1 de junho de 2012

Frau Angela, ne me quitte pas (Parte 2)

Cara Frau Angela Merkel, escrevemos-lhe diretamente a partir deste blog para que sinta que ainda há alguém na periferia que concorda com austeridade e equilíbrio das contas públicas em detrimento do suposto "crescimento" milagroso que se anda agora a pregar na Europa.

Podemos-lhe dizer que até há ano e meio, muitos economistas da praça exigiam a José Sócrates o equilíbrio das contas públicas, mas como receita apenas sugeriam a redução de umas gordurinhas aqui e acolá. A economia pouco se ressentiria e tudo continuaria sobre rodas. Sócrates não fez caso, ou porque é teimoso, ou porque já sabia na altura as reais consequências dessa receita.

Passos Coelho, ingénuo e crente nas gordurinhas, achou que o caminho para o equilíbrio era apenas esse e, sem se dar conta, colocou Portugal em queda livre na procura interna do PIB. Para tal, bastou reduzir o défice em mil milhões de euros em 2011 (não estamos a contar com a integração dos fundos de pensões, obviamente). Nem ele nem 99% dos portugueses percebeu o que se estava a passar. Todos se sentiram enganados com a campanha eleitoral e as críticas começaram a chover; vai daí novas (velhas) ideias voltam a emergir na Europa: é preciso o crescimento e acabar com a austeridade, que nos está a matar.
Grécia, Hollande e agora Seguro alinham nesta frequência dia sim dia também.

V. Exa, pelas pressões a que deve ser submetida, presumimos que comece mais cedo ou mais tarde a tergiversar sobre esta matéria, o que é natural, já que as consequências da austeridade serão um retrocesso de várias gerações na civilização que todos conhecemos e de que todos gostamos. Apenas lhe recomendamos que medite, e medite muito, sem se deixar influenciar pela verborreia pseudo intelectual desta esquerda que só sabe dizer mal do que existe sem se atravessarem com nenhuma ideologia realista.
Imprimir dinheiro é cometer fraude: salva o dia de amanhã mas compromete cada vez mais o futuro.
BCE emprestar sem colateral é colocar mais contribuintes na fila de espera para pagar a conta, o que também é fraude.

V. Exa terá pela frente muitas mais pressões. Mario Draghi não a irá largar e Mr. Barack Obama começa a ficar impaciente com a sua teimosia em não querer imprimir. Temos aí muitas eleições importantes e ninguém as quer perder.
Prepare-se para a cimeira do G20 que ocorrerá dentro de semanas porque V. Exa. será o prato principal, não se engane!

Às suas justificações em defesa da austeridade eles responderão: "Pois mas se formos por aí, todo o sistema implode e a Alemanha também sofrerá com isso."

Perante este tipo de argumentações, não vacile, porque eles são muito melhores manipuladores do que V. Exa.
Eles sabem jogar poker mas desconhecem a poder da lógica, já V. Exa. é precisamente o contrário!

Um conselho nosso:
Se V.Exa. se sentir muito pressionada e bastante nervosa, ameace sair do euro e deixe essa moeda à sorte dela, que era o que já devia ter feito há muito, muito tempo!

Tiago Mestre

6 comentários:

Anónimo disse...

Caro Tiago,

desculpe mas não entendo o que defende...afinal de que lado da barricada se encontra? Acha que as medidas de austeridade são necessárias?...mas não se depreende que estas tais medidas enterram-nos cada vez mais?...perdoe-me a minha ignorância, mas custa a crer que algu~em defenda estas políticas quando tudo o que resulta delas piora o estado de coisas!!!! "I need enlightenment"

Vivendi disse...

Para o anónimo:

Quando uma casa está torta ou com defeitos as vezes é necessário implodir e construir de novo.

Esta é a explicação simples da austeridade.

Agora o tipo de austeridade que se aplica aí é outra conversa, opções políticas.

Tiago Mestre disse...

Caro anónimo, gostei da tua opinião sincera e humilde, por reconhecer que há algo que nós defendemos e que te "escapa".

O que defendemos aqui no Contas é austeridade a sério, ou seja, muito mais forte do que aquela que o governo tenta implementar.
Na nossa opinião, o Estado terá que cortar inevitavelmente 30 mil milhões de euros na despesa pública, ou seja, descer de 80 para 50 mil milhões de euros. Em 2012, ainda não conseguiu reduzir nada face a 2011, até aumentou. E isto terá que ser feito porque a receita pública é hoje 65 mil milhões, mas amanhã será 60, 58, 55 até chegar aos 50. Este fenómeno ocorre por contração económica, fadiga fiscal e por redução da despesa pública, que influencia negativamente a receita pública.

Esta redução acontecerá sempre, quer queiramos, quer não. A única diferença é:
ou seremos nós senhores do processo ou não.
Se o formos, será doloroso e temos que começar JÁ, com pena minha que não tivesse começado há 10 anos porque seria infinitamente mais fácil:
. O desemprego irá bem para lá dos 20%;
. A dívida de 170 mil milhões e os 9 mil milhões de juros é tudo para renegociar;
. Despedimentos e extinções de serviços públicos considerados hoje essenciais, como universidades, politécnicos, hospitais e muitos outros que só de ler até dói;
. Haverá insolvências de grandes empresas que operam em áreas como a grande logística, transportes e retalho.
. Haverá falhas no abastecimento de superfícies comerciais nas grandes cidades e às respetivas populações;
. A moeda, quer seja o euro ou o escudo, sofrerá desvalorizações,já que em caso de escassez de bens e produtos, os preços dos existentes tenderão a aumentar.
. Aumento generalizado da violência nas periferias urbanas
. Transferência de atividade e de pessoas do setor terciário para o setor primário, ou seja, regresso à agricultura, porque o dinheiro emprestado acabou-se e só podemos consumir aquilo que produzimos.
. Empobrecimento generalizado e massivo, igualando o poder REAL de compra dos portugueses ao seu poder de produção.

E por cada dia que passa em que adiamos a austeridade, ou seja, a transição de menos consumidores para mais produtores, pior será lá mais à frente.

Em 2000, tínhamos 5% de desemprego e 60 ou 70 mil milhões de dívida pública. Em 12 anos, triplicámos estes 2 índices. Quanto mais esperamos, mais nos enterramos.

E mesmo esta espera só é consentida devido à decisão de terceiros, ou seja, só adiámos a verdadeira austeridade porque alguém nos emprestou 78 mil milhões em 3 anos. NUNCA nos deveriam ter emprestado esse dinheiro. É infame e adia o encontro com a nossa verdade. Há 1 ano devíamos 160 mil milhões, hoje devemos 195 mil milhões. O PIB português são 170 mil milhões.

Custa-nos ter consciência destas coisas e transmiti-las a quem quer ouvir, mas por dever de verdade e de rigor técnico e histórico é nossa obrigação partilhá-las.

Não recomendamos a ninguém com problemas cardíacos o futuro que se desenrolará à nossa frente nos próximos anos.

essence disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivendi disse...

publica o teu comentário Tiago!

dará um excelente post.

bom fim de semana.

TUNINHING disse...

Em Pt temos problemas graves com psicopatas, alguém faz as merdas, depois põem as mesmas merdas, na conta de pagamento dos outros. Não basta ter poder, porra. Que poder têm os fdp psicopatas, que tiveram algum dia a ousadia de se encherem à conta de iludirem-se a si e muito pior, iludirem 1, 2,3, mil, milhões de pessoas? Quando oiço dizer que a dívida pública é menor que a privada, vêm-me uma gana à boca, que me apetece gritar, será que esta gente não sabe o que é poder, leis, que ajudam a formar aglomerados de animais para o martírio.