4 de outubro de 2011

A credibilidade dos governantes europeus

Caros leitores e leitoras, quando passamos 3 anos a emitir declarações que estão desviadas da realidade, algum dia teremos que pagar o preço.

Durante todo este tempo, vários líderes europeus sugeriram um conjunto de acções ou de inacções que, analisando em retrospectiva custa a acreditar, a saber:

Em 2008 e início de 2009, com o colapso dos mercados financeiros e recessão à vista, a palavra de ordem era gastar, gastar, sem olhar ao crescimento da dívida. O objectivo era sairmos da recessão o mais depressa possível.

No início de 2010, com a Grécia na mira dos mercados, os nossos "líderes" prometiam às populações que tudo estava bem, e que não era necessário nenhum tipo de ajuda.

Em Maio de 2010 o primeiro desastre aconteceu e a Grécia foi obrigada a pedir ajuda. A partir daí, tudo seria cor-de-rosa outra vez. A Europa tinha agido em conformidade. Qual a receita para resolver o "problema da Grécia"?: austeridade, aumento de impostos e corte nas despesas. Em ano e meio, as directrizes da UE passaram de gastar, gastar, para cortar, cortar. Percebe-se como a Europa se deixa navegar ao sabor das circunstâncias.

Seguiu-se a Irlanda em Novembro 2010 e Portugal em Maio 2011. A austeridade é a palavra de ordem. Em Julho, a Grécia apresenta os primeiros resultados da aplicação do memorandum da troika que assenta... na austeridade. Percebe-se que o desvio é de tal forma grande que é necessário um segundo resgate, com montante bem superior ao do primeiro. Este erro de análise e de aplicação das medidas deveria ter mexido em muitas cadeiras do poder pela europa fora, mas pelos vistos não temos homens com coluna vertebral para assumir os seus falhanços.

Em finais de Julho e Agosto os mercados de acções começam a perceber que as "soluções" para resolver a crise não passam de bluff político, é apenas para comprar a confiança dos investidores e deixar passar o tempo. A cimeira da UE a 21 Julho representa um novo clímax nesta postura política, em que o que foi decidido só seria corroborado pelos parlamentos dos vários países em Setembro e Outubro: ainda há países que não votaram no parlamento o que foi deliberado a 21 Julho! A paciência começa a esgotar-se, o medo a instalar-se e os investidores têm que tomar opções: a queda dos mercados de acções em Julho, Agosto e Setembro leva as bolsas para novos mínimos, as acções dos bancos desvalorizam 50% em apenas seis meses e o mercado interbancário começa a extinguir-se obrigando  muitos bancos a financiar-se junto do BCE.

Instala-se o jogo do gato e do rato.

A reunião de ontem dos ministros das Finanças do Eurogrupo teve uma declaração final de Jean-Claude Juncker, Presidente do Eurogrupo e de Olli Rehn, Comissário Europeu. Voltaram a massajar e a escamotear de tal forma o problema da Grécia que carimbaram o seu passaporte europeu de credibilidade para zero. Literalmente zero. Duvido que haja um só investidor que ainda acredite naquela conversa estragada. Aguardamos cenas dos próximos capítulos.



Tiago Mestre

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