9 de janeiro de 2012

FMI está perdendo a fé na Grécia - a sério?

Caros leitores e leitoras, alguém do FMI afirmou no final da semana passada uma verdadeira banalidade para nós aqui no Contas.

"O FMI está perdendo a fé" - como se a salvação da Grécia fosse uma questão de fé, ou de esperança.

Este tipo de afirmações revelam a total inexperiência, incapacidade e incompetência dos ilustres desconhecidos da troika em:

1. Compreender a realidade grega: a sua cultura, o sector privado e sector público;
2. Interpretá-la sob uma base científica - linguagem matemática;
3. Obter resultados quantitativos e compará-los com os critérios que definem uma estratégia sustentável ou insustentável.

As medidas que a troika aplicou foram o resultado de uma análise apressada e sem correlação com a cultura milenar grega, de uma pressão enorme pelas instituições europeias, e de uma suposta "esperança" que tais medidas trariam determinados resultados: os que supostamente descansariam os mercados da dívida soberana.

Acham que em Portugal a análise e a acção da troika foram diferentes? Não foram.

Com este falhanço rotundo, o FMI não faz mais do que tentar resgatar algum dinheiro aos credores da Grécia, e mesmo esta operação já começa a falhar.

Em Julho a Grécia pediu aos credores para lhe perdoarem 21% da dívida em condições muito favoráveis. Não quiseram. Em Outubro já se falava em 50%. Em Janeiro de 2012 fala-se que terá que ser superior a 50%.
Esta caminhada do incumprimento terá um desfecho - que será o incumprimento total: 100%

Com os juros que se praticam no mercado secundário (entre 30% e 200% para as várias maturidades), a Grécia está matematicamente impossibilitada de pedir dinheiro ao mercado. E se não pode pedir, significa que não poderá honrar com os compromissos da dívida que já contraiu, nomeadamente pagar os juros e o capital. O FMI e a UE não poderão continuar ad eternum a financiar a Grécia, até porque o dinheiro esgota-se ou inflaciona-se.

100% será o grau de incumprimento que a Grécia terá que impor aos credores, inclusivé o BCE, que já detém muitos euros da dívida helénica.

O ano de 2012 arranca com muita pressão nos mercados, o que deixa antever sérios problemas para os restantes 11 meses.

Tiago Mestre

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