14 de outubro de 2011

A Matemática costuma ganhar, às vezes tarde demais ! (Parte 3)

Caros Leitores e Leitoras, já abordámos aqui no Contas tantas vezes a impossibilidade matemática de querer aumentar a austeridade sem ferir o crescimento do PIB, que dispensaremos essa explicação neste post. Poderemos sempre voltar a trás no tempo e reler posts desde Julho de 2011 que explicam esta impossibilidade matemática.

Debruçamo-nos antes sobre uma declaração de ontem de Passos Coelho, mais ou menos assim:
Que não tinha conhecimento do péssimo Estado em que as contas estavam antes de assumir o governo e que nunca imaginaria que teria que tomar medidas tão gravosas.

Tanto quanto nos recordamos, Passo Coelho tinha todas as condições para saber a evolução orçamental do Estado e julgamos que o sabia. Tanto que sabia que fazia política contra o governo baseado no que sabia, inclusivamente chegou a chumbar o famigerado PEC 4, porque o país já não aguentava tanto corte sempre nos mesmos, e que o que se deveria fazer era cortar nas gorduras. Talvez não soubesse do caso da Madeira, mas também aí a responsabilidade recai sobre a sua pessoa. Alberto João Jardim é membro do PSD, e se fez o que fez ao país, Passos Coelho como líder do PSD poderia sempre, à posteriori, aplicar sanções ao senhor, inclusivamente expulsá-lo do partido ou retirar todo o apoio do PSD à candidatura, obrigando-o a concorrer como independente (não sabemos se tais opções são possíveis, mas por bem menos o PS já retirou confiança e apoio a alguns autarcas, lembramo-nos de Fátima Felgueiras, por exemplo).

O que importa reter é que estamos a ser governados por líderes que nos deixam muitas reservas, passando-nos atestados de ignorância quando a ignorância recai sobre eles mesmos. Aqui no Contas, desde que iniciámos o estudo sobre as contas do Estado português há 2 anos, em pouco tempo percebemos que o equilíbrio das contas não se pode atingir nas condições em que o país está.

Para terminar, e fazendo juz à reputação da linguagem matemática, o corte dos subsídios de férias e de Natal para os próximos 2 anos é meramente uma retenção na fonte. Esse dinheiro chegaria mais tarde ou mais cedo aos cofres do Estado via impostos indirectos, como IVA's e ISP's, porque as pessoas com o dinheiro dos subsídios compram bens, serviços, mantêm postos de trabalho, etc. Só que não há tempo para isso.
E para agravar, como a economia está em recessão, não há energia suficiente nos privados para compensar esta perda de poder de compra por parte dos funcionários públicos e pensionistas, obrigando o PIB a cair ainda mais, o que agrava por sua vez o valor do défice público, que é em função deste PIB. Este ciclo vicioso de mais austeridade obrigar a mais austeridade, destruindo a economia pelo caminho, já entrou em velocidade cruzeiro. Veremos o que sobra do país no fim desta odisseia.

Só uma última nota/dúvida: se afinal o buraco em 2011 é de 3 mil milhões, em vez de 2 mil milhões, como refere a edição online do Diário económico, e se estas novas medidas de austeridade são só para 2012, presumo que não iremos cumprir as metas do défice para 2011... Oops, afinal o que previramos aqui no Contas há 15 dias bate certo com a realidade. Oxalá estivéssemos errados.



Tiago Mestre

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