Caros leitores e leitoras, na tentativa de não assustar os mercados, os políticos metem-se em cada alhada que dá pena só de assistir.
Em 2008 foi Teixeira dos Santos e Vitor Constâncio a forçarem a nacionalização do BPN. Contra as indicações do então presidente do BPN, Miguel Cadilhe, que tinha tomado posse meses antes para tentar salvar o banco pela via... privada, o Estado armou-se em valentão e, julgando que a brincadeira não custaria mais do que 300 ou 400 milhões de euros, acabou por ir parar à módica quantia de 3 ou 4 mil milhões de euros. O erro foi gigantesco, contudo pouquíssima gente pode atirar pedras hoje, já que à época todo o espectro político, jornalístico e economistas de praça conformaram-se com a decisão. Lembramo-nos de Francisco Louçã, se não nos falha a memória, como sendo o único líder político a rejeitar esta proposta.
Compreendemos a decisão do governo: mais vale internar já o paciente do que deixá-lo arrastar-se pela via pública contaminando tudo e todos. Há quem aponte falhas na supervisão de Vítor Constâncio, contudo só quem lá está é que pode dizer se era possível ou não prever este tipo de eventos.
Mas o que interessa aqui não é tanto os fundamentos da decisão, mas sim os princípios éticos subjacentes à mesma. Basicamente optou-se, mais uma vez, pela solução mais fraca. O medo do contágio interferiu na racionalidade e nos princípios da boa gestão da coisa pública. O contribuinte, chamado à mesa, pagou e calou sem ter uma única palavra a dizer sobre o assunto.
Mas os políticos portugueses não estão sozinhos; eles são uma imagem quase perfeita da elite política europeia da atualidade: por terem edificado um projeto europeu tão grande e com tantas falhas, andam todos "cagados" de medo com a possibilidade de que ele possa ruir, e à primeira racha na parede, toca de intervir com pedreiros, trolhas, pintores, etc. Tapa-se o assunto, mas estruturalmente não se resolve nada. É por isso que é nossa convicção que o edifício terá que ruir ou tornar-se num fantasma impossível de albergar quem quer que seja.
E nesta senda de tapar rachas, tivemos no Verão quente de 2011 a 2ª intervenção estatal no banco DEXIA em 3 anos, carregando ainda mais os contribuintes belgas e franceses.
Mas 2012 trouxe outro presente no sapatinho: BANKIA, qual aglomerado de Cajas falidas. Também esta instituição foi "reorientada" em finais de 2010, sendo o resultado da fusão 7 Cajas de Ahorro.
O plano era "fixe": Fundem-se as Cajas, dá-se um nome atraente, tenta-se captar mais depósitos para colateralizar os empréstimos da bolha imobiliária, e vamos rezar para que a economia cresça, as casas valorizem, os empréstimos ganhem nova vivacidade e os devedores liquidem o que têm a liquidar.
Oops, saiu tudo ao contrário, o que em final de 2010 não era difícil de prever: desemprego disparou, imobiliário continuou e continua a desvalorizar, delinquência no crédito não pára e, a anunciar o canto do cisne: a fuga de depósitos para outras instituições bancárias, preferencialmente do Norte da Europa.
Perdendo o dinheiro dos depósitos, retira-se a única fonte viável de colateralização dos empréstimos. Sem esta energia só já resta o recurso abusivo aos empréstimos do BCE, que ajudam na liquidez, mas que agravam o balanço dos bancos. Os mercados estão atentos e não perdoam.
Quando o BANKIA foi nacionalizado no início de Maio, as autoridades espanholas afirmavam que a instituição era solvente.
Semana e meia depois já precisava de 4,5 mil milhões de euros.
A 23 de Maio a fatura ascendia a 9 mil milhões de euros
E a 24 de Maio, ONTEM, o valor ia em 15 mil milhões de euros. Cronologia e fontes aqui.
É A LOUCURA DESCONTROLADA.
É brincar com o povo, é enganar e dissimular para salvar a pele e manter o status quo só mais uns tempos.
Em qualquer tomada difícil de decisão, como esta em que "nacionalizo ou não nacionalizo"; as coisas passam-se mais ou menos assim:
Se nacionalizo já amparo o problema já, com eventuais repercussões negativas num futuro incerto.
Se não nacionalizo, o problema avoluma-se já, rebenta nas minhas mãos, posso perder eleitores e o lugar, deixo de receber salário, mas tomo a decisão moralmente correta que só terá benefícios num futuro incerto e talvez distante.
Decidir nestas condições E OPTAR pela 2ª não é para qualquer um; é só para quem é estadista e tem "tomates" do tamanho do mundo.
Não é preciso ser-se muito inteligente nem possuir doutoramento em economia. É preciso coragem, e isso não se aprende na escola.
Em tempos, o governador do Banco do México, a propósito dos políticos mexicanos lhe pedirem para imprimir pesos, ele informou: Só por cima do meu cadáver!
Foi rapidamente substituído por outro governador.
É por isso que acreditamos que o adiamento das decisões difíceis e o recurso à impressão de dinheiro continuarão a fazer parte da nova ordem mundial, até, até... a coisa rebentar por algum lado...
Continuamos a apostar num cenário de hiper-inflação, mesmo num mundo onde os ativos se desvalorizam de dia para dia!
Parece paradoxal, mas é o que nos cheira.
Tiago Mestre
2 comentários:
Sinceramente duvido que a razão tenha sido o contágio na nacionalização do BPN.
Havia muito empréstimos a muita gente da nossa praça, muitos com depósitos no banco, que era necessário salvar e não atrair atenções, ou não fosse um banco gerido por políticos para políticos.
O governador da altura não tem desculpa, é um dos que se orientou desde o inicio do 25abril, sem categoria nenhuma.
Na mouche Filipe!
O BPN parece-me a mim era perito em off-shores.
Enviar um comentário