11 de junho de 2012

"Buy the rumor, sell the news"

O que se passou hoje nas bolsas, nos mercados de obrigações e nos CDS é digno de registo:

Com o raiar do dia, o IBEX começou a valorizar mais de 5%, e a Europa foi atrás. Só o Bankia valorizava sozinho 18% !!!
Os investidores europeus chegaram aos seus escritórios, sentaram-se nas suas secretárias... e começaram por:
Ler as notícias,
Fazer perguntas e tentar respondê-las,
Ligar o Excel e fazer umas contas.

E eis a conclusão:
O resgate a Espanha irá impor condições muito desvantajosas a quem já possui obrigações do Estado espanhol, e porquê?
Porque esta recapitalização via emissão de obrigações EFSF ou ESM terá uma hierarquia sénior em caso de reestruturação das dívidas do Estado espanhol, ou seja, as obrigações EFSF/ESM emitidas não sofrerão haircut em caso de default. Já as obrigações espanholas detidas pelo resto do público, as SPGB's, não poderemos dizer a mesma coisa.

Sabem o que isto nos faz lembrar? A Grécia e o seu default de Março. Pois, os investidores ainda não se esqueceram.
É que na altura, quem ficou a perder foram as instituições privadas que detinham obrigações gregas e concordaram com o haircut de mais de 70%. Curiosamente as que não assinaram o acordo e mantiveram as obrigações "velhas" forem bem mais inteligentes, porque perceberam que o risco em não assinarem compensava as ameaças que a Grécia fez de que não iria pagar. O Estado grego continua a pagar a estas instituições como se nada tivesse acontecido, conforme explicámos aqui. Alguém da Grécia explicou mais tarde que não pagar a estas instituições "teimosas" seria muito mau, tendo em conta a turbulência que o país tem vivido nestes meses. Bingo!

Mas a imoralidade ainda é maior com as obrigações gregas detidas pelo BCE, FMI e EFSF, porque estas mantiveram-se intactas, sem problemas, apenas porque os líderes políticos assim o decidiram.

Estão a ver a imoralidade de tudo isto?
Lá porque eu sou uma instituição "pública", como o BCE ou o EFSF, fico de fora do haircut por decisão política, e todos os outros parolos privados que estão na fila têm que levar com os prejuízos.

Ninguém quer ficar na fila dos parolos, pelo que o melhor é sair dela tão rápido quanto possível. et voilá! cortesia ZeroHedge:




O hype matutino rapidamente se esfomou. Por volta da uma da tarde ninguém quis ir almoçar sem dar ordem de venda das obrigações espanholas que detinha. Por arrasto, as obrigações italianas tiveram o mesmo destino.

Ao fim do dia o IBEX (des)valorizava - 0,6%  Aaucchhh!
O Bankia 1,85%

A bolsa italiana FTSE MIB desceu 2,79% com muitos bancos a ficarem com as transações suspensas por quedas astronómicas ao longo do dia.

CDS a 5 anos de Itália e Espanha acima dos 550bps, pior do que quando o dia raiou.

Tempos houve em que os bailouts compravam meses, senão semestres inteiros. Há uns tempos só já compravam um mês se tanto, e ultimamente se comprarem semanas já não é mau. Este de que estamos a falar parece que comprou horas aos líderes políticos.

Eis mais um aforismo da gíria financeira que se adequa na perfeição ao que hoje se passou:
"Buy the rumor, sell the news."

É por tudo isto que achamos que é preciso dizer basta e acabar com esta farsa de ir fazendo de conta que os problemas se estão a resolver.
Eurobonds, Firewalls, Resgates, EFSF/ESM, FROB, União Política, Orçamento Único, Troika, são tudo sinónimos de um só tipo de intelecto: MEDIOCRIDADE.

Tiago Mestre

3 comentários:

Vivendi disse...

Apertem os cintos! Que a crise vai começar a sério em breve.

Sérgio disse...

Assim dá gosto ler artigos sobre economia, uma explicação excelente, com pés e cabeça.

vazelios disse...

Excelente Post Tiago.