16 de maio de 2012

É por causa destes gráficos que Portugal se entalou

Caros leitores e leitoras, Portugal foi um caso de estudo na última década acerca do que não se deve fazer em matérias como rigor orçamental e disciplina financeira.

Muita gente acusa os mercados, e já agora, a falta de estímulo por parte do governo para com a economia, como as principais causas do atual estado de coisas em Portugal. A esquerda diz que o governo é insensível ao desemprego e ao colapso da economia, a direita diz que a austeridade é necessária por várias razões, enfim, um rol de argumentos que no mínimo, deixa confusos os portugueses.

Para ajudar na desmistificação, recorremos novamente ao blog Zerohedge, que é talvez a plataforma de internet mais interessante do planeta sobre economia, política e finanças públicas, para nos ajudar a compreender como está a situação fiscal de Portugal e respetiva comparação com outros países:

Este gráfico informa-nos acerca da dívida pública de cada país em função do seu PIB:

Neste gráfico vemos quanto "comem" os juros da dívida à receita global do Estado
E neste temos o "bolo" total da dívida pública em função da receita total do Estado num ano
De todos eles salta à vista a posição insustentável do Japão.
A austeridade só ainda não chegou lá porque 95% da dívida pública é detida por entidades domésticas: 45% cidadãos japoneses e 55% entidades financeiras, se não nos falha a memória. Ainda vivem imunes à desconfiança externa, mas embarcaram na manipulação das manipulações, porque a confiança interna nestas obrigações aconteceu muito por "culpa" do superavit externo, ou seja, por serem muito exportadores e pouco importadores, estava sempre a entrar mais dinheiro do que a sair, e era preciso fazer alguma coisa com ele. Enfiaram-no nas obrigações "seguríssimas" do Estado, mas desde 2010 que o superavit se transformou em deficit, e o dinheiro começará a escassear para as obrigações, já que é preciso "arranjá-lo" para o entregar ao exterior. O Bando do Japão tem compensado a diferença com a impressão de dinheiro, pelo que este país é um forte candidato à hiper-inflação do século XXI.

E Portugal?
Nós entrámos no pelotão dos mais ricos em todos estes indicadores que acima referimos, mas com uma diferença: nós somos pobres. O nosso PIB per capita está muito abaixo deste pelotão da frente, o crescimento do PIB é ZERO e a nossa dimensão política é curta. Ou seja, enquanto que os outros estão "atolados de dívida até ao pescoço" mas ainda possuem algum músculo para irem sobrevivendo, já nós não é assim. Não geramos a tal riqueza que é tão necessária para aguentar tão pesado fardo.

Estamos no TOP 8 dos países com mais dívida e mais encargos com ela. Pior que nós e da nossa dimensão só mesmo a Grécia. E mais uma vez perguntamos: E porque é que isto aconteceu?

Porque os políticos acreditaram que com o EURO era sempre a abrir e o céu era o limite. Aliás, ainda continuam a acreditar, a julgar por este novo ímpeto de crescimento vs austeridade que tomou as consciências de alguns líderes europeus.
Só os investidores é que saíram da "carruagem", primeiro em 2010 com a Grécia e a Irlanda, depois em 2011 com Portugal, Itália e mais recentemente, em 2012, a Espanha.

E não terão os investidores razão olhando para os gráficos? Nós achamos que sim.
Os EUA e o Reino Unido só não entraram ainda no furacão porque imprimem que nem desalmados, criando uma capa que camufla os seus problemas. Estão a corroer a confiança da moeda na esperança de sobreviver mais um dia, e Obama ainda tem a "lata" de vir dizer que os EUA tomaram as decisões certas a tempo e que a Europa não... Santa paciência!

Acham que sem o EURO teria sido dada a liberdade aos políticos portugueses para embarcarem neste sonho da dívida? Nós não achamos, e com isso não teríamos adiado o inevitável e agravado a nossa posição fiscal. Portugal ter-se-ia reestruturado há muito mais tempo. A austeridade não seria uma opção, mas sim a única opção. O EURO é uma espécie de PAI ausente, mas que gosta de evidenciar aos seus amigos que o seu filho PORTUGAL é um espetáculo, nunca cheira mal!

Tiago Mestre

7 comentários:

Vivendi disse...

Tiago,

Faz o exercício juntando esses gráficos com a dívida privada e temos Portugal na estratosfera.

E depois pergunta-te desde quando e quem foi o responsável por isso!

Filipe Silva disse...

Dois artigos de opinião fantásticos mas assustadores.

Porque assustadores? é a realidade que é assustadora? Sim mas não é isso que me assusta.

Então que me assusta?

O facto de que os que tem poder para fazer alguma coisa, não percebem o que se esta a passar.

Falam bem do Gaspar, mas é uma nulidade, continua se a tentar gerir a situação, os nossos credores também não ajudam, dado que elogiam o governo, quando este nada fez a não ser aumentar impostos.

Vivemos num estado confiscatorio, a despesa não desce, porque o Passos não tem "tomates" para fazer o que é preciso ser feito.
Pena não termos pessoas como a Thatcher que fez o que entendia necessário ser feito, e vergou os sindicatos.
É necessário vergar os interesses instalados.

Se nada for feito, teremos o PS no governo em pouco tempo a aniquilar de vez o país

Tiago Mestre disse...

Bem, nem me tinha ocorrido esse cenário do PS no poder. Ai

Eu que sou um libertário que está ali entre a esquerda responsável e a direita não corporativa, até me arrepio só de pensar em ver o Seguro a implorar mais crescimento à Europa..


A sugestão do vivendi em colocar gráficos da dívida total portuguesa em comparação com outras é algo que já me ocorreu, mas ainda não as encontrei. Mas sei, tal como o vivendi, que o retrato fica ainda pior, ficaremos talvez no Top 3

Vivendi disse...

desde quando e quem foi o responsável por isso!??

Vivendi disse...

desde quando e quem foi o responsável por isso!??

Tiago Mestre disse...

Na minha opinião, foi muita, muita gente:

Parlamento é o primeiro culpado por aprovar as leis.

Seguido dos vários executivos que sugeriram as leis.

Depois os presidentes da República porque as promulgam.

Assessores e ilustres conselheiros de Estado que são pagos para dar opiniões.

Top4, penso eu

Já vamos em 300 ou 400 "alegados" suspeitos..

Vivendi disse...

escreve democracia! tudo isto foi possível com a democracia e com o apoio dos eleitores.