20 de fevereiro de 2012

BCE troca obrigações com a Grécia. Confuso? Talvez não (Parte2)

Pelos vistos a operação de troca de obrigações que o BCE realizou com a Grécia foi totalmente à revelia do mercado.

Para o BCE não assumir perdas nas obrigações gregas, preocupação que referimos aqui no Contas vezes sem conta, vendeu o que tinha à pressa, "limpando" o seu balanço como se nada tivesse passado. À primeira vista até parece uma operação airosa, mas analisando de forma mais profunda, esta foi a mensagem que passou para os mercados:

Nós BCE, estamos acima de qualquer lei ou de qualquer regra tácita ou explícita. Fazemos o que queremos, quando queremos e como queremos. Se hoje seguimos as regras, amanhã podemos fugir delas sem dar "cavaco" a ninguém. Os mercados que se aguentem com as perdas e com os prejuízos, porque nós, BCE, não nos podemos dar ao "luxo" de relatar perdas no nosso balanço, o que exigiria mais dinheiro dos bancos nacionais e respectivas economias para compensar a perda dos capitais próprios.

Se se lembram, o BCE começou em Maio de 2010 a adquirir obrigações de países "aflitos" para controlar a desconfiança dos investidores e travar a subida dos juros. Não só esta operação é ilegal pelo Tratado de Lisboa, fenómeno que abordámos aqui no Contas tantas vezes, como as consequências de tais operações são nefastas para a credibilidade do Banco e em última analise para o euro. O BCE deveria ser o último bastião na defesa do euro e no respeito pelas regras de transacções financeiras na zona euro. Começou a perder esse estatuto quando se imiscuiu no mercado, comprando e vendendo como se fosse um qualquer investidor, e agora que deveria reportar perdas, como qualquer outro investidor, foge das suas responsabilidades, tal como um cobarde se esconde quando não quer enfrentar as consequências das suas ações.

É nisto que dá a irresponsabilidade política. Se hoje o BCE faz isto com obrigações da Grécia, amanhã fará com as taxas de juro das de Portugal, com a maturidade das de Espanha e por aí a fora. Imaginem como se sentem os investidores de obrigações soberanas da Europa - a maior região económica do mundo.

Esta decisão que vai ao arrepio das regras mais elementares dos mercados financeiros deveria ser severamente punida pelas instituições europeias (Quais??), culminando nas demissões de Mario Draghi, Vitor Constâncio e a instauração de processos judiciais aos visados por gestão danosa, abuso de poder e outros.

Este último parágrafo foi um devaneio nosso porque a realidade está demasiado distante desta pretensão.

Tiago Mestre

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