25 de maio de 2012

Student Loans... ou empréstimos para estudar em português

Caros leitores e leitoras, tivemos conhecimento recentemente de que estão a ser concedidos empréstimos a cidadãos e cidadãs que estejam matriculados na universidade, desde que cumpram certos critérios.

Aparentemente o Estado aceita dar o seu aval aos créditos concedidos, diminuindo o risco para a instituição credora e favorecendo o devedor com spreads mais baixos.

Não havendo o aval do Estado, e os créditos para estudantes pouco se diferenciariam de um qualquer crédito ao consumo.

Mas com o aval, o estudante tem direito a períodos de carência e juros mais baixos. Muda tudo.

Na nossa opinião, mesmo que o mercado laboral estivesse de boa saúde, este tipo de instrumentos financeiros é um fardo de difícil perceção para quem contrai o empréstimo. O passivo que o indivíduo está a acumular ainda antes de ter condições para começar a liquidá-lo é deveras pernicioso. Os banqueiros, conhecendo como o esquema funciona, retiram dividendos de todo um processo que assenta na falsa perceção dos jovens de que tirar um curso superior, mesmo não tendo dinheiro para o fazer, é melhor do que não tirar curso nenhum.

Mas todos sabemos que o mercado laboral, sobretudo o das profissões que requerem estudos superiores, já conheceu melhores dias. Aliás, suspeitamos mesmo que poucos cursos haverá que possuam condições mínimas de empregabilidade.
Ou seja, se o aluno herda um passivo referente a um ato que perspetiva rentabilizar através do exercício de uma profissão no futuro, tal cenário só é viável se o futuro se realizar como se perspetivou.

Mas, e se o futuro se desenrolar de forma diferente e as perspetivas de empregabilidade não se efetivarem?

Bom, aí temos um problema, porque o Estado só garantiu o empréstimo, não garantiu a empregabilidade!

E é para nós este o grande "gato" de todo este esquema. Não é garantido que o futuro receba a energia que concedeu ao passado, aliás, é altamente improvável que o futuro venha alguma vez a receber essa mesma energia.

Este esquema é só de um sentido: a ruína para o devedor.

Para os quase devedores que eventualmente nos leiam, sugerimos que se preocupem primeiro em obter rendimentos próprios recorrendo a profissões que não exijam este grau de escolaridade, e só depois avançar para um projeto desta natureza.

Sobre o ensino superior em si mesmo, suspeitamos que grandes mudanças ocorrerão num futuro próximo, no sentido do encerramento de escolas superiores, politécnicos e até universidades. Nenhum político quererá assumir o encerramento per si, mas através de esquemas de fusões e outras criatividades que nos escapam, a água lá será conduzida ao moinho. Desta forma, a revolução opera-se forma silenciosa, e todos aqueles adolescentes e adultos mais desatentos, com vontade de estudar e sem dinheiro, poderão meter-se num beco sem saída.

A economia portuguesa, salvo honrosas exceções em certas áreas da engenharia, já pouco precisa de novos licenciados, e em muito desespera por serralheiros, eletricistas, canalizadores, técnicos de frio e eletrónica, eletromecânicos, agricultores, e muitos outros ofícios que não exigem curso superior.

Com o retrocesso da economia que esperamos evidenciar nesta década pelo menos, muitas profissões que exigem uma sociedade com um certo grau de complexidade desaparecerão. Simplesmente não haverá dinheiro para financiar atividades de caráter mais subjetivo ou menos importante para a nossa sobrevivência coletiva. As profissões que requerem cursos superiores serão, na nossa opinião, as mais afetadas.

Só estaremos disponíveis para pagar aquilo que verdadeiramente nos faz mais falta. O que é substituível ou dispensável deixará de ser relevante para as nossas vidas.

Tiago Mestre

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