4 de maio de 2012

Deve o BCE ser credor de último recurso dos estados?


A propósito do debate que o blogue Massa Monetária do Negócios promove com a pergunta:

"O BCE deve ser credor de último recurso dos Estados?"

... e após termos refletido mais um pouco sobre o assunto, consideramos que é realmente uma falsa questão esta suposta "ajuda" do BCE aos Estados. Ninguém pode ajudar ninguém com aquilo que não tem. 

Qualquer deputado ou ilustre representante da vida política que defenda esta ideia está a vender ao povo "gato por lebre". Lamentamos dizer isto, até porque o deputado do PS João Galamba, defensor desta ideia, é tido por nós em boa conta. O escrutínio deste para com o Ministro das Finanças nas Comissões de Finanças do Parlamento revela o seu empenho em fazer o "trabalho de casa".

Sabemos também do desespero dos políticos em captar financiamento para financiar despesas e déficit's, mas quanto mais depressa abandonarmos estas pseudo-muletas, mais cedo arrepiamos caminho.

Remetemos abaixo o nosso comentário publicado ontem no blog do Negócios, com alguns acrescentos:

O BCE possui capital de 80 mil milhões de euros, contributo de cada país da UME. Os seus ativos (tóxicos) caminham para os 3 triliões de euros, o que dá um alavancamento de mais de 30 vezes.
O BCE É JÁ HOJE um banco de últimos recurso, mas sem recursos, porque os países aderentes não conseguem injetar mais capital no banco. Com esta farsa financeira de emprestar dinheiro sem ter capitais próprios, a credibilidade do balance sheet do BCE aos olhos de qualquer consultor financeiro internacional reduziu-se a ZERO.

...Ah, mas o BCE pode imprimir dinheiro...

Pois pode, mas imprimir dinheiro não é a mesma coisa que TER dinheiro.
Parafraseando Adam Smith:
"Creio que, em todos os países do mundo, a mesquinhez e injustiça dos príncipes os tem levado a reduzir gradualmente, abusando da confiança dos seus súbditos, a verdadeira quantidade de metal que as moedas tinham originalmente contido."
Esta explicação retirada do livro " A Riqueza das Nações" pode reduzir-se apenas numa palavra: 
Inflação - excesso de oferta conjugado com défice na procura.

...Ah, mas se não for o BCE a sustentar o financiamento dos Estados, a sociedade e o Estado social colapsam, atirando o povo para a miséria, fome, indigência, etc, etc.

Exatamente. É mesmo isso que acontecerá, só que quanto mais tarde adiarmos a questão, mais irreversível e calamitosa se tornará a sua implementação.
Mais cedo ou mais tarde o sistema FIAT entrará em descrédito pela população por ter sido manipulado vezes sem conta já antes de 15 de Agosto de 1971, mas sobretudo à escala planetária depois desta data em que Nixon aboliu o padrão dólar/ouro (35$/oz).
Desde o acordo de Bretton Woods na década de 40 até aos dias de hoje o dólar já perdeu mais de 90% do seu valor!

Quer queiramos quer não, quem se esquece dos princípios morais e age enganando subrepticiamente o próximo, verá essa iniquidade aparecer mais à frente para o atormentar.

Este assunto não tem que ver com confronto de ideologias de esquerda versus direita. Tem antes que ver com  quem defende os princípios mais básicos da moralidade e quem os repudia. Tudo o resto é entretenimento.

Tiago Mestre

2 comentários:

vazelios disse...

Tentei lá deixar o meu contributo mas só expôs parte dele e como não fiz copy...

É uma questão que parece complicada mas que no fundo trata-se de opções.

Aa minha opção é não e vou explica-la e de seguida vou fazer uma analogia que em tempos a classificaram como "ridicula" mas que penso que se adapta bem.

1º o BCE não tem dinheiro.

2º Não tendo, tem de imprimi-lo, gerando inflação.

3º É o que o FED anda e andou a fazer desde muito cedo, e quem anda atento sabe que os EUA têm problemas (ou dividas) colossais, muito maiores que os Europeus, que apenas estão por detrás da cortina, e também porque os EUA têm uma capacidade de produção e de se autorenovar diferente da nossa. Ainda assim, quem sabe e quem manda, não deverá varrer para debaixo do tapete gerando mais divida, criando dinheiro.

4º Keynesianismo não funciona, como já foi referenciado várias vezes aqui, em economias abertas e globalizadas. Salvou o mundo uma vez, mas não é solução agora. O dinheiro injectado simplesmente não fica na economia do país ou da zona em questão.

5º Em vez de varrer para debaixo do tapete, temos de criar um novo sistema economico, a escola Austriaca

6º Aliado a um novo modelo economico, impõem-se um novo modelo social - A Democracia Responsável - Onde os governantes, sob pretexto algum excepto em caso de guerra ou catastrofes, eram impedidos de exceder certo deficit anual. Em caso de incumprimento, eram afastados do cargo ou até julgados criminalmente, se se justificasse.

7º Os países têm sim de desenvolver uma nova mentalidade, reduzir a divida e situa-la a níveis normais. Depois disso, explicar e ensinar ao seu povo a mesma mentalidade, fomentar a poupança, evitar sobre-endividamento, refrear o consumo desenfreado, etc..

vazelios disse...

A analogia que uma vez fiz foi a seguinte:

Nós Portugueses somos como um filho de Portugal, a Europa o avô.

Como será para Portugal se tiver 10 filhos, em que apenas 5 têm capacidade para trabalhar e contribuir para o orçamento familiar.
Desses 5, 1 (ou 1 e meio...) estão desempregados. Dos outros 5, 3 estão reformados e têm de receber pensões, os outros 2 são jovens com menos de 18 anos que ainda estão sob custodia dos país, e portanto, a consumir recursos que estes angariam.

Agora o pai (Portugal) tem tido o orçamento familiar a crescer em média 1% ao ano, nos ultimos 10 anos. E tem-se endividado em média a 5% ao ano nos ultimos 10 anos, isto principalmente porque o que os filhos produzem e trazem para casa não é suficiente para pagar aos outros filhos e tratar da educação, saúde de todos. Num espaço temporal mais recuado, nos ultimos 30 anos Portugal gastou sempre mais do que ganhou.

Os filhos reclamam por mais dinheiro, querem comprar comida, brinquedos novos (casas, carros).

Portugal não tem e portanto vai pedir ao avô.

O avô não tem.

Juntam-se então numa reunião familiar onde as opções são (ditadas pelo avô):
- Ou nós, como familia, nos habituamos a gastar menos durante uns anos, para equilibrarmos as contas, podermos poupar mais para depois termos almofadas financeiras para investir e consumir razoavelmente.
- Ou vamos pedir emprestado. Nos bancos (mercados) já não nos emprestam, porque já nos endividamos demais, mas o avô faz magia e consegue criar dinheiro. O problema é que com muito dinheiro criado este pode perder valor, os produtos e brinquedos ficam mais caros, e ficam-me a dever dinheiro na mesma.

Mais, posso fazer já isso e o nosso orçamnto familiar pode crescer, se vos der dinheiro vocês investem, consomem, crescem, mas devem-me mais. Se não quiserem dinheiro já, habituem-se à ideia e pode ser que daqui a uns anos voltem a ter dinheiro disponivel para consumir.

No fundo é assim: Querem continuar a festa ou querem crescer e tornar-se homenzinhos?

Que decidem?





Meus caros, será assim tão ridicula? Salvo as devidas comparações e excepções, Portugal não é como uma grande familia? Uma familia onde todos discutem uns com os outros, todos querem tudo e ninguém quer dar nada.

Haverá alguma pessoa sensata que se tivesse nesta situação familiar fosse pedir para nos darem mais dinheiro? (porventura até há muitos)

A opção viavel, se não fosse na nossa familia, não era refrear o consumo?

Porque não fazemos o mesmo como sociedade?

Ninguém é o "PAI" disto tudo, ninguém pôe ordem, ninguém diz a verdade.

Desculpa Tiago invadir o teu blogue e inundá-lo com este monstro testamento!

Um abraço