer a capital do maior Império a que a humanidade ja conheceu (esta afirmaçao é discutivel), e nao deixo de reparar no seguinte:

A vida em Roma segue normalmente, e aparentemente sem indicios de "austeridade", ou seja, os recentes problemas que recairam sobre Italia, para ja, nao estao a ter grande eco interno.

Em dia de semana as ruas estao cheias e nos restaurantes com esplanadas, a lingua predominante que se ouve falar é mesmo o italiano. Os turistas de pé descalco (como nos) passam ao lado e contemplam o fenomeno.

Aparentemente pode representar um bom sinal, mas tais sinais sao falaciosos, porque os italianos acreditam na mesma formula dos portugueses: é possivel consumir mais do que produzir.
E tal NAO é POSSIVEL, pelo menos de forma sustentada.

Ninguem quer ouvir falar de austeridade. E tal como em Lisboa, essa palavra adia-se até à ultima, até nao ser mais possivel evita-la.

Antecipamos desde ja grandes chatices para esta regiao de Italia, onde os servicos e o turismo imperam na economia local.
Apesar do defice italiano ser inferior a 3%, se nao nos falha a memoria, ja a divida é superior a 120% do PIB, ou seja, as necessidades de financiamento sao gigantescas, nao porque geram muita divida no presente, mas porque a geraram durante decadas e agora precisam de financia-la permanentemente. Com as yields a 10 anos a subir de 3% para 6%, os custos IRAO DUPLICAR.

E AGORA?

Tiago Mestre

28 de agosto de 2012

TROIKA entrará no mundo dos paradoxos


Com a evolução orçamental do Estado a afastar-se da meta dos 4,5% do PIB para 2012, paroximando-se antes para os 6% do PIB, a troika será confrontada com vários dilemas para resolver:

Primeiro:
O cumprimento dos 4,5% do PIB exigiria mais cortes na função pública e/ou a supressão de parte do subsídio de férias, tal como ocorreu no ano passado. Infelizmente tudo isto será insuficiente, e caso implementem medidas deste género, o povo retrairá ainda mais o seu consumo, reduzindo ainda mais o PIB, e colocando demasiada pressão no denominador da fórmula:

Défice = (Receitas - Despesas)  / PIB

Acreditamos que haverá um relaxamento das metas, porque simplesmente a troika não quererá ainda mais recessão para tentar atingir um objetivo que parece uma quimera.

Boa sorte para a troika.


Segundo:
Este relaxamento fará com que o défice rondará os 6%, criando muita mais pressão para 2013.
A somar a este falhanço, podemos garantir que as receitas em 2013 estarão, pelo menos, 3 mil milhões de euros abaixo do que se previa, porque se tal ocorreu em 2011, não há nenhum indicador que nos diga que esse valor será corrigido em 2013.
E para apimentar a discussão, o Tribunal Constitucional deliberou que para o ano não haverá poupanças nos salários públicos, retirando ao governo mais 2 mil milhões de euros de gestão para o cumprimento do défice.

Tudo somado, temos um buraco de 5 mil milhões de euros para 2013, quando faltam 4 meses para terminar 2012.
E se o défice ficar pelos 6% do PIB, o que equivale a 10 mil milhões de euros de prejuízo, então a redução para 3% do PIB que está inscrita para 2013 obrigará ao corte, em 2013, de 5 MIL MILHÕES DE EUROS.

OU SEJA,
Se o TC não tivesse barrado o corte dos subsídios, e se a economia não caísse como caiu, Vitor Gaspar e Passos Coelho estavam descansados para 2013.

Infelizmente basearam-se em presunções inconstitucionais e irrealistas.

Sugeríamos aos 2 ministros que lessem o que se escreveu neste blog durante meses:

A queda das despesas do Estado promove a recessão na economia,e tal fenómeno perpetua-se até que as receitas e as despesas públicas "batam" nos 50 mil milhões de euros, acreditamos nós.

Tal fatalidade obrigará ao corte de 30 mil milhões na despesa pública, e só assim conseguiremos um DÉFICE ZERO sustentável.

Tudo o que seja menos ambicioso do que isto, e que nao se realize no menor espaço de tempo, resultarà em desilusões e fracassos permanentes, queimando tudo e todos à sua passagem.

Tiago Mestre

27 de agosto de 2012

Liquidez fraca, mas preços em alta!

É oficial oficioso:

São os grandes bancos portugueses que se degladiam pelas obrigações portuguesas.


Com esta notícia evidenciamos o que já desconfiávamos aqui no Contas há algum tempo:

Sendo as obrigações portugueses consideradas elegíveis como colateral para a obtenção de empréstimos junto do BCE, os bancos portugueses, enfiados entre a espada e a parede, não têm escolha:

1º Passo:
Adquirir obrigações portuguesas nos mercados internacionais

2º Passo:
Mostrá-las ao BCE e pedir dinheiro emprestado a 0,75%

3º Passo:
Ganhar dinheiro com as obrigações, já que as yields rondam os 5 e os 10%, consoante a maturidade

4º Passo:
Emprestar o dinheiro do BCE à economia, com taxas a rondar os 5 a 10%, quer seja para financiar empresas, crédito ao consumo, habitação, whatever. Comprar ao BCE a 0,75 e vender a 5-10 tem um nome: carry trade. Quase que me apetecia ser banqueiro ao analisar este assunto de forma tão simplista...

Até ao quarto passo parece que estamos a viver no país das maravilhas. Daqui para a frente a coisa complica-se:

5º Passo
O dinheiro emprestado ao público não oferece garantias de retorno, devido à recessão e à quebra do poder de compra. Casas que são entregues, carros que não se pagam, investimentos que vão à falência sempre pesam qualquer coisa nas imparidades dos bancos.

6º Passo
As obrigações adquiridas possuem um determinado valor no mercado. Caso haja mais gente a vender do que a comprar, esses mesmos preços descem, tal e qual como uma ação. Caso desçam, o banco terá que reportar no final do ano essas imparidades, isto no caso de querer ser sério e informar a comunidade de que os seus ativos estão valorizados em modo mark to market. Registar perdas obriga a "fugir" da falência, pedindo aos investidores para reforçarem os cofres do banco, através de aumentos de capital e outras operações semelhantes.

7º Passo
Perpetuando-se este ciclo, os bancos transformam-se em máquinas desesperadas de obtenção de liquidez (comprar obrigações e espetá-las no BCE) prejudicando cada vez mais a sua solvência (obrigações a cair no preço e ter que registar essas imparidades).

Não há almoços grátis, e até nesta situação, julgando-se que os bancos estão a fazer ótimos negócios junto do BCE, estão é a ficar cada vez mais dependentes deste fluxo de dinheiro.

Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, chamou-lhe droga, no outro dia!

Fica ao critério de cada leitor encontrar a expressão que melhor defina este dilema "entre a espada e a parede" em que os banqueiros se enfiaram.

Talvez agora já se perceba melhor como é possível ocorrer este "paradoxo" de conjugar pouquíssima liquidez com subida de preços.
É a tal "mão invisível", mas não aquela que conhecemos e que se chama Mercado. É outra, e bem humana..

Tiago Mestre

26 de agosto de 2012

A seleção natural e o dilema do prisioneiro

Paulo Monteiro Rosa, ilustre colega de blogues, publicou na sexta-feira que passou mais um post onde nos mostra como a Alemanha e a Grécia podem beneficiar se cooperarem.

Sendo nós mais apologistas de uma eventual desagregação da Europa nos moldes atuais, ficamos sempre pensativos quando lemos e compreendemos outros pontos de vista, nomeadamente nesta questão tão complexa como é a existência da União Europeia.

É esta riqueza nas múltiplas leituras que fazemos da mesma realidade que nos faz acreditar que é possível encontrarmos um caminho, uma solução, que minimize danos que e acima de tudo, nos dê uma esperança de futuro.

Sugerimos a sua leitura, claro:

http://omniaeconomicus.blogspot.pt/2012/08/a-seleccao-natural-e-o-dilema-do.html

Tiago Mestre

Então anda tudo drogado...


Para passarem a mensagem, nada melhor para os líderes europeus do que recorrer aos aforismos de Peter Schiff, essa lenda vida que muito nos inspira.

Tiago Mestre

23 de agosto de 2012

Síntese orçamental sintetizada



A linha preta "passou" a linha azul em Maio-Junho, certamente pela suspensão do subsídio de férias.

Mas, se descontarmos esta política, a par da transferência dos 2,6 mil milhões dos fundos de pensões, em Julho já íamos em 7,6 mil milhões de défice, que só por si ultrapassaria o que o governo inscreveu para todo o ano de 2012. Ou seja, em 7 meses rebentávamos o orçamento definido para 12 meses!

Haja paciência, e com tanto sacrifício pedido aos portugueses sem a respetiva correspondência nos números, os nossos receios confirmam-se:

O governo desperdiçou uma oportunidade de ouro e a austeridade, essa companheira mal amada, fica cada vez mais na gaveta do nojo dos portugueses.

Daqui a uns tempos, quem falar de austeridade na via pública deve estar atento e olhar em redor.

Tiago Mestre

É a Fadiga Fiscal



Aumentar receitas através do aumento de impostos foi o expediente utilizado na década de 2000 e na atual.

O objetivo era reduzir o défice.

Mas infelizmente no défice entra outra parcela: a despesa, e essa, caros leitores e leitoras, foi sempre crescendo, crescendo. Ou seja, o aumento de impostos realizado durante a década anterior serviu apenas para tentar acompanhar o aumento da despesa, e mesmo assim não foi suficiente.

Essa arma de aumentar impostos para escamutear o problema esgotou-se, e agora sobra apenas o corte da despesa.
À sociedade em geral, baixar despesa não interessa assim muito, ao Tribunal Constitucional também não, à oposição de esquerda também não, mas ei, temos uma novidade para vós: esgotaram-se as opções.

Quer queiram quer não, é na rúbrica da despesa aonde se intervirá única e exclusivamente daqui para a frente.

O PSD, ao não ter salvaguardado a alteração da Constituição como condição inicial para governar, vê-se agora num beco quase sem saída. Só a troika o tirará desse beco, obrigando o TC e a oposição a cederem nas suas ideologias e tomadas de posição.
É a vida.

Tiago Mestre

22 de agosto de 2012

Como desmantelar a América

Caros leitores e leitoras, Thomas Sowell é um dos nosso economistas favoritos.

As suas ideias e a beleza com que as expõe em muito nos atrai.

Num livro que publicou recentemente: "Dismantling America", Thomas Sowell expõe os perigos a que o povo americano se submeteu ao ter eleito Barack Obama e ter dado carta branca às suas políticas.

A responsabilidade individual como mecanismo de auto-correção e de auto-governação de uma sociedade  está cada vez mais esquecido, dando lugar à responsabilidade coletiva, em que pelos erros de uns pagam os outros.
Esta perversidade na política está a mudar o modo como os americanos olham o seu futuro e se esqueceram de como  foi possível construir o país mais próspero do planeta.

E já todos sabemos o que acontece ao nosso futuro quando não queremos conhecer o nosso passado.


Tiago Mestre

21 de agosto de 2012

BCE desmente em público o que "segredou" dias antes ao Der Spiegel

Vimos ontem nas notícias que afinal o BCE desmente categoricamente as notícias avançadas pela revista alemã Der Spiegel, a propósito dos planos do BCE para adquirir toda a dívida soberana que for necessária, por forma a que as taxas de juro não ultrapassem determinado teto.

Já vai para 2 semanas que os rumores se espalham pelos media internacionais, e o "grande plano" até tem resultado. Os mercados levitaram na sua generalidade, inclusivamente do petróleo, mas enfim, isso para agora não interessa nada. É a silly season no sue melhor.

O que nos parece é que o Der Spiegel foi "apanhado", ou seja, alguém do BCE informou àquela gente de que havia esta hipótese em cima da mesa, eles sentiram que a oportunidade era única, e não hesitaram em publicar.

Talvez a redação e a direção do Spiegel não se tenham apercebido naquele momento de que o BCE os estava a usar e a manipular, à boa maneira centralizadora, para que a mensagem ganhasse mais abrangência na Alemanha, e consequentemente, mais apoio da opinião pública.

O Der Spiegel, ao não citar fontes, cai na ratoeira do BCE e acaba por dar um mau exemplo de jornalismo (na nossa opinião). Agora, por dever de confidencialidade, o jornal não pode expor as fontes para se defender, sob pena de nunca mais ter acesso a "fontes" oficiais na Europa.

O plano é quase perfeito. O BCE e o seu diretor conseguiram fazer passar a mensagem, que era o seu único objetivo, e no dia seguinte tem logo o descaramento de negar o que estava escrito no jornal, mas isso já não entra na mente dos investidores como entrou a 1ª notícia.

Pelos contornos deste episódio caricato, parece-nos mais uma operação montada no escritório de Frankfurt, visando enganar atrair os investidores para que comprem tudo o que seja europeu.

É mais uma operação clássica que deixa os investidores a tergiversar se compram ou não compram:
"Buy the rumor, sell the news", como já aqui tantas vezes caracterizámos no Blog.

A tática acaba por ir resultando no curto prazo, que é o único objetivo destes senhores: salvar o dia.

Nota:

Pode-se tornar cada vez mais chato ler sobre estes temas pelo facto de já se tornarem quase banais, tal é a frequência com que ocorrem hoje em dia.
Mas este tipo de manipulações centralizadas devem ser expostas à luz do dia sempre que suspeitamos que ocorram, porque na verdade, andam a brincar connosco, com o nosso dinheiro e com a sociedade democrática que tanto trabalho deu a construir e a manter.

Seria muito mais fácil, e adequado ao regime em si, fazer este tipo de manipulações numa ditadura comunista ou fascista, mas porque vivemos em democracia e regidos por um Estado de direito, tais "traições" só podem merecer o nosso repúdio e condenação.
Oxalá que tal não acontecesse, mas tal desígnio não está ao nosso alcance. Resta-nos expor.

A longo prazo, este tipo de atuações por parte da elite política europeia acabará por abrir ainda mais o fosso entre:
Os países AAA e todos os outros,
Os protestantes regrados vs os católicos esbanjadores
Os austeros vs os endividados
Os que contribuem vs os que pedem
Os que trabalham vs os preguiçosos
etc,
etc,
etc

Um dia, todos estes abusos políticos serão destruídos pela vontade dos povos europeus, que não estarão para aturar mais mentiras e mais aldrabices sem ter opção de escolha.

Tiago Mestre

20 de agosto de 2012

Produção de cereais em vias de extinção em Portugal

Caros leitores e leitoras, os dados do INE são avassaladores.

Para contextualização, sugerimos a leitura do post que fizemos a 15 de Março de 2012 com o título:
"Com a seca haverá menor produção de cereais, logo os preços irão subir. Será?"
e de outro nesse mesmo dia:
Seca meteorológica: como podemos tentar evitar o pior?

Produzir cereais de Outuno/Inverno em Portugal tornou-se uma extravagância em solo nacional, a saber:


Cevada e Trigo cairam cada um mais de 70% em apenas 6 anos. Aauuchh!

Quais serão os motivos para esta quebra?
1. Clima?
2. Globalização?
3. Apoios comunitários para não se produzir?

Se forem sobretudo os últimos 2, julgamos que num futuro não muito distante teremos grandes oportunidades para quem se quiser dedicar à cultura de cereais de inverno.

Quem tem terra boa para a agricultura, podemos desde já confirmar que são culturas sem complexidade, e se o Inverno for minimamente chuvoso, as preocupações serão mínimas.

Tiago Mestre

19 de agosto de 2012

Síntese dos Wikileaks: segredinhos sem importância nenhuma

Julien Assange violou a lei norte-americana.

Todos sabiam na equipa do Wikileaks que expor conteúdos com esta reserva seria, não só ilegal, mas altamente embaraçoso para os EUA. O Inferno chegaria à sua porta mais cedo ou mais tarde.

Sobre a questão de violar leis, sejamos francos:
São os próprios políticos a quebrá-las em primeiro lugar, ou então, a alterá-las ou eliminá-las para que o caminho fique livre.
Que dizer da violação dos artigos 124º e 125º do Tratado de Lisboa?
Ou então acerca do mandato que a Reserva Federal possui mas que em múltiplas ocasiões exorbita das suas competências?

A lista é interminável.

Portanto, a questão não é tanto sobre ilegalidade, mas antes de embaraço dos políticos americanos para com o conteúdo dos telegramas e da facilidade com que tais informações foram obtidas.

As represálias não se esperaram, e como verdadeiras marionetas, a Suécia e a Inglaterra logo arranjaram expedientes para reter o indivíduo, tendo a Suécia chegado ao cúmulo de "arranjar" nesta altura (que coincidência) um suposto crime de abuso sexual por parte de Assanje.
Desconhecemos o que Assanje fez ou deixou de fazer, mas a coincidência parece tudo menos uma coincidência.

E para ridicularizar ainda mais o Ocidente e toda a sua política corrupta e manipuladora, mas que se afirma defensora das liberdades e da democracia, vem agora o Equador, parceiro da Venezuela e das suas "liberdades democráticas" garantir asilo político a Assanje.

Às vezes escreve-se direito por linhas tortas.

E já agora, que assuntos tão importantes e confidenciais foram revelados que poderiam colocar em causa a segurança dos EUA?
Nenhuns, ao ponto de tais revelações não terem tido qualquer impacto nas relações diplomáticas.

Só o ridículo e a frivolidade dos telegramas é que ficaram bem patentes à comunidade internacional.

Valerá a pena pagar a embaixadores e respetivo staff para contarem segredinhos sem importância nenhuma?

Tiago Mestre

BCE equaciona infringir a lei



Será que alguém pode informar a redação do Negócios Online que uma notícia destas fora do contexto cria a maior das confusões nas populações?
Pelos vistos querem estabelecer um teto máximo para algumas dívidas soberanas mais problemáticas.

Primeiro:
Cita uma revista alemã que sairá amanhã nas bancas, mas que não cita fontes oficiais (what the heck?)

Segundo:
Este tipo de operações são PROIBIDAS PELO TRATADO DE LISBOA

É mais um caso de "plantação" de notícias nos media para que ocorra aquele célebre pensamento na mente dos investidores: "Buy the rumor, sell the news"

 Tiago Mestre

Quem beneficiou mais com o € ?

Para quem ainda gosta de acreditar naquela teoria da conspiração de que o € só serviu os países ricos e foi madrasto para os pobres, eis a falácia revelada:

Cortesia Zerohedge, claro

Mas esperem lá, esta "prosperidade" dos pobres baseou-se em crédito e não em produção de coisas, ou seja, foi artificial.
Resultado?
As barras verdes acima do zero começarão a vir cá para baixo, expondo o logro de toda esta planificação centralizada em que a UE e o € estão enfiados.

Moral da história:
O projeto não serve nem aos ricos nem aos pobres. Só a Finlândia se apresenta como uma verdadeira exceção..

Nota:
Nada como olhar para os resultados das políticas para se poder avaliá-las, e assim emitir uma opinião minimamente informada.

Tiago Mestre

17 de agosto de 2012

Subida do preço das ações, e queda no seu volume

O baixo volume a que temos assistido nos mercados de ações nos últimos tempos reflete tão só a falta de apetite dos investidores em apostar neste tipo de produto financeiro.

Com a falta de liquidez, as subidas refletem apenas a vontade de alguns, e o mesmo se passa quando a tendência é de queda.

Se a liquidez está abaixo dos níveis de 2002, conforme noticiou hoje a edição online do Económico, e com tanta injeção de dinheiro desde essa altura sob a forma de crédito com juros ridículos, vemos hoje que tal fenómeno de alavancagem começa paulatinamente a regredir. Os bancos centrais tudo fazem para evitar esta tendência, quer através da redução e manutenção das taxas de juro inferiores a 1%, quer pela diminuição na qualidade do colateral exigido para a concessão de empréstimos diretamente aos bancos centrais.

A verdade é que é preciso pagar os créditos que vencem, e se possível não voltar a emitir nova dívida para desalavancar as empresas e as instituições.
No meio disto tudo há mortos e feridos:
Os mercados financeiros e todos os títulos agarrados a esses mercados são tendencialmente menos procurados.
E já todos sabemos o que acontece aos preços dos títulos quando há mais gente disposta a vender do que a comprar. Tal tem sucedido nas praças financeiras agarradas a países com maior nível de endividamento e fraco crescimento económico, como Portugal, Espanha e outros.

Não obstante, a subida nos mercados de ações que se tem verificado nos últimos dias parece estar impulsionada por uma esperança vã por parte dos investidores acerca da vontade dos políticos, que conforme a história nos ensina, estão dispostos sempre a fazer qualquer coisa quando as asneiras se acumulam em grande quantidade.

Tal cenário económico altamente precário e "agarrado à máquina" pelos bancos centrais deixou de fora muitos investidores. Ficaram aqueles que mais gostam de arriscar, ou por gosto próprio ou por desespero em tentar agarrar-se a qualquer coisa que garanta o mínimo de rentabilidade.

Hoje em dia parece que já não há títulos que garantam o mínimo de rentabilidade, e portanto para ganhar alguma coisa joga-se cada vez mais no casino especulativo do sobe e desce. Todos esgravatam para arrancar qualquer coisinha destes mercados, e quanto mais yield buscam, mais se metem em ativos tóxicos, como as obrigações soberanas de países que não possuem condições objetivas para pagar as suas dívidas.

As ilhas de segurança começam a escassear, e quanto mais se procura por elas, menos atrativas se tornam, ao ponto de haver produtos financeiros com yields negativas há já várias semanas, fenómeno impensável há meia dúzia de anos.

Tiago Mestre

Aleluia, irmão finlandês

Declarações do ministro dos negócios estrangeiros finlandês ao jornal Daily Telegraph:

“There are no rules on how to leave the euro but it is only a matter of time. Either the south or the north will break away because this currency straitjacket is causing misery for millions and destroying Europe’s future."

“It is a total catastrophe. We are going to run out of money the way we are going. But nobody in Europe wants to be first to get out of the euro and take all the blame,”

“The ESM loans have priority. That is a red line for us. We are very concerned that the rules of the ESM seem to be changing.”

He voiced deep suspicion of plans by a “gang of four” EU insiders — including the European Central Bank’s Mario Draghi.
“I don’t trust these people,”

Mr Draghi said two weeks ago that the issue of seniority would be “addressed” as part of his twin-pronged plan for the ECB and ESM to buy bonds in concert. A number of EU leaders and officials claimed there had been a deal on the ESM’s seniority status at an EU summit in late June. Finland, Holland, and Germany all deny this.

Como nós o compreendemos...

Tiago Mestre

16 de agosto de 2012

A nova normalidade no petróleo


Chegámos a ouvir "especialistas" em petróleo, tanto portugueses como internacionais, a exigir que os preços deveriam descer. Para suportar este pressuposto alegavam que teríamos muita produção a entrar online e um aumento do consumo agarrado a um PIB mundial que cresceria 5% ao ano.
Errado!

Para ajudar à festa, esqueceram-se que o petróleo é adquirido em dólares e em euros.
E quem manda nos dólares e nos euros? Já todos sabemos.

Anda dinheiro a mais a perseguir petróleo a menos.
Resultado?
A nova normalidade!

Tiago Mestre

The LIRA is back (For a Weekend)

É este o título de um post do blog OPEN EUROPE BLOG

Aparentemente o partido Liga Nord, que esteve em coligação com Berlusconi até há pouco tempo no governo de Itália, decidiu oferecer um fim de semana aos seus simpatizantes com um belo brinde: a LIRA seria a única moeda oficialmente autorizada para as transações dentro do evento...

Desde há já algum tempo que acompanhamos este blog, e consideramos que vale a pena colocá-lo na nossa caixa automática de "Blogues que andamos a ler" para que os nossos leitores desfrutem das ideias deste think tank.

Boas leituras

Tiago Mestre

Inflação: 2,8% PIB: -3,3%. Ninguém fala nesta aparente contradição?

Caros leitores e leitoras, tantos economistas na praça a discutir banalidades e ninguém nos ajuda a perceber este aparente paradoxo?

NUM PAÍS EM QUE O PIB CAIU 3,3% NO 2º TRIMESTRE DE 2012 FACE AO DE 2011, A INFLAÇÃO AUMENTOU 2,8% EM JULHO DE 2012 FACE A JULHO DE 2011!

Fonte aqui e aqui

Como se pode explicar tal fenómeno, a não ser pela inflação "forçada" que certos bancos centrais andam a "imprimir" aos preços de bens essenciais?

HÁ MUITO QUE PORTUGAL DEVERIA TER ENTRADO EM DEFLAÇÃO.

Desta forma minimizaria o impacto nas populações da quebra do seu poder de compra através da redução de preços ao consumidor, e também por respeito à regra da oferta e da procura, em que menos dinheiro a perseguir os mesmos bens só pode resultar em redução de preços.

Mas não, a mãozinha manipuladora que tudo sabe e que tudo controla julga saber mais do que a lei natural da oferta e da procura.

O deleveraging europeu quer fazer o seu caminho, mas estamos perante uma classe de pessoas que se julga acima desta realidade natural, e manipula-a a seu bel prazer.
Para já estão de parabéns, porque estão mesmo a conseguir.

A Grécia, que desde 2008 vive em recessão, viu a sua inflação aumentar em Julho 2012 0,9% face a Julho 2011, contando com uma recessão de 6% desde o princípio do ano.

Surreal... Tirem-nos deste filme!

Tiago Mestre

Petróleo denominado em EUR atinge maior valor de sempre

Expliquem-me, como se eu fosse muito burrinho, como é que é possível tal proeza!

Cortesia SoberLook

Quem é que anda a imprimir notinhas para que tal aberração ocorra?

Não é certamente o consumo de petróleo na Europa que está a impulsionar estes preços aberrantes, antes pelo contrário:

Fonte: BP Statistical Review

Em 2011 é evidente a quebra no consumo pela Europa fora, e no total é já bastante inferior ao consumo de... 2001!
Só a Alemanha, de 2010 para 2011 quebrou 3,3%.

Bom, e o que dizer de 2012, com a recessão a ameaçar desde o início do ano? Teremos um consumo europeu equivalente ao dos anos 90, ou talvez 80, décadas em que o preço rondou os 30 a 40 dólares o barril.

Genericamente, desde segunda-feira passada que o preço do gasóleo ultrapassou os 1,5€ nos postos de abastecimento comuns, sem contar com os dos hipermercados e outros similares.

Tal fenómeno induzirá mais recessão na economia, obrigando esta a contrair-se ainda mais.

Tiago Mestre

14 de agosto de 2012

Rapidinhas em férias...

Caros leitores e leitoras, apesar das nossas férias serem muito curtas, não dispensamos o comentário de algumas notícias que vieram a público nestes últimos dias, e que merecem a nossa atenção:

Salários em Portugal cairam 107 € nos últimos tempos:

Sobre a queda dos salários reaisem Portugal, já abordámos aqui no Contas esta temática quando relacionámos salários com produtividade.
É inevitável que os salários tenham que cair, na medida em que o salário é o preço do trabalho, e como na formação de qualquer preço, a lei da oferta e da procura é soberana, mesmo quando sujeita a inúmras pressões manipulatórias por pate do Estado.

E a lei da oferta e da procura ensina-nos que o preço cai quando há excesso de oferta e/ou escassez de procura.
Em Portugal passa-se talvez um pouco de ambos:
Gente qualificada em excesso para uma procura magrinha por parte das empresas.

Obrigações soberanas a 10 anos com juros em trajetória descendente:

Aparentemente a notícia é boa, contudo não são explicados os porquês desta tendência. Acreditamos que tal fenómeno se deve, sobretudo, à "exigência" do BCE em pedir obrigações soberanas como colateral para que os bancos se possam financiar junto deste. E que bancos são esses? Os portugueses, claro!
Os banquiros acabam por ser empurrados para a compra destes títulos, porque de outra forma não há nenhum banco no planeta que lhes empreste dinheiro a taxas de juro razoáveis.
E assim se noticia algo considerado de "bom", quando por trás ocorre uma chantagem velada do BCE para com os bancos portugueses. Todos se calam porque todos precisam do dinheirinho.
Não obstante, uma parte deste processo advêm de alguma confiança que se foi estabelecendo nos mercados em relação à politica financeira do governo atual.
E isso é sempre bom relevar, porque sem confiança não há sociedade, e sem sociedade não há civilização

Amanhã, 15 de Agosto, "comemoram-se" os 41 anos da célebre declaração de Richard Nixon

A 15 de Agosto de 1971, Richard Nixon deliberou unilateralmente que a partir daquele dia o dólar não mais estava "agarrado" ao ouro. Tal decisão anulou o que se deliberou em 1945 nos acordos de Bretton Woods, em que os americanos prometeram à comunidade internacional que qualquer dólar que circulasse no planeta poderia ser trocado por ouro à razão de 35 dólares a onça.
Todos concordaram e confiaram na palavra dos americanos.
A confiança foi traída no dia 15 de Agosto de forma oficial, porque oficiosamente há muito que os americanos andavam a imprimir mais dólares do que a comprar ouro na mesma proporção.
 DeGaulle, presidente françês, apercebeu-se da aldrabice e antecipou-se, exigindo a troca dos seus dólares por ouro.
40 anos depois o sistema FIAT ainda por cá vigora, contudo, por todas as maldades que têm feito à credibilidade deste sistema que só se baseia na confiança dos cidadãos para com a sua moeda, não creio que possa sobreviver muito mais tempo sem que uma mudança ocorra.
Esta foi uma decisão que se encaixa naquele modelo comportamental que já abordámos aqui no Contas:
Adia a dor para o futuro e salva o dia de hoje.

Tiago Mestre

10 de agosto de 2012

Ida a Banhos

Caros leitores e leitoras, até quarta-feira, dia 15, estaremos ausentes para ir dar um mergulho à nossa praia de infância: Praia da Manta Rota, que parece estar agora muito na moda.

Aliás, o nome já mudou para praia da Banca Rota.

Se houver algum epifenómeno que justifique a nossa intervenção, daremos notícias.


Deixamos aqui algumas sugestões de leitura:

Mouzinho de Albuquerque, Biografia - Paulo Jorge Fernandes - Esfera dos livros

Angola, Anatomia de uma tragédia - General Sousa Cardoso - Oficina do Livro

Depoimento - Marcello Caetano (talvez só em alfarrabistas)

As minhas memórias de Salazar - Marcello Caetano

A Riqueza das Nações - Adam Smith - Fundação Gulbenkian (A Bíblia)

Agostinho da Silva - Prosas e ensaios filosóficos

Fernando Pessoa - Prosas e ensaios sobre cultura e economia


Tiago Mestre

9 de agosto de 2012

Cavaco Silva entristece-nos



Meu caro Presidente doutorado em economia:

Se é para comprar dívida, então qual deverá ser esse valor?
50 mil milhões, 100 mil milhões? Toda?

E quanto aos outros países aflitos?
Espanha: 400, 500 mil milhões?
Itália: 800, 900 mil milhões?

Já vamos em 2,5 triliões, ou biliões de euros, em bom português.

O BCE possui capitais próprios de 80 mil milhões de euros, e já vai com ativos no seu portfolio de 2,8 triliões de euros, nomeadamente dívida soberana considerada tóxica pelos investidores, dando uma alavancagem de 35x, rácio que caracteriza um banco totalmente especulativo e tecnicamente insolvente ao primeiro tropeção.

Se o BCE um dia quiser vender parte ou todo deste portfolio de "merda", desculpem-nos a expressão, as perdas serão tais que os 80 mil milhões de capital próprio serão imediatamente eclipsados.

Se somarmos aos 2,8 triliões atuais, mais 2,5 triliões que os líderes europeus imploram que se faça, dispensamos mais esclarecimentos técnicos, porque transitamos do surreal para o cúmulo do ridículo.

A matemática deixa de fazer parte deste exercício e a lógica é substituída pela pura irracionalidade.

E já agora, com que dinheiro é que vai adquirir toda esta dívida imensa que sugere?
Com mais impressão de dinheiro, claro! Que solução espetacular.
Porque é que não se lembraram dela mais cedo? Resolveriam os problemas todos da Europa num ápice. Sugerimos uma visita ao Zimbabué para colher boas práticas.

E já agora, o que dizer acerca do Artigo 123º do Tratado de Lisboa, que proíbe o recurso ao BCE para liquidar dívida soberana e outras aldrabices que tais?

Escrever estas "tretas" no Facebook é enganar deliberadamente a população e fazê-las de parvas, jogando com a sua ignorância, as suas espetativas, e colher frutos eleitoralistas pelo meio.

Não são afirmações de estadista, mas sim de um político que joga consoante sopra o vento.
Não havia de valer, sinceramente.

Tiago Mestre

8 de agosto de 2012

Petróleo desce... e bem. Veremos até quando (Parte2)

Bastou o preço do barril de Brent ter roçado os 90 dólares a 17 de Junho para que rapidamente o preço invertesse a sua tendência.

Objetivamente, não há razões do lado da procura para que este suba, e provavelmente da oferta também não, já que o fornecimento tem aguentado as necessidades do consumo, sempre dentro desta janela (90-125 dólares).


Escrevemos isto a 8 de Junho, exatamente há dois meses, e que achamos que vale a pena relembrar:

Sabemos que não há um preço máximo para o fornecimento de petróleo, mas a história da formação de um preço mínimo já não é bem assim. A OPEC, por produzir mais de 40% do petróleo mundial, tem uma arma espetacular para não deixar o petróleo baixar muito: fechar a torneira.

Acreditamos profundamente que é isso que tentarão fazer daqui para a frente. A Arábia Saudita tem muitos subsídios para pagar à população através das receitas das exportações.
Outros países estão comprometidos com tecnologias de extração de petróleo que só são economicamente viáveis se o preço não baixar dos 80 dólares o barril, como as tar sands no Canadá, a extração a grande profundidade nos oceanos ou a última extravagância na delapidação dos recursos naturais do planeta: o shale oil nos EUA. 


Como foi possível que a partir de 18 de Junho a tendência se tivesse invertido, tendo chegado hoje novamente aos 112 dólares?

É que os dados económicos dos países industrializados continuam a deteriorar-se a passos largos, e os países em desenvolvimento (China e Índia) revêem mensalmente em baixa as perspetivas do seu crescimento. Por aqui não nos parece.

A produção de petróleo tem tocado novos máximos, pelo que com a queda do consumo é de esperar que a relação entre oferta e procura se reequilibre. Por aqui também não nos parece.

O que é que sobra que justifica este aumento?

1. O estímulo que os governadores dos bancos centrais andam a prometer a meio mundo, gerando a espetativa nos investidores de crescimento económico, e estes (parolos), põe-se logo na fila de espera de tudo que seja vital para a economia
2. A necessidade dos países da OPEC em não deixar baixar o preço, fechando eventualmente a torneira para quebrar o equilíbrio da oferta vs procura e assim continuarem a pagar os apoios sociais que prometeram à população.

Tal como há 2 meses, só conseguimos atribuir este aumento de preço a estas 2 "realidades".

Mas não demorará muito até que os investidores (parolos) percebam que estão a antecipar compras de um bem que afinal não fará assim tanta falta ao crescimento económico, porque simplesmente não irá haver crescimento económico nenhum:
1. Ainda hoje o Banco de França lançou a ideia de que a França viverá um segundo trimestre consecutivo de recessão.
2. As estimativas de crescimento dos EUA para 2012 já andaram a voar pelos 3% há uns meses, estando agora a rastejar pelos... 1,5%.
3. A Alemanha continua a perder encomendas, aproximando-se perigosamente dos níveis de 2009.



Acreditamos que o preço do Barril de Brent continuará neste "plateau" 90-125 dólares até ocorrer um epifenómeno qualquer.

Resumindo:
Quando se deixa a economia percorrer os seus trâmites, sem manipulação centralizada, esta entra logo em modo "realidade", caindo tudo o que são índices, mercados de ações e o petróleo, claro.
A pressão para se recorrer à manipulação entra em ação!

E quando se tenta "pôr" a economia a crescer, a malta desata logo a correr a comprar petróleo em antecipação, prejudicando na semana seguinte o próprio crescimento da economia por se ver o gasóleo uns cêntimos mais caro.

Preso por ter cão, preso por não ter.

Tiago Mestre

7 de agosto de 2012

Irrational Exuberance

Escrevemos aqui a 27 de Julho que o jornal El Pais já sabia da solução para que o mês de Agosto não fosse tão madrasto para os políticos europeus.

Escrevemos estas palavras com um tom irónico, obviamente, porque simplesmente já não acreditamos na quantidade de tretas que os líderes europeus nos querem impingir.

Não obstante, a primeira semana de Agosto tem dado algumas tréguas. Os investidores já acreditam que Espanha e Itália irão pedir resgate formal, e sendo essa a condição que Draghi impôs na semana passada para ajudar na aquisição de dívida no mercado secundário, parece que agora já estão todos de "acordo" que tal cenário é viável, e portanto toca de antecipar esse evento como forma de ganhar algum dinheiro:
"Buy the rumor, sell the news"

Só Rajoy e Monti é que não querem admitir tal cenário e perder completamente a face... para já. Vamos deixar passar as férias e logo se verá.


E é este o poder do cheiro a canela:

Basta o BCE acenar com um molho de notas aos investidores, que estes, ávidos de uma qualquer yield, independentemente da sua origem, não olham para trás.
Ganhar dinheiro nos dias que correm é um bem tão precioso que ninguém pensa duas vezes qual é a sua proveniência e que implicações terá a médio prazo.

Que se lixe o futuro, o que interessa é salvar o presente, certo?

Tiago Mestre

6 de agosto de 2012

Transportes públicos com cada vez menos... público

A triste história das empresas públicas em Portugal já foi objeto de escrutínio aqui no contas, mas face a novos desenvolvimentos que vieram a público recentemente, não resistimos a fazer mais uns comentários:

Fomos informados pelos media na semana passada que empresas como a CP, a Carris ou o Metropolitano de Lisboa têm visto o seu número de passageiros reduzir significativamente.

À primeira vista acreditamos que tal redução se deve sobretudo à redução de viagens discricionárias, ou seja, aquelas que eram mais para ir visitar as amigas e os amigos, do que propriamente para ir trabalhar.

Com este rombo nas receitas das empresas de transportes, todos sabemos que as despesas não descerão na mesma proporção. Nestas circunstâncias específicas, o lucro operacional cai de forma vertiginosa, e para aquelas que já geravam prejuízos, então os resultados colapsam ainda mais.

Relembramos que estas empresas possuem quase todas elas capitais próprios negativos, fruto de resultados negativos ao longo de... décadas e sem que o acionista ( Estado) compensasse o prejuízo com a injeção de capital social.

Resumindo:
Todas estas empresas habilitam-se a registar prejuízos recorde em 2012, depauperando ainda mais os capitais próprios e exigindo necessidades de financiamento difíceis de obter.

A trajetória económica e financeira destas empresas geridas e representadas pelo Estado são um autêntico manual de boas práticas sobre como NÃO se deve gerir uma empresa e quais os segredos para levar uma empresa à falência em três tempos.

Agora é tarde de mais, porque se se quiser reduzir despesa, é preciso despedir e indemnizar (não há dinheiro para despedimentos), e se se quiser aumentar tarifas, o poder de compra geral não acompanhará tal desígnio, revelando-se num menor número de viagens discricionárias e quebra da receita.

Estas são as consequências de se quererem adiar as decisões difíceis (a tal dor) para o futuro longínquo, reservando para o presente as más decisões e a manutenção do status quo.

Tiago Mestre

O cheiro a canela da dívida

Tendo o recurso à dívida se tornado um fenómeno massivo no mundo ocidental nas últimas 2 décadas, é caso para perguntar:

Que virtudes terá este tipo de instrumento financeiro para ter conseguido seduzir literalmente meio mundo?

A resposta, por muito básica que seja, enraíza-se em algo muito mais profundo:

A necessidade do ser humano em querer obter o maior número de bens com o menor esforço possível.

Quando contraímos uma dívida estamos a obter poder de compra no imediato, adiando para o futuro o "sofrimento" a que essa mesma dívida nos obriga.
E sempre que o ser humano adia um compromisso para um futuro mais ou menos longínquo, os mecanismos neuronais subjacentes a esta tomada de decisão não o fazem sentir-se "culpado", e muito menos a necessidade de sofrer, ou de ter medo.

Ninguém gosta de suportar a dor já, todos preferem adiá-la tanto quanto possível, concentrando-se apenas no prazer de obter aquilo que se deseja no imediato.
A dívida permitiu ao ser humano desligar-se da dor que é trabalhar primeiro para acumular excedente e só depois adquirir o que deseja.

Acreditamos que só 2 % da população prefere sofrer primeiro com a "pancada" e depois então usufruir dos frutos do trabalho. (Esta assunção é totalmente especulativa!)

É no meio de todo este complexo enredo neuronal que surge a "beleza aparente" da dívida e suas virtudes ilimitadas.
A dívida explora a fraqueza neuronal do ser humano em não sofrer AGORA com o acumular de obrigações para o futuro.
Se pensarem bem, no futuro deixaremos todos de fumar, faremos exercício físico, seremos mais prudentes e não cometeremos asneiras.
Somos tendencialmente otimistas com o futuro por este abrir espaço para tudo aquilo que não nos apetece ser agora.

A solução está em elevar ao poder os 2% que não se deixam enganar pela aparência da dívida e assim desenvolverem políticas que moderem o ímpeto dos restantes 98% que facilmente se deslumbram com o cheiro da canela.

Tiago Mestre

Monti volta a jogar a cartada da extorsão

Já todos percebemos que a construção do projeto europeu, sobretudo no plano financeiro e económico, foi uma grande tentativa falhada de planificação centralizada.

A moeda Euro até começou bem, tendo acumulado muita espectativa positiva por parte de investidores e cidadãos, mas a pouco e pouco as falhas na "construção" deste projeto tornaram-se cada vez mais visíveis e as fraturas começaram a ficar cada vez mais expostas.

Com o advento da desconfiança dos investidores para com os países do euro mais endividados e menos prósperos, as coisas fugiram totalmente do controlo dos planificadores.

Deixando de haver controlo, deixa de haver previsibilidade, e neste contexto a incerteza entra em ação. Gere-se um dia de cada vez, e perante a visão do abismo por parte de alguns políticos, sobretudo os do Sul, políticas alternativas entram em ação.

Já inúmeras vezes explorámos aqui no blog as afirmações e tomadas de decisão dos políticos gregos que roçam a chantagem e a extorsão, e mais recentemente dos espanhóis e italianos.
A pressão que estes têm colocado em cima da elite política alemã está a deixá-la à beira de um ataque de nervos.
Neste jogo de extorsão e chantagem Sul vs Norte, Mario Monti demonstrou este fim de semana, mais uma vez, em que tabuleiro político prefere jogar.

Numa entrevista ao jornal alemão Der Spiegel, Mario Monti volta a chantagear os alemães, afirmando que caso a Alemanha não "baixe mais as calças" (leia-se impressão de guito pelo BCE), é a Europa (já nem é a zona Euro), como um todo que se pode dissolver.

Mais, caso não haja transferência de soberania dos parlamentos nacionais para Estrasburgo ou para qualquer outro "local europeu", por forma a dar mais liberdade aos governos, é mais provável a dissolução da zona Euro do que a sua integração.

Nesta fase do campeonato já começo a gabar a paciência dos alemães em querer continuar com o projeto do euro.
É que parece que ainda não perceberam que quanto mais tolerantes e compreensivos se mostrarem com este tipo de afirmações, mais a corda é esticada por aqueles que a querem ver esticada.
Não há um limite "ético" para a extorsão. O único limite que há na extorsão é o límite físico daquele que é saqueado, nada mais.

Até onde poderemos ir nesta farsa? Só os alemães é que podem decidir isso. Talvez estejam a comprar tempo para "livrar" os bancos privados alemães dos ativos tóxicos que ainda possuem do Sul da Europa. Quem sabe..

Não gostamos nada deste tipo de jogo do gato e do rato para com a Alemanha.
Todos sabemos que os alemães não são "jogadores", são antes racionais, básicos no raciocínio lógico e pouco dados a meterem-se com aldrabões. Se começam a encher, a encher, a encher; depois rebentam de uma só vez, como uma panela de pressão.
Ainda há muitos europeus vivos com memória do que foi uma Europa dessas.
Como cidadãos, temos todos a responsabilidade de evitar que essas memórias se repitam.

Tiago Mestre

5 de agosto de 2012

Ainda mais manipulação no mercado de trabalho. Não chega o que já temos?

Sendo este governo tendencialmente "amigo" da economia privada e desejoso de não se intrometer na vida privada de cada cidadão, já começa a estar na hora de apresentar reformas que nos guiem nesse sentido.

Continuar a empilhar asneiras em matéria de política económica, umas em cima das outras, é que já não há pachorra.

Já se percebeu que o Estado, ao ter entrado no mundo do mercado privado há umas décadas, através do Instituto de Emprego e Formação Profissional, criou as condições para que a distorção no mundo laboral tomasse forma, tendo chegado ao ridículo de hoje os IEFP serem mais Centros de Desemprego do que qualquer outra coisa.

A criação de subsídios de desemprego com duração e montantes exagerados começa a ter os dias contados (e ainda bem), mas apenas porque não há dinheiro, ou seja, a filosofia não se questiona. E por falar em filosofia que não se questiona, a manipulação do mercado de trabalho pelo setor público continua a marcar pontos:


Caro sr. ministro, se a manipulação do setor público para com o privado tivesse dado resultado, há muito que o desemprego teria sido eliminado da face da terra e todos os que tinham entrado na miséria já de lá teriam saído. Não foi isso que aconteceu, foi EXATAMENTE O OPOSTO.

Não insista em reforçar as mesmas políticas que nos levaram até este estado deplorável de desemprego de 20% com a esperança de que terá resultados diferentes no futuro. Simplesmente não funciona, porque para políticas bem intencionadas há sempre consequências indesejadas. O próprio caminho para o Inferno é feito de boas intenções.

Adam Smith escreveu em 1777 na "Bíblia" económica: a "A Riqueza das Nações", que nos países onde o capital é distribuído em atividades reprodutivas, todos enriquecem, e quando o capital é distribuído para ociosidade, o declínio é inevitável.

Se o povo português que está no ativo já se revolta com gente que recebe subsídios sem fazer nada, então o que dizer agora do pessoal que irá receber dos 2 lados.

Ninguém quer descontar, todos querem usufruir.

Tiago Mestre

4 de agosto de 2012

Já não há solução que valha ao status quo

5 minutos em que Charles Biderman nos explica qual é a falha que subjaz à tentativa de manutenção do status quo dos Estados modernos, onde Portugal e a Europa se incluem.



Tiago Mestre

Grécia recebe mais uma dose do BCE para manter o vício

Na senda do delay and pray, fenómeno político europeu que no início nos deixou incrédulos, mas que agora já damos como "normal", continua a fazer das suas:

Por forma a evitar a falência da Grécia no mês de Agosto, o BCE voltou a adiar as decisões difíceis e "baixou um pouquinho mais as calças", desculpem-nos a expressão:

Até agora, o BCE só aceitava 3 mil milhões de Bilhetes do Tesouro de um país da zona euro como colateral para a concessão de empréstimos ao abrigo do programa ELA (Emergency Liquidity Assistance).

Como este plafond já foi excedido pela Grécia, o que é que se faz?
Aumenta-se o plafond

Passaram dos 3 mil milhões para os 7 mil milhões de euros

Problema resolvido... para já!

Tiago Mestre

3 de agosto de 2012

Profecia concretizada

Vazelios, ilustre leitor e comentador do Contas, escreveu ontem num comentário a propósito das declarações de hoje de Draghi:

"Cheira-me que na quinta vão desiludir muita gente e sexta vai ser um dia negro"


Metade da profecia já está realizada, e a julgar pelo fecho das bolsas hoje ao fim do dia, parece que a segunda metade está bem encaminhada.

Nada melhor do que, como cidadãos anónimos que somos, querer perceber a realidade e antecipar eventos em função da nossa compreensão sobre os assuntos em questão.
Ganhamos "tarimba" e uma certa credibilidade aos olhos dos outros, exigindo  mais de nós e perpetuando este ciclo virtuoso.


Um bem haja.


Tiago Mestre

2 de agosto de 2012

Mario Draghi vai nu

Hoje assistimos em direto a uma das maiores humilhações a que um líder político se pode sujeitar.

A espetativa em relação às afirmações de Draghi já era grande, claro, tais foram as revelações bombásticas da semana passada.

O processo cheirou-nos muito mal desde o início.

Quer dizer, o líder do BCE vai a convite de uma universidade fazer uma conferência, e lá pelo meio espeta esta alarvidade:

"Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para salvar o €" ... pausa de 2 segundos ... " e acreditem, será o suficiente."



1ª asneira
Vir fazer política para uma palestra a convite de uma instituição que não tem nada a ver como BCE.
Revela falta de respeito pelo anfitrião.

2ª asneira
Prometer coisas vãs, dando a entender que tem um arsenal de armas à sua disposição, sem especificar ABSOLUTAMENTE NADA.
Revela falta de respeito para com a comunidade financeira e com os cidadãos em geral

3ª asneira
Não ter apoio político como suporte às pseudo promessas que fez.
Revela uma mega operação de bluff e de chantagem velada aos alemães, colocando-lhes uma pressão sem ética nenhuma em cima.

4ª asneira
O tempo corria a seu desfavor. Desde quinta-feira que só teve 4 dias úteis para montar esta mega-operação pós chantagem. Os alemães estavam pior que estragados, e de certeza que o melindre da situação bloqueou ainda mais a sua já pouca predisposição para ouvir os disparates de Draghi.

Draghi é o único culpado de toda esta humilhação, e se julgou há 5 dias que tinha poderes para executar um plano, quando afinal não tem condições políticas para o pôr em marcha, só há uma solução digna:

PEDIR A DEMISSÃO DO CARGO

Tiago Mestre

Muita teoria na sala de aula, pouca eficácia no terreno.

Custa-nos a acreditar que numa Europa e nuns Estados Unidos, onde se estuda Economia "às pazadas" desde há décadas, onde nasceram toda a espécie de teorias económicas ao ponto de muitos economistas lutarem por elas, se tenham revelado tão pobrezinhas no terreno, senão vejamos:

Já sabemos que a prosperidade dos EUA foi construída sobretudo no século XIX, onde não havia nem Reserva Federal nem o fiat money que hoje conhecemos. Chegou a haver pontualmente emissão de notas pelo Estado sem ter ouro por trás, mas grosso modo as notas eram sobretudo emitidas pelos bancos privados e estes, para evitarem corridas da população em querer trocar as notas pelo ouro (nem sempre foi possível), lá se iam precavendo com algum ouro nos cofres.

Entra em ação a Reserva Federal com o objetivo de suster o pânico do final da 1ª década do século XX, e acontece isto:



O dólar foi o saco de boxe da tentação dos políticos: gastar dinheiro


E na Europa, "graças" a 2 guerras mundiais devastadoras, foi preciso reconstruir muita coisa, tendo os anos 50 e 60 sido o apogeu do crescimento económico. Desde a década de 70 que o fôlego se foi perdendo, e para compensá-lo recorreu-se à inflação (impressão de notas) nos anos 70 e 80, e a partir dos anos 90 recorreu-se massivamente ao crédito, tendo essa bolha durado até 2010.

Hoje, com os países a crescerem menos de 1% ao ano, discute-se "doutrinariamente" se deve o BCE imprimir muito ou pouco como solução para tirar muitos dos Estados europeus da completa falência e estimular o regresso ao crescimento económico. É pobre, muito pobre.

Pergunta:
Acham que se resolvem insolvências com impressão de notas e criação artificial de crédito para pagar crédito?

A nossa incredulidade é esta:
Como foi possível que as teorias económicas e respetiva aplicação no terreno se tivessem descolado tanto, mas tanto, da realidade e das forças da Natureza, ao ponto de nos ter induzido num mundo de tal forma artificial que agora até parece não nos dar as condições mínimas para regressar ao outro, ao mundo real.

Claro que regressaremos ao mundo real, mais cedo ou mais tarde, e será a Natureza a encarregar-se dessa tarefa, quer os Homens queiram quer não queiram. Por agora, tem-se adiado de forma bastante ardilosa este regresso, mas não passa disso mesmo.

Grécia, Portugal e Irlanda foram os primeiros a cair, mas tais epifenómenos são apenas a abertura da caixa de Pandora, porque o que aí vem (e que já está em marcha) revelar-se-á muito para além da imaginação dos economistas mais criativos que temos na praça.

Virem-nos falar de "soluções" como mutualização da dívida europeia, Eurobonds, orçamento único, abdicação de soberania nacional para dá-la à Europa, BCE imprimir à maluca, ESM e EFSF a alavancarem-se sem capitais, resumindo: MAIS EUROPA, e outras tontarias que tais, parece-nos tão só a continuação deste estado infantil de discussão dos assuntos.
Só a Alemanha, com a sua tentativa de induzir austeridade, ou seja, não gastar mais do que se recebe, é que se tenta aproximar das leis da Natureza.

Já é um bocadinho difícil ter paciência para tanta conversa fiada.

Tiago Mestre

1 de agosto de 2012

Parabéns a Ben Bernanke por ter manipulado os mercados sem gastar um cêntimo

Ben Bernanke conseguiu, mais uma vez, enganar o planeta inteiro, única e exclusivamente com a força das palavras.

Com as várias reuniões que teve no último mês e respetivas aparições públicas, conseguiu criar a esperança de que mais cedo ou mais tarde a Reserva Federal irá fazer qualquer coisa para impulsionar os mercados.

O termo " We will do whatever it takes" ganhou uma tal projeção na mente dos investidores que os levou a adquirir ações antes da Reserva Federal, na esperança de que esta as adquirisse mais cedo ou mais tarde.
Os líderes europeus, com vários meses de atraso, perceberam a força do termo e agora não querem outra coisa.

Parabéns a Bernanke pela mestria em manipular os mercados sem gastar um cêntimo, contudo há aqui um senão:

Acreditamos que o preço a que as ações estão hoje incorpora este sentimento bullish de que a Reserva Federal irá fazer qualquer coisa.

Ben Bernanke, se não quiser abrir os cordões à bolsa, terá que continuar a simular, dissimular, evadir-se em lirismo e continuar a alimentar a esperança dos investidores, caso contrário a porta do inferno abrir-se-á mesmo à sua frente.

Veremos até onde a farsa vai.


Desde o início de Junho (2 meses) que o Dow Jones levitou sem nenhum fundamento técnico:

Os indicadores económicos americanos deterioraram-se imenso e os lucros das empresas do índice Dow Jones estão abaixo das espectativas e dos respetivos valores homólogos.

Tiago Mestre

Às vezes a manipulação dá nisto: ainda mais manipulação...

Escrevemos a 29 de Abril a propósito da decisão do tribunal de Portalegre em perdoar a dívida ao devedor caso este entregue a casa ao banco:

"3. Perigosa porque os bancos credores terão que se adaptar à potencial barragem de créditos delinquentes e imóveis que lhes espera, adoptando estratégias de sobrevivência como a subida de spreads a toda a gente ou a inserção de novas taxas de "gestão de conta" e demais extravagâncias administrativas. Paga o cumpridor pelo prevaricador."


Mais cedo ou mais tarde os bancos iriam adaptar-se a esta nova realidade, e com a falta de lucros que estamos a assistir neste tipo de empresas, todos os cêntimos contam:




Síntese histórica deste caso:


1ª manipulação estatal:
Juiz decide substituir-se aos contratos livremente assinados, criando jurisprudência.


Consequências no setor privado:
Bancos antecipam aumento de taxas e comissões para se precaverem da barragem de delinquentes que podem aparecer.


2ª manipulação estatal:
Banco de Portugal quer intervir nas margens das comissões dos bancos por considerar que os aumentos são abusivos.


Consequências no setor privado:
Aguardamos pela criatividade e engenho dos banqueiros e seus consultores.


3ª manipulação estatal:
Banco de Portugal interfere diretamente nas taxas e comissões, limitando tetos, valores máximos, etc, etc.


Mas que não restem dúvidas aos nossos leitores:


Quer concordemos ou não com a decisão do juiz, a consequência inevitável é que teremos os justos a pagar pelos pecadores.


É assim que ajudamos um país a empobrecer:
1. Retirando os estímulos a quem é honesto e sério
2. E reduzindo os sofrimentos a quem é imprudente


E tudo isto só pode resultar numa coisa:

Um aumento no comportamento dos segundos e uma escassez no comportamento dos primeiros.


Tiago Mestre