29 de fevereiro de 2012

Quem sabe, sabe, e o BCE é que sabe!

A moeda euro sofreu hoje mais uma depreciação. O BCE emprestou 529 mil milhões de euros a 800 bancos !!...
Taxa de juro: 1%
Maturidade: 3 anos

É mais uma mão cheia de dinheiro que vai parar aos bancos e aos banqueiros, que por sua vez irão competir entre eles para comprar contratos de petróleo, metais preciosos, ações, e com alguma sorte, até emprestarão qualquer coisa às empresas. Basicamente temos mais dinheiro a competir pelos mesmos recursos. Consequência? Os preços sobem.

Quando perguntarem a vós próprios porque é que temos preços tão elevados  na energia e na alimentação, nunca se esqueçam: expansão monetária.

Mario Draghi e o lusitano Vítor Constâncio dizem que isto é feito para proteger a economia. Porquê?
Porque são os bancos que alimentam as economias modernas, e sem bancos a economia trava. E porque precisam os bancos de liquidez do BCE?
Porque não emprestam entre eles. Porquê?
Porque desconfiam uns dos outros. Porquê?
Porque os capitais próprios dos bancos são uma mera fracção dos seus ativos. Basta declarar perdas nos seus ativos superiores ao seu capital próprio e têm que apresentar insolvência. Porquê?
Porque lhes foi permitido ter capital próprio de 2, pedir emprestado 98 a outros bancos a curto prazo e emprestar 100 aos seus clientes a longo prazo. Estão os nossos depósitos bancários seguros?
Não. E quem permitiu?

BANCO CENTRAL EUROPEU

A quem beneficia com tudo isto?
Aos bancos, que por terem sido perdulários e indisciplinados são recompensados e resgatados pela enésima vez.
A quem prejudica?
Ao povo, que paga tudo isto de forma indirecta através da inflação sem ser visto nem achado no processo.

Tudo isto patrocinado pela elite política, que nada faz para alterar este estado de coisas.

Get it!

Tiago Mestre

Comissão de finanças norte-americana questiona Ben Bernanke sobre banalidades

Caros leitores e leitoras, após ter ouvido hoje o presidente Ben Bernanke na comissão de finanças do congresso norte-americano, bem como os congressistas que compõe a comissão e respectivas perguntas, o que se retira é de "uma pobreza quase franciscana".

Há congressistas a perguntar como é que a Reserva Federal pode baixar o mais o desemprego!!! Como se a Reserva Federal tivesse poderes para tal.

Há congressistas que pedem a Ben Bernanke para lhes explicar porque é que os preços do petróleo são tão elevados e como é que é possível baixá-los !!! outra pergunta disparatada.

Outros há que pedem a Ben Bernanke que lhes diga o que eles querem ouvir, talvez com intenções políticas.

Só mesmo Ron Paul lhe faz frente.

Conclusão: com uma comissão tão mal fiscalizadora da ação da Reserva Federal e do seu presidente, não admira que este faça a seu bel-prazer o que considera mais adequado. Dólar e Euro estão condenados a serem extintos ou reformulados com tão pouca fiscalização.

Tiago Mestre

28 de fevereiro de 2012

Sobre as dívidas dos hospitais...

Caros leitores e leitoras, é sabedoria comum nos corredores das administrações hospitalares deste país que as receitas de um hospital dificilmente neutralizam as despesas. Ou seja, os hospitais vivem há décadas com défices de exploração e cash flows negativos. Este problema era "solucionado" com uma injeção de capital esporádica pelo Estado, dando assim uma nova vida às instituições.

Foi assim que o setor da saúde, vaca sagradíssima da nossa constituição, resistiu aos constantes défices crónicos dos hospitais.

Mais recentemente, o dinheiro deixou de jorrar mas os serviços necessitavam de continuar abertos. As urgências tinham que ficar abertas 24 horas, a hemodiálise tinha que ter uma equipa permanente, a radiologia a mesma coisa, etc, etc. Quem não quer um hospital com todas as especialidades permanentemente disponíveis?

O problema é que os custos globais desta opção são bem acima dos valores que os portugueses podem pagar. Recorreu-se à dívida e recorreu-se também ao crédito dos fornecedores para compensar o cash flow negativo.

Os fornecedores de fármacos foram aqueles que mais sofreram com esta política "cobardolas". Como não houve coragem para assumir a realidade dos factos, foi-se ficando a dever a quem aceitava esse crédito. As indústrias farmacêuticas foram também bastante perdulárias em ter aceitado prazos de pagamento tão alargados.

Agora que o dinheiro já não jorra, é preciso que a classe política e a classe das administrações hospitalares venham explicar à população que a hemodiálise só funcionará em dias úteis das 09.00 às 18.00, as urgências fecham a partir da meia noite, e certas extensões de saúde terão que ser simplesmente suprimidas. A realidade custa a encarar quando é desagradável, mas é nesses momentos que vemos a fibra moral de cada indivíduo.

Tiago Mestre

Uma ideia para o BCE (não) implementar.. (Parte 2)

Ficámos a saber que a 1ª ideia que sugerimos para o BCE (não) implementar no post de 22 Fevereiro 2012, afinal já foi ontem decretada:

A ideia era esta:
BCE Deixa de aceitar as obrigações gregas (velhas) que os credores possuem no seu portfolio como colateral para a obtenção de crédito junto do BCE.


Segundo uma notícia do site Business Insider, o BCE deixou de aceitar as obrigações gregas como colateral para novos empréstimos logo que se soube que a S&P baixou este ativo tóxico para o nível de default (incumprimento).


Mas para que os bancos gregos e alguns franceses não caiam na falência por falta de liquidez, o BCE remeteu a concessão de empréstimos comcarácter de emergência para os bancos centrais de cada país. Terá que ser o banco central da Grécia a emprestar aos bancos gregos, e por aí fora. Desconhecemos os termos desta operação, quem sai beneficiado ou prejudicado, mas uma coisa é certa: há sempre uma última alternativa para que os bancos não caiam na falência. Como nós gostávamos de ser banqueiros!


Tiago Mestre

27 de fevereiro de 2012

ISDA - acrónimo a reter

ISDA - International Swaps and Derivatives Association

Pouca gente conhece esta instituição, contudo o seu poder ultrapassa o de muitos governos soberanos.
A ISDA entre muitas outras coisas "regula" os contratos dos Credit Default Swaps (CDS) e determina se certos eventos de crédito se podem considerar como incumprimentos.

Se a ISDA determina que não há incumprimento, mesmo que tenha havido reestruturação da dívida, os detentores dos CDS não poderão reclamar o seguro.

Aguardamos esta semana se o evento de crédito da Grécia será considerado como incumprimento. Nós aqui no Contas já adivinhámos a resposta: não será declarado incumprimento! E porquê?

Porque o ISDA é "gerido" pelos principais bancos mundiais e foram estes que venderam milhões de contratos CDS ao planeta inteiro.
Como um incumprimento de dívida soberana era inimaginável até há 2 anos, foi vender até fartar, e agora que o incumprimento está prestes a acontecer, há que assegurar que tal evento não seja declarado incumprimento.

Para se perceber a aldrabice gigantesca que foi montada, os grandes bancos de Wall Street lucraram biliões com a venda deste lixo contratual, enganando milhões de investidores que se julgavam protegidos em caso de incumprimento. Os contratos tornam-se uma fraude na medida em que o "regulador" manipula a favor do emissor dos contratos. Máfia banqueira no seu melhor..

Os líderes europeus calam-se perante tal alarvidade porque lhes interessa. Se não se declarar incumprimento à dívida grega, o castelo de cartas dos contratos CDS não cai para já. A troca das obrigações velhas pelas novas assume uma perda REAL de mais de 70%. Se isto não é incumprimento, então o que será? 100%?

Esta decisão da ISDA servirá de lição a todos os investidores que confiaram na JP Morgan, Morgan Stanley, Deutche Bank, Barclays, Bank of America, etc, etc.

Tiago Mestre

26 de fevereiro de 2012

Alemanha, esse colosso de diferenças

Muito se tem pedido à Alemanha que salve os pobres europeus. Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda e Itália seriam aqueles a quem a rica Alemanha teria que suportar com tudo aquilo que eles precisassem.
Se os mercados desconfiam, a Alemanha chega-se à frente e não tosse.
A loucura dos tecnocratas europeus em sugerir o aumento do EFSF para 2 triliões de euros, a criação dos Eurobonds e a impressão ilimitada de euros pelo BCE revela que em tempos desesperados o que não falta é gente a suplicar medidas suicidas.

A Alemanha não é UM PAÍS. É UM CONJUNTO DE REGIÕES. Não é como Portugal que possui fronteiras definidas há muitos séculos e história que nunca mais acaba. Da Grécia então nem se fala.

A Alemanha com os seus desvarios ideológicos prometeu às suas descendências que a salvação se faria pelo trabalho e pela obediência cega. Não admira que quando aparece um líder mais "quente" se criem as condições ideais para regimes totalitários altamente idealistas e... irrealistas!

Numa Alemanha que ainda não tem 200 anos de fronteiras solidificadas, muita coisa já lá aconteceu e nada bonito de se ver.
Se a 1ª Guerra mundial foi demasiado sangrenta, de pouco serviu para atenuar a impetuosidade das elites que iniciaram a 2ª. Tiveram uma hiper-inflação gravíssima entre as 2 guerras e quando o país em 1945 já estava destruído, tiveram a "sorte" de o ver dividido em dois.

Desde os finais da década de 40 até 1990, a Alemanha esteve dividida física, cultural e economicamente.
Com a queda do muro de Berlim em 1990, a Alemanha unificou-se... mas apenas no papel.  A antiga rica RFA iniciou um programa gigantesco, que ainda hoje dura, de transferência de fundos públicos para a antiga RDA, na esperança de que o despejo de dinheiro em cima duma coisa a transforme naquilo que mais desejamos: desenvolvimento económico. Infelizmente não foi o caso, e após todo este (des)investimento, a zona da antiga RDA está longe do poderio económico da antiga RFA.
O desemprego grassa, há subsídios para tudo, e não há maneira de desenvolver a região.  Zonas há onde a população envelheceu e os jovens fugiram para outras paragens (onde é que já vimos este filme). A própria Angela Merkel é proveniente do Leste e certamente tem a perceção dos problemas que grassam naquela região alemã. Berlim localiza-se naquela zona mas é protegida economicamente por ser a capital da reunificação alemã.

Curiosamente, é na zona leste que a extrema-direita continua a marcar pontos e onde o fantasma do nazismo mais aparece.

Isto tudo para dizer que Angela Merkel tem internamente muitos equilíbrios para gerir, muitas sensibilidades para conciliar e certamente, muita dificuldade em passar a mensagem de que mais dinheiro é necessário para salvar a pobre Europa. Angela Merkel tem a sua própria europazinha interna para gerir.

Para convencer os contribuintes alemães de que há mais europeus, para além dos alemães pobres que ocupam quase metade do país, a precisar de ajuda financeira, Merkel teve que exigir "coisas" à UE e aos países financeiramente assistidos. Eis a chamada austeridade.
Pouco interessava se a austeridade funcionaria num país como a Grécia; o que era importante era haver uma contrapartida do lado lá para "descansar" os contribuintes alemães de que o seu dinheiro estava (outra vez) a ser bem empregue. Com esta "acrobacia" política, Merkel conseguiu não dizer não a toda a gente. Eis a magia da política em todo o seu esplendor.

Infelizmente todo este romance tem muitas falhas e o próprio conceito de assistência financeira é um logro como se está a ver na Grécia, contudo é de louvar a capacidade dos políticos na arte de comprar tempo bem para lá do inimaginável.

Tiago Mestre

25 de fevereiro de 2012

Petróleo teima em não descer (Parte 3)

Caros leitores e leitoras, algo de muito estranho se está a passar. Parece que houve uma corrida desenfreada por parte dos investidores na aquisição de commodities, nomeadamente petróleo, ouro, prata, etc

Para os governadores dos bancos centrais, isto são péssimas notícias. Toda aquela liquidez que injectaram no mercado (QE, LTRO, SMP, etc) julgavam eles que seria utilizada para adquirir obrigações soberanas, ações de empresas nas bolsas, empréstimos à economia privada, e outros, mas não para petróleo e metais raros.

Adquirir petróleo nos mercados e fazê-lo aumentar de preço significa tornar tudo, mas mesmo tudo, mais caro. O petróleo serve para produzir bens e transportá-los, de um lado do planeta para o outro. O petróleo é o combustível da globalização. Sem petróleo barato a globalização começa a colapsar aqui e acolá.

Petróleo mais caro significa INFLAÇÃO fora de controle e recessões económicas nos países ocidentais.
As recessões já aí estão em força, com Portugal e Grécia a liderar, mas seguidos de perto pela Itália, Espanha, França, Alemanha, Estados Unidos etc, etc. Quem diria que com tantos países ocidentais a roçar a recessão económica, o petróleo se fosse comportar desta maneira. NENHUM governador de banco central acreditou que tal evolução seria possível e agora que a liquidez já foi injectada nos mercados, é uma chatice trazê-la de volta.
Bom, há uma maneira de o fazer, mas nenhum político possui atualmente coragem para tal: AUMENTAR AS TAXAS DE JURO. Ninguém o quer fazer porque os mercados financeiros estão todos dependentes de taxas de juro a roçar os 0%. Aumentá-las significa colocar os bancos em apuros, e todos nós sabemos para quem trabalham os governadores dos bancos centrais!

Mario Draghi, o recente nomeado presidente do BCE, jogou tudo o que tinha e o que não tinha quando decidiu efectuar as seguintes políticas expansionistas:
 Baixar a taxa de juro principal para 1%
 Reforço da aquisição de obrigações soberanas, nomeadamente italianas e espanholas
 Concessão de empréstimos de 700 mil milhões de euros aos bancos privados europeus, com maturidades a 3 anos e taxas de juro a 1%. (LTRO 1)
Novo empréstimo para 29 Fevereiro 2012 nas mesmas condições do anterior mas com um montante que pode ir até ao trilião de euros (1 000 000 000 000 euros) (LTRO 2)

Com estas jogadas estancou algum nervosismo que pairava no setor, mas não ponderou as consequências indiretas das suas ações. É quase sempre assim com os políticos. Muita energia, muita força, muitas ações, mas não percebem que podem fazer mais mal do que bem. Este aumento súbito do preço do petróleo pode muito bem ser a abertura da caixa de Pandora.

Evolução do preço do barril de Brent (negociado em Inglaterra) num ano:


Evolução do barril de crude (negociado no Texas, EUA) num ano:


O OURO é outro indicador razoável para se compreender a expansão monetária que os governos centrais têm executado ao longo desta última década. Quem compra OURO quer proteger-se contra a desvalorização da moeda.


Sem comentários...

Tiago Mestre

23 de fevereiro de 2012

China - parceiro comercial e... cultural

Temos insistido aqui no Contas em relatar aos leitores o que de mal se faz hoje na União Europeia e a insustentabilidade económica em que Portugal se encavalitou nas últimas décadas.
A partilha económica e cultural entre Portugal e a Europa do Norte tem sido desequilibrada e sobretudo leonina para a segunda parte.
Também aqui no Contas temos relatado as divergências culturais e civilizacionais entre as culturas do Sul e do Norte da Europa. Estas divergências começam a emergir, tal e qual como um icebergue que está perdendo nível de água.

Mais do que nunca, os portugueses e as portuguesas precisam de se reencontrar consigo próprios, como portugueses assumidos, sem comparações com as culturas do Norte. Precisamos de saber com que país é que podemos contar e quais as potencialidades internas que temos.
Reduzir a presença do Estado e tornar a economia menos dependente da manipulação estatal só reforçará a nossa capacidade de sobrevivência e criatividade. Outra alteração essencial é transitar população ativa do setor dos serviços para a indústria e fundamentalmente para a agricultura. Precisamos de evitar bens importados, tanto de primeira necessidade com de segunda e até de terceira. Os serviços têm que cair dos seus 78% do PIB para 60% ou até 50%. Mas se juntarmos a tudo isto um parceiro económico, com pontos culturais em comum, que nos forneça meios e ferramentas para que o país mude a sua trajetória de endividamento e dependência do jugo europeu, então meus amigos, a conversa muda de figura.

A China entrou recentemente em Portugal, pelo menos de forma oficial, na aquisição de acções de empresas que até agora eram detidas maioritariamente pelo estado português. Suspeitamos que a presença chinesa em Portugal ao mais alto nível não seja de agora, e pela “calada”, à boa maneira chinesa, já realizam trabalho preparatório há algum tempo tendo em vista novos investimentos.

A cultura chinesa ainda é um paradoxo para nós, na medida em que grande parte da sua história secular reflecte guerras “intestinas”, fecho de fronteiras, e pouca ou nenhuma abertura ao mundo exterior.

Recentemente vimos um documentário sobre o percurso político do ex-secretário de estado norte-americano Henry Kissinger, e este afirmava que há 40 anos a China não comunicava com o exterior. Simplesmente não se sabia o que lá acontecia.
A história secular da China sempre reforçou a ideia de que a sua cultura é de dentro para dentro, e daí a nossa perplexidade nesta expansão imperialista/capitalista que Deng Xiau Ping iniciou em finais dos anos 70 e que hoje chegou à categoria de potência industrial do planeta.

Suspeitamos da sua capacidade em manter-se como uma potência imperialista durante muito tempo no mundo, mas tais reservas não nos devem inibir de experimentar uma relação que se pode tornar frutuosa.

É crucial perceber o que é que eles querem de Portugal e que tipo de relação querem estabelecer com os portugueses. A relação só será interessante se perceberem e respeitarem primeiro a nossa história e a nossa cultura. Se for para jogar connosco da mesma maneira que os países do norte da Europa jogaram, então, não obrigado!

Tiago Mestre

22 de fevereiro de 2012

Uma ideia para o BCE (não) implementar..

Como já estamos habituados aos esquemas do BCE, começa a tornar-se interessante "pensar" pela cabeça deles, na perspectiva de compreender os mecanismos subjacentes à sua ação.

Premissa:
O BCE tem todo o interesse que os credores privados participem na troca de obrigações gregas para Março

Pergunta:
Como "influenciar" os credores para que tal objectivo seja atingido?

Resposta:
Informa o sector financeiro de várias decisões:

1ª Deixa de aceitar as obrigações gregas (velhas) que os credores possuem no seu portfolio como colateral para a obtenção de crédito junto do BCE;

2ª Aceita as obrigações gregas novas como colateral para o pedido de empréstimos;

3ª Exige aos credores que apresentem uma certa percentagem de obrigações gregas novas numa eventual 3ª fase do programa LTRO. Este programa teve a 1ª fase em Dezembro, a 2ª será no final de Fevereiro e para já não há indicações de haver uma 3ª. Este programa permite aos bancos obter fundos quase ilimitados do BCE, com maturidade a 3 anos e uma taxa de juro de 1%. Ninguém quer ficar de fora de um financiamento tão atractivo quando o mercado interbancário funciona mal.

Em jeito de desespero, é possível que os banqueiros prefiram trocar eventuais prejuízos (aquisição de obrigações gregas) por liquidez (acesso ao financiamento do BCE). É assim que as manipulações começam e eventualmente acabam. BCE, Reserva Federal e outros bancos centrais têm o mercado"todo" agarrado a estes exercícios manipulatórios. E ainda há políticos e opinion makers da nossa parça que querem o BCE ainda mais interventivo. Sem comentários.

Ahh, e esperamos não estar a dar "dicas" a Constâncio e a Draghi...

Tiago Mestre

O OBJECTIVO É: AGUENTAR A GRÉCIA (Parte 2)

Não está fácil para os políticos europeus passarem a mensagem de que este acordo é uma delícia e que resolve os problemas da Grécia. Infelizmente não resolve, mesmo com declarações rosa choque.

Cortesia ZeroHedge:

Taxa de juro das obrigações a 1 ano atingem 763%. Em Setembro de 2011 situavam-se em 100%.


Azar para os investidores que ainda há uma semana compraram obrigações quando a taxa de juro se situava nos 630%!

O índice das ações dos bancos gregos também teve uma evolução curiosa:


Numa semana houve euforia, baseada nos cabeçalhos otimistas e esperançosos de que o acordo estaria na calha e que tudo seria resolvido.
Na seguinte houve depressão (ainda só estamos a meio!), JÁ DEPOIS DO ACORDO ENTRE UE E A GRÉCIA!

Ontem reforçámos a ideia de que a aprovação do acordo provavelmente não seduziria os investidores. Parece que para já é esse o sentimento.

O grande teste está marcado para Março, altura em que os credores serão "convidados" a trocar as suas obrigações gregas por outras novas assumindo as perdas nominais de 53% e as perdas reais superiores a 70%! Boa sorte..

Tiago Mestre

21 de fevereiro de 2012

O OBJECTIVO É: AGUENTAR A GRÉCIA...

O objectivo é:   AGUENTAR..

Aguentar o mais possível, fugir do incumprimento unilateral e continuar a emprestar dinheiro à Grécia.

A UE aprovou mais um plano de financiamento à Grécia em condições que já toda a gente percebe que não são satisfatórias para ninguém, à exceção de Durão Barroso e Venizelos, arautos das coisas boas da vida, mesmo que elas nunca cheguem a acontecer.

Falta agora perceber se os credores privados aceitarão as condições da Grécia para a declaração da bancarrota. É necessária uma participação de 95% , ou seja, toda a gente. E aqui é que a "porca torce o rabo."

Estatisticamente falando, há 6 meses a Grécia propôs uma perda de 21% das suas obrigações em condições altamente favoráveis. Não se atingiu a participação desejada e nunca revelaram a percentagem, indiciando um potencial vexame público pela paupérrima adesão.

Hoje pede-se que assumam perdas de mais de 70% em valor real face ao preço inicial da obrigação, ou então 53% do valor nominal. Em qualquer dos casos, é mais do dobro do esforço que foi pedido aos credores privados há 6 meses. À exceção dos bancos gregos e de mais alguns estrangeiros, suspeitamos que a adesão seja fraca e com isso novas nuvens negras pairarão sobre a bancarrota unilateral da Grécia. Sabemos que a UE aprovou a utilização de 30 mil milhões de euros do EFSF como "estímulo" ao envolvimento dos credores privados no negócio, mas será tal operação suficiente?
Este tipo de "jogadas" financeiras são muito à maneira de Jean Claude Juncker, mas este não tem tido grande sucesso com as artimanhas que inventa.

Será que ainda se lembram do fundo EFSF que em Setembro 2011 seria elevado a 2 biliões de euros? Este seria transformado num mecanismo de seguro de crédito suportado pelas garantias dos vários países membros do euro. Basicamente os países não poriam 1 cêntimo de lado para o EFSF, a não ser que alguma bancarrota ocorresse. Os credores perceberam a aldrabice e o projecto ruiu. O EFSF ficou-se por menos de metade do que se pretendia. Juncker - tem paciência!

No passado recente tínhamos escrito que era nossa convicção de que um acordo entre políticos seria atingido, mas a história do envolvimento dos credores privados assume outros contornos e apenas boa vontade política não basta.
Estes muniram-se de CDS (Credit Default Swaps) para se protegerem de quebra de contrato (bancarrota) pela Grécia nas obrigações que compraram. Um "acordo" com a Grécia ou PSI (Private Sector Involvement) não lhes dará o direito de reclamar o seguro dos CDS, e assim perdem dos dois lados. Nenhum investidor quer perder dos dois lados. Se perde de um lado quer ganhar qualquer coisa pelo outro, neutralizando a "asneira" de ter comprado obrigações de um país pouco credível em termos financeiros.

Aguardamos pela resposta (positiva?) dos credores privados, e já agora também a resposta dos gregos, que marcaram já para amanhã um Corso de Carnaval bem animado na praça Syntagma.

Tiago Mestre

20 de fevereiro de 2012

BCE troca obrigações com a Grécia. Confuso? Talvez não (Parte2)

Pelos vistos a operação de troca de obrigações que o BCE realizou com a Grécia foi totalmente à revelia do mercado.

Para o BCE não assumir perdas nas obrigações gregas, preocupação que referimos aqui no Contas vezes sem conta, vendeu o que tinha à pressa, "limpando" o seu balanço como se nada tivesse passado. À primeira vista até parece uma operação airosa, mas analisando de forma mais profunda, esta foi a mensagem que passou para os mercados:

Nós BCE, estamos acima de qualquer lei ou de qualquer regra tácita ou explícita. Fazemos o que queremos, quando queremos e como queremos. Se hoje seguimos as regras, amanhã podemos fugir delas sem dar "cavaco" a ninguém. Os mercados que se aguentem com as perdas e com os prejuízos, porque nós, BCE, não nos podemos dar ao "luxo" de relatar perdas no nosso balanço, o que exigiria mais dinheiro dos bancos nacionais e respectivas economias para compensar a perda dos capitais próprios.

Se se lembram, o BCE começou em Maio de 2010 a adquirir obrigações de países "aflitos" para controlar a desconfiança dos investidores e travar a subida dos juros. Não só esta operação é ilegal pelo Tratado de Lisboa, fenómeno que abordámos aqui no Contas tantas vezes, como as consequências de tais operações são nefastas para a credibilidade do Banco e em última analise para o euro. O BCE deveria ser o último bastião na defesa do euro e no respeito pelas regras de transacções financeiras na zona euro. Começou a perder esse estatuto quando se imiscuiu no mercado, comprando e vendendo como se fosse um qualquer investidor, e agora que deveria reportar perdas, como qualquer outro investidor, foge das suas responsabilidades, tal como um cobarde se esconde quando não quer enfrentar as consequências das suas ações.

É nisto que dá a irresponsabilidade política. Se hoje o BCE faz isto com obrigações da Grécia, amanhã fará com as taxas de juro das de Portugal, com a maturidade das de Espanha e por aí a fora. Imaginem como se sentem os investidores de obrigações soberanas da Europa - a maior região económica do mundo.

Esta decisão que vai ao arrepio das regras mais elementares dos mercados financeiros deveria ser severamente punida pelas instituições europeias (Quais??), culminando nas demissões de Mario Draghi, Vitor Constâncio e a instauração de processos judiciais aos visados por gestão danosa, abuso de poder e outros.

Este último parágrafo foi um devaneio nosso porque a realidade está demasiado distante desta pretensão.

Tiago Mestre

17 de fevereiro de 2012

As mentiras de Jean Claude Juncker no radar mediático

Caros leitores e leitoras, não somos só nós aqui no Contas que nos preocupamos com as mentiras, omissões e outras inverdades proclamadas pelos líderes políticos europeus à frente das câmaras.

O newsbote tem um pequeno artigo que relata um excerto de uma entrevista do Der Spiegel a Jean Claude Juncker em que este é confrontado com uma notícia de que ele teria mentido à comunicação social acerca da existência de uma suposta reunião "secreta" com líderes europeus. A resposta de Juncker sobre esta questão revela como a manipulação das ideias e das respostas está totalmente ao serviço destas lideranças.

Afinal de contas, Deus percebe tudo, até as circunstâncias, e tudo perdoa, sem exceção.

Muito gostaríamos nós que o jornalismo português estivesse ao serviço do povo, escrutinando as ações da classe política e "entalando-a" no momento certo.. Mentir deixaria de ser compensatório e talvez a coisa começasse a inverter-se. Estamos longe desse cenário, e o que temos visto são horas e horas de espaço mediático concedido aos políticos para dizerem o que bem lhes aprouver sem qualquer escrutínio jornalístico. Isto acontece sobretudo nos canais de notícias da televisão por cabo. É propaganda política que ainda por cima lhes é paga com avenças. Esquisita maneira de conquistar votos.

Tiago Mestre

16 de fevereiro de 2012

BCE troca obrigações gregas com a Grécia. Confuso? Talvez

Vejam lá esta artimanha do BCE:

Vai vender as obrigações que possui da Grécia à Grécia, em troca de novas obrigações emitidas pela... Grécia.

Desta forma foge às perdas que a Grécia e os credores querem impor às obrigações que o BCE tem vindo a adquirir desde Maio de 2010. Assim sendo, se a Grécia declarar bancarrota e tiver que incluir perdas nestas obrigações que "comprou" ao BCE, mais prejuízo para a Grécia. São 50 mil milhões de euros em obrigações...
Será que o Dr. Vitor Constâncio não sente o mínimo de vergonha pela aldrabice financeira em que está metido ao gerir o BCE como se estivesse a viver o sonho da Alice no País das Maravilhas?

Ainda estamos a tentar perceber melhor que esquema é este e suas consequências.

Muita aparência, nenhuma substância. Leia a notícia aqui

Tiago Mestre

Petróleo teima em não descer (Parte 2)

Caros leitores e leitoras, com as economias europeias a entrar em recessão e a economia americana a perder fôlego, o consumo de petróleo baixa, sobretudo os derivados deste, como a gasolina ou o gasóleo.

Aparentemente tal fenómeno deveria desencadear uma queda nos preços do barril, sinónimo de que o mercado estaria a funcionar.

Mas algo de muito estranho se passa: o petróleo teima em não baixar de preço. No gráfico abaixo percebe-se que em 2011 o preço médio do barril de Brent esteve bem acima dos 100 dólares.




Por outro lado, o consumo de gasolina dos Estados Unidos caiu de uma forma abrupta:


Humm... não é normal.

Parece que as economias emergentes estão-nos a levar o petróleo, da mesma forma que há 10 anos levaram as indústrias e mais recentemente os cérebros.

E o que fazem os governos ocidentais? Imprimem dinheiro, colocando-o à disposição dos bancos de investimento para estes decidirem o que fazer com ele. Imaginem o que é que eles vão comprar? Entre várias coisas: petróleo - encarecendo-o ainda mais.
E que nome se dá a este encarecimento dos preços devido à expansão da moeda? INFLAÇÃO

Em condições menos anormais, o preço deveria andar cá mais para baixo, mas com o consumo dos países emergentes a neutralizar a redução dos ocidentais, o não aumento (redução até) da produção de crude e a impressão de moeda à escala planetária ninguém se espante com o que está a acontecer..

Tiago Mestre

O choque cultural começa a aquecer... (Parte 3)

Caros leitores e leitoras, o presidente da república grega veio dizer ao mundo que, como combatente na II Guerra Mundial contra a invasão NAZI, não tolera as atitudes do actual ministro das finanças alemão.

Pois, para quem ainda não percebeu o que é choque cultural, é isto: Ambos os lados julgam que têm razão, com perspectivas diametralmente opostas sobre o mesmo assunto.

A Alemanha foca-se na necessidade dos gregos serem sérios e cumprirem com o que prometeram.
Os gregos não querem cumprir porque tendo implementado medidas tímidas de redução do défice estão a ver com os seus próprios olhos o país a ir pelo cano de esgoto abaixo. O que dizer com a aplicação de medidas mais duras?

Quem tem razão? Qual das perspectivas apresenta maior bom senso e maturidade sociológica? E de onde virá o dinheiro para manter a Grécia a flutuar? Fica a resposta ao critério de cada leitor.

Tiago Mestre

15 de fevereiro de 2012

Consequência ridículas de uma sociedade "dirigida" pelo Estado

Para perceberem a insanidade que se apoderou dos estados "democráticos" que querem comandar tudo e todos, fazendo passar leis e mais leis, o governo americano passou uma proposta, dentro do chamado "Obamacare", que exige aos empregadores oferecerem um seguro de saúde aos trabalhadores, com a nuance de que às mulheres deve-se estender o usufruto GRÁTIS de métodos contraceptivos.

A proposta é tão ridícula em tantos aspectos que ninguém melhor do que Peter Schiff para explicar porque é que governos grandes e que querem mandar em tudo só pode dar em disparate. 16 minutos de genialidade:


Tiago Mestre

Nigel Farage: eurodeputado atento à realidade, e não à ficção

Nigel Farage, nosso muito apreciado deputado europeu resume num 1 minuto e 54 segundos o que está a acontecer à Grécia e o que aí virá!


Ao menos alguém que diga em voz alta os disparates que estão a ser cometidos. Durão Barroso e colegas não poderão invocar quando se sentarem no "banco dos réus" que não sabiam o que estava a acontecer.

Tiago Mestre

Paul Krugman será agraciado com doutoramento honoris causa por 3 universidades portuguesas!

Paul Krugman é um economista muito "especial" porque se tornou comentador, articulista, e pelo meio, julgamos nós, foi-se esquecendo de que já fora... economista.

As suas visões sobre a economia e o mundo entraram num patamar de defesa (irracional) a tudo o custo das suas "soluções" para "concertar" as economias globais. O espírito crítico há muito que se perdeu na consciência deste laureado.

Paul Krugman defende de forma enérgica que as economias em "baixo" de forma devem ser estimuladas com injecção de dinheiro público, custe o que custar. Os frutos revelar-se-ão posteriormente, nomeadamente com a  salvação da economia, redução do desemprego e retorno ao crescimento.

À primeira vista esta política de expansão monetária através da geração de dívida e injecção de moeda no mercado parece resultar. Foi assim que John Maynard Keynes, o conhecido economista da década de 40, arranjou uma solução para tirar algumas economias do lamaçal. Infelizmente pouco se fala hoje que no final da sua vida este já receava as implicações negativas desta política económica, sobretudo quando fica na mão de políticos irresponsáveis e esbanjadores.

Desde aí que a política keynesiana serviu de argumento para tudo quanto seja impressão de moeda, geração de défices públicos, aumento de impostos e aumento de despesa. Se no início do século XX a presença dos governos era residual na economia, hoje representa mais de 30 a 40%. Na Europa os estado ocupam mais de 45%. Em Portugal a percentagem é de 51% em 2011 versus 13% em 1974.

Lado a lado com o crescimento público, a economia privada foi perdendo crescimento, restando saber se uma foi a causa do outro, se vice-versa ou se não têm nada a ver. Tais raciocínios terão que ficar para outro post.

Para além deste crescimento "keynesiano" dos monstros públicos durante décadas, economistas como Paul Krugman defendem que em períodos de recessão o estado deve ser ainda mais intervencionista.

Nós aqui no contas acreditamos que as economias privadas europeia e americana chegaram ao limite dos "estímulos" que o sector público tem para dar. Injectar mais dinheiro significará colocar o Estado numa posição maioritária e relegar a economia para uma posição minoritária.
Todos sabemos que o Estado depende da economia privada e não o contrário. Se o Estado se torna maioritário então tudo se torna insustentável.

As recessões anteriores vividas pelos países ocidentais foram sobretudo corrigidas pela força intrínseca que a economia privada possuía nesses países. O Estado dava uma ajuda para acelerar essa recuperação (política keynesiana) e as coisas corriam sobre rodas. Hoje pede-se ao Estado para "salvar" a economia quase na totalidade. Não se salva economia nenhuma e arrasta-se o Estado para o lamaçal completo, sobreendividado e sem armas para responder aos problemas.

É esta consequência natural da overdose keynesiana que Krugman continua a não querer ver.

Não podemos dar grande credibilidade a este senhor e muito nos espanta que 3 universidades portuguesas tenham chegado a este consenso. Ultrapassa a nossa compreensão e muito gostávamos de ouvir as explicações académicas para este reconhecimento.

Tiago Mestre

Irão corta fornecimento do bem mais precioso das economias europeias..

Cuidado com as decisões unilaterais sobre embargos a países.

Tais extravagâncias comerciais só devem ser implementadas se soubermos compreender o risco e a falta de bens que esse mesmo embargo pode provocar.

A Europa há muito que deixou de ser independente do crude da OPEP. Sem esse crude teremos o barril de Brent a subir forte e feio. Não acreditamos que haverá falta de abastecimento, o que irá faltar é o dinheiro para comprar um bem que encarece de mês para mês, reduzindo o consumo e gerando economias mais recessivas, mais austeridade, mais dívida, etc, etc.

A Europa tem que saber com que cartas é que joga no poker petrolífero mundial.

Tiago Mestre

14 de fevereiro de 2012

Portugal está no bom ou mau caminho?

Se bem nos lembramos, há 1 ou 2 semanas tivemos um elogio informal por parte de uma agência de notação (não nos recordamos se foi a Moody's ou a Fitch) acerca da evolução do programa da troika em Portugal. Nesse dia da notícia comentámos que esse elogio seria mais interessante se se traduzisse na forma de um aumento da notação, mas enfim!

Agora temos a Moody's a declarar oficialmente, e sob a forma de descida de notação, que Portugal, bem como outros países europeus, ainda se encontra num caminho de agravamento da sua condição económica e financeira.

Oops, dispensamos elogios informais e agravamentos formais. Seria preferível o contrário. O que aconteceu foi que tais elogios foram amplificados e rebatidos no espaço mediático. Deu-se excessiva importância a uma qualquer declaração que em nada de concreto se traduz.

Em que é que ficamos? Portugal está a melhorar ou está a piorar? Nem já as agências de notação sabem como avaliar o atoleiro financeiro em que estamos metidos.

Tiago Mestre

13 de fevereiro de 2012

Na Grécia está quase quase... falta um bocadinho assim (Parte 6)

E pronto, lá se deu o nó na Grécia. Parlamento aprova, mas a rua desaprova.

Aguardamos agora pela confirmação dos países credores, que sim senhora, vão assinar a livrança já de seguida.

Tiago Mestre

12 de fevereiro de 2012

Como preparar uma bancarrota de um país europeu de forma unilateral e forçada

Caros leitores eleitoras, no espectro mediático, tanto político como económico, ouvimos vezes sem conta que uma bancarrota é uma calamidade e o colapso de um país. Ninguém explica como e porquê, apenas intimida e mantêm a sociedade embebedada, que é esse o grande objectivo: sofrer mas sem gritar.

Para quem se interessa por planos B's, certamente que já se interrogou como seria declarar bancarrota de forma unilateral, e mais ainda, que plano se pode pôr em marcha para minimizar tal calamidade.

Cortesia do site Zerohedge, remetemos a hiperligação para um artigo escrito em inglês que já ajuda na estratégia e definição de um plano de bancarrota unilateral.

Nunca se esqueçam disto: nós portugueses poderemos ter muito a perder, mas a comunidade internacional mais medo terá do que poderá vir a perder.

Quem ficará pior?

Tiago Mestre

A grande ironia das democracias europeias

Ironia das democracias europeias:

UE defende democracias estáveis para entrarem na UE. Mas as democracias elegem pessoas que nem sempre estão de acordo com as regras e políticas da UE. Em momentos de crise, a UE vira costas às democracias e retira os eleitos do poder, substituindo-os por outros que simpatizam com as políticas europeias, mas com nenhuma legitimidade democrática. Foi assim na Grécia e foi assim na Itália num intervalo de poucos meses.

Este é um reconhecimento pelas próprias instituições europeias de que a democracia funciona mal, na medida em que apenas perdura quando tudo vai bem. Quando as coisas começam a correr mal, paciência, as circunstâncias tornam-se mais prementes do que os princípios, e é aí que o veneno da tirania, da cleptocracia e da plutocracia ganha terreno. Boa sorte.

Tiago Mestre

11 de fevereiro de 2012

2º pacote de resgate grego é só mais uma insanidade financeira

Mais um grande serviço público prestado pelo site Zerohedge, onde compila, reflecte, ironiza e retrata as ironias do segundo pacote de resgate à Grécia.

Neste artigo, Tyler Durden compila as várias informações disponibilizadas pela comunidade financeira e, juntando as peças do puzzle, como deveria ser a actividade jornalística de referência, totaliza o dinheiro que a Grécia receberá neste segundo pacote de resgate.

É triste que não haja uma única entidade jornalística no mundo inteiro que faça o "trabalho de casa" e informe os europeus e os gregos do que se está a passar nos bastidores da elite europeia. Tem que ser um blog...

Basicamente, o segundo pacote de resgate à Grécia que está a ser ultimado não será de 120 mil milhões de euros, mas sim de 210 mil milhões! Milagre dos pães? Não. Basta somar as várias parcelas que compõem este resgate:

130 mil milhões acordados em Julho de 2011
15 mil milhões que se "descobriu" serem necessários porque os 130 não são suficientes
30 mil milhões pedidos pelo BCE ao EFSF em troca de obrigações gregas. O EFSF terá que se financiar no mercado para obter o dinheiro e comprar as obrigações ao BCE.
35 mil milhões que a Grécia pedirá emprestado ao EFSF para adquirir obrigações gregas que o BCE adquiriu nestes últimos meses."Bond buy back"

Tudo somado: 210 mil milhões euros
Veremos o que Angela Merkel terá a dizer sobre isto!

Somando este resgate ao resgate anterior de 110 mil milhões, a Grécia terá uma ajuda de 320 mil milhões de euros. É um valor quase igual à dívida pública que a Grécia possui.

Surge a pergunta: seria preferível a Grécia ter renunciado à totalidade da dívida em Maio de 2010 quando os mercados fecharam a torneira?

Estas ajudas europeias só adiam o inevitável, com a agravante de arrastar aqueles que ainda se seguram de pé.

Tiago Mestre

Suavemente o preço do petróleo subiu para máximos de Julho de 2011

Pouca importância se deu esta semana ao preço do petróleo no mercado de Brent na agena mediática.

Não obstante, passou "suavemente" de 112 para 118 dólares em 2 semanas. Teremos novos máximos nos preços do combustível na semana que vem, puxando as economias ocidentais ainda mais para o território da recessão.

Talvez as pressões da Europa sobre o Irão tenham induzido nos investidores a vontade de comprar mais ouro negro, contudo a questão que é relevante, e que já várias vezes abordámos aqui no Contas, é que em clima recessivo ou pré-recessivo, seria normal o preço começar a descer devido à quebra na procura e à falta de entusiasmo dos investidores. Mas os preços continuam bem altos, quase a atingir o máximo de Julho do ano passado.
Acreditamos que o mundo emergente (China e Índia) compensam a falta de procura do mundo ocidental, e a produção total de crude teima em não subir dos 74 a 75 milhões de barris diários.
Resultado: preços elevados, mesmo para países que já entraram na grande recessão do mundo ocidental.

Esta é mais uma das muitas consequências de uma globalização sem regras e sem critérios iguais para os participantes. A riqueza está a ser drenada do Ocidente para o Oriente e Médio Oriente.

Tiago Mestre

10 de fevereiro de 2012

O choque cultural começa a aquecer... (Parte 2)

Inédito, o principal sindicato de polícias grego ameaçou emitir um mandato de prisão para a equipa da troika que está envolvida no programa de resgate da civilização helénica... Fonte

Presumimos que tal pretensão seja meramente simbólica, já que a polícia não tem autoridade para emitir mandados de captura. Mas fica o registo de como o limite da paciência começa a ser atingido no seio das forças de segurança.

Continuamos a questionar: Porque é que a Europa tem que ser "solidária" com os países mais fracos emprestando-lhes dinheiro? O que é que os contribuintes alemães têm que ver com o estado grego ou o estado português? Nada, da mesma forma que não admitimos que o governo alemão venha dar ordens aos contribuintes portugueses.

Tiago Mestre

Na Grécia está quase quase... falta um bocadinho assim (Parte 5)

A farsa já tem cronologia

   2/10/12
   * Líder político grego da extrema-direita Karatzaferis retirou a sua concordância do acordo anteriormente alcançado. O acordo político cai e volta tudo à estaca zero.
   2/9/12
   * Ministro das Finanças grego Venizelos informa Bruxelas de que há acordo político para aceitar as medidas de austeridade propostas pela troika
   1/30/12
   * Sarkozy afirma no final da cimeira de que as negociações estão a avançar na boa direcção e há esperanças que nos próximos dias seja anunciado um acordo. Fonte
   1/29/12
   * IIF afirma que acordo deverá ser alcançado no decorrer da próxima semana. Fonte
   1/28/12
   * Venizelos afirma que o acordo está a um passo de ser firmado. Na próxima semana será assinado. Fonte

Gostavam que o vosso filho, o vosso patrão, o vosso melhor amigo ou até o vosso cônjuge vos enganasse assim tão descaradamente?

Tiago Mestre

O choque cultural começa a aquecer...

Caros leitores e leitoras, a economia é que comanda as nossas vidas, mas as nossas vidas nem sempre se regem pela economia.

Quando o modelo económico não acomoda as diferentes culturas dos diferentes povos, este perdura apenas enquanto houver dinheiro para todos.
Quando escasseia o guito, as dicotomias culturais emergem.

O que se está hoje a passar na europa, a luta de titãs: Grécia vs Alemanha, começa a atingir proporções que já nos deixa baralhados. Ficamos na dúvida se o projeto europeu colapsa pela via económica (que sempre acreditámos aqui no Contas) ou se pela via social/cultural (algo que julgávamos impensável porque acreditávamos que os políticos deitariam a toalha ao chão antes da revolta rebentar).

Esta semana assistimos à queima de bandeiras alemãs na praça Syntagma, temos agora um jornal a publicar esta linda capa:


... e um comentador televisivo grego, de seu nome Georgios Trandas, a instigar cada vez mais ressentimento nos gregos acerca da atitude dos líderes alemães e europeus.

Ou seja, as elites políticas não estão a compreender que as divergências culturais e sociais dos vários povos europeus são de tal forma distintas que em momentos de aperto económico, os ódios e ressentimentos começam a tomar conta da população.

Não podemos pedir aos portugueses e gregos que sejam disciplinados, obedientes, austeros e protestantes porque não o são, ponto final. Como também não podemos pedir aos alemães que sejam espirituosos, emocionais, fraternos, comiseráveis, comunitários e católicos.

Caso a Alemanha se imponha com mais determinação na liderança da UE, veremos que estes são totalmente incapazes de criar e gerir uma comunidade com esta diversidade cultural. Não é essa a sua natureza. Aliás, a UE foi criada já com o espírito de "juntar" os alemães a uma comunidade europeia para que não dessem azo a devaneios ideológicos totalitários. Esta é a grande fraqueza da Alemanha e já agora da Holanda. Não admitem maçãs podres na família, e para esses deserdados só há 2 caminhos: a expiação ou a expulsão.

É assim que se tratam uns aos outros e é assim que estabelecem a sua própria comunidade, os não-perfeitos não podem ter ajudas: têm que crescem pessoal e espiritualmente à sua custa (a tal expiação), senão ficam entregues à sua sorte. Foi assim que conseguiram criar máquinas de guerra, máquinas industriais e todo o tipo de organização vertical, obediente e altamente organizada. Para quem tem dúvidas sobre o que estamos a falar podem sempre ver o filme "O Laço Branco", de 2010 que retrata a vida "pacata" de uma aldeia alemã nas vésperas da I Guerra Mundial. Até dói ao coração ver como os jovens alemães são perversos quando não aceitam a disciplina familiar jacobina...

Cuidado

Tiago Mestre

9 de fevereiro de 2012

Esta Europa é só conversa

Uns falam para as câmaras aquilo que querem transmitir, mas se depois são mal interpretados vêm justificar-se que o que disseram não era bem bem aquilo que queriam dizer;

Outros conversavam julgando que ninguém os estava a ouvir, e agora terão que dizer às câmaras aquilo que andaram a negar há bem pouco tempo;

Outros continuam a dizer frente às câmaras aquilo que não está a ocorrer nos bastidores. É conversa para aquecer espíritos, mais nada.

Todas estas formas de comunicação possuem uma característica em comum: distanciam-se da verdade com receio que esta crie danos aqui ou acolá.

Tiago Mestre

8 de fevereiro de 2012

O nosso receio revelou-se - BCE aceita assumir perdas nas obrigações gregas

Mais uma sensação de deja vu, ou usando outra expressão: onde é que eu já vi este filme?

Fomos hoje brindados com a notícia do que o BCE terá que reportar perdas sobre as obrigações gregas que possui, na tentativa de "ajudar" na resolução acordo de bancarrota que a Grécia está a preparar com os credores privados.

Em 25 de Outubro de 2011 explicávamos aqui no Contas o mau negócio que é para o BCE adquirir obrigações tóxicas.

A 24 de Janeiro surgiu o alarme dos credores: estes queriam que o BCE entrasse na bancarrota da Grécia, reportando perdas sobre as obrigações que possuía no seu balanço. A primeira reação do BCE foi NÃO, mas os dias foram passando e acordo, nem vê-lo.

Era para nós aqui no Contas uma questão de dias até o BCE ceder à pressão, que é o que Draghi e Constâncio melhor sabem fazer, ceder. Aceitaram finalmente reportar perdas para ajudar no acordo de bancarrota grego, colocando o BCE numa trajectória de ainda maior insolvência. Recordamos aos leitores e leitoras que o BCE entrará em insolvência quando as perdas que reporta num determinado ano são inferiores ao capital próprio da instituição nesse mesmo ano. O capital próprio do BCE rondou a 31/12/2012 6 a 8 mil milhões de euros (ainda não sabemos). Se em 2012 reportar perdas superiores ao capital próprio, ficamos com o banco central em insolvência.

Fomos aqui no contas mais do que exaustivos a referir os problemas legais, económicos e morais deste tipo de decisões por parte do BCE. Foi por não quererem participar nesta caixa de pandora de asneiras que se demitiram os presidentes do BCE Jurgen Stark e Alex Weber. A procissão ainda vai no adro porque o BCE terá que registar muitas mais perdas das obrigações gregas, ficando a faltar as portuguesas, as espanholas, as italianas, etc. A troika levará também por tabela, onde se incluem o BCE (outra vez), o FMI e o EFSF (FEEF em português). Parece que os bancos nacionais de cada país também possuem obrigações tóxicas (desconhecíamos esta operação) pelo que mais cedo ou mais tarde serão chamados ao castigo-

Meus senhoras e minhas senhoras, a este tipo de decisões dá-se em inglês a designação de MORAL HAZARD, ou má moral (mal traduzido para português). Fez-se asneira uma vez e agora já não se consegue voltar atrás.

Tudo serve para salvar o dia de hoje, amanhã logo se vê.

Tiago Mestre

Não pagar impostos ao Estado tornou-se a moeda de troca na Grécia

Enganas-me a mim, eu engano-te a ti. É mais ou menos este o sentimento dos gregos que pagam impostos. Suspeitamos sobretudo daqueles empresários que têm que efectuar as transferências de IVA e outros impostos ao Estado todos os meses, mas que por razões de encolhimento das vendas começam a ter que decidir se despedem ou se deixam de pagar ao Estado!

Segundo uma notícia do Ekathimerini, o Estado grego chegou ontem às seguintes conclusões sobre a gestão orçamental de Janeiro de 2012:

- Receitas dos impostos estão abaixo em mil milhões de euros do que aquilo que se previa.

- Do total de impostos, o IVA arrecadou 1,85 mil milhões de euros, quando em Janeiro de 2011 tinha sido de 2,29 mil milhões. É uma redução de 440 milhões de euros.

- Esta continuada quebra nas receitas desde 2009 significa que a recessão continuará por 2012, mas em vez de ser de 2,8% como se estimava, será de 4 ou 5%.

- Bem cedo terão que realizar orçamento rectificativo para acomodar esta diferença. Não conseguirão reduzir a despesa proporcionalmente, mesmo cumprindo com a medida dos despedimentos que a troika exige.

- Uma contração desta dimensão significa que terão que pedir mais dinheiro à UE lá mais para a frente, a fim de compensar a diferença, com todos os problemas políticos europeus subjacentes.

Boa sorte

Tiago Mestre

7 de fevereiro de 2012

Mais um obstáculo marcado hoje para a Grécia

Hoje assiste-se a mais uma greve na Grécia.
Está tudo farto de austeridade.
Os partidos políticos acomodam-se para a rampa de lançamento que serão as eleições em Abril.
Nenhum líder político quer dizer às câmaras de televisão que concorda na redução do salário mínimo e noutros azares destinados ao povo helénico.
E no meio temos um primeiro ministro não eleito, tecnocrata, amigo das instituições europeias, e sem legitimidade política para mexer uma palha.

Mais um dia no concurso mundial de poker económico.

Tiago Mestre

6 de fevereiro de 2012

Dívida portuguesa a Setembro de 2011 totalizava o lindo rácio de 110% do PIB.

Caros leitores e leitoras, estamos com uma sensação de deja vu sobre uma notícia avançada hoje na edição online do Diário Económico baseada na informação hoje disponibilizada pelo Eurostat.

A dívida pública atingiu 110% do PIB no terceiro trimestre de 2011!!

Estes valores são simplesmente astronómicos e impossíveis de pagar com a riqueza que geramos anualmente. Para este rácio contribui o aumento do stock da dívida e a diminuição do PIB, acelerando esta escalada até aos 110%.

É exactamente este o nosso receio com o plano da troika. Ainda ninguém explicou aos credores qual será o valor da dívida face ao PIB quando a troika fizer as malas daqui a 1 ano e meio. Se já vai em 110%, provavelmente subirá para 130 ou 140%! Tudo dependerá da evolução do PIB e do défice público.

Com rácios destes não se convence ninguém. São indicadores demasiado maus para ter a "esperança" de que nos iremos financiar a taxas de juro razoáveis.

Em 2012 o Estado pagará aproximadamente 9 mil milhões de euros em juros segundo as suas projecções. Mas em 2013 iremos certamente para os 10 mil milhões. Em meia dúzia de anos passámos de 6 mil milhões para 10 mil milhões de juros. É muito dinheiro se compararmos com as receitas totais do estado: 65 mil milhões de euros aproximadamente.

Aonde é que Portugal irá arranjar riqueza suficiente para liquidar tanto juro e tanto capital? O cenário da bancarrota deve ser equacionado o mais brevemente possível pela classe política, sob pena de agravarmos ainda mais a nossa condição.

Portugal só se financiará razoavelmente se a sua dívida pública não exceder os 40 a 50% do PIB. Este rácio existia no final da década de 90. É preciso voltar para lá, se não for a bem, terá que ser a mal !!!

Tiago Mestre

5 de fevereiro de 2012

Grécia, uma cultura milenar agora ridicularizada por ter aderido à UE

Sobre a Grécia, berço da democracia.
Atribui-se ao cidadão Sólon os primórdios da democracia. No início era o povo que votava para eleger os orgãos de justiça e estava impedido de eleger os governantes e os legisladores, ao contrário do que acontece nas democracias que conhecemos hoje.

O território que se define como Grécia foi palco de inúmeras guerras, disputas e toda a espécie de conflitos regionais. Estando na fronteira entre a Europa e a Ásia, frequentemente era assolada por invasores, vindos tanto de um lado como do outro.
A guerra e as discórdias foram sempre ingrediente fundamental na história grega, pelo que daí se pode inferir que a democracia foi mais uma tentativa de resposta a todos estes problemas. Por outro lado, a democracia exercia-se fundamentalmente na cidade-estado de Atenas, não se estendendo a todas as partes do território grego, com especial relevância para Esparta, onde as regras de sociedade eram bastante diferentes das dos restantes territórios. Muitas zonas da Grécia eram regidas por outro tipo de leis e constituições, como a Calcedónia, a Lacedemónia, a Macedónia ou Creta, revelando a pluralidade de ideais e modos de construir uma sociedade.

Da história que conhecemos da Grécia antiga, e recorrendo a escritores e filósofos como Heródoto, Platão, Sócrates, Aristóteles ou Tucídides, nunca em tempo algum houve descanso naquelas paragens. O Império Persa foi sempre um engulho e a vontade de se degladiarem nunca cessou. A democracia alternou com a tirania e ciclicamente trocavam de lugar. Talvez o melhor exemplo de democracia tenha sido o principado de Péricles, por volta de 450 A.C. Este homem exerceu durante duas décadas uma verdadeira liderança sobre a cidade de Atenas, tendo sido o seu opositor político, Tucídides, o biógrafo que escreveu para a posteridade as qualidades e a vida deste homem. Esta democracia resvalou para uma quase liderança de monarca, tendo sido apelidada de principado por Tucídides, aludindo às qualidades de príncipe de Péricles. Outro exemplo das dificuldades da democracia naquelas paragens demonstrou-se com a condenação à morte de Sócrates, indívíduo que pelo seu estilo de argumentação provocava a ira daqueles que diminuia intelectualmente no dia-a-dia. A liberdade de expressão era ainda um conceito embrionário e certamente mal interpretado na sociedade.

Sobre a personalidade dos gregos e seus mistérios, numa das muitas guerras entre gregos e persas, Heródoto conta-nos a história de Temistócles, bravo guerreiro naval grego que granjeou fama e prestígio em Atenas. As coisas começam a correr mal a este senhor quando opta por defender uma estratégia diferente à que os seus líderes navais preconizavam. A ousadia em querer atacar os persas numa enseada onde estavam "estacionados" em vez de esperar por eles em território mais helénico saiu-lhe cara e rapidamente se tornou alguém muito indesejável. Atenas não lhe perdoou, e já depois de uma campanha naval ao largo da ilha de Egina iniciou negociações com o império persa para lhe darem guarida nos vastos territórios que conquistara. Este comportamento de negociar em ambos os lados para conquistar tempo e levar a sua a melhor faz-nos lembrar atitudes recentes do governo grego.
Outra história que revela a capacidade dos gregos de se dissimularem e arriscarem tudo foi a famosa ideia de Ulisses, líder guerreiro no confronto entre a Grécia e o reino de Tróia, em fabricar um cavalo gigante de madeira, oferecendo-o ao rei Príamo de Tróia como presente pela rendição dos gregos, mas armadilhado com guerreiros atenienses no seu interior. Esta ideia engenhosa, bem "out of the box" valeu a vitória da Grécia sobre Tróia e com isso a sua total destruição.

As histórias multiplicam-se e revelam a sabedoria dos gregos em negociar, em fazer bluff, em dissimular e, no meio de tudo isso, praticar alguma espécie de democracia. A cultura helénica é muito mais do que transparece nos jornais e televisões da actualidade, é a arte do engenho e da filosofia ao serviço da resolução dos problemas da sociedade e das limitações dos seus cidadãos. Lamentamos profundamente o escárnio com que o mundo olha hoje para a Grécia e para o seu recente namoro com a União Europeia.

Tiago Mestre

Será que o bluff da bancarrota grega terminou?

Caros leitores e leitoras, desde o dia 24 de Janeiro que temos acompanhado bem de perto as múltiplas declarações das lideranças europeias acerca do quase quase acordo entre o governo grego e os credores internacionais.
Ao início, devido à nossa ingenuidade, acreditámos que as declarações reflectiam o mínimo de colagem à realidade, mas rapidamente percebemos que se estava perante mais uma das muitas campanhas de atirar areia para os olhos do mundo em que a elite europeia se especializou.
A esperança era esta: aguentar os mercados e esperar que a Grécia arranjasse um qualquer acordo entre os coredores e a troika.
As últimas notícias davam conta de que o acordo entre a Grécia e os credores estava quase pronto (vamos dar de barato que sim, que estava mesmo pronto).
Mas toda a gente no mundo jornalístico, literalmente toda a gente, esqueceu-se que a Grécia teria também de acordar novas medidas de austeridade com a União Europeia para receber o segundo resgate, e que esta parte do acordo era tão importante como as restantes.

Apesar de ainda estarmos a um mês do tal vencimento do empréstimo de 14 mil milhões de euros que a Grécia terá que liquidar, algo de muito grave se passou no dia de ontem (Sábado) entre o governo grego e as autoridades europeias.

Basicamente, e segundo a Reuters, os gregos jogaram ontem mais uma grande cartada com a União Europeia, adiando sucessivamente a implementação de medidas que a troika tem vindo a impôr, deixando os líderes europeus à beira de um ataque de nervos.

Jean Claude Juncker, líder dos ministros das finanças do euro, perdeu "oficialmente" a esperança de "ajudar" os gregos, tornando-o um dos maiores oficiais "mentirosos" da história (talvez sem ainda se ter apercebido) por ter referido sistematicamente desde há 3 anos que os problemas da Grécia se iriam resolver e que esta seria salva pelos "amigos" europeus. No seu grupo teremos que incluir, infelizmente, personalidades como Durão Barroso, Sarkozy, Lagarde, Van Rompuy e outros. Enfim, gente que pouco diz aos portugueses mas que jogaram tudo no jogo de espectativas europeu para ver se o barro colava à parede.
Ainda acreditamos que a um mês de distância se arranje um qualquer acordo, nem que seja um remendo da proposta actual, mas basicamente os líderes gregos souberam jogar até à última com as cartas que tinham, mostrando o que queriam mostrar, omitindo a todos o que queriam esconder, arrastando os pés comprando tempo e, de vez em vez, lançando uma bomba atómica mediática para prender a Europa mais algum tempo. Esta estratégia do tudo ou nada teve o seu apogeu com a exigência de um segundo resgate em Julho de 2011, a convocação de um referendo em Outubro de 2011 e a ameaça de uma bancarrota caótica que colapsaria o sistema bancário europeu em Dezembro de 2011. O barro colou sempre e os líderes europeus lá foram assinando umas livranças à Grécia, cheios de medo das consequências de o não fazerem.

Parabéns aos gregos por terem chegado tão longe no concurso mundial de poker económico com umas mãos tão fracas. Infelizmente para eles não é suficiente porque os seus problemas internos são demasiado graves para se resolverem com uns dinheiritos extorquidos à União Europeia.
E esta, julgando que teria demasiado a perder, lá foi aceitando o jogo grego, transferindo alguma riqueza dos países mais "fortes" para a civilização helénica ao longo destes 3 últimos anos.

Esta é uma triste história para se contar porque revela o jogo político demasiado ordinário em que estamos todos metidos. Histórias como esta deixam graves sequelas em todos os participantes, sobretudo nos mais parolos, leia-se Juncker, Sarkozy, Durão Barroso, Lagarde e outros. Foram os gregos provincianos que se disfarçaram de parolos e manipularam os líderes europeus, esses sim, verdadeiros parolos que se disfarçaram de "líderes" todo este tempo.
Os bastidores ganharam ao palco mediático e foi aí que a Grécia demonstrou maior habilidade política para infligir derrotas a um "oponente" muito mais forte do que ela.
A vida tem destas coisas e oxalá que tal fiasco europeu sirva de lição (estamos a ser otimistas) para os líderes europeus quando se oferecem futuramente para "ajudar" países à rasca.

Com Portugal não têm que se preocupar: a nossa candura e sentimento de inferioridade para com o centro e norte da Europa, tão bem personificado pela nossa liderança actual, incapacita-nos de jogar póquer com óculos de sol. Acatamos as ordens, dizemos que sim, e depois só quebramos os contratos apenas com os cidadãos portugueses mais fracos, deixando de fora a austeridade para os credores e outras vivas forças da finança mundial. Somos assim mesmo, e muito nos entristece que a armadilha europeia montada a Portugal tenho resultado na perfeição. Caímos que nem uns patinhos, gastámos o guito e agora não sabemos como iremos pagar a dívida, à exceção de que terão que ser os portugueses (essas criaturas meio fraquinhas) a ter que se chegar à frente com o dinheiro (ninguém sabe como). Nós aqui no contas acreditamos que tal operação é tão só impossível recorrendo à riqueza gerada em solo nacional. (Será a China?)

A dívida foi a droga, o crédito o prazer e a austeridade a ressaca. Infelizmente esta última fica reservada para os que menos participaram na 1ª orgia económica do século XXI (os meio fraquinhos).

Quanto tempo mais será preciso para percebermos que a Europa é e sempre foi, ao longo da nossa história, a potencial namorada por quem sempre estivémos apaixonados mas que sempre nos "desprezou" com esquemas, armadilhas, tratados, invasões e outros belíssimos presentes. Esta namorada despreza-nos em casa e trata-nos como semelhantes à frente das câmaras. O sacrifício tem limites, mas como parece que gostamos de sofrer, fica difícil cortar com esta relação amor-ódio.

Precisávamos de estadistas e gente com coragem para enfrentar os tubarões, protegendo ao mesmo tempo aqueles que menos contribuíram para esta desgraça nacional, nomeadamente os aforradores, os que se precaveram, os que produziram muito e consomem pouco, os que não se endividaram em excesso: basicamente ajudar as formigas e penalizar as cigarras. Tomar todos por igual e ainda por cima deixar de fora os tubarões é mau negócio: mas é assim que a troika nos agradece. Paciência.

Tiago Mestre

4 de fevereiro de 2012

Bancarrota de dívida soberana discutir-se-á numa conferência do... Banco de Portugal !

Na terça-feira da semana passada foi o Sr. Presidente do STJ a falar sobre as questões da bancarrota, na semana que aí vem teremos uma conferência no Banco de Portugal.

As consciências começam a despertar...

Tiago Mestre

1 de fevereiro de 2012

Na Grécia está quase quase... falta um bocadinho assim (Parte 4)

A farsa já tem cronologia, cortesia do site Zerohedge:


    2/1/12
    * IIF SEES `VARIOUS ELEMENTS' OF PACKAGE COMING TOGETHER IN DAYS    

    * IIF SAYS IT EXPECTS GREEK DEAL NEXT WEEK Fonte
    1/30/12
    * Sarkozy afirma no final da cimeira de que as negociações estão a avançar na boa direcção e há esperanças que nos próximos dias seja anunciado um acordo. Fonte
   1/29/12
   * IIF afirma que acordo deverá ser alcançado no decorrer da próxima semana. Fonte
   1/28/12
   * Venizelos afirma que o acordo está a um passo de ser firmado. Na próxima semana será assinado. Fonte

Gostavam que o vosso filho, o vosso patrão, o vosso melhor amigo ou até o vosso cônjuge vos enganasse assim tão descaradamente?

Tiago Mestre

Nova Zelândia dos anos 80 e 90 - um caso de estudo para o Portugal de hoje?

Caros leitores e leitoras, temos sistematicamente defendido aqui no Contas de que a nossa economia necessita de menos estado, menos legislação e menos presença pública na economia. Para tal se concretizar, o Estado necessita de reduzir despesa eliminando organizações desnecessárias e despedindo respectivos funcionários.

Muitas vozes se levantam contra este tipo de sociedade liberal, realçando que a entrega da sociedade às forças do mercado gera ainda mais desemprego, mais pobreza, menos assistência à doença, etc, etc.
Para os mais cépticos descrevemos mais abaixo a história recente da economia da Nova Zelândia, cortesia da Wikipedia. Outras fontes poderão ser consultadas, como esta.
A Nova Zelândia possui uma estrutura do PIB melhor do que a nossa (tem mais agricultura, indústria e menos serviços), contudo não deixa de ser muito diferente da nossa e daí a pertinência da comparação.

Estrutura do PIB:
Nova Zelândia:       4,5% agricultura e pescas, 25,8% indústria e 69% serviços.
Portugal:                 2,6% agricultura e pescas, 23% indústria e 74% serviços

Presença actual do Estado na economia:
Neo-zelandesa: 39%
Portuguesa: 52% - (deveria ser abaixo de 40%) - é este o desafio do estado português!

A história abaixo descrita enumera as vantagens e desvantagens da adoção de políticas liberais. Nem tudo são rosas, como é de esperar, e portanto as conclusões ficam ao critério de cada leitor.


História

editar ]1900-1970 - Regulação e Estado-Providência

Historicamente, a Nova Zelândia teve uma economia altamente protegida, regulada e subsidiada. Esta resultou pelo menos em parte a partir de tendências que começaram na primeira metade do século 20, quando o Primeiro Governo Liberal e mais tarde o Governo Primeiro Trabalhista introduziram ambos os sistemas de segurança social (de pensões do Estado para benefícios de desemprego e educação gratuita e cuidados de saúde), além de regulação da indústria, obrigando o sindicalismo industrial e de arbitragem . As importações também foram fortemente regulamentadas. Embora chamado de "bem-estar estatismo "por alguns quem? ], aceitou-se que pelo menos até a década de 1950, ambas as partes principais (Trabalho e Nacional) em geral apoiaram esta tendência, embora os críticos apontaram para efeitos negativos sobre a economia em geral e argumentaram que a emigração crescente poderia ser responsabilizada, em grande medida sobre estas políticas. [23]
Na década de 1960, a economia da Nova Zelândia começou a declinar. Isto foi em grande parte devido ao declínio das receitas de exportação para o Reino Unido, que em 1955 levou 65,3 por cento das exportações da Nova Zelândia. Até junho de 1973, durante a qual a Grã-Bretanha entrou formalmente a Comunidade Económica Europeia, este havia caído para 26,8 por cento. Em Junho de 1990 a sua participação caiu para 7,2 por cento e em junho de 2000, a sua acção foi de 6,2 por cento.

Como um exemplo de desregulamentação, vários operadores postais já existem na Nova Zelândia.

editar ]1980-1990 - Reforma e da liberalização

A partir de 1984, os subsídios do governo, incluindo os da agricultura foram eliminados, a regulamentação de importação foi liberalizada; taxas de câmbio livres; controles sobre as taxas de juros , salários e preços foram removidos, e as taxas marginais de tributação reduzidas. Política monetária apertada e grandes esforços para reduzir o déficit orçamentário do governo trouxe a taxa de inflação para baixo de uma taxa anual de mais de 18% em 1987. A desregulamentação das empresas estatais na década de 1980 e 1990 foi grande, bem como a redução do papel do governo na economia, permitindo a amortização de dívida, mas, simultaneamente, aumentou enormemente a necessidade de custos de segurança social e tem levado a taxas consideravelmente mais elevadas de desemprego do que eram comuns nas A Nova Zelândia nas décadas anteriores.
A desregulamentação criou um quadro favorável às empresas. Um estudo de 2008 e levantamento classificou-o de 99,9% em "liberdade comercial", e 80% do total em "liberdade econômica", destacando, entre outras coisas que na Nova Zelândia serão necessários apenas 12 dias para estabelecer um negócio, em média, em comparação com a média mundial de 43 dias. Outros indicadores foram medidos os direitos de propriedade, as condições do mercado de trabalho, controle do governo e corrupção, sendo o último considerado "ao lado inexistente" na Heritage Foundation e The Wall Street Journalestudo. [25]
Na sua "Doing Business 2008" do inquérito, o Banco Mundial (que naquele ano avaliado Nova Zelândia como o segundo mais países para negócios em todo o mundo), classificou 13 New Zealand de 178 no negócio facilidade de contratação de suas leis. [ 26]
A década de 1990 liberalizações também teve uma série de efeitos negativos significativos para a Nova Zelândia. Um deles foi a crise de moradia com vazamento , onde a liberalização das normas de construção (na expectativa de que as forças de mercado garantiria qualidade) levou a muitos milhares de edifícios severamente deficientes (em sua maioria casas residenciais e apartamentos) sendo construída ao longo de um período de uma década. Os custos de fixar o dano foi estimado em mais de NZ $ 11 bilhões. [27]

editar ]2000 - As tendências recentes

Crescimento econômico, que tinha abrandado em 1997 e 1998 devido aos efeitos negativos da crise financeira asiática e dois anos sucessivos de seca, se recuperou em 1999. A baixa do dólar de Nova Zelândia, clima favorável e os preços elevados das commodities impulsionou as exportações, ea economia é estimado para ter crescido 2,5% em 2000. O crescimento foi retomado em um nível superior a partir de 2001 devido principalmente ao menor valor do dólar da Nova Zelândia que tornou as exportações mais competitivas. O retorno do crescimento econômico substancial levou a taxa de desemprego a cair de 7,8% em 1999 para 3,4% no final de 2005, a menor taxa em quase 20 anos.
Embora a Nova Zelândia gostei baixas taxas de desemprego nos anos imediatamente anteriores ao início crise financeira em 2007 , o desemprego subsequente rosa e de acordo com a Statistics New Zealand "Em termos dessazonalizados", a taxa da Nova Zelândia desemprego ficou em 6,8% por cento durante o 2010 Dezembro trimestre ". [28]
Déficit da Nova Zelândia conta corrente, que se situou em mais de 6,5% do PIB em 2000, tem sido uma fonte constante de preocupação para os decisores políticos a Nova Zelândia e atingiu 9% em março de 2006. carece de fontes? ] A recuperação no setor de exportação é deve ajudar o déficit do estreito para níveis mais baixos, principalmente devido à diminuição na taxa de câmbio do dólar de Nova Zelândia em 2008.

Tiago Mestre