10 de maio de 2012

Irmãos germânicos - ainda estão a tempo...

Caros irmãos germânicos,

Nós aqui em Portugal temos uma paixão por receber dinheiro a troco de nada. Habituaram-nos assim desde o 25 de Abril, e realmente, a ideia é cativante:

Não ter que aturar o chefe,
ou cumprir horários,
poder ir buscar os miúdos à escola às 15h,
dormir até tarde,
e ainda assim pagarem-nos para vivermos.

São ociosidades difíceis de resistir. Somos 50% a trabalhar para os outros 50%, sendo que dos que trabalham, a maioria opera no setor terciário, altamente consumidor e pouco exportador.

Não há dia que passe que esta nossa insustentável economia não precise dos frutos da vossa produtividade.
Vocês sabiam que iria ser assim. Ontem publicámos aqui excertos de uma história que prova que a vossa elite estava a par destes desequilíbrios e que mesmo assim não hesitou em atirar-se de cabeça para o euro.

Mas como sabem, há limites para tudo. Tanto há limites para a nossa insustentabilidade como há limites para a vossa sustentabilidade.

Estando nós preocupados com o vosso sucesso económico, sugerimos que atentem para o gráfico abaixo, onde estão representadas as dívidas de outros bancos centrais (do Sul da Europa) para com o vosso banco: o Bundesbank


Se estão com dúvidas acerca das consequências de uma curva exponencial, sugerimos a visualização deste filme no Youtube: http://www.youtube.com/watch?v=F-QA2rkpBSY

No caso de algum país do Sul sair do Euro, podem já começar a fazer contar aos prejuízos. O gráfico já vai em 25% de vosso PIB.

Antes que percam a paciência, sim, porque enquanto nós, os do Sul, deitamos sempre tudo cá para fora, e assim purgamos diariamente as angústias, vocês guardam, guardam, e tal como uma panela de pressão, quando rebentam é de uma só vez, com resultados que ainda há 70 anos se viu no que deu.

Por vos conhecermos e por não querermos voltar a repetir as mesma histórias do século XX, até porque já chateia, sugerimos que façam algo de diferente desta vez:

Reconheçam os vossos e os nossos erros, e desistam, porque ainda vão a tempo, da manutenção deste projeto que, como explicámos ontem, veio com um enorme defeito à nascença.

A correção dos erros deveria ter sido feita em tempos de paz e de prosperidade, mas com falta de vontade política, tudo acaba por se adiar até ao momento em que a verdade se impõe toda de uma só vez. Oops, aí já é tarde demais e só nos resta fugir dos estilhaços; se conseguirmos, claro!

Tiago Mestre

2 comentários:

vazelios disse...

O aspecto mais gritante sobre as curvas exponenciais e o crescimento anual é o crescimento das empresas.

TODAS, sem excepção, tinham de crescer double digit antes de 2008 ou então era o caos.

Crescer double digit...até quando?

É a chamada concorrência. Tudo bem, uns ganham outros perdem, temos de ser os melhores.

Mas no extremo cresce a minha empresa, acabo com a concorrência, fico monopolista, continuo a crescer, mas há de haver uma altura em que não poderei crescer, excepto num mundo onde os recursos são infinitos e onde o crescimento da população e do espaço disponivel para habitação crescesse na mesma medida.

Como ainda não encontramos outro planeta habitavel...

Mas aceito a tua sugestão Tiago e perguntavamos ao Monsieur Hollande para que planeta vamos crescer.

É que já agora dou um reparo: Logo a França, que se não me engano está no top5 mundial da esperança media de vida, país estagnado e com divida monstruosa, descer a idade da reforma para os 60 anos. E criar 150.000 postos de trabalho, pois claro. esse numero deve ter qualquer coisa de mágico porque é sempre usado nas campanhas eleitorais.

É de rir (ou chorar).

Vivendi disse...

Eu acho que a corda vai arrebentar pelo lado mais fraco. Grécia primeiro e passado um tempo começam a tratar depois de Portugal e por aí fora.

Os resultados económicos do trimestre alemão foram bons apesar da austeridade a sul...

Agora vai ser um marcha lenta de destruição para não haver grande estrondos.