3 de junho de 2012

A 9 de Julho adiaremos novamente o encontro com a nossa verdade

Caros leitores e leitoras, é sabido que a UE está a acelerar o processo de formalização do ESM, o Mecanismo de Apoio Permanente da UE.

O seu valor será superior a 500 mil milhões de euros e servirá sobretudo para financiar países com problemas de juros elevados.
Há quem peça agora que sirva também para recapitalizar bancos, sobretudo pelo falhanço do Bankia em Espanha e pela incapacidade do governo espanhol em financiá-lo através dos mercados da dívida.

A 9 de Julho o ESM estará operacional.
Os 500 mil milhões é dinheiro que não existe em concreto. O fundo terá que pedir emprestado ao planeta, tal como se fez com o EFSF, e a taxa de juro será aquela que os credores quiserem em função da sua perceção de risco. A garantia será dada pela Alemanha, país que no fundo assegura este acumular de dívida da UE.

Suspeitamos que em Setembro ou Outubro Portugal pedirá novamente ajuda para garantir mais um empréstimo, agarrando assim uma fatia dos 500 mil milhões. Desta forma mantêm-se protegido e adia o encontro com a sua verdade, protelando as reformas difíceis e a redução da dívida, que continuará a aumentar.
Com um segundo resgate Portugal verá a sua dívida pública subir para 230 - 250 mil milhões de euros, representando 150% do PIB aproximadamente. Os juros passarão os 12 mil milhões euros/ ano, o que num universo de 60 mil milhões de euros de receita /ano significará que os juros comerão 20% de toda a receita.
Quando um Estado gasta mais de 10% das suas receitas em juros de dívida, as agências de rating assumem esta percentagem como estando para lá do sustentável, reiterando a necessidade de conservar a dívida portuguesa como "lixo". Escrevemos sobre esta assunto aqui.

Com este 2º resgate Portugal assegura definitivamente o seu passaporte para abandonar a austeridade e as reformas difíceis, regressando ao "crescimento" milagroso que tantos apregoam. Já estamos a ver o TGV e o novo Aeroporto a serem construídos como instrumentos de "saída" da crise e retoma do crescimento e do emprego. Nessa altura, em 2014, já toda a gente terá esquecido Sócrates e as suas políticas milagrosas de crescimento. Seguro estará em 1º lugar nas sondagens e o processo repetir-se-á novamente.

Não acreditamos que a Europa "rebente" antes de se esgotar o dinheiro do ESM. O BCE pode ir sempre imprimindo e emprestando de borla. Como a inflação continua baixa, imprimir ou não imprimir torna-se um assunto meramente de princípio ético e económico, estando a Alemanha cada vez mais isolada nesta questão. E caso a coisa se complique ainda temos a Reserva Federal, que pode sempre emprestar em dólares aquilo que os bancos europeus quiserem e o FMI, que também ele pode criar fundos tipo ESM e pedir dinheiro emprestado ao planeta com a garantia dos países participantes. Enfim, há ainda muito tiros que podem ser dados, e que serão dados porque os políticos perante a vertigem da decisão difícil recuam e preservam o status quo até ao último segundo.

A paz podre está para durar ainda uns anos. No entretanto não se espantem se o desemprego chegar aos 20%. e tudo continuar por resolver. Já o é na Espanha. Porque razão é que não pode ser aqui também?
E no dia em que tivermos mesmo de resolver os nossos problemas porque já não dá mais para adiar, então, aí chegará aos 30 ou aos 40% e os juros da dívida serão 40% ou 50% das nossas receitas. Serão lindas percentagens para se trabalhar.

Tiago Mestre

6 comentários:

Vivendi disse...

Tiago,

Corre por aí que o Santander em Espanha também está bem infectado de dívidas.

A taxa de desemprego real em Portugal já é de 20%. E irá continuar a subir até onde?? Pois poucos países do mundo estão a a absorver mão de obra. E este ciclo económico não é sequer propício à estancagem do desemprego quanto mais à criação.

Tiago Mestre disse...

Acho que o Santander se safa por causa dos lucros nas operações da América Latina.

Se não fosse isso estava pior que o Bankia!

O desemprego em Portugal irá até aos 30 ou 40%.

Atenta nas contas da CP e do Metro de Lisboa que fiz no post seguinte e tira as tuas conclusões.

Os despedimentos no setor público ainda estão para vir. Se não for a bem, será a mal.

Vivendi disse...

Santander:

http://oglobo.globo.com/economia/bradesco-negocia-compra-do-santander-no-brasil-5034544

Não há confirmações de nada ainda mas há fumo no ar.

Vivendi disse...

E já vendeu operações no Chile e Colômbia...

http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?template=SHOWNEWS_V2&id=559221

O motivo? Tapar buracos.

Tiago Mestre disse...

Vivendi, desconhecia que o Santander já estava nesta trajetória. Concordo que vendam os ativos em vez de pedirem resgate a Espanha e confiscar os contribuintes.
Veremos se vender os anéis compensa as enormes asneiras cometidas..

Filipe Silva disse...

Boas

Estive em Espanha este fim de semana, e ouvi na tv por lá que a divida do Santander é de 800mil milhões e que não tem capacidade de a pagar, é algo que os espanhóis não querem que se fale.

temos a tendencia a assumir que a realidade não se irá alterar, as coisas vão ser muito diferentes nos próximos meses.

O tecido social não aguenta muito mais tempo desemprego desta magnitude, o que nos safa é que a economia paralela é muito forte em Portugal, graças a deus que existe


A minha teoria é que o Estado social vai ser reduzido, principalmente na saúde, e corte de pensões, vai levar a um aumento da taxa de mortalidade entre os idosos, o que vai levar a um ajustamento favorável das contas, menos idosos a receber e consumir serviços melhores contas, a diminuição da população vai ser bastante grande e rápida.

O governo não tem capacidade nem força nem vontade para fazer o que precisa de ser feito, Comprar uma guerra com todos os interesses, reformados, empresário, sindicatos e por aí fora.