31 de janeiro de 2012

Mensagem de acutilante inteligência por parte do Sr. Presidente do Supremo Tribunal de Justiça esta tarde (Dr. Noronha do Nascimento)

Caros leitores e leitoras, fomos hoje agraciados por uma afirmação, de carácter genial, proveniente do Sr. Dr. Noronha do Nascimento.

Este, discursando na Abertura do Ano Judicial, referiu mais ou menos isto:

Se o corte nos direitos adquiridos é para levar à séria, nomeadamente nas pensões, salários e prestações sociais, então deveremos englobar nesta ideologia também todo o tipo de direitos, nomeadamente direitos obrigacionistas dos credores, os direitos de propriedade e os direitos societários de sócios. Pode ouvir aqui as declarações do Dr. Noronha sobre este assunto.

Confesso-vos que nunca tinha pensado nisto desta forma, mas esta afirmação veio clarificar algo que já "sentia" estar certo:
Declarar bancarrota a credores é tão juridicamente "(a)normal" como retirar direitos adquiridos a cidadãos, nomeadamente salários, subsídios, etc.

Esta constatação é mais uma evidência de que a posição unilateral do governo em cortar salários, subsídios e outros, e não cortar nos credores, sofre de um grande mal: coerência jurídica e até moral. Atacar os menos protegidos e beneficiar quem está armado (jurídica e financeiramente) até aos dentes só pode ter uma qualificação: cobardia política, que significa receio das consequências em querer atacar os mais fortes, nomeadamente os credores internacionais.

Declarar bancarrota não é coisa bonita, é feio, é vergonhoso, ninguém gosta, abre caixas de pandora e é ilegal, mas se é imperativa a redução da despesa, então que se reduza preferencialmente nos encargos da dívida e SÓ depois nos salários e pensões dos portugueses, cidadãos anónimos que pouco ou nada contribuíram para o lamaçal financeiro em que nos enfiámos e que muito certamente produziram e descontaram o suficiente para ter todo o direito à respectiva remuneração.

Agradecemos desde já ao Dr. Noronha a clarividência da afirmação e por permitir que as nossas ideias se tornem mais credíveis às mentes mais desconfiadas, quer no plano jurídico, quer no plano moral.
A necessidade de bancarrota deixa de ser hoje uma ideia apoiada por sectaristas e catastrofistas como muita gente tanto gosta de apelidar. Passa assim a ser defendida por cidadãos iguais a quaisquer outros, que provavelmente reflectiram bem mais sobre esta complexa questão do que a maioria dos opinion makers da nossa praça.

Um bem haja.

Tiago Mestre

Tratado de Lisboa vai ser alterado! E o referendo?

Caros leitores e leitoras, hoje ouvimos o Bloco de Esquerda a reclamar a necessidade de um referendo sobre as alterações ao Tratado de Lisboa que foram acordadas na cimeira de 30 de Janeiro 2012.
Não poderíamos estar mais de acordo, contudo a liderança europeia foge a sete pés desse cenário porque já sabe qual seria o resultado. Já por várias vezes abordámos esta questão, mas houve um post a 11 de Outubro que não resistimos a replicar novamente:

2005 - Referendo na Holanda sobre a nova Constituição Europeia: "NÃO" ganhou
2005 - Referendo em França sobre a nova Constituição Europeia: "NÃO" ganhou 
2007 - Substituição da Constituição Europeia pelo Tratado de Lisboa
2008 - Referendo na Irlanda sobre o Tratado de Lisboa: "NÃO" ganhou
2008 - Países da UE ratificam o Tratado nas Assembleias Nacionais, evitando referendos que perspectivavam o chumbo do Tratado
2009 - 2º Referendo na Irlanda sobre o Tratado de Lisboa: "SIM" ganhou 
2009 - A 1 de Dezembro o Tratado de Lisboa entra em vigor
2010 - Resgate financeiro à Grécia, violando o Artigo 125º do Tratado de Lisboa (é a nossa interpretação)
2010 - Banco Central Europeu adquire dívida no Mercado Secundário de Países com problemas em se financiarem, violando Artigo 123º e 124º do Tratado de Lisboa (é a nossa interpretação)
2010 - Resgate Financeiro à Irlanda, violando o Artigo 125º do Tratado de Lisboa (é a nossa interpretação)
2011 - Resgate Financeiro a Portugal, violando o Artigo 125º do Tratado de Lisboa (é a nossa interpretação)
2011 - Cimeira de 21 Julho - Acordo para a expansão do Fundo de Resgate, conferindo novas ferramentas ao mesmo, violando os Artigos 123º, 124º e 125º (é a nossa interpretação)
2011 - Aprovação nos Parlamentos nacionais do acordado na cimeira
11 Outubro 2011 - Rejeição da Expansão do Plano pelo Parlamento da Eslováquia. 55 Votos a favor, 71 Votos contra. O Governo cai.

Janeiro 2012 - Os 25 líderes da União Europeia chegam a acordo para a alteração do Tratado de Lisboa, incluindo uma transferência de soberania para a UE sobre os orçamentos públicos nacionais.
Qual é a intenção dos líderes europeus em referendar esta perda de soberania nacional? Tanto quanto sabemos, NENHUMA.

Nesta mesma cimeira de 30 de Janeiro pediu-se aos líderes nacionais que apontem caminhos para reduzir o desemprego nos seus países de origem. Fica a questão: desde quando é que os políticos têm a obrigação, e sobretudo a capacidade de criar emprego?

Ora, em primeiro lugar a classe política costuma perceber muito pouco de economia privada, depois não tem meios nem capacidade para modificar essa realidade, e por último sempre que tenta alterar qualquer coisa, apenas consegue beneficiar uma parte dum sector em detrimento da outra, criando desequilíbrios e interferindo na regulação natural das leis do mercado. É pior a emenda que o soneto.

Tiago Mestre

30 de janeiro de 2012

Alemanha gostaria de "mandar" no orçamento da Grécia!

Pois, com o dinheiro que a Alemanha já enterrou na Grécia, e aquilo que se perspetiva vir a enterrar no futuro muito próximo, tanto lá como cá, e noutros países mais "fracos", faz-nos pensar que tempos desesperados exigem medidas desesperadas.

Querer mandar no orçamento é uma medida desesperada (errada) que procede de outra medida errada - a ajuda financeira dos países "ricos" aos países "fracos". É empilhar camadas de asneiras em cima de camadas de asneiras.

Como a proposta só interessa à Alemanha, e talvez à Holanda e a mais 2 ou 3 países, muita oposição surgiu por aí estes últimos dias.

Mas no dia da verdade, quando a Alemanha tiver que avançar com o dinheiro, veremos quem manda. E se quisermos receber o dinheiro emprestado lá teremos que aceitar as condições que nos impõem.

Tiago Mestre

Terá a Alemanha capacidade para liquidar as dívidas da malta do sul da europa?

Caros leitores e leitoras, há muito que andamos a ouvir de algumas autoridades políticas, tanto portuguesas como europeias, e também de muitos opinion makers, da necessidade da Alemanha intervir e a judar os países mais "fracos".


Mas há uma pergunta que deve ser colocada: Terá a Alemanha dinheiro para o fazer?

Houve um grupo económico alemão (CES ifo Group) que se deu ao trabalho de fazer as contas, a saber:

- 22 mil milhões para o 1º primeiro resgate à Grécia acordado em Maio 2010;

- 1,8 mil milhões devido à percentagem da Alemanha no FMI (6%) para esse mesmo resgate;

- 12 mil milhões devido à percentagem da Alemanha no orçamento da UE (20%), também para esse mesmo resgate;

- 253 mil milhões para o EFSF (FEEF em português) estabelecido em Junho 2010, como valor referente a uma percentagem de 27,1%;

- 15 mil milhões devido à percentagem da Alemanha no FMI (6%) no contributo desta instituição ao EFSF;

- 94 mil milhões devido à percentagem da Alemanha no BCE (27,1%). Inclui-se a percentagem de Portugal, Grécia, Irlanda, Itália e Espanha pelo facto destes píses não poderem assumir os seus compromisso junto do BCE, elevando a percentagem da Alemanha para 43%;

- 237 mil milhões através do programa Target2 do BCE. Basicamente o BCE pede emprestado de alguns bancos centrais (de países mais fortes) para emprestar a outros bancos centrais (ultimamente a países mais fracos).

Tudo somado dá a módica quantia de 635 mil milhões de euros de exposição da Alemanha ao resto da Europa. Será isto credível? Até quando os credores alemães aceitarão tal política? Este valor representa 27% do PIB alemão!!

Fica ainda em falta o contributo da Alemanha para o novo mecanismo ESM, aprovado em cimeira europeia em 2011, a iniciar supostamente ainda em 2012 ou inícios de 2013. Se o seu valor for de 600 mil milhões, perspectiva-se que a Alemanha entre com mais de 250 mil milhões de euros

A crise das dívidas soberanas é uma verdadeira torneira aberta que não tem fim. Continuar o seu financiamento é entrar em território muito perigoso para os países que "ainda" são supostamente fortes. Até quando a classe política alemã aceitará tal drenagem de riqueza de um lado para o outro?

Tiago Mestre

28 de janeiro de 2012

Na Grécia está quase quase... falta um bocadinho assim (Parte 3)

A farsa já tem cronologia, cortesia do site Zerohedge:


   1/30/12
   * Sarkozy afirma no final da cimeira de que as negociações estão a avançar na boa direcção e há esperanças que nos próximos dias seja anunciado um acordo. Fonte
   1/29/12
   * IIF afirma que acordo deverá ser alcançado no decorrer da próxima semana. Fonte
   1/28/12
   * Venizelos afirma que o acordo está a um passo de ser firmado. Na próxima semana será assinado. Fonte

Gostavam que o vosso filho, o vosso patrão, o vosso melhor amigo ou até o vosso cônjuge vos enganasse assim tão descaradamente?

Tiago Mestre

Na Grécia está quase quase... falta um bocadinho assim (Parte 2)

Caros leitores e leitoras, passou uma semana e... nada.

Tanta certeza, tanta confiança, tanto otimismo, tantas declarações de que o acordo estava na calha !!

Já hoje vimos nas notícias que o comissário europeu Ohli Rehn afirmou em Davos que o acordo poderia ser firmado este fim-de-semana. São tretas a mais e a pachorra há muito que se esgotou. Se a elite europeia tem a certeza que o acordo está firmado, então que o afirmem sem receios, mas se não há acordo nenhum, por favor, digam a verdade, ou demitam-se para sempre.

Tiago Mestre

25 de janeiro de 2012

BCE começa a provar do seu veneno (Parte 2)

Caros leitores e leitoras, mais um artigo interessante, desta vez na edição online da Reuters, sobre o debate que já existe dentro do BCE acerca da assunção de perdas por parte deste sobre a dívida grega que consta no seu balanço. Uns querem assumir perdas, outros não. De uma forma ou de outra, as consequências serão sempre nefastas para o BCE: a sua indisciplina na aquisição de dívida tóxica sairá muito, muito cara.

http://www.reuters.com/article/2012/01/25/us-ecb-greece-idUSTRE80O2B020120125?feedType=RSS&feedName=businessNews&utm_source=dlvr.it&utm_medium=twitter&dlvrit=56943

Tiago Mestre

Economia portuguesa vs economia americana

Caros leitores e leitoras, em anexo remeto um artigo publicado na edição online do canal Bloomberg.

Basicamente, incide nas razões pelas quais muitos empresários fogem dos Estados Unidos e escolhem outro local para investir, nomeadamente na Ásia. E o problema principal não são os salários..

Na nossa opinião, as razões apontadas no artigo encaixam na perfeição a Portugal. Aproveitem.

http://www.bloomberg.com/news/2012-01-18/america-s-dirty-war-against-manufacturing-part-1-carl-pope.html

Tiago Mestre

24 de janeiro de 2012

BCE começa a provar do seu veneno

Caros leitores e leitoras, acabámos de ver uma notícia na edição online do Jornal de Negócios que refere a vontade do sector privado que está envolvido na negociação da bancarrota grega em envolver o BCe neste perdão. O Banco Central Europeu possui muitos mil milhões de euros de dívida grega, tentativa vã de acalmar os mercados.
Os economistas e políticos mais incautos afirmaram durante anos que o BCE podia literalmente fazer o que quiser. Enganaram-se, e agora vem o sector privado pedir ao BCE que abdique também de uma parte da dívida que possui nos seus balanços, ou seja, que também contribua no esforço do perdão.

Aqui no Contas fomos mais do que exaustivos em esclarecer esta questão, publicámos talvez mais de 10 posts enumerando as reservas e as dúvidas que naturalmente surgem quando vemos um banco central a comprar activos "tóxicos" dia sim, dia também.
No último post que publicámos sobre esta matéria, era já uma convicção nossa de que o BCE corria sérios riscos de declarar perdas sobre a dívida grega que integra nos seus balanços.

Seria uma questão de tempo até os credores privados se lembrarem do BCE para participar na bancarrota grega. Ei-la.

Tiago Mestre

PSD Madeira vs PS Açores

Supostamente teríamos um acordo entre o governo da República e o governo da região autónoma da Madeira a 16 de Janeiro. Tal não ocorreu e explicações não foram dadas. Presumimos que Alberto João não estará satisfeito com o que terá que assinar, mas prometeu ao povo português, em Dezembro de 2011, que assinaria, quer gostasse das propostas ou não.

Há aqui um problema de princípio nisto tudo:
Está-se a pedir a quem promoveu despesa sem cabimentação e aumento frenético da dívida durante décadas  que altere agora radicalmente o seu comportamento e passe a a controlar as despesas ao cêntimo. Nós aqui no Contas não acreditamos que tal alteração seja humanamente possível.
Mas não foi só Alberto João que abusou, foi uma parte significativa da população madeirense que se habituou a estradas sempre alcatroadas, transportes à porta de casa, estradas, viadutos e túneis a expandirem-se ano após ano, e pagarem tão poucos impostos para tanta obra. Tais costumes irão desaparecer e com isso evapora-se a suposta prosperidade de que a Madeira gozou durante décadas.

Para quem não consiga perceber bem como se desenvolveu a Madeira nas últimas décadas, nada como visitar a própria Madeira e... os Açores!

Os Açores são quase o oposto em termos de desenvolvimento face à Madeira. Quem vai aos Açores sente que entrou num túnel do tempo, assemelhando-se ao que era Portugal continental talvez há 50 anos. A agricultura reina, o comércio é muito fraco e serviços disponibilizados aos cidadãos cingem-se ao essencial. é quase desesperante tentar encontrar uma pastelaria na ilha de São Miguel.

Querem austeridade? Vão aos Açores
Querem endividamento? Vão à Madeira

O governo regional da Madeira gera 650 milhões de euros ao ano em receitas e tem uma dívida (conhecida) de 6500 milhões de euros. Basicamente a dívida é 10 vezes superior às receitas anuais. A este rácio só podemos aplicar um adjectivo: insolvência plena.


Se compararmos com as contas do Estado português, este gera receitas de 65 mil milhões de euros e possui uma dívida de 170 mil milhões. A dívida é quase 3 vezes superior às receitas totais. É mau, mas a Madeira é muito pior.

Tiago Mestre

Na Grécia está quase quase... falta um bocadinho assim.

Perante tantas declarações públicas, tanto dos políticos gregos, como de Bruxelas e outros que tais, era de esperar que o acordo sobre a bancarrota grega ficasse fechado.. ontem. Mas não, mais uma vez muita areia foi atirada para os olhos do povo e afinal o acordo... nem vê-lo. Acreditamos que mais cedo ou mais tarde ele será atingido, nem que seja à força, mas esta é mais uma falcatrua do marketing político.

Pelos vistos, a União Europeia quer que as novas obrigações gregas a 30 anos, que substituírão as actuais de maturidades mais curtas (esta é uma forma suave de declarar bancarrota), sejam emitidas com uma taxa de juro inferior a 4%!!  Oops, não estamos bem a ver quem é que aceita tal condição. Nos Estados Unidos, onde o mercado de obrigações possui muita adesão e liquidez, as obrigações a 30 anos americanas rondam pouco abaixo dos 4%, ou seja, a elite europeia acha que consegue "vender" obrigações de um país falido, sem liquidez obrigacionista e sem poder imprimir notas, nas mesmas ou ainda melhores condições do que os Estados Unidos, com todo o seu arsenal financeiro de impressão de dólares, comprar activos "tóxicos", etc, etc.

Pedir não custa, enfim..

E já agora, portugueses e portuguesas, preparem-se porque depois da bancarrota grega, os radares apontarão para Portugal. Tais desconfianças manterão Portugal fora dos mercados, obrigando a nossa muy valente nação a pedir novo resgate à União Europeia, e certamente com a promessa de bancarrota pelo meio, tal como se exigiu à Grécia há 6 meses.

A grande conclusão que tiramos disto é que a bancarrota de Portugal irá ocorrer, quer queiramos quer não, e se é para acontecer, então que seja JÁ, enquanto a dívida pública ainda não ultrapassa os 180 mil milhões. Se for daqui a ano, já ultrapassará os 200 mil milhões e assim sucessivamente.

Tiago Mestre

21 de janeiro de 2012

Grécia: primeira em tudo, até na democracia!

Caros leitores e leitoras, aguardamos pelo incumprimento que será decretado na Grécia. A decisão já deveria ter sido anunciada, mas até agora... nada.

Nós aqui no contas somos da convicção de que os credores gregos, por motivos vários, preferem esticar a corda até ao fim. Celebrar um acordo ainda fica muito longe desse limite.

Veremos se este incumprimento da Grécia lança as bases para o incumprimento de outras dívidas soberanas, como a portuguesa ou a irlandesa.

Também somos da convicção aqui no contas que a dívida portuguesa não é sustentável. Não geramos riqueza suficiente para pagar os juros e o capital. Esta constatação leva-nos a concluir que em algum dia a dívida terá que ser dada como impagável, e iniciar os procedimentos para declarar a bancarrota.

Declarar bancarrota significa começar de novo, limpar o que está mal, assumir as perdas e recomeçar, tanto para o devedor como para o... credor. Este terá que assumir as consequências por ter emprestado sem cautela.

Tiago Mestre

18 de janeiro de 2012

Mais um acordo laboral, mas desta vez um bocadinho mais radical..

Caros leitores e leitoras, a propósito do acordo laboral alcançado e assinado nas últimas horas entre o governo e algumas centrais sindicais, ouvimos dos líderes políticos que tal acordo representava um dia histórico.

Ora, os dias que mais marcaram a nossa história não se definem por decreto nem por palavras proferidas pela elite política, mas antes pela força dos acontecimentos que consubstanciam essa mesma data.

Acerca deste acordo, que não discutimos por desconhecermos as medidas em pormenor e as suas potenciais consequências, parece-me que dificilmente ficará para a história, não só porque muitas das medidas lá incorporadas são já "informalmente" aplicadas no sector privado e portanto o acordo passa por ser muito estéril, como também a estatística diz-nos que acordos laborais anteriores possuem um prazo de validade curto porque seguem muito atrás da realidade dos acontecimentos.

Daqui a um mês já ninguém se lembrará desta data.

Tiago Mestre

Stiglitz veio a Portugal. Será que já abalou?

Caros leitores e leitoras, soubemos hoje pelas notícias que o Nobel da Economia de 2001, Joseph Stiglitz, esteve em Portugal a falar sobre... Portugal.
Desconheço a sua sabedoria sobre a cultura portuguesa, mas à parte dessa questão, este senhor esteve envolvido com o governo grego de Papandreou na "suposta" recuperação do país em inícios de 2010. As consequências estão aí à vista de toda a gente.

Abaixo colocamos um vídeo em que se confronta o laureado com Hugh Hendry, um gestor de fundos privados que tanto apreciamos aqui no Contas, e um embaixador espanhol no Reino Unido.

A certa altura, (7m20s) Hugh Hendry refere que a Grécia terá que entrar em incumprimento mais cedo ou mais tarde, e qual a reacção de Stiglitz? That's absurd e abana a cabeça como se o que Hendry estava a sugerir fosse um... absurdo.

Sabemos hoje, a 2 anos de distância, quem afinal estava errado e estava certo.
Stiglitz não só foi derrotado no plano de ajudar a Grécia como julgava que o incumprimento era um absurdo. Demasiados erros num curto espaço de tempo para um laureado em economia.

Este tipo de sabedoria convencional não é necessária em Portugal; já cá há muita. Dispensamos também as ideias que Stiglitz trouxe aos portugueses a propósito de... Portugal.


Tiago Mestre

17 de janeiro de 2012

Mario Draghi aposta tudo, mas mesmo, mesmo tudo...

Caros leitores e leitoras, entrámos no domínio da estratosfera no que toca ao planeamento centralizado que o BCE está a fazer para manter levitado o castelo de cartas a que chamamos União Europeia:

Segundo um relatório hoje publicado no site ZeroHedge, correm rumores de que a 29 Fevereiro 2012, dia do 2º leilão do programa LTRO (financiamento a 3 anos com taxa de juro a 1%), os valores não serão parecidos com os 500 milhões do primeiro leilão de Dezembro, mas muito, muito mais. Especula-se que pode ir aos 10 biliões de euros (10 triliões de euros no sistema inglês). Este empréstimo acrescentaria 10 biliões de euros aos já 3,2 biliões no balanço do BCE. O balanço da Reserva Federal, com os seus 3,4 biliões de dólares, seria uma pálida quantia em comparação com o balanço do BCE.

Estes valores são verdadeiramente... estratosféricos, e assim iniciamos a tão desejada manipulação do BCE em tudo o que mexe em dinheiro, algo aguardado há muito por alguns dirigentes políticos europeus. Não dá para acreditar que a Alemanha, e em especial o director do Bundesbank: JensWeismann, embarquem nesta aventura suicida, mas enfim...

Este tipo de decisões fará descer o valor do euro face ao dólar, algo que a Reserva Federal não aceitará. Todas as outras moedas também se valorizarão face ao euro, e os governos desses países também não aceitarão.
Todos os bancos centrais irão a correr para imprimir moeda e mais moeda para evitar que a sua se valorize mais do que as outras, acrescentando mais uma peça no puzzle da maior hiper-inflação que o mundo irá assistir.

Quem ainda não é produtor de coisa alguma, está a tempo de o ser, porque quando isto aquecer, mais vale ter alguma produção do que ficar à espera que o preço dos bens alimentares suba 20, 30 ou 50% todos os dias.

Tiago Mestre

11 perguntas para se perceber como estamos e para onde deveremos ir, antes que seja à força

Caros leitores e leitoras, precisamos de ver respondidas pelo governo várias perguntas que são hoje a plataforma mínima de conhecimento para iniciarmos um plano reformista concreto, e que seja para cumprir:

1ª Pergunta: Quão baixo terá o PIB que descer para que as despesas públicas igualem as receitas públicas? 15%, 25%, 35%?

2ª Pergunta: Quando é que o Estado elimina o défice primário, ou seja, as receitas igualam as despesas, sem contar com os juros?

3ª Pergunta: Como será o sector público neste cenário de redução brutal da despesa? Quantos menos hospitais, quantas menos universidades e escolas superiores, quantos menos municípios, quantos menos transportes?

4ª Pergunta: Que potencial existe em território nacional para se produzir mais agricultura e mais indústria, essencialmente ligada ao sector primário? É possível aumentar a produção em 5%, 10%, 20% ?

5ª Pergunta: Qual deverá ser o peso relativo do sector primário, secundário e terciário na composição do PIB para que a balança comercial esteja mais ou menos pelo zero?

6ª Pergunta: Num cenário de maior produção nacional, qual será a quantidade de riqueza que terá que ser produzida internamente para comprarmos ao exterior aquilo que não temos nem conseguimos produzir? (energia e outros)

7ª Inventariadas as necessidades, quais os países preferenciais com quem nos devemos relacionar para que haja trocas entre aquilo em que somos excedentários e que outros precisam, e vice-versa?

8ª Pergunta: Se se constatar que não temos meios suficientes para nos tornarmos auto-suficientes, será que se entrarmos em bancarrota com os credores externos, tal operação deixa folga financeira para investirmos mais riqueza nacional em solo português? (Portugal inteiro: público e privado, paga ao ano aproximadamente 16 mil milhões de euros em juros)

9ª Pergunta: Tal decisão unilateral pode ser suportada pela UE e gerida com todos os credores? A Grécia já está a fazer esta operação

10ª Pergunta: Após a bancarrota é preferível abandonar o euro ou não? Quais as vantagens e desvantagens de uma e outra opção?

11ª Pergunta: Quais os motivos que levaram os investidores durante as últimas décadas a abandonar o solo português e fixarem-se nos países de leste? Foram questões laborais, legais, pouca produtividade dos portugueses?

Estas e muitas outras perguntas visam obter as respostas que consideramos essenciais para que se comece a pensar Portugal como um país sustentável e com sustento.

Tiago Mestre

16 de janeiro de 2012

Mario Draghi transita da terra cor-de-rosa para a terra negra

Caros leitores e leitoras, Mario Draghi, na qualidade de Presidente do Comité Europeu de Risco Sistémico, e não como presidente do BCE, veio hoje afirmar perante os parlamentares europeus que afinal vivemos num cenário muito grave.

Talvez agora, no contexto do parlamentarismo europeu, já lhe interessa pintar o quadro de negro...  Um verdadeiro político troca-tintas.

Tiago Mestre

EFSF perde qualidade... e credibilidade

Caros leitores e leitoras, o fundo que pede dinheiro emprestado ao planeta e que por sua vez nos empresta a nós acabou de sofrer mais uma machadada pela S&P: passou de triplo A para AA+.

Nada que nos surpreenda, já que com a queda de notação da França o EFSF teria que sofrer também. Na passada sexta-feira já tínhamos antevisto esta questão e as consequências para Portugal.

Tiago Mestre

Mario Draghi na terra do cor-de-rosa (Parte 3)

Caros leitores e leitoras, segundo uma notícia hoje avançada pelo site Zerohedge, todo o dinheiro que o Banco Central Europeu emprestou aos bancos em Dezembro de 2011 segundo o programa LTRO, que já falámos aqui no Contas, foi novamente depositado pelos mesmos bancos no... BCE.

É estranho, mas é verdade.

O BCE emprestou muitos biliões de euros com juro de 1% ao ano com maturidade de 3 anos aos bancos europeus, na esperança de que estes fossem a correr comprar dívida soberana. Apesar de terem havido compras de dívidas problemáticas com maturidades inferiores a 3 anos nas últimas semanas, a verdade é que os bancos preferiram voltar a meter o dinheiro no BCE com uma remuneração de 0,25% ao ano. Ou seja, preferem perder dinheiro com um spread negativo de 0,75% (1-0,25) do que comprar dívida soberana de qualquer país.

Com uma constatação destas, como pode um presidente do BCE vir falar de sinais fortes que os investidores estão a dar na retoma da confiança nos mercados de dívida soberana dos países europeus? Só se for na terra do cor-de-rosa!

Tudo isto é propaganda política, apenas e só na tentativa de atirar areia para os olhos e trazer novamente os investidores ao mercado falido das dívidas soberanas. Para quando um ataque de honestidade e de coerência por parte destes líderes políticos europeus? É que os mercados agradeciam e as penalizações não seriam tão graves como se especula. Qualquer investidor prefere saber o terreno que está pisar, mesmo que seja um lamaçal, do que andar a ser enganado de que tudo é estrada e estar permanentemente a apalpar terreno na esperança de não se atolar.

Tiago Mestre

Túnel do Marão está sem luz ao fundo

Caros leitores e leitoras, a suspensão das obras do Marão é um caso evidente de como o pedido de dinheiro emprestado para financiar obras e outros empreendimentos corre riscos que nem sempre são medidos.

O financiamento do Túnel do Marão começou por ser realizado por várias entidades bancárias, que foram emprestando dinheiro aos consórcios privados para o irem construindo. A certa altura os credores entraram numa espiral de desconfiança e cortaram radicalmente as fontes de financiamento.

Não havendo riqueza interna no país e nas construtoras para que as obras avançassem mesmo sem financiamento, a suspensão das obras foi o único cenário em cima da mesa. Desde há 7 meses que as obras estão paradas, os trabalhadores foram mandados embora e as máquinas regressaram aos estaleiros.

Este paragem das obras do Túnel é uma consequência dos muitos disparates que se cometeram durante anos a pedir dinheiro emprestado ao exterior sem disciplina e sem se fazerem contas de sustentabilidade. Algum dia os credores teriam que dizer: Basta.

Agora resta saber se a obra fica por ali ou se se aguarda que alguém se chegue à frente para enterrar o dinheiro.

Já sabemos hoje que as SCUT recentemente portajadas perderam tráfego na ordem dos 30% a 45%. Os investidores internacionais também já estão na posse desta informação.

Com a auto-estrada Amarante-Bragança, onde se inclui o Túnel do Marão, a realidade não será diferente. Atrevemo-nos a dizer que a quebra de tráfego poderá ser superior devido à fraca economia daquelas regiões. O PIB per capita no interior transmontano é muito baixo e na zona do Alto Douro é dos mais baixos de toda a zona Euro. Não se podem esperar milagres numa zona já anteriormente apelidada por economistas de renome como "economicamente deprimida".

É caso para dizer que não se vê luz ao fundo do túnel.

Tiago Mestre

13 de janeiro de 2012

Mario Draghi na terra do cor-de-rosa (Parte 2)

Caros leitores e leitoras, ontem, quando escrevemos o último post, não sabíamos que a S&P iria descer hoje a notação de vários países europeus.
Mas tal decisão só reforça a nossa opinião de que Draghi quer forçar a realidade a ser cor-de-rosa.

Infelizmente tal não é possível, e a quantidade de "tretas" que Draghi disse ontem já foram todas elas eclipsadas para o espaço sideral.

Para Portugal, esta decisão da S&P em baixar a notação de vários países significa que as condições de financiamento se agravarão. Como sabemos, Portugal recebe dinheiro emprestado a partir de um veículo financeiro europeu que por sua vez pede dinheiro ao planeta, denominado EFSF. A qualidade deste veículo financeiro depende da notação dos países que lhe servem de garantia, nomeadamente os países triplo A. E se estes deixam de o ser, o EFSF perde a sua qualidade também.

Todo este esquema que a Europa montou de pedir dinheiro ao exterior para ajudar os países tecnicamente insolventes, como Portugal, baseia-se no pressuposto de que os credores vão marcar sempre presença nos leilões de dívida que a Europa emite. Esqueceram-se que os credores e as agências de notação não são parvos e rapidamente percebem a farsa financeira que foi montada.

Para mal dos nossos pecados, não existe outra solução senão pedir o incumprimento parcial ou total da dívida soberana, tanto portuguesa, como grega, espanhola, etc, etc. A Grécia caminha para os 100% do incumprimento (incumprimento total), e o BCE levará por tabela, já que quando a Grécia disser que não pagará, as dezenas de milhares de milhões de euros de dívida grega inscritas no balanço do BCE terão que ser declaradas como perdas, tornando o BCE ainda mais insolvente do que já é hoje.

 Economias que crescem a 0% não podem pedir dinheiro emprestado a 5% ou 6% ou 10% ou a 100%. Algum dia os credores percebem que o caminho é insustentável e cortam o crédito. Tão simples quanto isto.

Tiago Mestre

Mario Draghi na terra do cor-de-rosa

Caros leitores e leitoras, no dia em que Mario Draghi, presidente do BCE, anunciou à comunicação social que os esforços do BCE estão a dar resultado, os juros a 1 ano da Grécia estavam a bater o recorde de.. esperem ... 400%. Isso mesmo. Nem sabemos bem como qualificar tal disparate de juro., mas enfim. Ou então Draghi já fala sem pensar na Grécia, que é como quem diz, Grécia já está informalmente fora do euro.

Mario Draghi afirmou que as taxas de juro da Itália e da Espanha estavam a descer: esqueceu-se da maturidade a 10 anos da dívida italiana que ronda os 7% no mercado secundário. É verdade que as taxas de juro das maturidades abaixo de 3 anos desceram muito nesses países nos últimos dias, mas devido à extensão da maturidade de 1 para 3 anos do programa LTRO que o BCE implementou. Ou seja, o risco de se emprestar a Itália e a Espanha até 3 anos deixou de estar do lado dos investidores para estar também do lado do Banco Central, na medida em que este decidiu emprestar dinheiro aos bancos para esse mesmo fim.

Perguntamos nós: e se alguma destas instituições financeiras for à falência e deixar de pagar ao BCE esse mesmo empréstimo que contraiu no passado?
Bom, pelo andar da carruagem parece-nos que antes de ir à falência a instituição será "salva" com dinheiro dos contribuintes e talvez do BCE, logo a pergunta nem se põe! Ou seja, a falência como mecanismo natural do capitalismo e da evolução de todo o sistema está simplesmente banida. Acham os leitores que o sistema irá melhorar com estas manipulações grosseiras? Não, não vai, porque o sangue está a ser drenado e a ser substituído por um soro qualquer.

É neste estado de falta de moralidade que se decidem as macro-políticas europeias. Os banqueiros agradecem a cortesia e a generosidade da classe política, correndo mais riscos e tornando os bancos castelos de cartas ainda maiores. Aguardamos para ver.

Tiago Mestre

11 de janeiro de 2012

Petróleo teima em não descer... e o Irão teima em não vacilar...

Caros leitores e leitoras, assistimos nas últimas semanas a um reforço do preço do petróleo, tanto no mercado americano (West Texas Intermediate) como na Europa (Brent). Não nos espanta esta manutenção durante tanto tempo de um preço tão elevado. Já em Junho como em Outubro e Novembro abordámos esta questão, sendo que em Novembro já se suspeitava algo sobre o Irão e o seu programa nuclear.

Fonte: Livecharts.co.uk

Pelo gráfico acima percebe-se que o preço do petróleo manteve-se acima dos 100 dólares durante um ano inteiro, fenómeno nunca antes registado na história deste bem tão essencial para a nossa economia.

Entre Fevereiro e Julho de 2011 não foi difícil perceber a escalada do preço: conflitos no Médio Oriente e no Norte de África.
Mas desde Agosto que assistimos a um enorme frenesim nos mercados financeiros e um avolumar do stresse nas economias ocidentais. Em condições "normais" o preço já deveria ter descido bastante, mas tal não aconteceu.

Assistimos hoje a uma escalada da tensão entre Irão e países ocidentais que nos parece totalmente desproporcionada. A sensação que fica é que o Irão não possui nem de perto nem de longe tudo aquilo que decreta para a comunicação social do ocidente. A juntar à festa temos os generais americanos, sempre à procura de motivos para justificar o ordenado, a Agência Internacional de Energia Atómica e as novas pseudo-sanções que a União europeia quer impor.

Não compreendendo nós a cultura islâmica por falta de estudo nosso, podemos perceber pelo menos que há dezenas de anos que toda aquela região tem sido palco de guerras e conflitos patrocinados por países ocidentais ou parecidos, que não querem a guerra dentro das suas fronteiras - é preferível lutar pela sua ideologia e interesses na terra dos outros. O Irão tem petróleo e pouco mais. A população é pobre, à excepção de algumas bolsas dentro dos centros urbanos. Inclusivamente necessitam de importar gasóleo e gasolina porque nem possuem as infraestruturas suficientes para refinar o seu próprio petróleo. Ou seja, é um país totalmente dependente das relações com parceiros externos, e como potência de país, pouca força possui.
Contudo, em certas alturas, sobretudo quando se sentem provocados por "ameaças" externas, querem mostrar um ar da sua graça e dizer ao planeta que também são importantes no contexto geo-político global, e a bomba atómica é uma óptima estratégia de marketing para captar atenção mediática

O Irão é ameaçado pelos seus próprios vizinhos, como o Iraque (colonizado pelos EUA), o Paquistão e Israel (colonizados pelos EUA e ambos com bomba atómica), Afeganistão (outra colónia recente dos EUA) e os EUA propriamente ditos, com todo o seu arsenal militar a rondar as águas das praias iranianas.

Quer dizer, é difícil não se sentir provocado com toda esta presença imperialista americana à sua volta.

O que nos parece é que o Irão sente-se cada vez mais provocado e por isso acelera o programa nuclear; os EUA não se conformam com o avanço iraniano e mais pressão colocam à sua volta, e assim a escalada sobe, sobe, e sobe.

Algum dia saltará a tampa ao Irão, como aconteceu em Dezembro de 1941 com o ataque a Pearl Harbor, Havai, pelo Japão, na sequência das várias ameaças e provocações que os EUA iam fazendo ao Japão naquele imenso território asiático e do Oceano Pacífico.

Não deixa de ser irónico que Portugal tenha sofrido enormes pressões pelos EUA na década de 60 para acabarmos com o nosso "império" ultramarino, conquistado muito séculos antes, para em menos de 40 anos os EUA tornarem-se o país que mais nações "conquistou economicamente" pela força da guerra. Assim se vê quem é verdadeiramente imperialista. Sabemos que os EUA invadem países para salvaguardarem os seus interesses, nomeadamente o acesso a petróleo, mas caramba, Portugal também tinha interesses nas suas possessões ultramarinas.

A história acaba por revelar as verdadeiras intenções dos povos e das nações, e se forem ver a história recente de Portugal, muitos dos políticos da nossa liberdade do 25 de Abril apoiaram-se nos EUA e noutros países "anti-impérios" para forçarem o regime ditatorial do Estado Novo a abdicar do império secular português.  Hummm.....

Tiago Mestre

9 de janeiro de 2012

Mais uma carga de austeridade para 2012...

Caros leitores e leitoras, 2012 começa a abrir o véu de si mesmo.

Soubemos hoje que afinal serão necessárias medidas adicionais de austeridade para 2012 em Portugal, num valor de 520 milhões de euros aproximadamente, para contrabalançar o desembolso que o Estado terá que fazer aos reformados da banca, a quem o Estado pediu a transferência dos fundos em 2011 para tapar buracos... de 2011.

Se em 2011 esta transferência de fundos foi uma espécie de alívio para as contas do Estado, em 2012 é já um peso de... 520 milhões de euros.

O Contas Caseiras acompanhou de perto esta questão aqui e aqui. Este este negócio foi sempre para nós objecto de reflexão e até de "repulsa", tanto pelos contornos morais do mesmo como pela assunção de despesas no futuro sem o respectivo cabimento.
E a falta de cabimento está aí: 520 milhões de euros que é preciso cobrir em 2012.

Pedimos encarecidamente ao governo que não aumente mais os impostos.
Encerrem institutos politécnicos e algumas universidades até, mas não aumentem mais os impostos por favor: a economia entrará em maior recessão e o povo não quererá pagar nem mais um cêntimo ao Estado.

Tiago Mestre

Itália - A primeira cleptocracia oficial da Europa. Quem se segue?

Caros leitores e leitoras, apesar de hoje parecer fazer sentido a ideia da conspiração de que Mario Draghi, presidente do BCE, "deixou cair" Berlusconi e o seu governo ao não adquirir dívida italiana ali pelos inícios de Novembro, o que é verdade é que tal "conspiração" não resultou da maneira que os tecnocratas do BCE e plutocratas da UE idealizaram, a saber:
As obrigações a 10 anos da dívida italiana andam pelos 7%; juro completamente insustentável para um país que cresce 0% ao ano.

Apesar deste falhanço político, o caminho político na Europa ficou muito bem definido:
A plutocracia europeia (BCE, Sarkozy, Merkel) conseguiu pela primeira vez mandar abaixo um líder (Berlusconi) democraticamente eleito, só porque o senhor não aplicava as reformas que se sugeriam. Todo o processo da "queda" programada de Berlusconi tem um só adjectivo: nojento.

De seguida esperavam-se naturalmente... eleições democráticas. Mas não, tal extravagância está reservada para países de outro gabarito. Em Itália arranjou-se um tecnocrata, Monti, que não discutimos o seu mérito técnico, e sem sufrágio, sem consulta, sem NADA que se relacione com o regime democrático, lá foi para o poder.

Oxalá que os investidores percebam a farsa por detrás destas pequenas tiranias europeias e repudiem esta malta.. Para já não foram na conversa, e quem estará a provar do seu veneno serão os próprios Mario Monti e Merkozy, a quem a estratégia saiu furada já que após aquisições massivas da dívida italiana, emissão de créditos tipo LTRO e outros mecanismos que tais nas últimas semanas, a dívida a 10 anos da Itália não sai dos 7%.

Parabéns Mario Draghi pelo facto de teres ajudado a Itália a tornar-se um país escravo do BCE, mas  tornaste-a também uma cleptocracia gerida pela plutocracia europeia. Estragar um país duas vezes não é para todos, só mesmo para alguém com o currículo de Draghi, nomeadamente os anos que passou na banca de investimento mais cleptocrática do planeta.

2012 será diferente de 2011... mas apenas para pior.

Tiago Mestre

FMI está perdendo a fé na Grécia - a sério?

Caros leitores e leitoras, alguém do FMI afirmou no final da semana passada uma verdadeira banalidade para nós aqui no Contas.

"O FMI está perdendo a fé" - como se a salvação da Grécia fosse uma questão de fé, ou de esperança.

Este tipo de afirmações revelam a total inexperiência, incapacidade e incompetência dos ilustres desconhecidos da troika em:

1. Compreender a realidade grega: a sua cultura, o sector privado e sector público;
2. Interpretá-la sob uma base científica - linguagem matemática;
3. Obter resultados quantitativos e compará-los com os critérios que definem uma estratégia sustentável ou insustentável.

As medidas que a troika aplicou foram o resultado de uma análise apressada e sem correlação com a cultura milenar grega, de uma pressão enorme pelas instituições europeias, e de uma suposta "esperança" que tais medidas trariam determinados resultados: os que supostamente descansariam os mercados da dívida soberana.

Acham que em Portugal a análise e a acção da troika foram diferentes? Não foram.

Com este falhanço rotundo, o FMI não faz mais do que tentar resgatar algum dinheiro aos credores da Grécia, e mesmo esta operação já começa a falhar.

Em Julho a Grécia pediu aos credores para lhe perdoarem 21% da dívida em condições muito favoráveis. Não quiseram. Em Outubro já se falava em 50%. Em Janeiro de 2012 fala-se que terá que ser superior a 50%.
Esta caminhada do incumprimento terá um desfecho - que será o incumprimento total: 100%

Com os juros que se praticam no mercado secundário (entre 30% e 200% para as várias maturidades), a Grécia está matematicamente impossibilitada de pedir dinheiro ao mercado. E se não pode pedir, significa que não poderá honrar com os compromissos da dívida que já contraiu, nomeadamente pagar os juros e o capital. O FMI e a UE não poderão continuar ad eternum a financiar a Grécia, até porque o dinheiro esgota-se ou inflaciona-se.

100% será o grau de incumprimento que a Grécia terá que impor aos credores, inclusivé o BCE, que já detém muitos euros da dívida helénica.

O ano de 2012 arranca com muita pressão nos mercados, o que deixa antever sérios problemas para os restantes 11 meses.

Tiago Mestre

5 de janeiro de 2012

O Euro faz 10 anos - será motivo para celebrar?

Caros leitores e leitoras, como ouvi esta semana alguém a propósito do Orçamento da Região da Madeira:
” O caminho para o inferno está cheio de boas intenções”.
É esta a sensação que fica de tudo quanto foi feito nos últimos 20 anos para que a moeda única visse a luz do dia e prosperasse.
No Tratado de Maastricht em 1992 ficou definido que os países deveriam manter défices baixo e dívidas geríveis. A Grécia, não conseguindo atingir tais critérios, cozinhou as contas e lá conseguiu aderir ao Euro meses depois.
Foi a primeira facada na credibilidade do Euro. Sabemos hoje que a sua adesão deveu-se a pressões políticas, indo ao arrepio das regras e da boa gestão.
Durante a vigência do Euro quase todos os países prevaricaram no cumprimento das regas. Alemanha e França incluídos.
Portugal poucas vezes conseguiu cumprir e só não foi pior porque arranjou mecanismos contabilísticos que permitiram que muita dívida fosse escondida ou evitada:
1. Exclusão das dívidas da CP, Carris, Metro, Refer e EP na dívida pública;
2. Privatização de empresas públicas;
3. Transição de fundos de pensões privados para a esfera pública.
Estes mecanismos foram autorizados pela UE, e se aconteceram em Portugal, noutros países não terá sido diferente.
A Grande Aldrabice Europeia só foi possível porque a elite política o consentiu. Cedeu às circunstâncias e pressões diárias em detrimento das regras e da moral que tinham sido ratificadas nos Tratados pelos mesmos políticos !!
No meio de tudo isto, o Euro lá ia fazendo a sua vidinha. Umas facadas aqui e acolá mas sem grandes danos. Desde que as economias continuassem a crescer, a acumulação de dívida e os défices sucessivos eram vistos pela finança mundial como algo negligenciável. E se os investidores assim o achavam, os políticos podiam continuar a fechar os olhos às barbaridades diárias que cometiam, prometendo dinheiro e políticas sociais que não eram financiáveis com o dinheiro dos contribuintes.
Mas algo aconteceu em 2007 que deixou a elite europeia sem saber o que fazer:
Os EUA davam sinais de fadiga no mercado imobiliário, altamente alavancado durante anos pelas políticas monetárias expansionistas da Reserva Federal. Em paralelo, os preços de matérias primas e energia subiam para valores recorde, indiciando problemas nas economias mais dependentes destes bens. O sonho durou até ao Verão de 2008. Em Outubro de 2008 o planeta acorda e depara-se com uma realidade que mais parecia um pesadelo:
1. Sistema bancário totalmente alavancado em empréstimos e sem capitais próprios;
2. Incumprimento por parte de muitos americanos nos empréstimos contraídos às instituições bancárias;
3. Falência generalizada de instituições bancárias norte-americanas;
4. Economias ocidentais sem força industrial para compensar as perdas massivas no sector bancário e imobiliário.
Quando a elite europeia acorda para esta nova realidade, só já lhe resta tomar medidas que salvem o dia seguinte, esquecendo a legalidade, os princípios e os tratados firmados. Até hoje tem sido SEMPRE assim.
A primeira política da UE sobre este problema sai em finais de 2008 e inícios de 2009: Países e governos, endividem-se o mais que puderem para evitar recessões mais pronunciadas. Esqueçam (ainda mais) as regras e os princípios que assinaram nos tratados
Em menos de 12 meses perceberam que a política de endividamento para evitar recessões mais pronunciadas teve uma consequência catastrófica: Os investidores deixaram de confiar o seu dinheiro a países mais “fracos” dentro da UE, logo no momento em que estes países mais precisavam de dinheiro emprestado.
Sem alternativa, a UE vira-se para dentro: Pedir dinheiro emprestado aos restantes países da UE para “ajudar” os países mais “fracos”. Mas como estes países “mais fortes” também são pobres e não têm dinheiro de lado para emprestar, tiveram que pedir dinheiro aos mercados. Os investidores perceberam a aldrabice e começaram a desconfiar dos países que estavam logo a seguir aos mais “fracos”. Num ano, entre Maio 2010 e Maio 2011, cai a Grécia, Irlanda e Portugal. Entre Junho e Dezembro 2011 cai Itália e Espanha. Afinal já não sobram países suficientemente “fortes” para acudir a tal hecatombe.
Ninguém no planeta quer emprestar dinheiro à Europa para financiar os países tecnicamente insolventes. Como ainda não se descobriu vida em Marte, em jeito de desespero a elite europeia pediu ajuda à Reserva Federal Norte-Americana e ao Banco Central Europeu para financiarem todo o dinheiro que for preciso, quer para emprestar a bancos quer para a compra de dívida soberana.
A Reserva Federal facilitou o crédito em dólares a instituições bancárias europeias, mas rapidamente a elite política americana percebeu que a Reserva Federal estava a resgatar a Europa, novamente! A pressão política republicana nos EUA não permitirá mais cheques em branco à Europa.
Resta o Banco Central Europeu, que estando impedido de adquirir dívida soberana directamente aos países do euro, tem-na comprado pela porta dos fundos (mercado secundário) à vista de toda a gente. A hipocrisia e o descaramento têm sido a filosofia dominante, mas mesmo assim não é suficiente, é preciso que os credores entrem com muita, muita massa. Mas os credores disponíveis já não têm tanto dinheiro como outrora e não o querem emprestar a gente que não é de confiança. A memória do colapso imobiliário norte-americano ainda é recente e fez com que muita gente pelo planeta perdesse muito dinheiro. Na Noruega casos houve em que localidades faliram!! porque foram grandes credoras do sub-prime americano. Hoje só se empresta a quem garanta a devolução do dinheiro a tempo e horas e com os juros acordados. E nunca deveria ter sido de outra forma!
O BCE não possui dinheiro, apenas possui o poder de imprimir dinheiro, mais nada. E quando imprime dinheiro para liquidar dívidas, acaba por injectar dinheiro numa economia que está em contracção (menos transacções económicas). O resultado é dinheiro a mais a circular na economia, criando as condições para que o preço dos bens suba, resultando na inflação e na descredibilização da moeda. Esta é a aposta última da Europa. Coloca a credibilidade do Euro em jogo para liquidar umas dívidas e “rezar” para que os credores voltem a acreditar nas instituições europeias.
Na minha opinião a aposta é suicida porque reflecte uma ideologia política que se iniciou há muitos anos e que mostrou sempre resultados opostos ao que se pretendia. A única diferença das políticas anteriores para esta é a escala da aposta. Quando se pede ao BCE para imprimir dinheiro aposta-se tudo… o que se tem e o que não se tem. Nenhum político deveria possuir tal poder para influenciar os destinos de tantos milhões de europeus, sobretudo quando algumas das elites nem são eleitas pelo povo.
Para garantir a credibilidade do Euro seria necessário aos políticos reconhecerem o seguinte:
1. Países tecnicamente insolventes deviam declarar insolvência, total ou parcial;
2. Sistema bancário assente em alavancagem entrará em insolvência imediatamente, e seria preciso deixá-lo cair;
3. Países sem capacidade de financiar o seu sector público teriam que cortar imediatamente esse défice, apoiando as despesas apenas em função das receitas. Tal operação trará recessões profundas, mas inevitáveis;
4. Resistir a todo o custo à tentação na impressão de dinheiro, custe o que custar. A Europa conseguiria reerguer-se dentro de alguns anos porque ainda possui países bastante industrializados e medianamente disciplinados. A agricultura deveria ser imediatamente liberalizada e entregue às forças do mercado, permitindo a Portugal e a outros países mais fragilizados evitar importações e garantir maior grau de subsistência, criando novamente as bases para um crescimento no sector primário e por arrasto refundar a pequena indústria de apoio à agricultura.
Infelizmente não temos casos suficientes na história europeia recente que corroborem esta filosofia económica, política e social de vivermos dentro dos nossos meios e de trabalhar para ganhar a subsistência. Não nos devemos esquecer que a Europa assistiu a uma prosperidade espectacular após a segunda guerra mundial. Os políticos caíram na armadilha de prometer dinheiro a tudo e a todos julgando que essa prosperidade seria perpétua. Inclusivamente montaram um sistema político que se alimenta desta prosperidade. Quando esta desaparece começa a pilhagem pela porta dos fundos para manterem a face diante das câmaras de televisão acerca do que prometeram irresponsavelmente no passado. Enquanto puderem roubar dissimuladamente para manter a face, é isso que farão. Aumentar impostos, endividamento sem regra, encobrir despesas, imprimir dinheiro, são tudo políticas que reflectem a mesma ideologia de fraqueza moral somada a uma profunda incompetência técnica. Veremos até quando os europeus aguentam esta aldrabice.
É sempre mais fácil prometer coisas boas do que anunciar coisas más.
É preferível salvar o dia de hoje adiando as decisões difíceis para algures no futuro. Termo cunhado em inglês como “kick the can down the road”.
É mais fácil esconder e dissimular do que dizer a verdade de frente.
A natureza humana é muito mais assim do que outra coisa qualquer, e a classe política não é nem melhor nem pior.

4 de janeiro de 2012

RON PAUL - AMERICANOS JÁ COMEÇAM A CONFIAR NESTE CANDIDATO

Caros leitores e leitoras, ontem realizaram-se eleições no estado americano do Iowa para iniciar a corrida ao candidato republicano que defrontará o (re)candidato Barack Obama.

Ron Paul, apesar dos seus 76 anos, foi o candidato que mais votos recebeu pela população entre os 19 e 29 anos.
Ron Paul ficou em 3º lugar com pouco mais de 20% dos votos, mas até há alguns meses as sondagens davam-lhe intenções de voto entre os 7%-10%.
Ron Paul é hoje um candidato totalmente "presidenciável", apesar das suas ideias tão politicamente incorrectas no status quo da América de hoje.

Aqui no Contas agradecemos a existência de um candidado como Ron Paul. Oxalá que os Americanos ponham a mão na consciência e percebam que os ideais de Ron Paul são os únicos que permitem dar uma pedrada no charco na economia americana que está totalmente dependente da intervenção do Estado.

Um bem haja para o candidato republicano Ron Paul.

Tiago Mestre

2 de janeiro de 2012

Jerónimo Martins abandona a fiscalidade portuguesa

Caros leitores e leitoras,

Ficámos a saber hoje que a empresa que detêm as acções maioritárias da Jerónimo Martins, dona da cadeia de supermercados Pingo Doce, vendeu as suas acções para uma outra empresa também detida pelas mesmas pessoas mas sediada na Holanda, onde a tributação é mais baixa.

Não vale a pena lamentar ou vilipendiar tal decisão.

Quem não percebe o capitalismo e não o tenta aplicar no seu país arrisca-se a perder o dinheiro de quem realmente produz riqueza. Ou seja, excesso de défices e de despesa equivale a excesso de impostos e a excesso de endividamento. Quem pode vai embora.
O capital não tem pátria, e acreditar que o património não sai de Portugal só porque os donos são portugueses é uma ingenuidade.

Os erros já se começam a pagar muito, muito caro.

Tiago Mestre