27 de junho de 2011

FACTOS/OPINIÃO: PREÇO DO COMBUSTÍVEL SERÁ CADA VEZ MAIS INSTÁVEL … MAIS CARO, ENTENDA-SE!

Pretendemos neste post informar os leitores da história recente da produção e consumo de petróleo no mundo, com implicações directas no preço do combustível em Portugal.

Com a recuperação das economias ocidentais em 2010, depois das recessões generalizadas que se verificaram em 2009, a procura por petróleo aumentou significativamente. Com este aumento na procura invocou-se a necessidade dos países produtores de petróleo em acompanharem este crescimento, evitando rupturas no abastecimento. Os preços começaram a subir de forma generalizada em meados de 2009 tendo atingido os 100 dólares por barril já em 2011, quando em Março de 2009 tinham atingido um mínimo de 39 dólares por barril. 

Apesar deste aumento do preço, considerava-se plausível que os países produtores acompanhariam o ritmo de crescimento da procura. Pois soube-se recentemente que no relatório anual da empresa BP, emitido em 2011 referente ao ano de 2010, o consumo diário mundial foi em média de 87 milhões de barris, mas a produção foi de apenas 82 milhões. Isto significa um défice de 5 milhões de barris por dia no abastecimento mundial de petróleo. 

E como foi possível não haver falhas no abastecimento? 

Soubemos recentemente que, de forma velada, os países consumidores foram utilizando as reservas que possuem, ao abrigo dos acordos com a Agência Internacional de Energia (AIE), como forma de compensar esta diferença. Que tenhamos conhecimento, esta informação não foi oficializada, contudo é fácil de perceber que o petróleo teve que vir de algum lado.A escalada dos preços continuou em 2011, tendo atingido um máximo de 128 dólares por barril em Abril, após o encerramento do abastecimento de petróleo pela Líbia. Se em 2010 já havia um défice de 5 milhões de barris por dia, com o corte da produção da Líbia essa diferença agravou-se em mais 1,5 milhões, pelo menos. 

Era esperado em Abril de 2011 que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) se comprometesse a cobrir o défice provocado pela falha da Líbia, já que esse país faz parte da OPEP. Contudo, tal não aconteceu, e as esperanças mundiais residiram na reunião da OPEP que se realizou a 8 de Junho 2011. Mais uma vez decidiram não aumentar a sua quota de produção, não repondo sequer a falha de produção da Líbia. 

De referir que a OPEP produz aproximadamente 40% de todo o petróleo extraído no planeta.A diferença entre produção e consumo continuou a agravar-se nesta Primavera e prevê-se que nos meses do Verão o consumo mundial aumente, como é habitual. 

Se nada for feito, correm-se sérios riscos de rupturas no abastecimento mundial, provocando impactos económicos e sociais de dimensões inimagináveis. Como forma de evitar este cenário, a AIE emitiu a 23 de Junho, em resposta à decisão da OPEP, um comunicado em que refere a necessidade dos países membros recorrerem às suas reservas de petróleo para fazer face às necessidades que existirão neste Verão de 2011. Serão colocados no mercado 60 milhões de barris de petróleo por um período de 30 dias. Após esta decisão, o preço nos mercados desceu vertiginosamente, com quedas de 8% logo após o comunicado. Do lado da OPEP ouviram-se respostas, tendo o Irão declarado inaceitável este tipo de interferência da AIE nos mercados mundiais.

Com este conjunto de decisões, não só da OPEP, como da AIE, concluímos o seguinte:

1. O preço de petróleo manter-se-á elevado, fruto do aumento da procura e da incapacidade de acompanhamento do lado da produção. Só baixará o preço se as economias ocidentais reduzirem o seu crescimento, fenómeno que já está inclusivamente a acontecer, e por essa via consumirem menos petróleo.

2. A decisão da AIE é meramente conjuntural, já que daqui a 30 dias o problema volta-se a colocar novamente;

3. As reservas estratégicas de petróleo dos países importadores de petróleo estão a cair desde 2010, e agora é já uma informação oficial, promovendo maiores receios e tensões nos mercados;

4. Os países produtores, tanto da OPEP como do resto do Mundo, não estão a conseguir aumentar a sua quota de produção no valor desejado, ficando a ideia de que, ou estão a atingir o pico da sua produção, ou pretendem que o preço se mantenha alto para cativarem maiores receitas. Inclinamo-nos mais para a primeira opção;

5. A confirmar-se a continuação de défice entre a produção e o consumo, num prazo não muito distante teremos problemas no abastecimento de petróleo aos países mais dependentes, sendo Portugal um país totalmente exposto às flutuações que ocorrem nos mercados mundiais.

Conclusão:
A nossa economia e a nossa sociedade estão profundamente dependentes do abastecimento regular de petróleo, bem como de preços de petróleo estáveis e que não excedam determinados valores. Estas novas dinâmicas mundiais trarão uma instabilidade nos mercados que, na nossa opinião, afectarão o consumidor individual, ou seja, cada um de nós. 
Tornar a nossa sociedade mais independente do petróleo será um trunfo a nosso favor, mas para que essa transformação ocorra, caberá a cada um de nós iniciar esse processo, com ou sem o beneplácito do Estado português.

Tiago Mestre

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