5 de fevereiro de 2012

Será que o bluff da bancarrota grega terminou?

Caros leitores e leitoras, desde o dia 24 de Janeiro que temos acompanhado bem de perto as múltiplas declarações das lideranças europeias acerca do quase quase acordo entre o governo grego e os credores internacionais.
Ao início, devido à nossa ingenuidade, acreditámos que as declarações reflectiam o mínimo de colagem à realidade, mas rapidamente percebemos que se estava perante mais uma das muitas campanhas de atirar areia para os olhos do mundo em que a elite europeia se especializou.
A esperança era esta: aguentar os mercados e esperar que a Grécia arranjasse um qualquer acordo entre os coredores e a troika.
As últimas notícias davam conta de que o acordo entre a Grécia e os credores estava quase pronto (vamos dar de barato que sim, que estava mesmo pronto).
Mas toda a gente no mundo jornalístico, literalmente toda a gente, esqueceu-se que a Grécia teria também de acordar novas medidas de austeridade com a União Europeia para receber o segundo resgate, e que esta parte do acordo era tão importante como as restantes.

Apesar de ainda estarmos a um mês do tal vencimento do empréstimo de 14 mil milhões de euros que a Grécia terá que liquidar, algo de muito grave se passou no dia de ontem (Sábado) entre o governo grego e as autoridades europeias.

Basicamente, e segundo a Reuters, os gregos jogaram ontem mais uma grande cartada com a União Europeia, adiando sucessivamente a implementação de medidas que a troika tem vindo a impôr, deixando os líderes europeus à beira de um ataque de nervos.

Jean Claude Juncker, líder dos ministros das finanças do euro, perdeu "oficialmente" a esperança de "ajudar" os gregos, tornando-o um dos maiores oficiais "mentirosos" da história (talvez sem ainda se ter apercebido) por ter referido sistematicamente desde há 3 anos que os problemas da Grécia se iriam resolver e que esta seria salva pelos "amigos" europeus. No seu grupo teremos que incluir, infelizmente, personalidades como Durão Barroso, Sarkozy, Lagarde, Van Rompuy e outros. Enfim, gente que pouco diz aos portugueses mas que jogaram tudo no jogo de espectativas europeu para ver se o barro colava à parede.
Ainda acreditamos que a um mês de distância se arranje um qualquer acordo, nem que seja um remendo da proposta actual, mas basicamente os líderes gregos souberam jogar até à última com as cartas que tinham, mostrando o que queriam mostrar, omitindo a todos o que queriam esconder, arrastando os pés comprando tempo e, de vez em vez, lançando uma bomba atómica mediática para prender a Europa mais algum tempo. Esta estratégia do tudo ou nada teve o seu apogeu com a exigência de um segundo resgate em Julho de 2011, a convocação de um referendo em Outubro de 2011 e a ameaça de uma bancarrota caótica que colapsaria o sistema bancário europeu em Dezembro de 2011. O barro colou sempre e os líderes europeus lá foram assinando umas livranças à Grécia, cheios de medo das consequências de o não fazerem.

Parabéns aos gregos por terem chegado tão longe no concurso mundial de poker económico com umas mãos tão fracas. Infelizmente para eles não é suficiente porque os seus problemas internos são demasiado graves para se resolverem com uns dinheiritos extorquidos à União Europeia.
E esta, julgando que teria demasiado a perder, lá foi aceitando o jogo grego, transferindo alguma riqueza dos países mais "fortes" para a civilização helénica ao longo destes 3 últimos anos.

Esta é uma triste história para se contar porque revela o jogo político demasiado ordinário em que estamos todos metidos. Histórias como esta deixam graves sequelas em todos os participantes, sobretudo nos mais parolos, leia-se Juncker, Sarkozy, Durão Barroso, Lagarde e outros. Foram os gregos provincianos que se disfarçaram de parolos e manipularam os líderes europeus, esses sim, verdadeiros parolos que se disfarçaram de "líderes" todo este tempo.
Os bastidores ganharam ao palco mediático e foi aí que a Grécia demonstrou maior habilidade política para infligir derrotas a um "oponente" muito mais forte do que ela.
A vida tem destas coisas e oxalá que tal fiasco europeu sirva de lição (estamos a ser otimistas) para os líderes europeus quando se oferecem futuramente para "ajudar" países à rasca.

Com Portugal não têm que se preocupar: a nossa candura e sentimento de inferioridade para com o centro e norte da Europa, tão bem personificado pela nossa liderança actual, incapacita-nos de jogar póquer com óculos de sol. Acatamos as ordens, dizemos que sim, e depois só quebramos os contratos apenas com os cidadãos portugueses mais fracos, deixando de fora a austeridade para os credores e outras vivas forças da finança mundial. Somos assim mesmo, e muito nos entristece que a armadilha europeia montada a Portugal tenho resultado na perfeição. Caímos que nem uns patinhos, gastámos o guito e agora não sabemos como iremos pagar a dívida, à exceção de que terão que ser os portugueses (essas criaturas meio fraquinhas) a ter que se chegar à frente com o dinheiro (ninguém sabe como). Nós aqui no contas acreditamos que tal operação é tão só impossível recorrendo à riqueza gerada em solo nacional. (Será a China?)

A dívida foi a droga, o crédito o prazer e a austeridade a ressaca. Infelizmente esta última fica reservada para os que menos participaram na 1ª orgia económica do século XXI (os meio fraquinhos).

Quanto tempo mais será preciso para percebermos que a Europa é e sempre foi, ao longo da nossa história, a potencial namorada por quem sempre estivémos apaixonados mas que sempre nos "desprezou" com esquemas, armadilhas, tratados, invasões e outros belíssimos presentes. Esta namorada despreza-nos em casa e trata-nos como semelhantes à frente das câmaras. O sacrifício tem limites, mas como parece que gostamos de sofrer, fica difícil cortar com esta relação amor-ódio.

Precisávamos de estadistas e gente com coragem para enfrentar os tubarões, protegendo ao mesmo tempo aqueles que menos contribuíram para esta desgraça nacional, nomeadamente os aforradores, os que se precaveram, os que produziram muito e consomem pouco, os que não se endividaram em excesso: basicamente ajudar as formigas e penalizar as cigarras. Tomar todos por igual e ainda por cima deixar de fora os tubarões é mau negócio: mas é assim que a troika nos agradece. Paciência.

Tiago Mestre

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