Muito se tem pedido à Alemanha que salve os pobres europeus. Portugal, Grécia, Espanha, Irlanda e Itália seriam aqueles a quem a rica Alemanha teria que suportar com tudo aquilo que eles precisassem.
Se os mercados desconfiam, a Alemanha chega-se à frente e não tosse.
A loucura dos tecnocratas europeus em sugerir o aumento do EFSF para 2 triliões de euros, a criação dos Eurobonds e a impressão ilimitada de euros pelo BCE revela que em tempos desesperados o que não falta é gente a suplicar medidas suicidas.
A Alemanha não é UM PAÍS. É UM CONJUNTO DE REGIÕES. Não é como Portugal que possui fronteiras definidas há muitos séculos e história que nunca mais acaba. Da Grécia então nem se fala.
A Alemanha com os seus desvarios ideológicos prometeu às suas descendências que a salvação se faria pelo trabalho e pela obediência cega. Não admira que quando aparece um líder mais "quente" se criem as condições ideais para regimes totalitários altamente idealistas e... irrealistas!
Numa Alemanha que ainda não tem 200 anos de fronteiras solidificadas, muita coisa já lá aconteceu e nada bonito de se ver.
Se a 1ª Guerra mundial foi demasiado sangrenta, de pouco serviu para atenuar a impetuosidade das elites que iniciaram a 2ª. Tiveram uma hiper-inflação gravíssima entre as 2 guerras e quando o país em 1945 já estava destruído, tiveram a "sorte" de o ver dividido em dois.
Desde os finais da década de 40 até 1990, a Alemanha esteve dividida física, cultural e economicamente.
Com a queda do muro de Berlim em 1990, a Alemanha unificou-se... mas apenas no papel. A antiga rica RFA iniciou um programa gigantesco, que ainda hoje dura, de transferência de fundos públicos para a antiga RDA, na esperança de que o despejo de dinheiro em cima duma coisa a transforme naquilo que mais desejamos: desenvolvimento económico. Infelizmente não foi o caso, e após todo este (des)investimento, a zona da antiga RDA está longe do poderio económico da antiga RFA.
O desemprego grassa, há subsídios para tudo, e não há maneira de desenvolver a região. Zonas há onde a população envelheceu e os jovens fugiram para outras paragens (onde é que já vimos este filme). A própria Angela Merkel é proveniente do Leste e certamente tem a perceção dos problemas que grassam naquela região alemã. Berlim localiza-se naquela zona mas é protegida economicamente por ser a capital da reunificação alemã.
Curiosamente, é na zona leste que a extrema-direita continua a marcar pontos e onde o fantasma do nazismo mais aparece.
Isto tudo para dizer que Angela Merkel tem internamente muitos equilíbrios para gerir, muitas sensibilidades para conciliar e certamente, muita dificuldade em passar a mensagem de que mais dinheiro é necessário para salvar a pobre Europa. Angela Merkel tem a sua própria europazinha interna para gerir.
Para convencer os contribuintes alemães de que há mais europeus, para além dos alemães pobres que ocupam quase metade do país, a precisar de ajuda financeira, Merkel teve que exigir "coisas" à UE e aos países financeiramente assistidos. Eis a chamada austeridade.
Pouco interessava se a austeridade funcionaria num país como a Grécia; o que era importante era haver uma contrapartida do lado lá para "descansar" os contribuintes alemães de que o seu dinheiro estava (outra vez) a ser bem empregue. Com esta "acrobacia" política, Merkel conseguiu não dizer não a toda a gente. Eis a magia da política em todo o seu esplendor.
Infelizmente todo este romance tem muitas falhas e o próprio conceito de assistência financeira é um logro como se está a ver na Grécia, contudo é de louvar a capacidade dos políticos na arte de comprar tempo bem para lá do inimaginável.
Tiago Mestre
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