7 de junho de 2012

Ator simula enforcamento ao vivo como metáfora das dívidas que a Câmara deve à sua Companhia

Foi hoje notícia, com vídeo e tudo:

Na Póvoa de Varzim, um ator que interpretava uma peça de teatro simulou um enforcamento.
Após discursar aos espectadores das dificuldades financeiras que a companhia vive por falta de pagamentos da Câmara Municipal da Póvoa, simulou um enforcamento, e perante o realismo da situação, a sala ficou meio sem saber o que fazer. Os bombeiros vieram imediatamente e levaram o "enforcado" de maca para fora da sala. (estava tudo combinado)

Esta simulação serve de metáfora perfeita para o que se passa de forma generalizada nas relações contratuais entre empresas/instituições em Portugal: o cliente paga quando lhe apetece e não percebe os danos que está a causar ao credor pela incerteza e pelo atraso no ressarcimento.

Podemos afirmar que não pagar conforme acordado também é matar.

Não pagar, fazer-se de esquecido e pedir o serviço à mesma revela o equívoco cultural que se está a viver no Portugal "civilizado" de hoje.

Estado, câmaras municipais, empresas públicas e muitas empresas privadas brincam e brincaram com os seus fornecedores durante décadas ao não pagarem a tempo e horas. É uma regra básica de decência que ficou esquecida desde que a democracia entrou em força e gente irresponsável começou a ter poder a mais para as suas capacidades intelectuais.

Na nossa vida empresarial deparamo-nos frequentemente com estas atitudes e só lamentamos que com o agudizar da crise este tipo de comportamentos tenda a aumentar.
A crise faz-nos ter medo, e "libertar" o dinheiro, mesmo que já tenha destinatário, é sempre uma coisa que "custa" fazer, sobretudo para os pobres de intelecto.

1.  Se o cliente não tem dinheiro não pode pedir o serviço;

2. Se a Câmara não tem verba para pagar à Companhia tem que convocar uma reunião, pagar o que deve e revogar o contrato e assumir essa posição;

3. Se o Estado não tem dinheiro para pagar a professores, a banqueiros, a pensionistas, a médicos, a desempregados, às empresas de transporte e outras, tem que o afirmar de plena voz e assumir essa posição. Só assim é que somos gente séria e nos tornamos respeitados aos olhos dos outros.

4. Se a Europa não tem dinheiro (e que não tem mesmo) para resgatar as gigantescas asneiras que bancos e governos perpetraram  durante anos, então tem que informar a comunidade deste facto e adaptarem-se desde já a esta nova realidade.
O BCE não tem riqueza nenhuma, ao contrário do que diz por aí, e os governos estão cheios  de dívidas, mesmo o alemão.

Não esquecer que muitos diretores e diretoras financeiras destas instituições que se "esquecem" de pagar são licenciados em muita coisa, com MBA's, doutoramentos e mais o raio que os parta, desculpem-nos a expressão.
É que a decência e o respeito não se aprendem na escola.

 Manter a paz podre, que nós aqui no Contas tanto abominamos, e que é tão acarinhada pelos políticos cobardes da nossa praça, é que não pode ser!

São precisos muitos mais enforcamentos metafóricos como este para ver se a malta acorda para a realidade. Na Grécia já passaram essa fase: o pessoal mata-se mesmo!

Tiago Mestre

2 comentários:

Anónimo disse...

tiago: as coisas estão mesmo a saque . ninguém paga a ninguém. E continuam a martelar contas ,não fazer entrega de impostos, de tsu etc,assim não vamos lá.Falta-nos além de liquidez vergonha na cara.

Tiago Mestre disse...

O pessoal anda a esticar-se muito mesmo. Acredito que este sistema é totalmente insustentável na nossa cultura. Estes comportamentos aberrantes têm os dias contados porque desequilibram em demasia a sociedade e ela não aguenta. Mas para darmos dois passos atrás e eliminar estes comportamentos desviantes precisamos de um susto.

E isso os políticos andam a evitar há anos. Têm todos muito medo das consequências. Fico baralhado