28 de maio de 2012

BANKIA reforça o moral hazard europeu

Caros leitores e leitoras, num mundo em que gente rica, mas que erra nas apostas, é ajudada por gente tendencialmente pobre é porque algo não está certo.

O resgate estatal espanhol do BANKIA é mais um caso de ajuda de um Estado soberano, que não tem dinheiro para mandar cantar um cego, a uma entidade que, de livre consciência e sem pressões, decidiu investir fortemente no imobiliário.

Salvam-se os investidores à custa dos contribuintes, já de si depauperados e sem grandes perspetivas de futuro, a julgar pelo desemprego que graça em todas as faixas etárias.

Foi assim em 2008 nos EUA e em Portugal com o BPN, em 2009 na Alemanha com o Commerzbank , em 2010 na Irlanda e na Bélgica com o DEXIA, em 2011 novamente com o DEXIA, e em 2012 com o BANKIA.

Pelo meio, os bancos têm sido bafejados com liquidez ilimitada por parte do BCE e da Reserva Federal, mas também não é suficiente. As apostas que os bancos fizeram dariam lucros fabulosos caso se revelassem certeiras, mas ninguém quis ponderar os prejuízos caso corressem mal.

A juntar a todo este otimisto banqueiro tivemos a classe política, incapaz de agir nas horas difíceis, adiando o mais possível, e no último momento, optando pela salvação dos bancos com recurso ao único ativo tangível que os países ocidentais ainda possuem: os seus cidadãos e as suas depauperadas economias.

O BANKIA, como muitos outros bancos, DEVERIA IR À FALÊNCIA COMO QUALQUER OUTRA EMPRESA, POR MUITOS ESTRAGOS QUE TAL FENÓMENO INDUZA NA SOCIEDADE.

Mas não, nas condições atuais, salvam-se os incompetentes com o dinheiro dos competentes e pede-se aos dois que concorram "livremente" no mercado. Isto não é mercado, porque privar as companhias de fecharem as portas é uma amputação elementar às regras do mercado, bem como privá-las do sucesso dos seus investimentos. Fica uma espécie de fascismo liberal, como já o dissemos antes, em que as asneiras de uns e os sucessos de outros são "controlados" e "geridos" pelo estado omnipresente, continuando-se a pedir que concorram no "suposto" mercado livre.
Mas em que raio andam estes políticos a pensar?

A lei, quando nasce, deve ser igual para todos aqueles que estão inscritos na sociedade nas mesmas circunstâncias. Criar 2 tipos de regras distintas para gente que se apresenta nas mesmas condições é discriminar uns em benefício de outros.

A sociedade tem tolerado tudo isto porque acreditou, desde 2008, num fim maior que justificava todos estes atropelos: que tais resgates seriam em benefício de todos. Esta crença não perdurará para sempre, sobretudo quando os resultados estão tão distantes das promessas dos políticos.

Até quando?

Tiago Mestre

1 comentário:

Vivendi disse...

Temos de avançar para a liquidação dos bancos e acabar com as reservas fracionárias..

O Paulo Rosas num comentário no face explicou bem o mecanismo em curso e exemplificou com o BES.

Enquanto não sairmos deste mecanismo dificilmente a sociedade avança.