7 de junho de 2012

Deus ex machina - políticos, produtividade, salários e tretas

Temos sido bombardeados na comunicação social por políticos referindo que a redução de salários não é caminho.

Com estas afirmações, até parece que há gente que quer a redução dos salários. Ninguém quer reduzir salários, mas todos sabemos que se os custos laborais forem mais baixos, há maior probabilidade de atrair investimento. E é por aí que alguns, tipo Borges, tentam defender a tal desvalorização salarial. Sofremos um bocadinho agora para recuperar mais tarde.

Mas também isso é irrelevante na nossa perpetiva, porque a pergunta que achamos importante responder é esta:

Será que os salários auferidos em Portugal refletem o nosso grau de produtividade?

1. Sabemos que há muitos empregos que se baseiam no crédito que o exterior nos concede:
 - uma parte dos funcionários públicos que recebe dinheiro diretamente da dívida emitida pelo Estado
 - empresas públicas que estão totalmente levitadas por causa do crédito porque não geram receitas suficientes
 - empresas de grandes obras
 - bancos
 - Promotores e agências imobiliárias, etc, etc
 - Comércio em geral que beneficia do poder de compra dos grupos acima mencionados

Toda esta gente está mais ou menos pressionada para ser despedida ou para ver reduzidos os seus salários.
Facto: A contração do crédito promove esta redução de postos de emprego e de salários.

2. O salário mínimo que é definido politicamente pretende estabelecer um limite que o Estado "acha" que ninguém deve romper. Caso não houvesse ordenado mínimo, certos empregos regressariam e certas pessoas teriam algum poder de compra já que hoje nada conseguem fazer que justifique pagar-lhes o ordenado mínimo. Vivem da caridade do Estado.
Facto: Eliminar ordenado mínimo promoveria mais emprego, mas pressionava os salários a caírem ainda mais.

3. O salário é tão só o preço do trabalho, e sendo um preço, este deve ser definido pelo mercado, ou seja, pela vontade de quem quer comprar e de quem quer vender. Meter o Estado na equação significa vontade em planificar e manipular. Percebemos a boa intenção do Estado em querer manipular para "melhorar", mas dificilmente resulta.

4. Se o salário é o preço do trabalho, então só um trabalho mais produtivo, que produza mais com menos, é que permite obter um melhor preço e melhores salários. Mas isso depende das condições que o país oferece para um clima favorável aos negócios e da cultura intrínseca do seu povo, mais ou menos interessado em trabalhar em equipa. Nesse aspeto estamos longe do Norte da Europa, do Oriente e dos EUA, mas melhores do que muitos outros.


Este gráfico foi publicado num post a 1 de Maio, dia do Trabalhador, aqui no Contas, em que iniciámos esta discussão da produtividade e salários

Percebe-se pelo gráfico que a nossa produtividade por hora trabalhada é metade da verificada na Alemanha.
E será que só auferimos metade também? Segundo vamos ouvindo por aí, parece que sim.

Acreditamos que o mercado está a fazer o seu trabalho, e portanto não podemos afirmar que os salários estejam muito altos ou muito baixos: estão mais ou menos de acordo com o que produzimos.

Mas um fator que continuará a exercer pressão para a redução de salários ou para uma não subida sustentada é a tal contração de crédito que está em marcha. A manipulação (para cima) do preço do trabalho que durou décadas em Portugal está a começar a perder vigor.

Vir a classe política dizer que os salários não podem descer, e só devem subir, é como querer fazer ski sem controlar minimamente a existência de neve. Vale zero e não muda uma vírgula.

O que representa bem a produtividade de um país é a capacidade de organização, criatividade e capacidade de engenho das populações. Isso pouco ou nada se manipula.
Mesmo com muitos mais licenciados no mercado do que antigamente, a produtividade tem-se mantido, ao contrário do que Guterres e Sócrates nos fizeram acreditar e nos fizeram pagar.

Com a redução do Estado e de todos empregos que gravitam à sua volta por falta de crédito, conjugado com a pouca afluência de investimento na formação de novas empresas que produzam alguma coisa e um desemprego estrutural pesado, a pressão para baixar ou não aumentar salários continuará, pelo que, por muito que os políticos "exijam" salários mais elevados, o mercado é que decidirá.
Paciência, é a realidade a impor-se.
Deus ex machina não funciona, por muito que experimentem.

A região de Lisboa, por estar muito dependente deste falso poder de compra, irá sofrer brutalmente...

Tiago Mestre

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro Tiago,

Há qualquer coisa aqui que me escapa! Se "O salário é tão só o preço do trabalho, e sendo um preço, este deve ser definido pelo mercado, ou seja, pela vontade de quem quer comprar e de quem quer vender" e se "Percebe-se pelo gráfico que a nossa produtividade por hora trabalhada é metade da verificada na Alemanha" então o salário médio auferido na Alemanha seria o dobro do salário auferido em Portugal!!! Pelo gráfico postado pelo nosso amigo Vivendi (http://vivendi-pt.blogspot.pt/2012/06/quadro-limiar-da-pobreza-salario-medio.html) o salário médio auferido na Alemanha é 4,15 vezes superior ao de Portugal!!! Será esta diferença entre 2 vezes e 4,15 vezes alicerçada pela condições que a Alemanha oferece?

Vivendi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vivendi disse...

Entrando na discussão,

Temos como principais pontos o seguinte:

o valor acrescentado dos produtos

custos de produção

financiamento/juros

a balança externa deficitária (parte do PIB português se perde em virtude do défice)

a elevada disparidade de rendimentos entre ricos e pobres que torna a economia portuguesa mais disfuncional, neste ponto afetando mais do lado do PIB, o PIB poderia ser maior se os salários fossem mais homogéneos na sociedade portuguesa.