Caros leitores e leitoras, é sabedoria comum nos corredores das administrações hospitalares deste país que as receitas de um hospital dificilmente neutralizam as despesas. Ou seja, os hospitais vivem há décadas com défices de exploração e cash flows negativos. Este problema era "solucionado" com uma injeção de capital esporádica pelo Estado, dando assim uma nova vida às instituições.
Foi assim que o setor da saúde, vaca sagradíssima da nossa constituição, resistiu aos constantes défices crónicos dos hospitais.
Mais recentemente, o dinheiro deixou de jorrar mas os serviços necessitavam de continuar abertos. As urgências tinham que ficar abertas 24 horas, a hemodiálise tinha que ter uma equipa permanente, a radiologia a mesma coisa, etc, etc. Quem não quer um hospital com todas as especialidades permanentemente disponíveis?
O problema é que os custos globais desta opção são bem acima dos valores que os portugueses podem pagar. Recorreu-se à dívida e recorreu-se também ao crédito dos fornecedores para compensar o cash flow negativo.
Os fornecedores de fármacos foram aqueles que mais sofreram com esta política "cobardolas". Como não houve coragem para assumir a realidade dos factos, foi-se ficando a dever a quem aceitava esse crédito. As indústrias farmacêuticas foram também bastante perdulárias em ter aceitado prazos de pagamento tão alargados.
Agora que o dinheiro já não jorra, é preciso que a classe política e a classe das administrações hospitalares venham explicar à população que a hemodiálise só funcionará em dias úteis das 09.00 às 18.00, as urgências fecham a partir da meia noite, e certas extensões de saúde terão que ser simplesmente suprimidas. A realidade custa a encarar quando é desagradável, mas é nesses momentos que vemos a fibra moral de cada indivíduo.
Tiago Mestre
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