São os grandes bancos portugueses que se degladiam pelas obrigações portuguesas.
Com esta notícia evidenciamos o que já desconfiávamos aqui no Contas há algum tempo:
Sendo as obrigações portugueses consideradas elegíveis como colateral para a obtenção de empréstimos junto do BCE, os bancos portugueses, enfiados entre a espada e a parede, não têm escolha:
1º Passo:
Adquirir obrigações portuguesas nos mercados internacionais
2º Passo:
Mostrá-las ao BCE e pedir dinheiro emprestado a 0,75%
3º Passo:
Ganhar dinheiro com as obrigações, já que as yields rondam os 5 e os 10%, consoante a maturidade
4º Passo:
Emprestar o dinheiro do BCE à economia, com taxas a rondar os 5 a 10%, quer seja para financiar empresas, crédito ao consumo, habitação, whatever. Comprar ao BCE a 0,75 e vender a 5-10 tem um nome: carry trade. Quase que me apetecia ser banqueiro ao analisar este assunto de forma tão simplista...
Até ao quarto passo parece que estamos a viver no país das maravilhas. Daqui para a frente a coisa complica-se:
5º Passo
O dinheiro emprestado ao público não oferece garantias de retorno, devido à recessão e à quebra do poder de compra. Casas que são entregues, carros que não se pagam, investimentos que vão à falência sempre pesam qualquer coisa nas imparidades dos bancos.
6º Passo
As obrigações adquiridas possuem um determinado valor no mercado. Caso haja mais gente a vender do que a comprar, esses mesmos preços descem, tal e qual como uma ação. Caso desçam, o banco terá que reportar no final do ano essas imparidades, isto no caso de querer ser sério e informar a comunidade de que os seus ativos estão valorizados em modo mark to market. Registar perdas obriga a "fugir" da falência, pedindo aos investidores para reforçarem os cofres do banco, através de aumentos de capital e outras operações semelhantes.
7º Passo
Perpetuando-se este ciclo, os bancos transformam-se em máquinas desesperadas de obtenção de liquidez (comprar obrigações e espetá-las no BCE) prejudicando cada vez mais a sua solvência (obrigações a cair no preço e ter que registar essas imparidades).
Não há almoços grátis, e até nesta situação, julgando-se que os bancos estão a fazer ótimos negócios junto do BCE, estão é a ficar cada vez mais dependentes deste fluxo de dinheiro.
Jens Weidmann, presidente do Bundesbank, chamou-lhe droga, no outro dia!
Fica ao critério de cada leitor encontrar a expressão que melhor defina este dilema "entre a espada e a parede" em que os banqueiros se enfiaram.
Talvez agora já se perceba melhor como é possível ocorrer este "paradoxo" de conjugar pouquíssima liquidez com subida de preços.
É a tal "mão invisível", mas não aquela que conhecemos e que se chama Mercado. É outra, e bem humana..
Tiago Mestre
1 comentário:
Boa!
Conseguiste expor a farsa montada dos bancos.
Hoje em dia os bancos são parte do problema não a solução.
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