25 de outubro de 2011

BCE - Banco "mãos largas", mas com "bolsos vazios"

Caros leitores, já suspeitávamos que mais cedo ou mais tarde o Banco Central Europeu começaria a apresentar resultados financeiros pouco animadores. Esta ida às compras no mercado secundário tem consequências, sobretudo se comprarmos produtos que estão quase a perder ou já perderam  de todo a sua validade, porque querendo vendê-los depois, já ninguém os compra.


A aquisição de obrigações de dívidas de países problemáticos, tal como explicámos aqui e aqui, tem sido sempre um péssimo negócio para o BCE, porque as obrigações hoje custam 5 euros, mas amanhã já só valem 4 euros. No final do ano o BCE tem que reportar estas perdas, e se as perdas forem maiores do que o capital que este possui, o banco deixa de ter liquidez, tornando-se insolvente.


Numa notícia hoje do site Zero Hedge, o autor do artigo fez umas pequenas contas:


O BCE reportou possuir 55 mil milhões de euros de dívida grega. Este valor reflecte o preço das obrigações quando estas foram emitidas pelo governo grego (valor nomimal). O BCE comprou-as já mais tarde, a um valor inferior, suponhamos a 70% do valor inicial. Ou seja, já só valem 38,5 mil milhões de euros. Se houver um perdão de 50% da dívida grega, como as autoridades europeias estão a pensar fazer, isso significará uma perda para o BCE de 7,7 mil milhões, segundo as contas do autor do artigo. Ora, o BCE apenas possuía 5,3 mil milhões de euros em capital e reservas a 31 Dezembro 2010, e portanto se nada for feito para aumentar esta rúbrica, temos um problema sério.
No início de 2011 o BCE pediu aos bancos centrais de cada país para "arranjarem" mais 5 mil milhões e reforçar assim os capitais do banco, talvez prevendo o que se iria passar, só que alguns países estão com problemas em se financiarem no mercado de crédito, e portanto o BCE permitiu que estas entregas de dinheiro se façam por um período de 3 anos. É bom de ver que ainda não passou um ano e portanto estas entregas parciais serão insuficientes. A somar à dívida grega temos a dívida portuguesa e irlandesa, e para agravar ainda mais, recentemente o BCE iniciou compras das dívidas espanholas e italianas. Estas últimas têm estado sob forte pressão dos mercados e o BCE, mais uma vez, continua a fazer o que não deve: a comprar obrigações que estão em forte desvalorização.


Provavelmente será esta fragilidade do BCE que não permitirá aos líderes da zona Euro exigir aos investidores aceitar este incumprimento de 50% por parte da Grécia.
Por outro lado, um incumprimento de 50% da Grécia poderá significar um credit event, activando os contratos dos Credit Default Swaps e desencadeando maior instabilidade nos mercados financeiros.



Esta política quase suicida de aquisição de obrigações pelo BCE revela o estado de desespero dos políticos europeus e a ausência de soluções para resolver problemas desta magnitude. É para nós aqui no Contas dado como certo que neste momento isto já não é um problema, mas uma inevitabilidade. É que para os problemas temos soluções, mas para as inevitabilidades temos apenas desfechos. Veremos o desfecho que se nos reserva, mas se ninguém se preparar, se não houver plano B, a queda poderá ser fatal e aí já é tarde de mais. Veremos o que nos espera.


Tiago Mestre

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