31 de outubro de 2011

Quem cria precedentes deve saber o que está a fazer

Caros leitores e leitores, antes da cimeira da quarta-feira passada escrevemos aqui no contas que provavelmente os líderes europeus não teriam a coragem de assumir um perdão de 50% da dívida grega, sobretudo porque o BCE ficaria imediatamente em maus lençóis por causa da dívida grega que possui nos seus balanços. Contudo, a cimeira lá deliberou que a dívida terá mesmo que ser perdoada, mas coloca-se à questão: O BCE terá que assumir também essas perdas? Segundo tentámos apurar, parece que não. A dívida grega que este possui nos seus balanços não será registada nas suas perdas porque... os líderes assim o decidiram. O perdão será voluntário e aplicar-se-á apenas às instituições privadas. Estas decisões a la carte podem salvar o BCE do dia de hoje, mas a sua descredibilização está já em velocidade cruzeiro.

Após a cimeira escrevemos também que a euforia nos mercados de acções após a conclusão desta tenderia a esfumar-se e a realidade acabaria por tomar conta dos dias subsequentes. Isto porque os resultados da cimeira foram pobres e desalinhados com o que se andou a prometer dias antes, mas os mercados desesperavam por um qualquer cabeçalho. Confessamos que estranhámos a euforia nos mercados de acções com a única notícia da cimeira: a dívida da Grécia será para perdoar em 50%, mas a irracionalidade e a manipulação que hoje dominam estes mercados levam a movimentos que a razão às vezes desconhece. Mas mais uma vez o efeito positivo da cimeira foi sol de pouca dura, e como escrevemos ontem, os investidores estão apressados para vender as suas obrigações de países como Itália e Espanha porque, como é de suspeitar, se a UE decide que o incumprimento da dívida grega é para levar a sério, cria o precedente de permitir que outras dívidas também sejam perdoadas no futuro. Nenhum investidor quer ficar com o "bebé no colo" quando tal fenómeno ocorrer. Abrir a caixa de Pandora tem destas coisas. E nem de propósito, sexta-feira foi já um dia de queda no preço das obrigações italianas e hoje temos o BCE a comprar dívida italiana e espanhola no mercado secundário para que os preços não colapsem. O cenário está montado.



Tiago Mestre

30 de outubro de 2011

Perdão de 50% da dívida grega - um grande, grande precedente

Caros leitores e leitoras, da cimeira europeia de quarta-feira ficamos a saber uma coisa: a dívida grega terá que ser perdoada em 50%. Este "resultado" da cimeira significa que a União Europeia formalmente assumiu que um dos seus Estados membros terá que falhar com as suas obrigações. É de louvar a coragem desta decisão, apesar de profundamente tardia, mas para não perderem o embalo, podem ir já pensando no incumprimento dos outros 50%, já que a Grécia nem esses 50% conseguirá pagar. O assunto torna-se sério porque as dívidas de Portugal, Bélgica, Reino Unido, França, Itália e Espanha também não são sustentáveis. As taxas de crescimento do PIB destes países na última década foram quase de 0%, e só não foi pior porque o Estado começou a gastar para tentar compensar a travagem da economia. Esse excesso de despesa gerou aumentos no stock da dívida e esta cresceu muito mais depressa do que o crescimento do PIB.

Os investidores já perceberam que as dívidas mais problemáticas serão despejadas por toda a gente e ninguém quererá ficar com o "bebé no colo". Assistiremos a vendas massivas de obrigações no mercado secundário e a leilões com taxas de juro crescentes. Esta espiral pressionará ainda mais a Europa e o BCE a adquirir dívida em mercado secundário, levando a um maior descrédito das instituições europeias e do própria moeda euro.

Com o incumprimento grego a ficar "selado" na cimeira, será uma questão de tempo até outros países em dificuldades exigirem o mesmo tipo de critérios na avaliação das suas dívidas, ou seja, novos incumprimentos estarão em cima da mesa nas próximas cimeiras. Os precedentes têm destas coisas, perdoa-se a um, perdoa-se a todos. Fazemos uma sugestão aos líderes europeus que estudem imediatamente um plano, e que o proponham à sociedade, de um incumprimento generalizado dos países que têm e terão problemas com o financiamento das suas dívidas. É verdade que alguns credores irão à falência, muitos países ficarão fora do circuito credor durante vários anos, os Estados terão que reduzir o seu peso na economia e uma grande depressão emergirá. Mas quanto mais cedo se começar a limpar esta economia virtual, mais cedo retornamos a princípios económicos racionais.



Tiago Mestre

28 de outubro de 2011

A realidade é sempre uma chatice

Caros leitores e leitoras, aqui no Contas acreditamos que após o "resultado" da cimeira europeia de quarta-feira, a euforia que reinou o dia de ontem e talvez os próximos tenderá a desaparecer, com a realidade a regressar novamente.

Essa realidade voltará na forma de especulação nos mercados e na imprensa sobre o que a UE irá preparar, o que estão dizendo, como funcionará o futuro EFSF alavancado, como irão correr os leilões das dívidas espanholas e italianas e como, a pouco e pouco, as economias vão-se afundando neste espiral de dívida e de recessão.

Este caminho de gerar dívida nova para liquidar dívida velha, pagar cada vez mais juros, impostos a aumentarem para a tentar liquidar, a economia privada a sufocar-se e a gerar cada vez menos riqueza é o caminho adoptado que tenta adiar o inevitável para o futuro mais longínquo possível. Esta ideologia representa uma ética de fazer as coisas que não se enquadra na nossa missão natural como seres humanos: de preservar e garantir a sobrevivência da nossa espécie e dos nossos. Esta realidade virtual que se instalou na política e na especulação nos mercados que parasita à volta das decisões políticas ameaça as coisas mais essenciais da vida humana.

Na vida real, sem crédito e sem subsídios, todos temos que trabalhar para gerar uma receita, receita essa que será transaccionada por bens ou serviços que nos ajudarão nas necessidades básicas e não só, como comer, vestir, procurar abrigo, deslocações, empreender novos negócios, lazer, cultura, etc.
A história da concessão de crédito diz-nos que inicialmente esta serviu para facilitar trocas comerciais e ajudar novos empreendedores a lançarem-se no mercado com novas ideias. Daí derivou para empréstimos aos estados, aos mercados financeiros e ao consumo. Quando o crédito se torna abundante e as taxas de juro são descidas artificialmente para próximo de 0%, temos muita gente a gerir dinheiro que não foi obtido pelo seu esforço ou suor, e é aqui que as coisas se complicam, porque todos sabemos que gerimos melhor o dinheiro que nos custou a ganhar do que gerir o dinheiro que custou a ganhar... a alguém, que nem sabemos quem é!

Este mecanismo de concessão de crédito tem que ser reduzido para valores que são sustentáveis, e que apenas apoiam a economia real, e não a virtual, e como?
Deixando o mercado funcionar, deixando as taxas de juro subir para valores que são interessantes para quem empresta e para quem pede emprestado, deixando países ir à falência arrastando os credores que emprestaram sem ter medido o risco, salvaguardando quem foi prudente, quem poupou e criando as condições para a formação de capital com bases sólidas e assim emprestar para novos empreendedores. Se para tudo isto é preciso que ocorra uma crise mundial e sistémica, então que ocorra, porque a ser verdade a tal crise sistémica, então significa que o sistema está todo viciado, está manipulado até ao osso, e continua levitado porque a manipulação reina.

Será tudo isto capitalismo? Não é. É tudo menos capitalismo. No sistema capitalista os governos não ocupam 50% da economia, os impostos não são de 50%, as taxas de juro não são manipuladas, os empréstimos não estão ao virar da esquina para quem lhe apetece gastar, os bancos não são resgatados, os lucros são privados e os prejuízos também são privados. Só assim premiamos quem ganha e punimos quem perde. No sistema que temos hoje, os lucros ficam no privado e os prejuízos (com o receio da tal crise sistémica) ficam nos ombros dos contribuintes, sem se lhes pedir, sem se lhes perguntar nada. Têm que assumir os prejuízos das asneiras cometidas por terceiros e ponto final. Também já não é uma democracia. Já é tudo muito confuso, uma sopa triturada onde dificilmente se distinguem os ingredientes.



Tiago Mestre

27 de outubro de 2011

A cimeira das cimeiras

Caros leitores e leitoras, acabámos de presenciar já hoje de madrugada um dos maiores embustes políticos na história recente da UE.

Ouvimos nestes últimos dias declarações de individualidades como Durão Barroso, Juncker, Merkel, Sarkozy, Tricher, Passos Coelho, e outros, dizendo que esta seria:
A cimeira das cimeiras;
A cimeira das decisões;
A cimeira das soluções concretas e definitivas para resolver os problemas da Europa;

Basicamente, fomos inundados na imprensa de "tretas e mais tretas" nesta última semana.

E qual foi o resultado da cimeira? Nada, à excepção de que todos estão de acordo que a dívida da Grécia terá que ser perdoada em 50%. Mas quem terá que perdoar a dívida são as instituições credoras dessa dívida, como bancos privados, hedge funds, fundos de pensões, etc. Se estas não quiserem assumir o perdão, provavelmente a União Europeia terá que as obrigar, espoletando um credit event e permitindo a denúncia dos contratos de credit default swaps. Numa situação destas, os mercados de crédito e de acções poderão ter dias instáveis e imprevisíveis.
Estamos curiosos para saber se este corte de 50% também se aplica às obrigações gregas que o BCE possui nos seus balanços. Das duas uma, ou os Estados membros recapitalizam o BCE para cobrir prejuízos ou então auf wiedersehen ao BCE e à moeda euro.

Sobre as aprovações que supostamente esta cimeira deveria realizar: o novo EFSF alavancado e o suposto modelo de recapitalização dos bancos nada ficou decidido.
Veremos até quando o marketing político mantêm os investidores levitados.

Tiago Mestre

26 de outubro de 2011

Mario Draghi, o futuro presidente "mãos largas"

Caros leitores e leitoras, ainda há menos de um mês escrevemos um post em que a nomeação de um italiano para a presidência do BCE representava um perigo para a credibilidade da instituição. Na vice-presidência já temos um português, e esta conjugação de 2 políticos que vêem de países com problemas de dívida coloca-nos as maiores reservas. É que no Banco Central Europeu há um poder muito tentador: o de imprimir euros. Independentemente da credibilidade destes dois senhores, consideramos muito difícil que estes resistam à pressão dos estados membros para que os "salvem" nos momentos mais apertados, ou seja, quando o preço das obrigações das suas dívidas afunda no mercado secundário.

Mario Draghi, o futuro novo presidente do BCE, deu hoje uma conferência em Roma onde demonstra o seu apoio na compra de obrigações de dívidas de países em dificuldade, segundo a edição online do
Diário Económico.Com este tipo referências, não é preciso dizer muito mais, mas mesmo assim transcrevemos uma frase para dissecação aqui no Contas:

"o eurosistema está determinado, com as suas medidas não convencionais, a evitar que o mau funcionamento dos mercados monetários e financeiros obstaculize as transmissões monetárias".

Como? Então a justificação para o BCE comprar dívida problemática é porque os mercados funcionam mal e consequentemente ninguém quer estas dívidas?
E nós que pensávamos que o problema de ninguém querer estas dívidas é porque são insustentáveis e os países não possuem condições para as pagar no futuro!


Se afirmações deste género consubstanciarem a acção do futuro presidente, que irá gerir um banco central que está quase falido por causa destas compras ruinosas de obrigações, podemos assegurar aos nossos leitores que a moeda Euro terá os dias contados. Será uma questão de tempo, não sabemos se 6 meses ou 3 anos, mas podemo-nos ir preparando para começar a transaccionar bens e serviços sem ser em euros: quem sabe em ouro, em prata ou numas velhinhas notas de escudo, se alguém ainda as aceitar.

E no entretanto, a Alemanha preparar-se-á para regressar ao marco alemão porque não aceitará esta impressão massiva de dinheiro que o BCE está disposto a realizar. Com a Alemanha de fora, outros quererão sair também porque ninguém quer ficar agarrado a uma moeda falida e sem credibilidade. A pouco e pouco o projecto europeu desintegra-se, veremos se as democracias europeias aguentam.

Tiago Mestre

Burocratocracia, ou apenas burocracia

Caros leitores e leitoras, supostamente hoje é um dia decisivo para a aprovação de um plano de reforço do EFSF, que já tinha sido expandido há 2 semanas. Este novo plano, segundo percebemos, terá que ser aprovado no parlamento alemão, o Bundestag, e logo à noite merecerá a aprovação pelos líderes da zona Euro.

E perguntamos nós: mas alguém sabe que plano de reforço é este? E sobre quem incidirá o esforço de o liquidar? É que o BCE já não tem condições para se chegar à frente e a própria Alemanha já o afirmou que está contra o envolvimento do BCE neste novo plano.

Quer dizer que o plano dos "planos", que supostamente irá "resolver" os problemas da UE nem sequer é conhecido pelos europeus, muito menos sujeito à aprovação por estes e com grande probabilidade de que a responsabilidade de o liquidar seja... dos contribuintes europeus.

Aquando da votação do novo EFSF na Eslováquia, escrevemos que lentamente os líderes europeus, sem verdadeiramente se aperceberem, estariam a tornar a União Europeia numa plutocracia exigindo aos governos nacionais que fossem cleptocráticos com o seu povo. Essa visão reforça-se com este tipo de posturas políticas, e já agora fica aqui a nossa contribuição para o enriquecimento do vocabulário português, com o termo "Burocratocracia". Pensamos que este termo também se enquadra no modus operandi das instituições europeias. Veremos o que sairá hoje da cimeira/jantar - nada se decide com barriga vazia.



Tiago Mestre

25 de outubro de 2011

Curioso - estado quer "ajudar" a banca, mas esta não quer ser ajudada !

Caros leitores e leitoras, pelos vistos a recapitalização dos bancos pelo Estado não é uma boa ideia segundo a opinião... dos banqueiros.

Suspeito que os banqueiros têm razão, porque esta recapitalização trás água no bico. Para haver recapitalização, o capital deve entrar como reforço do capital social e não como empréstimo concedido. Ou seja, o Estado entra no capital social dos bancos à força (nacionalização parcial), com condições que os banqueiros certamente não desejam, a saber:

Presença de novos accionistas que desconhecem o sector;
Aceitação forçada de regras vindas do exterior;
Acesso vedado aos mercados de crédito interbancário;

Forte dependência do BCE para a concessão de crédito;

Compreende-se a relutância dos banqueiros. Ninguém gosta que cheguem a nossa casa e nos digam o que devemos fazer, mesmo que a casa não esteja bem arrumada.


Tiago Mestre

BCE - Banco "mãos largas", mas com "bolsos vazios"

Caros leitores, já suspeitávamos que mais cedo ou mais tarde o Banco Central Europeu começaria a apresentar resultados financeiros pouco animadores. Esta ida às compras no mercado secundário tem consequências, sobretudo se comprarmos produtos que estão quase a perder ou já perderam  de todo a sua validade, porque querendo vendê-los depois, já ninguém os compra.


A aquisição de obrigações de dívidas de países problemáticos, tal como explicámos aqui e aqui, tem sido sempre um péssimo negócio para o BCE, porque as obrigações hoje custam 5 euros, mas amanhã já só valem 4 euros. No final do ano o BCE tem que reportar estas perdas, e se as perdas forem maiores do que o capital que este possui, o banco deixa de ter liquidez, tornando-se insolvente.


Numa notícia hoje do site Zero Hedge, o autor do artigo fez umas pequenas contas:


O BCE reportou possuir 55 mil milhões de euros de dívida grega. Este valor reflecte o preço das obrigações quando estas foram emitidas pelo governo grego (valor nomimal). O BCE comprou-as já mais tarde, a um valor inferior, suponhamos a 70% do valor inicial. Ou seja, já só valem 38,5 mil milhões de euros. Se houver um perdão de 50% da dívida grega, como as autoridades europeias estão a pensar fazer, isso significará uma perda para o BCE de 7,7 mil milhões, segundo as contas do autor do artigo. Ora, o BCE apenas possuía 5,3 mil milhões de euros em capital e reservas a 31 Dezembro 2010, e portanto se nada for feito para aumentar esta rúbrica, temos um problema sério.
No início de 2011 o BCE pediu aos bancos centrais de cada país para "arranjarem" mais 5 mil milhões e reforçar assim os capitais do banco, talvez prevendo o que se iria passar, só que alguns países estão com problemas em se financiarem no mercado de crédito, e portanto o BCE permitiu que estas entregas de dinheiro se façam por um período de 3 anos. É bom de ver que ainda não passou um ano e portanto estas entregas parciais serão insuficientes. A somar à dívida grega temos a dívida portuguesa e irlandesa, e para agravar ainda mais, recentemente o BCE iniciou compras das dívidas espanholas e italianas. Estas últimas têm estado sob forte pressão dos mercados e o BCE, mais uma vez, continua a fazer o que não deve: a comprar obrigações que estão em forte desvalorização.


Provavelmente será esta fragilidade do BCE que não permitirá aos líderes da zona Euro exigir aos investidores aceitar este incumprimento de 50% por parte da Grécia.
Por outro lado, um incumprimento de 50% da Grécia poderá significar um credit event, activando os contratos dos Credit Default Swaps e desencadeando maior instabilidade nos mercados financeiros.



Esta política quase suicida de aquisição de obrigações pelo BCE revela o estado de desespero dos políticos europeus e a ausência de soluções para resolver problemas desta magnitude. É para nós aqui no Contas dado como certo que neste momento isto já não é um problema, mas uma inevitabilidade. É que para os problemas temos soluções, mas para as inevitabilidades temos apenas desfechos. Veremos o desfecho que se nos reserva, mas se ninguém se preparar, se não houver plano B, a queda poderá ser fatal e aí já é tarde de mais. Veremos o que nos espera.


Tiago Mestre

24 de outubro de 2011

Petróleo - Fonte de energia, fonte de trabalho

Caros leitores e leitoras, muito se tem falado sobre energias não convencionais, energias renováveis e outras. O Contas tem dado especial atenção às notícias relacionadas com as tarifas de electricidade e o peso que os custos das energias renováveis têm na produção de energia eléctrica em Portugal.
Outra forma de obter energia é utilizando matérias primas fósseis, como o petróleo, o gás natural e o carvão. E sobre o petróleo, soubemos pelo site The Oil Drum que o preço médio anual do petróleo atingiu 105,3 dólares no dia 12 de Outubro de 2011, ultrapassando o recorde de 2008, que foi de 104,8 dólares a 9 de Outubro de 2008.

E o que significam estes dados?

Que apesar de não termos chegado ao pico de preço de 143 dólares que ocorreu a 3 Julho de 2008 - ficámo-nos pelos 126 dólares a 2 de Maio - o preço médio anual do barril de petróleo foi superior ao de 2008, e este fenómeno merece maior atenção. Durante um ano (de 9 Out 2010 a 9 Out 2011), os preços médios mantiveram-se bem acima dos 100 dólares, numa altura em que a desaceleração das economias ocidentais é já uma realidade, com taxas de desemprego teimosamente elevadas, redução na actividade industrial e vários países com o PIB de 2011 revisto em forte baixa. Segundo o economista Jeff Rubin, que muito prezamos aqui no Contas, existe uma forte correlação entre o crescimento das economias e o preço do petróleo. Com preços do petróleo a atingirem os 3 dígitos e a manterem-se por lá durante muito tempo, muitas trocas comerciais começam a colocar-se em causa devido ao custo do transporte, e se o comércio mundial diminui é inevitável a contracção industrial dos países produtores e a redução do consumo nos países importadores.

Um dado interessante é que o mundo já vive momentos conturbados nos dias de hoje, com economias fragilizadas a tocarem na recessão e sistemas financeiros a entrarem em colapso, mas o preço do petróleo dificilmente desce dos 110 dólares. Só pelos motivos acima referenciados, em condições "normais" o preço já deveria ter descido, fazendo fé que a lei da oferta e da procura é bem regulada, fiscalizada e pouco manipulada. Mas outros 2 factores entram no jogo: o esgotamento das reservas conhecidas e a injecção de dinheiro pelos bancos centrais que promove fenómenos puramente especulativos. Abordámos este assunto aqui no Contas a 27 Junho 2011.

Sem haver descobertas de novos poços que compensem a taxa de depleção dos existentes, a primeira consequência é que o custo da extracção do petróleo começa a subir porque se torna necessário manter poços de petróleo com débitos mais baixos e menos produtivos, recorre-se a tecnologia mais cara para manter débitos elevados em poços que já entraram em declínio, tenta-se extrair petróleo de poços que até há alguns anos não era economicamente viável, etc. Basicamente, quando a matéria prima deixa de ser abundante, é preciso "escavar mais fundo" e isso implica custos de extracção mais elevados.


A injecção de dinheiro "barato" é outro fenómeno que pode estar na base dos preços teimosamente altos do petróleo. Com a crise financeira de 2008, a classe política dos EUA não resistiu à tentação e desatou a resgatar bancos de todas as nacionalidades através da impressão massiva de dólares, quer sob a forma de empréstimos com taxas de juro próximo de 0%, quer através de programas de nacionalização de activos tóxicos que constavam dos balanços dos bancos. Outros bancos centrais seguiram o exemplo e chegamos a 2011 com injecções massivas de dinheiro nos bancos e nos mercados financeiros na tentativa de os manter levitados. Uma de muitas consequências deste tipo de políticas é que o acesso a dinheiro barato pelas administrações de grandes bancos privados não é canalizado para fomentar negócios mas antes para investir em bolsas de acções e de matérias primas, desequilibrando a lei da oferta e da procura. O petróleo não escapa a estes fenómenos manipulatórios.

As economias ocidentais, fortemente dependentes da importação de petróleo, continuarão a ter problemas sérios no crescimento do seu PIB com estes preços elevados. O petróleo é uma matéria prima com qualidades inigualáveis à luz do que hoje conhecemos, mesmo comparando com o gás natural, e assim sendo é óptimo para produzir energia. Sendo energia a capacidade de realizar trabalho, a produção de riqueza depende desta capacidade de ...trabalhar, produzir coisas e movê-las dum ponto A para um ponto B.

Não se vislumbrando substituto do petróleo com qualidades semelhantes, a nossa dependência manter-se-á, e na impossibilidade de gerarmos riqueza suficiente para o adquirirmos em quantidades que satisfaçam as necessidades da economia, não haverá outra solução senão a queda da própria economia, reajustando-se esta às capacidades físicas de produção energética. Economia é energia, e se nos últimos 15 anos o sector financeiro manteve as economias mais ou menos levitadas, foi à custa da energia que se foi buscar ao futuro (crédito) para se utilizar no presente. Mas mais cedo ou mais tarde chega o dia em que o futuro nos bate à porta para cobrar a energia que lhe pedimos no passado.
 

Analisando as relações entre as economias como meras transferências de energia, olhamos com outra perspectiva para o crescimento do PIB dos países. Torna-se mais clarividente que o crescimento do PIB não pode ser exponencial para sempre, algum dia terá que esbarrar num qualquer limite físico e energético. Estaremos a chegar a esse limite? O primeiro gráfico que expusemos aqui no Contas, a 26 de Dezembro 2010, diz-nos que provavelmente sim. Aguardamos cenas dos próximos capítulos.


Tiago Mestre

23 de outubro de 2011

A manipulação tem sempre um preço

Caros leitores e leitoras, felizmente que existe na comunidade "blogosferiana" gente que está atenta e que não tem memória curta.
O vídeo que se segue, produzido por Ricardo Santos Pinto do blog Aventar, a quem damos os parabéns pela ideia e pelo resultado, demonstra de forma indelével a manipulação a que hoje as populações estão sujeitas pela retórica da classe política. A manipulação e a mentira têm sempre pernas curtas e oxalá os políticos tivessem percebido isto há muito mais tempo porque ainda íamos a tempo de salvar as democracias:



Tiago Mestre

21 de outubro de 2011

BCE - Banco "mãos largas"

Caros leitores e leitoras, cortesia do site Zero Hedge, disponibilizamos abaixo um gráfico que mostra a evolução do preço das obrigações da dívida italiana nos últimos quatro dias. As zonas marcadas a fundo vermelho representam as operações de compra que o Banco Central Europeu realizou no mercado secundário. Como se constata, estas compras servem apenas de interrupção transitória na trajectória de descida permanente de queda do preço das obrigações. Como já explicámos aqui no Contas, sempre que o preço das obrigações cai, a sua taxa de juro aumenta, e portanto não nos devemos enganar. Também já tínhamos previsto aqui e aqui que a aquisição de obrigações pelo BCE é para ficar.






Este gráfico evidencia de forma clara que as compras do BCE não servem nenhum propósito positivo mas serve 3 aspectos muito negativos:

 1. Em primeiro lugar, estas operações de compra pelo BCE não são legais porque violam regras e tratados europeus, como já falamos aqui no Contas várias vezes;

 2. Não consegue inverter o inevitável, apenas adia-o! Aconteceu com a Grécia, com a Irlanda, com Portugal e acontecerá com qualquer país que se torne o alvo dos "vigilantes" de obrigações;

 3. Todas as compras de obrigações que o BCE fez, desde que os problemas surgiram no início de 2010, foram sempre um péssimo negócio. Como se pode ver pelo gráfico, as aquisições que o BCE fez a 18 de Outubro já valem menos a 21 de Outubro. Estas operações tornarão o BCE mais cedo ou mais tarde um banco insolvente porque "imprimiu" dinheiro para adquirir estes "activos tóxicos" sem assegurar a sua recapitalização. Fica com estes activos no seu portefólio, mas quando os voltar a vender, se os vender, terá prejuízo porque só venderá a preços inferiores. Esse prejuízo terá que ser reportado e o processo de descredibilização entra em modo "full speed". Mas mesmo que não os venda, toda a gente saberá que esse "veneno" estará lá. Ninguém acreditará no BCE como uma entidade credível, e vendo-se entre a espada e a parede, ou fecha (calamidade) ou começa a imprimir dinheiro indiscriminadamente para pagar dívidas e resgatar tudo e todos, gerando inflação e destruindo a moeda (calamidade mas em modo mais lento). São estes os "belíssimos" destinos que o BCE tem pela frente se continuar com este programa de aquisições de activos tóxicos. Esta postura do BCE é um mero reflexo das políticas suicidas dos líderes europeus: salva-se o dia de hoje, amanhã logo se vê.

Tiago Mestre

Os novos funcionários públicos portugueses

Caros leitores e leitoras, é caso para dizer que aquilo que nos espera no futuro merece uma análise cuidada no presente. Existe um balão de ensaio, que se chama Grécia. Descontando para já os confrontos, que o Contas tem dificuldade em perceber em que é que isso se reflecte na sociedade e na democracia gregas, os cortes que a Parlamento grego tem feito sucessivamente nos salários dos gregos é uma antecâmara do que nos irá acontecer num futuro breve. Aliás todos os leitores do Contas que estejam casados ou juntos com outro funcionário público, alertamos o seguinte:

Os recentes cortes nos subsídios que foram anunciados pelo governo, mas que estão a ser muito criticados pelas elites deste país, não serão de carácter temporário, como foi anunciado. Estes cortes em 2013 serão substituídos, ou por despedimentos em massa ou por redução dos salários. Paralelamente, e porque as contas públicas não atingirão um equilíbrio tão cedo, mais cortes na máquina pública se antevêem. Novos aumentos de impostos não trarão a receita desejada porque, como já explicámos no Contas várias vezes, esta retenção na fonte anulará futuras receitas, e portanto a eficácia tenderá para zero. O problema terá que ser novamente equacionado mais à frente. O corte nas despesas é a única via, e os custos com pessoal, pensionistas e subsídios à população são a grande fatia que terá que ser reduzida para que o Estado consiga verdadeiramente encolher. 

Se hoje uma família com 2 funcionários públicos possui um rendimento médio anual de 30 mil euros, por exemplo, para o ano terá uma redução líquida de 4300 euros. Se tiver filhos e despesas com estes, as deduções em IRS também serão reduzidas, e deverá contar com mais uma redução de 1000 euros, pelo menos (neste caso não fizemos contas pelo nosso desconhecimento das novas regras de deduções).
Para 2014, ou até talvez já em 2013 poderão contar com novos cortes nos salários, eventualmente mais 20%, depende sempre da classe política e dos acordos firmados. Uma redução de mais 20% retirará mais 5 mil euros ao rendimento anual, que fora em 2010 de 30 mil euros e será em 2014 de 20 mil euros, uma redução de 10 mil euros num espaço de 3 anos.
Do lado dos impostos, todos os bens e serviços indispensáveis à população, alimentação e energia, crescerão muitíssimo acima da inflação, e poderemos antever mais um corte de várias centenas de euros por ano no poder de compra das populações. A própria inflação não baixará devido às políticas do BCE e da Reserva Federal de expansão monetária, e portanto o poder de compra mais encolhido estará. O futuro continuará a trazer surpresas muito desagradáveis e o cenário piorará muito mais quando os mecanismos que a UE tem utilizado para manter os países levitados deixar de ser credível pelos investidores internacionais. Para quem já está lúcido o suficiente para aceitar estes cortes, deve-se preparar imediatamente, reduzindo todas as despesas mensais em pelo menos 40% a 50%, e se não for possível (o que é mais do que natural) angariar toda a receita que conseguir e investir em terreno, em metais preciosos, em bens essenciais e iniciar uma alteração de estilo de vida, menos dependente das manobras e manipulações a que continuaremos a ser alvo no futuro próximo. Sempre que produzirmos bens de agricultura e outros para benefício próprio estamos a importar menos, ajudando no crescimento do PIB e na balança comercial de Portugal com o exterior.



Tiago Mestre

20 de outubro de 2011

O colapso da dívida soberana portuguesa - especulação ou realidade?

Caros leitores e leitoras, de acordo com o post anterior, que sugerimos a sua leitura para melhor se compreender este, salta-nos uma pergunta:

Quais os argumentos em que se baseia a classe política, jornalística e opinion makers quando nos informam na televisão, nos jornais e nas rádios que a dívida soberana portuguesa é "alvo de ataques especulativos por parte dos mercados"?

Esta mensagem foi passada massivamente nos media, mas em nenhuma ocasião ouvimos argumentos técnicos que a expliquem. Não estamos a afirmar que não tenha havido especulação. Pela forma como os governos centrais estão a dar "carta branca" a mercados que não estão regulados e a manipular outros mercados para que se mantenham levitados à força, o que não devem faltar por aí são especuladores. Abordámos este assunto recentemente aqui.

Ora, não havendo evidências fortes do lado de quem acusa, presumimos que o acusador não as possui. E se não as possui significa que a afirmação é meramente uma "desculpa" para justificar um evento que ou não se entende ou não se quer explicar. E isto é que é especulação, é plantar ideias fáceis na população para se arranjar um bode expiatório invisível onde se podem descarregar todas as culpas. Não nos parece sério este tipo de abordagens, muito menos afirmadas por aqueles que "fazem" opinião e que possuem um dever público de esclarecimento quando são chamados a comentar. Os jornalistas, ignorantes na matéria, aceitam frequentemente estas opiniões e não conseguem compreendê-las ao ponto de as desmontar e exercer o contraditório.

Daquilo que compreendemos do mercado de dívida soberana e das contas públicas de Portugal, somos a considerar o seguinte:

Portugal gozou de uma queda das taxas de juro nas suas obrigações desde que se decidiu juntar-se à zona euro. Integrar esse pelotão deu-lhe credibilidade e os investidores acreditaram que Portugal possuía energia para assumir os seus compromissos. A dívida na altura, há 13, 14 anos, era inferior a 50% do PIB, este crescia ainda acima da média da UE, e portanto pouco receio havia. Durante toda a década de 2000 assistimos a uma queda das taxas de crescimento do PIB, e o Estado, para não deixar a população sem apoios, foi assumindo cada vez mais responsabilidades sem acautelar as respectivas receitas para cobrir estas despesas. Chegámos a 2010 com um crescimento de quase zero e um ritmo de endividamento e geração de défices que não para de atingir novos recordes. E pronto, ficam assim criadas as condições para que, mais cedo ou mais tarde, os vigilantes das obrigações soberanas mundiais reparem que algo de insustentável se está a passar em Portugal. A crise financeira e económica de 2009 veio acelerar este receio dos vigilantes, e com a Grécia a iniciar a sua queda até ao abismo, seria uma questão de tempo até Portugal se afundar, et voilá!

Atribuir culpas injustificadas aos especuladores sem primeiro fazermos o nosso mea culpa é procurar os responsáveis no sítio errado. Não se compreende o crime e estamos a procurar o criminoso no sítio errado.

E para acrescentar mais ruído, o que a UE está a fazer é a mandar para debaixo do tapete as provas e as evidências de que os criminosos são os próprios governos, arranjando mecanismos de financiamento duvidosos, como o EFSF, em que se baseia na credibilidade dos alunos bem comportados para emprestar aos maus comportados, a proibir instrumentos financeiros que, até há 3 meses, ninguém punha em causa a sua existência: claro, os mercados estavam a subir, para quê retirar estes instrumentos. Só quando os mercados começam a cair é que se manipula para evitar maiores quedas. Estas manipulações recentes da UE envergonham qualquer manipulação que os mercados possam ter feito contra Portugal, tal é a escala da operação.
A última tentativa de manipulação, avançada hoje, exige às agências de rating que não publiquem descidas de ratings e outlooks negativos dos países que estão abrangidos pela programa de resgate da troika. Huumm, onde é que eu já vi este filme.  As notícias são cada vez mais insanes e o céu é cada vez mais o único limite. Aguardamos cenas dos próximos capítulos.

Tiago Mestre

Obrigações gregas a 1 ano atingem um juro de 188% !

Caros leitores e leitoras, a União Europeia decidiu proibir os contratos de Credit Default Swap (CDS) para dívidas soberanas, na tentativa de travar a escalada dos juros sobre estas obrigações.

Como funcionam as obrigações soberanas, o mercado secundário e as taxas de juro (ou yields)?


O Estado soberano emite dívida, que é vendida em leilão. Os compradores adquirem a dívida com a promessa que o Estado os irá ressarcir do capital e do juro na maturidade que foi pré-acordada (6 meses, 1 ano, 5 anos ou mais). Os compradores podem depois colocar essas obrigações no mercado secundário e vender a outros compradores. Quando essa transacção se realiza, o juro original mantêm-se no mesmo e apenas o preço da obrigação oscila em função da lei da oferta e da procura.


Face ao estado degradado das contas públicas gregas, que é de todos conhecido, as suas obrigações perderam credibilidade nos mercados, e os possuidores das obrigações começaram a vendê-las para se desfazerem desse investimento "arriscado". Havendo mais vendedores que compradores, a lei da oferta e da procura diz-nos que o preço das obrigações tem que baixar. E foi o que aconteceu. A taxa de juro aumentou porque existe uma relação inversamente proporcional entre o preço da obrigação e a taxa de juro. E porquê? Porque a taxa de juro de 5% que é paga pelo governo grego incide sobre o valor inicial da obrigação. Se esta perde valor no mercado secundário, o Estado continua a pagar 5% sobre o valor inicial.
Um exemplo:
Há 1 ano, quando as obrigações a 5 anos foram emitidas pelo estado grego, cada obrigação valia 1 euro, por exemplo, a uma taxa de juro de 5% que será remunerada durante 5 anos.

Hoje, essa mesma obrigação possui uma taxa de juro de 188%, significando que o seu preço desceu de 1 euro para 36,5 cêntimos ( 36,5 x 2,88 = 1,05 ). Num ano, a obrigação perdeu quase 3 vezes o seu valor. Se hoje comprar essa obrigação por 36,5 cêntimos e se a taxa se mantiver em 188%, posso quase triplicar o meu investimento num ano, mas se continuar a haver mais vendedores do que compradores o preço da obrigação continuará a baixar. Se por exemplo eu quiser vendê-la daqui a 6 meses e a taxa de juro no mercado já estiver a 300%, só se venderá por 26 cêntimos, perdendo quase 28% nesta transacção.

O mercado das obrigações é arriscado, na medida em que o investidor fica preso neste dilema quando começa a ver o preço das obrigações a descer:
Ou mantêm as obrigações que se desvalorizaram na sua carteira de activos e vai sendo remunerado com o juro acordado, ou tenta vendê-las a um preço mais baixo, assumindo a perda na transacção mas livrando-se do risco que esse activo representava na sua carteira de investimentos.
O facto da taxa de juro aumentar com o abaixamento do preço é um estímulo à entrada de novos compradores, mas estes devem ter em atenção que se a taxa de juro subiu, significa que o risco daquela obrigação aumentou, e se o Estado entra efectivamente em bancarrota, o investidor perde o dinheiro.
A UE tem recorrido aos contribuintes europeus para emprestar dinheiro à Grécia para esta poder pagar os seus compromissos, nomeadamente com os investidores das suas obrigações. Contudo estes já pouco acreditam na salvação da Grécia e despejaram as obrigações que possuíam no mercado secundário. O preço tinha inevitavelmente que descer e as taxas de juro que subir.

A somar a este mercado das obrigações existe o mercado dos CDS, muito mais recente e muito mais pequeno, que funciona como uma apólice de seguro sobre o preço da obrigação. Mediante o pagamento de um prémio pelo tomador do seguro à seguradora, esta compromete-se a ressarcir o tomador em caso do preço da obrigação descer nos termos acordados entre ambas as partes. Este mercado foi agora banido pela UE na tentativa de travar a queda do preço das obrigações, só que a medida parece fracassada à nascença. E porquê?
Porque os investidores utilizam este mecanismo, não só para apostar na queda dos preços das obrigações, que é o que a UE está a tentar evitar, mas para anular perdas que estavam a ter no mercado das obrigações, evitando assim vendê-las (o que é bom para as obrigações), ou seja, quando o preço das obrigações começava a descer no mercado, compravam CDS em vez de venderem as obrigações, e assim o que perdiam no preço das obrigações era compensado com o que ganhavam no CDS. Sem poderem recorrer a este mecanismo, não terão outra alternativa senão despejar as obrigações no mercado secundário, pressionando o preço da obrigação ainda mais para baixo. Veremos se este raciocínio será válido nos próximos tempos.

Tiago Mestre

19 de outubro de 2011

Bank of America

Caros Leitores e Leitoras, informamos que, já em sinal de desespero, a direcção do Bank of America decidiu transferir um conjunto de produtos derivados que possuía numa das unidades do banco (Merrill Lynch) que não é garantida por depósitos da população, para a unidade que é garantida pelos depósitos (Bank of America). E porquê?

Porque a unidade que é garantida por depósitos está protegida por uma entidade americana, FDIC, que em caso de bancarrota dessa unidade, assegura os depósitos das pessoas que lá têm o dinheiro. Basicamente transferiram-se activos tóxicos dum banco que não possuía colateral para outro banco que possui colateral e está protegido pelo governo americano em caso de bancarrota. Os activos tóxicos que foram transferidos perfazem um valor nominal de 53 triliões de dólares. Para se ter uma ideia deste valor, o PIB dos Estados Unidos é de 14 triliões de dólares. Ou seja, só este banco possui produtos derivados com um valor nominal QUATRO vezes superior a todo o PIB do país, que é só o país com o maior PIB do mundo. Outro exemplo, o banco JP Morgan possui 79 triliões de activos em produtos tóxicos, que é mais do que a soma do PIB de todos os países do mundo. É para se perceber a dimensão destes bancos.


A jogada do Bank of America é fácil de entender: utilizou o único recurso disponível que ainda possuía para não declarar bancarrota. Mas esse recurso são os depósitos da população, e esta nada tem a ver com as apostas suicidas que a direcção do banco tomou nos últimos anos. As entidades de supervisão americanas, nomeadamente a Reserva Federal, permitiu que tal operação se realizasse, confirmando-se mais uma vez de que lado estão estes dirigentes que não são eleitos pelo povo, mas que possuem um poder descomunal. Muito superior ao de Barack Obama.

Este mesmo banco anda a proibir que clientes seus fechem as suas contas no banco. Assim é fácil gerir uma empresa, encurralando clientes e apostando em produtos tão arriscados, que, em caso de ganho, vira lucro para o banco, em caso de perda, vira resgate pelos contribuintes.

Afinal, os inimigos do Ocidente não estão escondidos algures numa gruta no Afeganistão, mas de porta aberta em algumas das ruas mais movimentadas do planeta.

Tiago Mestre

18 de outubro de 2011

Manipulação moral, ou em inglês "Moral Hazard"

Caros Leitores e Leitoras, o Contas acabou de ler uma notícia na edição online do Jornal de Notícias que vem ao encontro dum assunto cada vez mais debatido neste blog: a manipulação dos mercados e a violação clara de leis.

Num questionário efectuado a 1/3 dos trabalhadores afectos ao Banco Central Europeu, 55,1% consideram que a decisão de adquirir dívida soberana no mercado secundário para travar o contágio da dívida soberana  violou regras do próprio BCE.
E outros 53% consideram que, mesmo assim, esta foi a decisão correcta dadas as circunstâncias.

Meus caros e minhas caras, esta falta de princípios na análise dos problemas é talvez a principal e a primeira razão que nos levou a esta embrulhada que se chama projecto europeu. Quando os fins justificam os meios, mesmo que se violem regras e leis, significa que as circunstâncias é que ditam a governação, adaptando as decisões independentemente do enquadramento legal a que estão sujeitas, porque o que interessa é salvar o dia.


Quem viola leis deve ser julgado, e se se provar a culpabilidade deve ser sentenciado e cumprir a pena que se enquadra com o ilícito praticado. É assim para quem rouba, para quem conduz sob o efeito do álcool, para quem foge ao fisco, para quem corrompe ou é corrompido. Jean Claude Trichet e Vitor Constâncio devem ser julgados por conscientemente terem tomado decisões que violam Tratados Europeus e leis do próprio BCE, para além de serem decisões que no campo económico fragilizam a moeda, que se pretende credível e pouco sujeita a manipulações (des)governadas.
Se a impunidade continuar, o projecto da União Europeia será uma manta de retalhos e um covil de traidores, e daqui a uns anos as democracias nacionais, a soberania nacional e o capitalismo regulado/não-manipulado serão meras memórias distantes. Inadmissível ! Portugal, no meio de tudo isto, sofrerá das maiores consequências, por estar cada vez mais dependente da UE para... comer. Aguardamos cenas dos próximos capítulos.



Tiago Mestre

Que capitalismo tão descapitalizado!

Caros leitores e leitoras, com todas as manifestações que têm ocorrido pelo planeta e que nos têm chegado pela imprensa, verificamos que há protestantes e cartazes que se insurgem contra o capitalismo. É recorrente esta ideologia de que a culpa é do capitalismo, sobretudo do capitalismo selvagem, que não protege as pessoas e apenas enriquece os mais poderosos.

Queremos esclarecer aqui no Contas que a nossa opinião segue num sentido bem diferente. O capitalismo deve reger-se pela lei mais elementar do mercado: a lei da oferta e da procura, mas infelizmente os políticos têm sistematicamente interferido no capitalismo e na economia de mercado, a saber:

1. Estados geram frequentemente mais despesa do que receita, tornando-os dependentes de credores, como os grandes bancos, ou dos bancos centrais que emitem moeda;
2. A dependência dos Estados para com os grandes bancos privados cria fenómenos de subserviência e dependência que, em caso dos bancos ficarem em apuros, os Estados não têm outra solução senão salvá-los, caindo o peso sobre os contribuintes;
3. A emissão de moeda pelos bancos centrais para tapar as dívidas dos Estados promove a desvalorização da própria moeda, gera fenómenos de inflação e aumento generalizado dos preços, retirando poder de compra à população;
4. Manipulação das taxas de juro com que os bancos centrais emprestam dinheiro aos grandes bancos privados, baixando-as artificialmente para estimular o acesso ao crédito, tornando estes bancos ainda maiores   e aumentando a emissão de moeda;
5.  Manipulação dos mercados de acções pelos Bancos Centrais através da concessão de créditos aos grandes bancos privados, estimulando estes a investir esse dinheiro nos Mercados;
6. Emissão de moeda pelos bancos centrais para resgatar bancos que estão em apuros, adquirindo-lhes os activos tóxicos, ou que se desvalorizaram muito no mercado, por forma a não entrarem em insolvência;
7. Perversão moral no resgate a bancos em apuros, já que um dos requisitos no capitalismo é que quem investe mal deve ser punido no mercado, abrindo falência ou re-estruturando a sua actividade;
8. Surgimento de toda uma classe de especuladores nos mercados, que exercem actividade em função das orientações que os governantes vão dando aos mercados, interferindo no normal processo dos mercados;
9. Interferência do Estado no mercado laboral através da criação de subsídios e apoios de toda a ordem;
10. Intervenção dos Estados na concessão de bonificações nos créditos à habitação, estimulando a construção de casas e tornando os municípios muito dependentes das receitas obtidas com estes negócios; 
11. Aumento do peso do Estado no PIB, tornando a economia mais dependente deste. Em 1974, o Estado pesava 13% do PIB, hoje pesa 50% do PIB. Se o estado espirra, a economia apanha uma constipação;
12. Alargamento e liberalização dos tratados do comércio mundial sem atender às diferenças laborais que existem em cada região do globo. No capitalismo, as regras devem ser iguais para todos, e se se quer alargar o capitalismo ao mundo inteiro, as regras devem acompanhar. A concorrência desleal gera desequilíbrios na lei da oferta e da procura.
13. Manutenção de paraísos fiscais com falta de regulação e transparência dos mesmos.



Estas são apenas algumas das muitas manipulações que os governantes têm criado e que não existiam previamente. O capitalismo não conseguirá resistir a tanta perversão, e quanto maior a manipulação, maior a selvajaria. As próprias democracias já estão a sofrer com tudo isto já que a agenda política se move por outros interesses que não os do povo.

Com a manipulação das regras que está ocorrendo a nível mundial, desconfiamos que as democracias serão as primeiras a sofrer por serem frágeis e facilmente manipuláveis pelos próprios "democratas". Seguir-se-á o capitalismo, que apesar de assentar em princípios mais difíceis de manipular, é atacado todos os dias. O que surgirá após tudo isto não sabemos, mas acreditamos que será bem pior do que o sistema que tivemos até agora. Aguardamos cenas dos próximos capítulos.



Tiago Mestre

Mas que medidas há para o relançamento da economia? (Parte 2)

Caros Leitores e Leitoras, hoje tivemos mais um ministro, o da economia, a informar a comissão parlamentar de economia e obras públicas de duas propostas muito importantes:

1- O período da subsídio-dependência terminou;

2- E a única forma de revitalizar a economia é através da execução de reformas estruturais no Estado.

Com a primeira proposta não poderíamos estar mais de acordo. Já o explicámos no post de ontem, e louvamos a medida. Suspeitamos que a única razão para a sua implementação seja a falta de dinheiro, e aí já discordamos, porque a natureza da medida é errada por princípio, e só por isso deve ser abandonada.

Com a segunda proposta também não poderíamos estar mais de acordo. Contudo não vemos do governo a implementação da mesma. O que temos visto é uma coisa diferente: em vez de se reformar para reduzir custos, cortam-se subsídios e salários e assim também se reduzem custos. Isto não é reformar, é cortar, mantendo tudo o resto na mesma.
Quanto mais tempo teremos de esperar até se ouvir pela voz dos ministros que é preciso extinguir serviços e despedir os respectivos trabalhadores?
Para se cortarem 20 a 25 mil milhões de euros de despesa, dum total de 80 mil milhões, é preciso extinguir e fechar:

Hospitais;
Institutos Politécnicos;

Universidades;
PPP com concessionárias de Auto-Estradas e Hospitais Privados;
Corte de salários;
Corte de pensões;
Corte de subsídios de desemprego e apoios a famílias mais pobres.

Ouvimos o PSD com muita frequência referir, antes das últimas eleições legislativas, que bastaria cortar as "gorduras" para equilibrar o défice. Aqui no Contas somos a informar que afirmações desta natureza são de uma simplicidade técnica e de uma manipulação política/eleitoral constrangedoras.

Tiago Mestre

17 de outubro de 2011

Mas que medidas há para o relançamento da economia?

Caros leitores e leitoras, temos ouvido frequentemente a classe jornalística questionar a classe política e os opinion makers  sobre quais as medidas que o Estado deve implementar para relançar a economia. Temos ouvido com alguma atenção o que se tem respondido, contudo as respostas são muito fracas, e não poderiam ser de outra forma, porquê? Porque o Estado não tem condições para relançar absolutamente nada que lhe seja externo. Se conseguir colocar a sua própria casa em ordem já é muito bom.

O Estado não tem condições para relançar a economia porque a economia não se deixa relançar pelo Estado. O que o Estado pode fazer é desimpedir e desobstruir um conjunto de barreiras que tem colocado no caminho do relançamento da economia. Talvez por aí se comece a revitalizá-la, a saber:



- Máquina Judicial a funcionar como regulador e fiscalizador dos abusos que se cometem, punindo quem prevarica e protegendo quem cumpre;
- Eliminação de subsídios que favoreçam o absentismo e o não regresso ao mercado de trabalho;
- Redução do peso do Estado na economia, libertando recursos, nomeadamente financeiros, para serem alocados em investimentos privados;
- Rigor orçamental e financeiro do Estado, imprimindo uma imagem de credibilidade junto dos investidores estrangeiros e nacionais.


Muito nos apraz que hoje, o Ministro das Finanças, em resposta à pergunta do jornalista da SIC Notícias, que mais uma vez voltou a perguntar quais as medidas para revitalizar a economia, tenha transmitido ideias muito próximas daquelas que acima escrevemos. É um sinal de reconhecimento de que não há milagres, e que o Estado, organizado e a funcionar é o único estímulo para a economia crescer.

Avançar com as medidas já testadas no passado mas sem resultados: de apoio às empresas, aos empresários, à contratação de trabalhadores, ao não despedimento de trabalhadores, à criação de novas empresas, e outras, é gastar dinheiro, literalmente. Todo este tipo de medidas é uma manipulação da regra mais elementar do mercado: a da oferta e a da procura. Podem ter um efeito positivo no curto prazo, devido ao estímulo que provocam, mas acabam por criar fenómenos de concorrência desleal, já que uns aproveitam a medida e outros nem tanto, prejudicando estes e tornando os que a aproveitaram como cada vez mais dependentes da ajuda directa do Estado. Este vê-se obrigado a subir os impostos para manter estas medidas, dando (falsa) energia com uma mão mas roubando (boa) energia com a outra. O efeito de ricochete da medida ocorre sempre, mais cedo ou mais tarde, e portanto não surte o efeito desejado. Simplesmente não funciona, e quanto mais cedo se perceber que estímulos = manipulação das regras, mais cedo se evita a repetição destas asneiras.



Tiago Mestre

16 de outubro de 2011

Indignados - Ocupem as granjas e as oficinas (Parte 2)

Caros leitores e leitoras, o Contas resolveu dar um saltinho à Assembleia da República para perceber como estava a assembleia popular. Deixamos algumas imagens:








Tiago Mestre

Indignados - Ocupem as granjas e as oficinas

Caros Leitores e Leitoras, sobre as manifestações que se começam a realizar com maior consistência por todo o mundo, Gerald Celente, Director do site TrendsResearch, há vários anos que aponta para esta fatalidade, coadjuvada pela Internet e pelas redes sociais. O senhor tinha toda a razão, porque as manifestações começam a tornar-se globais, com o movimento Occupy Wall Street a servir de inspiração para muita gente espalhada pelo planeta.

Contudo, aqui no Contas Caseiras acreditamos que o caminho que os governantes políticos continuarão a tomar será o de resgate do dia de hoje, e amanhã logo se vê. À velocidade com que os fenómenos ocorrem, a classe dirigente mal consegue correr atrás dos problemas, quanto mais antecipá-los. A população, sobretudo os contribuintes e quem poupa dinheiro continuarão a ser o alvo da pilhagem que está a ocorrer pelo mundo ocidental, e que nós aqui no Contas não nos cansamos de evidenciar. A odisseia da votação da expansão do EFSF pela Eslováquia expôs toda a perversidade que subjaz à construção da União Europeia.

Os políticos, na sua generalidade, estão empenhados em manter a todo o custo o sistema político-económico vigente, nem que para tal recorram à violação sistemática das leis que eles próprios criaram. A UE, os EUA, a China e outros países com peso mundial têm manipulado sistematicamente os mecanismos monetários, as taxas de juro, a emissão de crédito, os mercados de acções, o regabofe dos bancos, o sector imobiliário, as políticas de impostos, etc. A lista é enorme, e o que se percebe é que com a contracção do crescimento nos países desenvolvidos, a pirâmide do crescimento começou a deixar de ser alimentada pela base. Os políticos, confrontados com a falta de combustível, empenham-se todas as semanas em trazer para a praça pública planos de planos de planos, planos de recapitalização, de revitalização, de crescimento, de nacionalizações de bancos em falência, de resgate de países falidos e demais mecanismos manipuladores. Os mercados estão a exigir que se faça uma correcção por baixo porque os países desenvolvidos reduziram a sua produção de bens mas continuam a gastar como se produzissem muito. A classe política não quer aceitar as evidências por serem catastróficas, e assim se tenta a todo o custo manter o castelo de cartas levitado, manipulando tudo e todos, violando regras e sufrágios democráticos.

Não vemos como as manifestações, agora mais globalizadas, possam trazer algo de positivo para a retoma do crescimento do PIB. Muitas das conquistas civilizacionais e tecnológicas que hoje damos como garantidas foram forjadas já em período de economia virtual (serviços e mais serviços), e para que não se eclipsem num abrir e fechar de olhos, urge retomar, já hoje, as actividades primárias e secundárias, para que estes dois sectores contribuam em mais de 40% no PIB, pelo menos. O sector dos serviços, à excepção do turismo, e o sector estatal têm que perder peso na economia, porque são máquinas delapidadoras de riqueza: consomem mais do que produzem, e apenas têm gravitado pela economia porque se lhes arranja financiamento.

Quanto mais tarde voltarmos à produção de bens tangíveis, maior será a queda no curto prazo e mais tarde regressaremos ao crescimento do PIB. Mãos à obra, já!

Tiago Mestre

14 de outubro de 2011

5º Post: A energia (renovável) somos nós

Caros Leitores e Leitoras, soubemos hoje qual será o aumento da energia eléctrica para 2012:
5%, ou talvez menos!

E como foi possível um aumento tão magro? Adia-se tudo para 2013 e depois logo se vê. Esta decisão faz-nos lembrar a decisão do Ex-Ministro Manuel Pinho, que se exaltou quando a ERSE o informou de que a subida já em 2007 deveria ser de 15%. O Presidente da ERSE demitiu-se e a subida foi muito inferior a 15%, iniciando este ciclo de crescimento de dívida para liquidar o défice tarifário.


Mas quem já adiou tantos anos, não haverá problema em adiar mais um, só que depois a subida já não será de 30%, terá que ser de 33% ou 35%. Na língua inglesa há uma boa expressão para este tipo de decisões políticas: "kick the can down the road", traduzindo para português: "Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas".

Esperávamos muito mais do actual Ministro da Economia. Sem coragem, dificilmente se tomarão as medidas que urge implementar.

Por ora nada mais há a acrescentar, voltaremos a falar sobre este assunto em Outubro de 2012.

Tiago Mestre

A Matemática costuma ganhar, às vezes tarde demais ! (Parte 3)

Caros Leitores e Leitoras, já abordámos aqui no Contas tantas vezes a impossibilidade matemática de querer aumentar a austeridade sem ferir o crescimento do PIB, que dispensaremos essa explicação neste post. Poderemos sempre voltar a trás no tempo e reler posts desde Julho de 2011 que explicam esta impossibilidade matemática.

Debruçamo-nos antes sobre uma declaração de ontem de Passos Coelho, mais ou menos assim:
Que não tinha conhecimento do péssimo Estado em que as contas estavam antes de assumir o governo e que nunca imaginaria que teria que tomar medidas tão gravosas.

Tanto quanto nos recordamos, Passo Coelho tinha todas as condições para saber a evolução orçamental do Estado e julgamos que o sabia. Tanto que sabia que fazia política contra o governo baseado no que sabia, inclusivamente chegou a chumbar o famigerado PEC 4, porque o país já não aguentava tanto corte sempre nos mesmos, e que o que se deveria fazer era cortar nas gorduras. Talvez não soubesse do caso da Madeira, mas também aí a responsabilidade recai sobre a sua pessoa. Alberto João Jardim é membro do PSD, e se fez o que fez ao país, Passos Coelho como líder do PSD poderia sempre, à posteriori, aplicar sanções ao senhor, inclusivamente expulsá-lo do partido ou retirar todo o apoio do PSD à candidatura, obrigando-o a concorrer como independente (não sabemos se tais opções são possíveis, mas por bem menos o PS já retirou confiança e apoio a alguns autarcas, lembramo-nos de Fátima Felgueiras, por exemplo).

O que importa reter é que estamos a ser governados por líderes que nos deixam muitas reservas, passando-nos atestados de ignorância quando a ignorância recai sobre eles mesmos. Aqui no Contas, desde que iniciámos o estudo sobre as contas do Estado português há 2 anos, em pouco tempo percebemos que o equilíbrio das contas não se pode atingir nas condições em que o país está.

Para terminar, e fazendo juz à reputação da linguagem matemática, o corte dos subsídios de férias e de Natal para os próximos 2 anos é meramente uma retenção na fonte. Esse dinheiro chegaria mais tarde ou mais cedo aos cofres do Estado via impostos indirectos, como IVA's e ISP's, porque as pessoas com o dinheiro dos subsídios compram bens, serviços, mantêm postos de trabalho, etc. Só que não há tempo para isso.
E para agravar, como a economia está em recessão, não há energia suficiente nos privados para compensar esta perda de poder de compra por parte dos funcionários públicos e pensionistas, obrigando o PIB a cair ainda mais, o que agrava por sua vez o valor do défice público, que é em função deste PIB. Este ciclo vicioso de mais austeridade obrigar a mais austeridade, destruindo a economia pelo caminho, já entrou em velocidade cruzeiro. Veremos o que sobra do país no fim desta odisseia.

Só uma última nota/dúvida: se afinal o buraco em 2011 é de 3 mil milhões, em vez de 2 mil milhões, como refere a edição online do Diário económico, e se estas novas medidas de austeridade são só para 2012, presumo que não iremos cumprir as metas do défice para 2011... Oops, afinal o que previramos aqui no Contas há 15 dias bate certo com a realidade. Oxalá estivéssemos errados.



Tiago Mestre

13 de outubro de 2011

Que soluções para mim e para ti? (Parte 1)

Caros leitores e eleitoras, começamos hoje a disponibilizar algum do conhecimento que tenho vindo a adquirir sobre técnicas de agricultura numa exploração familiar que possuo, no sentido de cativar os leitores e as leitoras para se iniciarem numa actividade ainda pouco entendida pela sociedade em geral, sobretudo nos meios urbanos.

A agricultura, sendo uma actividade ancestral, está cheia de segredos, truques e muitas formas de fazer a mesma coisa. Os resultados não são imediatos nem constantes porque há muitos factores que influenciam o desenvolvimento das culturas.



Para iniciar esta série de posts, começaremos pela bem mais essencial: a terra.

O tipo de terra que possuímos em Portugal varia bastante, consoante a localização.
Para uma agricultura equilibrada e em pequena escala, é necessária uma terra que seja fácil de trabalhar e que possua os nutrientes e restantes atributos para que as culturas se desenvolvam com normalidade. Dessa forma, sugerimos que se opte por terras de cor escura e com poucas pedras: 





As terras mais vermelhas/barrentas são bastante férteis mas difíceis de trabalhar, tanto molhadas, como secas, exigindo muitas vezes meios mecânicos para o fazer:





As terras arenosas são muito fáceis de trabalhar mas pecam por escassez de nutrientes.

Uma forma de compensar alguma falta de fertilidade consiste em adicionar adubos, biológicos ou industriais. Existe uma variedade enorme de adubos produzidos industrialmente, mas para quem prefira adubos mais biológicos, o estrume de animais é bastante adequado.
Tendo uma pequena criação de animais (galinhas, patos, 1 ou 2 borregos ou 1 suíno, por exemplo) é possível produzir estrume em quantidade considerável, tendo para o efeito que preencher a área onde o animal vai estar com bastante caruma, "forrando" o mais possível o pavimento. A caruma apanha-se em qualquer pinhal. Todas as "descargas" do animal são totalmente absorvidas, evitando-se locais encharcados, cheiros, moscas e doenças. Beneficiam-se assim as condições higiénicas da criação e a fertilidade do terreno que se quer cultivar.






Como também se vê pela fotografia, quando há excesso de produção agrícola, os animais são excelentes consumidores de hortícolas e frutas, com vantagens depois na qualidade da própria carne.

Uma sugestão para anular locais encharcados, sobretudo para suínos, será instalar bebedouros próprios para o efeito, ligados a uma canalização de água com pouca pressão, abaixo de 1 bar. Possui também a vantagem de não ter que se preocupar em dar água ao animal. Mostraremos fotografias quando publicarmos um post sobre este assunto.

Se o post for do teu agrado, não hesites em comentar.



Tiago Mestre

Nigel Farage ataca de novo Durão Barroso na arena política do Parlamento Europeu

Caros Leitores e Leitoras, após o discurso de Durão Barroso ontem no Parlamento Europeu, seguiu-se a vez de Nigel Farage, presidente do UKIP, e bastaram 3 minutos apenas para explicar o que representa esta nova expansão do EFSF. Fez uma menção bastante honrosa a Richard Sulik, líder do partido SAS da Eslováquia, por quem o Contas Caseiras nutre um grande respeito e admiração:




A linguagem de Nigel Farage é pouco moderada, às vezes ofende, mas há muito que este senhor perdeu a paciência com as decisões e com os decisores que governam a União Europeia - como nós o compreendemos! Dêem-lhe o respectivo desconto.


Tiago Mestre

12 de outubro de 2011

Richard Sulik da Eslováquia, o Contas Caseiras está contigo!

Caros Leitores e Leitoras, numa tarde desesperante e numa noite dramática, o Parlamento Eslovaco decidiu ontem votar contra a expansão do EFSF.

Publicámos na segunda-feira um post, apoiando publicamente o líder do partido SAS, Richard Sulik, que, coligado no governo, decidiu manter-se fiel aos seus princípios e votar contra a expansão do EFSF.

O SMER, maior partido da oposição, também votou contra, mas apenas porque o maior partido do governo, liderado pela primeira ministra Iveta Radikova, apresentou uma moção de confiança agarrada ao voto de expansão do EFSF. O SMER viu aqui uma oportunidade de derrubar o governo e não hesitou. Mas antes da votação ter ocorrido, o SMER já tinha informado os restantes partidos que, a haver uma segunda votação depois do derrube do governo, já votaria a favor !! (não se compreende). E assim lá foram eles para a votação, sabendo o resultado da mesma e o futuro resultado da próxima, que será no final desta semana ou no arranque da próxima.

O líder do SAS, Richard Sulik, sempre manifestou o seu desacordo à expansão do EFSF, mas poucos acreditariam que levasse as suas convicções até ao fim, incluindo a primeira-ministra. Vendo-se esta impossibilitada de demover Richard Sulik, decidiu apresentar no último momento a bomba atómica: agarrar uma moção de confiança ao voto da expansão, como quem diz: caio eu, mas tu também cais. ISTO NÃO SE FAZ. É muito feio e revela uma coluna vertebral mais flexível que a de um invertebrado. O derrube do governo e a saída de Richard Sulik da cena política é mais um duro golpe para a Europa, que se vê a pouco e pouco extirpada de gente séria e que se rege por princípios mesmo nos momentos mais difíceis e inconvenientes.

E o que dizer do SMER, maior partido da oposição? Vota contra porque está lá enfiada à pressa uma moção de confiança, mas tirando isso já vota a favor! Não perceberam eles que era esse o objectivo de Iveta Radikova? Ou fizeram-se de despercebidos, ficando com o terreno livre para derrubar o governo e tentar agarrar o poder em novas eleições agendadas para Março de 2012? Como é possível tal calculismo político tão, tão descarado? Percebe-se agora que a moção de confiança de Iveta Radikova era para "tramar" o seu colega de governo, Richard Sulik, com o apoio... da oposição: o SMER. Isto é mau demais para ser verdade, e o SMER, com o seu líder, Robert Fico, ficam também muito mal na fotografia.

Ficou assim bem demonstrado que para se aprovarem planos emanados da UE feridos de ilegalidade, como é o EFSF, os parlamentos nacionais e seus líderes sejam obrigados ao mais baixo calculismo político, desgraçando a credibilidade dos parlamentos, dos seus líderes políticos e enfiando o Estado de Direito Democrático no contentor do lixo mais próximo de cada Parlamento. Talvez sem se aperceberem, os políticos europeus estão a tornar a pouco e pouco a UE numa plutocracia que obriga os parlamentos nacionais a serem cleptocráticos com os seus cidadãos.

Muito nos desagrada o que aconteceu a Richard Sulik e ao seu partido. Sabemos do seu currículo que introduziu pela sua mão uma reforma estruturante no sistema de impostos da Eslováquia há uns anos atrás que em muito fomentou a entrada de investimento directo estrangeiro, fundou o partido SAS em 2009 e coligou-se em 2010 com outros 3 partidos para formar governo. Foi empresário e é economista de formação académica.

Tiago Mestre

A Matemática costuma ganhar, às vezes tarde demais ! (Parte2)

Caros Leitores e Leitoras, já fomos informados ontem à noite de que as Contas Públicas no 3º Trimestre não correram nada bem. As receitas caíram face ao que estava previsto.
Tentámos obter o Boletim de Síntese Orçamental no sítio da Direcção Geral do Orçamento para confirmar esta informação, mas ainda não está disponível. De toda a maneira, o que importa reter é que haverá aumento adicional de impostos ainda este ano, para compensar... a queda dos impostos. E este é o ciclo vicioso matemático que já tantas vezes escalpelizámos neste Blog, aqui, aqui, aqui e aqui. A Matemática não dará tréguas, e portanto perspectiva-se um cenário de falhanço total no controlo das Contas do Estado, arrastando a economia e a sociedade, já de si com pouca energia. Sugerimos a todos os novos leitores e leitoras que ainda não leram alguns dos posts publicados no início do ano de 2011 que o façam, na perspectiva de se consciencializarem das mudanças que se operarão na nossa sociedade, e de como nos deveremos preparar para o que aí vem. Posts de 27 de Março, 13 de Maio, 20 de Maio e 27 de Junho.

Começaremos também aqui no Blog a publicar posts, intitulados "Que Soluções para mim e para ti? (Parte x)" em que partilharemos com os leitores e as leitoras técnicas de agricultura com investimento inicial bastante reduzido, pequena produção hortícola, poupança de energia, eficiência na utilização de água, adubos biológicos, criação de animais de pequeno porte, etc.

Tentaremos ser o mais abrangentes para permitir adequar as soluções à realidade de cada leitor.


Tiago Mestre

11 de outubro de 2011

Cronologia de uma (Des)União Europeia

Caros leitores e leitoras, no início era a CEE, depois a UE com o Tratado de Maastricht e de seguida o Euro. Tudo corria bem no início da década, até que chega 2005...

2005 - Referendo na Holanda sobre a nova Constituição Europeia: "NÃO" ganhou

2005 - Referendo em França sobre a nova Constituição Europeia: "NÃO" ganhou 
2007 - Substituição da Constituição Europeia pelo Tratado de Lisboa
2008 - Referendo na Irlanda sobre o Tratado de Lisboa: "NÃO" ganhou
2008 - Países da UE ratificam o Tratado nas Assembleias Nacionais, evitando referendos que perspectivavam o chumbo do Tratado
2009 - 2º Referendo na Irlanda sobre o Tratado de Lisboa: "SIM" ganhou 
2009 - A 1 de Dezembro o Tratado de Lisboa entra em vigor
2010 - Resgate financeiro à Grécia, violando o Artigo 125º do Tratado de Lisboa (é a nossa interpretação)
2010 - Banco Central Europeu adquire dívida no Mercado Secundário de Países com problemas em se financiarem, violando Artigo 123º e 124º do Tratado de Lisboa (é a nossa interpretação)
2010 - Resgate Financeiro à Irlanda, violando o Artigo 125º do Tratado de Lisboa (é a nossa interpretação)
2011 - Resgate Financeiro a Portugal, violando o Artigo 125º do Tratado de Lisboa (é a nossa interpretação)
2011 - Cimeira de 21 Julho - Acordo para a expansão do Fundo de Resgate, conferindo novas ferramentas ao mesmo, violando os Artigos 123º, 124º e 125º (é a nossa interpretação)
2011 - Aprovação nos Parlamentos nacionais do acordado na cimeira

11 Outubro 2011 - Rejeição da Expansão do Plano pelo Parlamento da Eslováquia. 55 Votos a favor, 71 Votos contra. O Governo cai.

Muitos dos políticos que tanto "lutaram" para aprovar o Tratado de Lisboa são os mesmos que em menos de 6 meses começaram a violá-lo... sistematicamente...


Temos a convicção de que se houvesse referendos nacionais para alterar o tratado de Lisboa no que respeita à ajuda financeira a países em problemas (que é o que democraticamente se exige), o NÃO ganharia em toda a linha, mesmo nos países que já precisaram dela.



Tiago Mestre

10 de outubro de 2011

Mensagem de apoio a Richard Sulik, líder do Partido SAS da Eslováquia

Caros Leitores e Leitoras, a Eslováquia está neste momento numa posição bastante desconfortável. A coligação de 4 partidos que está no governo não consegue chegar a acordo sobre a aprovação da extensão do EFSF, o Fundo que emprestou dinheiro à Grécia, à Irlanda e a Portugal, mas que tem que ser agora revisto porque a Grécia precisa dum segundo resgate.


O partido da coligação que se opõe à expansão do EFSF, o SAS, liderado por Richard Sulik, tem mantido a sua determinação e muito nos apraz aqui no Contas que a leve até ao fim. Por esse motivo, saudamos publicamente o senhor Richard Sulik, com votos que se mantenha fiel aos seus princípios e aos princípios que emanam da legislação europeia, nomeadamente os Artigos 123º e 125º do Tratado de Lisboa, que podem consultar aqui.


A 6 de Outubro, o sr. Richard Sulik concedeu uma entrevista ao jornal alemão Der Spiegel, e é com muito prazer que vos indicamos a hiperligação da mesma. A não perder!


Tiago Mestre

Serão as nossas reservas de ouro uma solução?

Caros Leitores e leitoras, tendo o Contas Caseiras sido abordado por alguns leitores para que se debatessem soluções e alternativas às políticas vigentes, foi-nos colocada a questão se não seria preferível vender as reservas de ouro que possuímos em alternativa ao resgate financeiro que pedimos à troika.


Esta questão já foi debatida algumas vezes na comunicação social, tendo-se já referido que as reservas de ouro que possuímos são insuficientes para liquidar a dívida, a saber:

Portugal possui aproximadamente 385 toneladas de ouro. O preço da onça (31 gramas) de ouro ronda os 1230 euros, o que perfaz um valor total de 15 mil milhões de euros.

Este valor é semelhante ao défice que o Estado gera em cada ano, nos últimos 2 anos. Só no primeiro semestre de 2011 o Estado português já gerou um défice de 7 mil milhões de euros. O ouro que possuímos apenas dá para cobrir o prejuízo do Estado num ano. A dívida pública ronda os 170 mil milhões de euros, logo as reservas de ouro não chegam a 10% do valor da dívida total do Estado. Sobre o resgate acordado entre Portugal e a troika, este é de 78 mil milhões de euros, montante 5 vezes superior.
Lamentamos informar os nossos leitores que ainda depositavam alguma esperança nesta solução, mas ela peca por ser muito insuficiente.



Outras razões afiguram-se também pertinentes para não vender. Uma delas é que, em caso de voltarmos à moeda antiga, o Escudo, convêm que este seja suportado por ouro no Banco de Portugal,  credibilizando a emissão da moeda. Se não houver metal precioso no cofre, a moeda arrisca-se a não ter valor e ninguém a desejar para efectuar transacções. Outra razão, de carácter legal, é que esse tipo de operação é actualmente regulada pelo Banco Central Europeu, e presumimos que não estejamos autorizados a realizar esses movimentos de dinheiro.
Outra razão, de menor importância, é que caso se vendesse o ouro, o preço no mercado desceria, baseando-nos na lei da oferta e da procura, e portanto já não arrecadaríamos os 15 mil milhões, mas um valor sensivelmente abaixo.


Tiago Mestre