16 de maio de 2012

Grécia vs Credores teimosos

Nunca mais se falou das consequências do acordo entre a Grécia e os credores a propósito do perdão da dívida. Já lá vão quase 2 meses.

Especulava-se sobre o que aconteceria àquelas instituições que "apostaram" em não entrar no acordo e que possuíam obrigações denominadas em uk law. Como se sabe, as obrigações sujeitas a esta lei não foram objeto de alteração pelo parlamento grego. Apenas as obrigações denominadas na lei grega o foram para que o incumprimento unilateral não fosse declarado. Mas mesmo assim, 69% dos credores que detinham obrigações uk law submeteram-se ao acordo, como referimos a 9 de Março.

Havia alguma espetativa de quem seria o vencedor deste braço de ferro: A Grécia ou os credores?

Pois terça-feira fica para a história como a dia do pagamento de 435 milhões de euros de obrigações denominadas em UK law... e a Grécia lá se calou e PAGOU.
Quem venceu? Os CREDORES que esperaram.

Ao que parece, 95% desde valor refere-se a obrigações detidas por um fundo especialista em obrigações quase-delinquentes: Dart Management, sediado nas Ilhas Caimão. E é aqui que a "coisa" aquece!

Este fundo granjeou reputação neste tipo de operações tipo braço de ferro. As suas armas são a força da litigância, ou seja, colocam países soberanos em tribunal caso estes não cumpram as suas obrigações e levam o assunto até às últimas consequências.

Certamente que compraram todas as obrigações uk law que puderam, "armaram-se até aos dentes" e esperaram pelo veredicto. Como compraram as obrigações quando estas já estavam em fase de pré-delinquência, o seu valor era já muito baixo e juro não era nem de 5 nem de 10%. Dependendo das maturidades, devem ter recebido juros a rondar os 100%, ou seja, compraram 100 milhões de euros de obrigações e receberam 100 milhões de euros em juros, por exemplo. Nada mau...

A Grécia perdeu, os gregos perderam, mas quem mais perdeu foram os credores que acreditaram na lenga-lenga do tal acordo e o assinaram.
Com a troca de obrigações velhas por novas, as perdas para os credores ascenderam a 72% no dia da assinatura. Mas se adicionarmos as perdas das "velhas" com as perdas a que as "novas" já se submeteram no mercado secundário desde esse dia até hoje, as perdas totais já vão em... 90%
Ou seja, as novas obrigações gregas que ainda nem têm 3 meses já perderam 50% do se valor. Aauuch!





Não são boas notícias para os bancos portugueses que assinaram o acordo...
Às vezes, ficar quieto é a melhor estratégia.

Esta história poderá muito bem servir de lição para os próximos credores que forem submetidos a um "pedido" de perdão de dívida por um qualquer país europeu. Não acreditem no bluff europeu, por favor, e já agora, vendam as obrigações denominadas em lei nacional e comprem obrigações denominadas em uk law.


Notícia aqui

No caso português, lemos em tempos que as obrigações portuguesas estão quase todas denominadas em uk law !!

Tiago Mestre

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