17 de agosto de 2012

Subida do preço das ações, e queda no seu volume

O baixo volume a que temos assistido nos mercados de ações nos últimos tempos reflete tão só a falta de apetite dos investidores em apostar neste tipo de produto financeiro.

Com a falta de liquidez, as subidas refletem apenas a vontade de alguns, e o mesmo se passa quando a tendência é de queda.

Se a liquidez está abaixo dos níveis de 2002, conforme noticiou hoje a edição online do Económico, e com tanta injeção de dinheiro desde essa altura sob a forma de crédito com juros ridículos, vemos hoje que tal fenómeno de alavancagem começa paulatinamente a regredir. Os bancos centrais tudo fazem para evitar esta tendência, quer através da redução e manutenção das taxas de juro inferiores a 1%, quer pela diminuição na qualidade do colateral exigido para a concessão de empréstimos diretamente aos bancos centrais.

A verdade é que é preciso pagar os créditos que vencem, e se possível não voltar a emitir nova dívida para desalavancar as empresas e as instituições.
No meio disto tudo há mortos e feridos:
Os mercados financeiros e todos os títulos agarrados a esses mercados são tendencialmente menos procurados.
E já todos sabemos o que acontece aos preços dos títulos quando há mais gente disposta a vender do que a comprar. Tal tem sucedido nas praças financeiras agarradas a países com maior nível de endividamento e fraco crescimento económico, como Portugal, Espanha e outros.

Não obstante, a subida nos mercados de ações que se tem verificado nos últimos dias parece estar impulsionada por uma esperança vã por parte dos investidores acerca da vontade dos políticos, que conforme a história nos ensina, estão dispostos sempre a fazer qualquer coisa quando as asneiras se acumulam em grande quantidade.

Tal cenário económico altamente precário e "agarrado à máquina" pelos bancos centrais deixou de fora muitos investidores. Ficaram aqueles que mais gostam de arriscar, ou por gosto próprio ou por desespero em tentar agarrar-se a qualquer coisa que garanta o mínimo de rentabilidade.

Hoje em dia parece que já não há títulos que garantam o mínimo de rentabilidade, e portanto para ganhar alguma coisa joga-se cada vez mais no casino especulativo do sobe e desce. Todos esgravatam para arrancar qualquer coisinha destes mercados, e quanto mais yield buscam, mais se metem em ativos tóxicos, como as obrigações soberanas de países que não possuem condições objetivas para pagar as suas dívidas.

As ilhas de segurança começam a escassear, e quanto mais se procura por elas, menos atrativas se tornam, ao ponto de haver produtos financeiros com yields negativas há já várias semanas, fenómeno impensável há meia dúzia de anos.

Tiago Mestre

4 comentários:

Manuel Galvão disse...

O problema é que as pessoas continuam com o preconceito que "dinheiro faz dinheiro" mesmo quando esse dinheiro não é aplicado na produção de bens ou serviços que respondam às necessidades de clientes.

É um preconceito semelhante ao de que "comprar imobiliário é seguro, vale sempre mais".

Se os governos dos países do primeiro mundo não fossem tão corruptos tinham cumprido a lei aquando do subprime. Tinham deixado falir os bancos que não cumpriram as boas práticas de gestão. Se isso tivesse acontecido é que as pessoas acreditavam que a partir de então os bancos sobreviventes não entrariam em aventuras semelhantes. Ter-se-ia criado a confiança no sistema que hoje tante se lamenta não existir.

Tiago Mestre disse...

Adiam-se as decisões difíceis, deixando as decisões fáceis e imediatistas para o presente.

1. Quem é quer ser responsável por permitir que um ou dois bancos vá à falência?
2. Quem é que quer ser responsável por impedir a Grécia de se financiar?
3. Quem é quer quer ser responsável por ser o primeiro a sair do Euro?

Ninguém. E Porquê?
Falta de coragem.

O próprio ministro finlandês o disse:
Ninguém quer ser o primeiro a desistir, mas estão todos esganadinhos pró fazer

Manuel Galvão disse...

Para mim não é nada disso.
O que aconteceu com o BPN foi que o Teixeira dos Santos também andava lá a jogar na roleta russa com o dinheiro do estado, e não quis mostrar essa caraca. E muito "amigos" do PS (e não só) só conseguiram tirar o cavalo da chuva com a solução privatização. O Zé Povinho que pague!

O caso da Grécia é semelhante; os bancos alemães emprestaram à toa aos gregos, para que estes comprassem os produtos da indústria alemã (financiamento indireto), a crédito, sobretudo em armas, com a desculpa que se não o fizessem eles iam comprar à Rússia... mesmo depois de ser conhecido o descalabre financeiro da Grécia, a alemanha ainda pressionou para que os gregos cumprissem os contratos de fornecimento de submarinos - a crédito !!!

Ninguém quer ser apontado pelos orgão de comunicação social como sendo o responsável do descalabre do euro. Mas se isso acontecer, aquele que for apontado não é certamente o principal responsável.

Nos tempos que correm temos que nos habituar a ler mais as entrelinhas do que os jornais escrevem do que as linhas. E tentar não ler as gordas!!! è tudo mentira !

Filipe Silva disse...


A realidade é que o sistema financeiro internacional é corrupto, Basta ver como foi inventado e por quem.

A realidade é que quando os banqueiros são os mesmos que os reguladores, basta ver quem são as pessoas e onde estiveram antes de irem para as autoridades monetárias, ou até membros do nosso governo.

A realidade é que não existe mercado livre, nem interessa aos cronys que o aja.

O sistema de reserva fráccionada com banco central cria estes problemas, o sistema leva a que exista um monstruoso Moral Hazard.

A crise é uma crise de crédito, como foi a de 1929, a divida como o Tiago já aqui apresentou é impagável.

Outra coisa, com estes politicos que com condições excepcionais para dar mos o salto, tivemos uma decada perdida, agora estes com poderes para gerir a moeda, sinceramente assim vão ser 30anos perdidos.

Vão inflacionar, e vão arrebentar com a economia, numa primeira fase vai ser tudo rosas, para depois ficarmos pior do que hoje estamos.

O euro para Portugal é positivo, obriga aos politicos a fazer o que não querem.

Mas a realidade é uma, enquanto não se queimar a constituição e fazer uma em condições não vamos a lado nenhum.