6 de agosto de 2012

Monti volta a jogar a cartada da extorsão

Já todos percebemos que a construção do projeto europeu, sobretudo no plano financeiro e económico, foi uma grande tentativa falhada de planificação centralizada.

A moeda Euro até começou bem, tendo acumulado muita espectativa positiva por parte de investidores e cidadãos, mas a pouco e pouco as falhas na "construção" deste projeto tornaram-se cada vez mais visíveis e as fraturas começaram a ficar cada vez mais expostas.

Com o advento da desconfiança dos investidores para com os países do euro mais endividados e menos prósperos, as coisas fugiram totalmente do controlo dos planificadores.

Deixando de haver controlo, deixa de haver previsibilidade, e neste contexto a incerteza entra em ação. Gere-se um dia de cada vez, e perante a visão do abismo por parte de alguns políticos, sobretudo os do Sul, políticas alternativas entram em ação.

Já inúmeras vezes explorámos aqui no blog as afirmações e tomadas de decisão dos políticos gregos que roçam a chantagem e a extorsão, e mais recentemente dos espanhóis e italianos.
A pressão que estes têm colocado em cima da elite política alemã está a deixá-la à beira de um ataque de nervos.
Neste jogo de extorsão e chantagem Sul vs Norte, Mario Monti demonstrou este fim de semana, mais uma vez, em que tabuleiro político prefere jogar.

Numa entrevista ao jornal alemão Der Spiegel, Mario Monti volta a chantagear os alemães, afirmando que caso a Alemanha não "baixe mais as calças" (leia-se impressão de guito pelo BCE), é a Europa (já nem é a zona Euro), como um todo que se pode dissolver.

Mais, caso não haja transferência de soberania dos parlamentos nacionais para Estrasburgo ou para qualquer outro "local europeu", por forma a dar mais liberdade aos governos, é mais provável a dissolução da zona Euro do que a sua integração.

Nesta fase do campeonato já começo a gabar a paciência dos alemães em querer continuar com o projeto do euro.
É que parece que ainda não perceberam que quanto mais tolerantes e compreensivos se mostrarem com este tipo de afirmações, mais a corda é esticada por aqueles que a querem ver esticada.
Não há um limite "ético" para a extorsão. O único limite que há na extorsão é o límite físico daquele que é saqueado, nada mais.

Até onde poderemos ir nesta farsa? Só os alemães é que podem decidir isso. Talvez estejam a comprar tempo para "livrar" os bancos privados alemães dos ativos tóxicos que ainda possuem do Sul da Europa. Quem sabe..

Não gostamos nada deste tipo de jogo do gato e do rato para com a Alemanha.
Todos sabemos que os alemães não são "jogadores", são antes racionais, básicos no raciocínio lógico e pouco dados a meterem-se com aldrabões. Se começam a encher, a encher, a encher; depois rebentam de uma só vez, como uma panela de pressão.
Ainda há muitos europeus vivos com memória do que foi uma Europa dessas.
Como cidadãos, temos todos a responsabilidade de evitar que essas memórias se repitam.

Tiago Mestre

8 comentários:

Vivendi disse...

Excelente análise Tiago!

A temperatura não para de subir na panela de pressão do €. Eu acho que a Alemanha tem de se libertar a pressão aos poucos. Ou seja,a Alemanha ou torna a perdoar dívida a Grécia ou manda-a para fora do €. É duro, mas a realidade fundamentada das coisas também o é!


Abraço, boa semana.

Anónimo disse...

Eu "concordava" c/ a argumentação do Monti se a sua posição fosse mais sólida, baseada em resultados visíveis.
Agora, ao governo de um País c/ nítidas anomalias económicas? Parece-me um bocadinho presunçoso até porque acho que está numa posição de "deve fazer" e não na outra de "mandar fazer"!

Bruno Morais

Tiago Mestre disse...

Há uma expressão inglesa que se aplica bem aqui:

Beggars can't be choosers

Os pedintes não podem ser os que escolhem

Monti é um beggar, e não um chooser. Deve-se por no seu lugar

Anónimo disse...

ha algo q nao percebo bem.. o monti como ex-goldman não está no mesmo lado da barricada que os alemães? não anda a atirar areia para os olhos?

Tiago Mestre disse...

Eu ainda sou daqueles ingénuos que acredita que o homem está a tentar (mal) defender os interesses da Itália..

Vivendi disse...

Goldman Sachs é pró USA / UK... Imprimir nota.


Capisce!

Anónimo disse...

mas no caso era o BCE q deveria imprimir, nao os US/UK.

peço desculpa se digo parvoíces mas isto é uma area que me estou a interessar mais e claro, há coisas que não apanho. estou aqui para aprender.

Tiago Mestre disse...

Caro anónimo, estamos todos a aprender, e às vezes a desaprender, tal é o ridículo de toda esta situação.

Monti pede para se imprimir nota porque "sabe" da dor que é exigir reformas e austeridade a sério já.

A Itália precisava de um orçamento com superavit para começar a desalavancar os seus 120% de dívida em função do PIB.

E mesmo que o faça já, poderá ainda vir a sofrer muito, tal é a desconfiança instalada.

Goldman Sachs quer é GANHAR dinheiro, e nesta fase do campeonato, aumentar taxas de juro e reduzir a impressão de nota é muito desfavorável para as contas do banco