De William Banzay7
31 de maio de 2012
Caros amigos e amigas...
...pregar hoje a austeridade é como pregar no deserto
Não desistam...
Tiago Mestre
Silva Lopes também já abandonou a austeridade, infelizmente!
Caros leitores e leitoras, o Dr. Silva Lopes, reputado economista da nossa praça, veio hoje dizer à Lusa que afinal a austeridade apregoada pelos alemães será um desastre para nós, e que se não mudarmos de política estamos arrumados.
Lamentamos mais uma vez que economistas que ainda há ano e meio reforçavam a necessidade de por as contas públicas em ordem venham agora dizer que essa política é insustentável e que se deve inverter o quanto antes.
Se a austeridade é insustentável, então que o afirmassem na altura e assumissem as consequências da sua opção ideológica. Mas tal não era possível, porque era preciso "malhar" em alguém, e esse alguém tinha um nome: José Sócrates.
Além disso, percebemos agora que afinal as suas posições ideológicas eram fracas, porque apenas olhavam para o lado do excesso de despesismo sem correlacioná-lo com a economia. "Acreditavam" que retirando umas gorduras aqui e umas despesas a mais acolá que a economia pouco se iria ressentir e tudo continuaria sobre rodas.
Como os leitores já perceberam, aqui no Contas somos a favor do equilíbrio das contas públicas, mas temos a noção dos riscos e das consequências que tal decisão promove, e por termos consciência delas é que não nos cansamos de alertar as pessoas para se prepararem.
Não concordámos com as opções de José Sócrates no que respeita a contas públicas, mas há que reconhecer a sua coerência.
Agora esta gente que só está bem a "malhar" em alguém, virando a casaca conforme lhe dá jeito, é que nos tira do sério.
E já agora questionamos Silva Lopes: Então se é para abandonar a austeridade, qual deverá ser a política a adotar?
Impressão infinita de dinheiro?
Pedir emprestado ao BCE, ao ESM e ao EFSF até cair para o lado?
Tiago Mestre
Lamentamos mais uma vez que economistas que ainda há ano e meio reforçavam a necessidade de por as contas públicas em ordem venham agora dizer que essa política é insustentável e que se deve inverter o quanto antes.
Se a austeridade é insustentável, então que o afirmassem na altura e assumissem as consequências da sua opção ideológica. Mas tal não era possível, porque era preciso "malhar" em alguém, e esse alguém tinha um nome: José Sócrates.
Além disso, percebemos agora que afinal as suas posições ideológicas eram fracas, porque apenas olhavam para o lado do excesso de despesismo sem correlacioná-lo com a economia. "Acreditavam" que retirando umas gorduras aqui e umas despesas a mais acolá que a economia pouco se iria ressentir e tudo continuaria sobre rodas.
Como os leitores já perceberam, aqui no Contas somos a favor do equilíbrio das contas públicas, mas temos a noção dos riscos e das consequências que tal decisão promove, e por termos consciência delas é que não nos cansamos de alertar as pessoas para se prepararem.
Não concordámos com as opções de José Sócrates no que respeita a contas públicas, mas há que reconhecer a sua coerência.
Agora esta gente que só está bem a "malhar" em alguém, virando a casaca conforme lhe dá jeito, é que nos tira do sério.
E já agora questionamos Silva Lopes: Então se é para abandonar a austeridade, qual deverá ser a política a adotar?
Impressão infinita de dinheiro?
Pedir emprestado ao BCE, ao ESM e ao EFSF até cair para o lado?
Tiago Mestre
30 de maio de 2012
Bunds alemãs a 0% são um sintoma da crise, e não um modo da Alemanha ganhar com a ela!
A recente notícia de que a taxa de juro das bunds alemãs com maturidade a 2 anos atingiu os 0% tem um nome: FUGA DE CAPITAIS.
Esta é a nova realidade da crise europeia, em que o medo de parquear o dinheiro nas obrigações da periferia ou em ações de bolsas ou em outro qualquer outro produto volátil é muito grande.
Toda esta transferência de capitais faz-se a uma velocidade tal que dificilmente os burocratas lhe tomam o "cheiro".
O Banco Central Suíço já estuda a necessidade de controlo de capitais, receando a afluência massiva de euros em troca dos valiosos francos suíços.
As bunds a 2 anos com juro de 0%, contrariamente ao que muita gente comenta, não é coisa boa para a Alemanha, porque tal "insanidade" financeira é consequência da insanidade política e económica que a Europa atravessa.
A Alemanha, em garantias para o ESM, o EFSF, 1º resgate da Grécia, LTRO e TARGET2 já ultrapassa os 30% do seu PIB.
Não são as Bunds a 0% que compensam todos estes compromissos já assumidos.
Tiago Mestre
Esta é a nova realidade da crise europeia, em que o medo de parquear o dinheiro nas obrigações da periferia ou em ações de bolsas ou em outro qualquer outro produto volátil é muito grande.
Toda esta transferência de capitais faz-se a uma velocidade tal que dificilmente os burocratas lhe tomam o "cheiro".
O Banco Central Suíço já estuda a necessidade de controlo de capitais, receando a afluência massiva de euros em troca dos valiosos francos suíços.
As bunds a 2 anos com juro de 0%, contrariamente ao que muita gente comenta, não é coisa boa para a Alemanha, porque tal "insanidade" financeira é consequência da insanidade política e económica que a Europa atravessa.
A Alemanha, em garantias para o ESM, o EFSF, 1º resgate da Grécia, LTRO e TARGET2 já ultrapassa os 30% do seu PIB.
Não são as Bunds a 0% que compensam todos estes compromissos já assumidos.
Tiago Mestre
A Quinta (Parte 2 - A Criação)
Também há animais, alimentados sobretudo com os produtos cultivados na quinta e em terrenos próximos:
Milho, aveia, palha, abóbora, courgettes e couves, muitas couves.
Nada se perde!
Tiago Mestre
Milho, aveia, palha, abóbora, courgettes e couves, muitas couves.
Nada se perde!
O guarda
Galinhas de várias "etnias" coabitando pacificamente
Galinhas e patos circulando livremente. Estes 3 já nasceram na Quinta
Pata a chocar ovos
O borrego e a ovelha recentemente tosquiados
A cabra com mais personalidade que nós alguma vez conhecemos. Até se faz à fotografia.
A amiga malabarista
2 belos exemplares, um preto e uma branca, que já tem data marcada para Junho
A Quinta (parte 1 - A agricultura)
Prometemos há 2 semanas ao nosso mui estimado leitor Vivendi que faríamos um post com imagens da Quinta onde demos início a um projeto de agricultura há 2 anos.
Qual é o objetivo?
Menor dependência dos bens e dos preços que são "geridos" em mercados mundiais
Muito temos falado aqui no Contas sobre a necessidade de produzirmos mais e de importarmos menos. Com este post pretendemos dar o nosso exemplo.
Enquanto nos mantivermos no Euro e neste esquema de controlo de quotas de produção agrícola, a pequena exploração será sempre de difícil rentabilidade, mas por algum lado havemos de começar. Há muito para aprender na arte da cultura agrícola e animal, pelo que quanto mais cedo se começar, melhor.
Caso os mercados mundiais de bens primários entrem em sérias dificuldades e os preços subam vertiginosamente, uma exploração agrícola é sempre um amortecedor destas volatilidades.
Caso os mercados não sofram problemas de inflação de preços nem de escassez de bens nos próximos tempos, é sempre interessante explorar aquilo que é nosso, ajudando a reduzir as importações e tornando o país e a nossa comunidade mais sustentáveis:
Faremos outro post com os animais
Tiago Mestre
Qual é o objetivo?
Menor dependência dos bens e dos preços que são "geridos" em mercados mundiais
Muito temos falado aqui no Contas sobre a necessidade de produzirmos mais e de importarmos menos. Com este post pretendemos dar o nosso exemplo.
Enquanto nos mantivermos no Euro e neste esquema de controlo de quotas de produção agrícola, a pequena exploração será sempre de difícil rentabilidade, mas por algum lado havemos de começar. Há muito para aprender na arte da cultura agrícola e animal, pelo que quanto mais cedo se começar, melhor.
Caso os mercados mundiais de bens primários entrem em sérias dificuldades e os preços subam vertiginosamente, uma exploração agrícola é sempre um amortecedor destas volatilidades.
Caso os mercados não sofram problemas de inflação de preços nem de escassez de bens nos próximos tempos, é sempre interessante explorar aquilo que é nosso, ajudando a reduzir as importações e tornando o país e a nossa comunidade mais sustentáveis:
Couves em pleno desenvolvimento
Courgette em formação
Couve já formada
Alfaces prontas para ir para o prato
Já se vêem os tomates...
Batatas quase prontas para se apanharem
Cebolas
Milho
Feijão a trepar
Tiago Mestre
Rajoy leva um NÃO do BCE
Aparentemente, o plano de Rajoy para salvar o Bankia minimizando a contribuição dos contribuintes em todo o processo foi chumbado pelo BCE.
O golpe era mais ou menos este:
O Governo espanhol injetava 19 mil milhões de euros de obrigações soberanas no Bankia sem que este tivesse que as pagar. Uma espécie de adiantamento.
O Bankia agarrava nessas obrigações espanholas e usava-as como garantia junto do BCE para obter financiamento a 3 meses.
Ficámos sem perceber o que faria o Bankia com esse dinheiro:
Se seria para adquirir as obrigações espanholas que o governo lá colocou;
ou será para financiar outras atividades correntes deixando para mais tarde o pagamento dessas obrigações.
O BCE não foi na conversa porque deve ter considerado que as obrigações são um instrumento que envolve uma transacção, ou seja, toma lá as obrigações, dá cá o dinheiro.
Rajoy até foi criativo, mas o barro não colou.
Tiago Mestre
O golpe era mais ou menos este:
O Governo espanhol injetava 19 mil milhões de euros de obrigações soberanas no Bankia sem que este tivesse que as pagar. Uma espécie de adiantamento.
O Bankia agarrava nessas obrigações espanholas e usava-as como garantia junto do BCE para obter financiamento a 3 meses.
Ficámos sem perceber o que faria o Bankia com esse dinheiro:
Se seria para adquirir as obrigações espanholas que o governo lá colocou;
ou será para financiar outras atividades correntes deixando para mais tarde o pagamento dessas obrigações.
O BCE não foi na conversa porque deve ter considerado que as obrigações são um instrumento que envolve uma transacção, ou seja, toma lá as obrigações, dá cá o dinheiro.
Rajoy até foi criativo, mas o barro não colou.
Tiago Mestre
29 de maio de 2012
Imprensa internacional já perdeu o pudor acerca da fuga de capitais na Europa
Hoje temos a confirmação de que muita imprensa internacional na área económica já fala "normalmente" da fuga de capitais que está a ocorrer nos bancos da periferia europeia.
CNBC e Bloomberg já não hesitam em abordar este assunto tão sério.
Em complemento, a imprensa também reforça a incapacidade dos governantes europeus em prever e antecipar cenários desta natureza.
Está definitivamente em cima da mesa a fuga de capitais e a corrida aos bancos.
A crise europeia entrou mesmo numa nova fase.
Tiago Mestre
CNBC e Bloomberg já não hesitam em abordar este assunto tão sério.
Em complemento, a imprensa também reforça a incapacidade dos governantes europeus em prever e antecipar cenários desta natureza.
Está definitivamente em cima da mesa a fuga de capitais e a corrida aos bancos.
A crise europeia entrou mesmo numa nova fase.
Tiago Mestre
Bloomberg explica o que se está a passar em Espanha
Num artigo espetacular da Bloomberg online, Andrew Blackman desenvolve a história que explica as relações de promiscuidade entre os bancos espanhóis, o Banco de Espanha, os promotores e os empreiteiros.
A não perder aqui
Tiago Mestre
A não perder aqui
Tiago Mestre
Instituições bancárias cobram muito mais em comissões e spreads
A propósito da polémica decisão do Tribunal de Portalegre que foi amplamente debatida aqui no Contas, escrevemos algumas das potenciais consequência indiretas deste tipo de decisões, e uma delas foi esta:
3. A decisão é perigosa porque os bancos credores terão que se adaptar à potencial barragem de créditos delinquentes e imóveis que lhes espera, adoptando estratégias de sobrevivência como a subida de spreads a toda a gente ou a inserção de novas taxas de "gestão de conta" e demais extravagâncias administrativas. Paga o cumpridor pelo prevaricador.
Pois ficámos hoje a saber pelo Banco de Portugal que os bancos em 2011 subiram os spreads e as comissões em percentagens quase obscenas. Sugerimos a leitura do artigo do jornal de negócios para se perceber a extravagância destas ações.
Mas isto não fica por aqui porque uma das consequências indiretas que não vislumbrámos quando escrevemos o artigo é que já está em marcha um afã legislador de todos os partidos políticos em "ajudar" as famílias e as pessoas em situação financeira mais complicada através de mecanismos de moratórias, dações, e outras extravagâncias.
Isto representará perdas diretas para o banco, e este, para sobreviver, tentará angariar mais receitas para compensar. E aonde? Às tais comissões e aos spreads, ou seja, aos cidadãos que são cumpridores e que nada têm a ver com esta história do sobre-endividamento. O tal moral hazard à portuguesa.
Do PCP ao CDS, todos querem aliviar o fardo das famílias, exigindo menos a estas e, pela calada, mais aos bancos.
Até já ouvimos do lado do PCP a vontade em legislar a interrupção do pagamento do empréstimo da casa por um tempo determinado até a pessoa estabilizar a sua condição profissional.
Então mas se o banco não recebe o dinheiro da prestação mensalmente, como poderá ele pagar à entidade que lhe emprestou o dinheiro?
Com toda esta leviandade política bem demonstrada e havendo acordo de maioria, certamente que os bancos voltarão a subir as comissões e os spreads para se tentarem proteger do que aí vem!
Julgavam que os bancos assumiriam as perdas e não as imputariam aos clientes? Os banqueiros nunca foram ingénuos.
Tiago Mestre
28 de maio de 2012
Rajoy tem que mentir ao vivo para salvar o dia!
Rajoy disse hoje que o governo espanhol não irá resgatar o setor bancário espanhol !
COMO?
Então o que é que acabou de fazer com o BANKIA?
Segundo Rajoy, o BANKIA será AGORA resgatado e DEPOIS vendido.
E é esta suposta futura venda que permite a Rajoy inferir que esta operação não se enquadra num resgate...
Então, e se não houver compradores quando decidirem vender? É que o Bankia foi uma jogada estatal para salvar as Cajas que já estavam insolventes, na esperança de que esta nova roupagem desse novo alento aos investidores. A brincadeira durou 2 aninhos e não resultou. O que é que os faz crer que a instituição será vendida mais à frente liquidando todo o dinheiro público que lá será injetado hoje? Nada, isto é apenas para salvar o dia.
Vem-nos à memória o BPN e a recente venda ao BIC por 40 ou 50 milhões de euros. Pois, mas antes o Estado injetou lá 3 ou 4 mil milhões de euros. Ooops!
Ficamos aqui no Contas à espera de ver outro banco espanhol em apuros para ouvir Rajoy a desdizer-se...
Tiago Mestre
COMO?
Então o que é que acabou de fazer com o BANKIA?
Segundo Rajoy, o BANKIA será AGORA resgatado e DEPOIS vendido.
E é esta suposta futura venda que permite a Rajoy inferir que esta operação não se enquadra num resgate...
Então, e se não houver compradores quando decidirem vender? É que o Bankia foi uma jogada estatal para salvar as Cajas que já estavam insolventes, na esperança de que esta nova roupagem desse novo alento aos investidores. A brincadeira durou 2 aninhos e não resultou. O que é que os faz crer que a instituição será vendida mais à frente liquidando todo o dinheiro público que lá será injetado hoje? Nada, isto é apenas para salvar o dia.
Vem-nos à memória o BPN e a recente venda ao BIC por 40 ou 50 milhões de euros. Pois, mas antes o Estado injetou lá 3 ou 4 mil milhões de euros. Ooops!
Ficamos aqui no Contas à espera de ver outro banco espanhol em apuros para ouvir Rajoy a desdizer-se...
Tiago Mestre
Deem-me dinheiro, mas não me peçam austeridade
Estivemos a dar uma vista de olhos à entrevista que Tsipras, líder grego do partido Syriza, concedeu ao Der Spiegel.
E no meio de todas as idiossincrasias que Tsipras nos transmite entre a visão grega e a visão alemã do problema europeu, salta a ideia de que os alemães são tão responsáveis pelo problema quanto os gregos.
E no caso da implementação da austeridade em troca da assistência financeira, Tsipras refere que tal programa trará o colapso económico ao país e à Europa, pelo que se deve evitar tal cenário a todo o custo.
Já percebemos que Tsipras, mesmo sendo ainda um jovem, já se revelou um jogador de poker político. Continua a transferir a responsabilidade dos problemas gregos para a Alemanha.
Para ele, a austeridade não é solução, logo rejeita-a no contexto de solidariedade entre países europeus.
E em jeito de contributo do Contas para o Sr. Tsipras e para a Sra. Merkel sugerimos o seguinte:
Em vez da Alemanha emprestar dinheiro à Grécia, sugerimos que DÊ o dinheiro. Pode parecer ridículo, mas explicamos:
Emprestar dinheiro com juros não é ajudar, é adiar o problema e ter que resolvê-lo mais à frente. Só compra tempo, mais nada. Mas a troco desta "ajuda", a Alemanha quer que se implemente austeridade. Mas a austeridade, quando é imposta de fora, dói mais. Até se faz, mas de contra-vontade.
Sendo algo assim tão difícil de implementar, em nome da Solidariedade europeia, sugerimos à Alemanha que reforce a "ajuda" à Grécia, oferecendo dinheiro.
Em vez de assinar livranças, Angela Merkel passaria a assinar cheques. Talvez Tsipras reconsiderasse a sua posição acerca da austeridade exigida pela Alemanha.
Esta história serve apenas para evidenciar o ridículo de todo conceito de "solidariedade europeia". Os erros foram gigantescos aquando da adesão dos países ao euro, e durante 8 anos o risco de países como a Grécia foi equiparado ao da Alemanha. Os investidores deixaram-se enganar até 2010, e quando acordaram, perceberam que a Grécia e outros países tinham-se endividado para valores totalmente insustentáveis. Libertaram o diabo de uma só vez, fugindo a sete pés destas dívidas.
Para compensar este buraco negro deixado pelos investidores, a Europa arranjou à pressa a tal solidariedade europeia, mas como não chega, exige austeridade pelo meio.
Para voltar atrás já é muito complicado: Tsipras arranjou amigos como Hollande, Seguro e outros.
Merkel isola-se, mas a culpa é dela e só dela:
Acreditou que emprestar dinheiro a troco de austeridade resultaria. É de quem não percebe nada de cultura, de pessoas e de protestantismo vs catolicismo.
Planificação centralizada é isto mesmo.
Tiago Mestre
BANKIA reforça o moral hazard europeu
Caros leitores e leitoras, num mundo em que gente rica, mas que erra nas apostas, é ajudada por gente tendencialmente pobre é porque algo não está certo.
O resgate estatal espanhol do BANKIA é mais um caso de ajuda de um Estado soberano, que não tem dinheiro para mandar cantar um cego, a uma entidade que, de livre consciência e sem pressões, decidiu investir fortemente no imobiliário.
Salvam-se os investidores à custa dos contribuintes, já de si depauperados e sem grandes perspetivas de futuro, a julgar pelo desemprego que graça em todas as faixas etárias.
Foi assim em 2008 nos EUA e em Portugal com o BPN, em 2009 na Alemanha com o Commerzbank , em 2010 na Irlanda e na Bélgica com o DEXIA, em 2011 novamente com o DEXIA, e em 2012 com o BANKIA.
Pelo meio, os bancos têm sido bafejados com liquidez ilimitada por parte do BCE e da Reserva Federal, mas também não é suficiente. As apostas que os bancos fizeram dariam lucros fabulosos caso se revelassem certeiras, mas ninguém quis ponderar os prejuízos caso corressem mal.
A juntar a todo este otimisto banqueiro tivemos a classe política, incapaz de agir nas horas difíceis, adiando o mais possível, e no último momento, optando pela salvação dos bancos com recurso ao único ativo tangível que os países ocidentais ainda possuem: os seus cidadãos e as suas depauperadas economias.
O BANKIA, como muitos outros bancos, DEVERIA IR À FALÊNCIA COMO QUALQUER OUTRA EMPRESA, POR MUITOS ESTRAGOS QUE TAL FENÓMENO INDUZA NA SOCIEDADE.
Mas não, nas condições atuais, salvam-se os incompetentes com o dinheiro dos competentes e pede-se aos dois que concorram "livremente" no mercado. Isto não é mercado, porque privar as companhias de fecharem as portas é uma amputação elementar às regras do mercado, bem como privá-las do sucesso dos seus investimentos. Fica uma espécie de fascismo liberal, como já o dissemos antes, em que as asneiras de uns e os sucessos de outros são "controlados" e "geridos" pelo estado omnipresente, continuando-se a pedir que concorram no "suposto" mercado livre.
Mas em que raio andam estes políticos a pensar?
A lei, quando nasce, deve ser igual para todos aqueles que estão inscritos na sociedade nas mesmas circunstâncias. Criar 2 tipos de regras distintas para gente que se apresenta nas mesmas condições é discriminar uns em benefício de outros.
A sociedade tem tolerado tudo isto porque acreditou, desde 2008, num fim maior que justificava todos estes atropelos: que tais resgates seriam em benefício de todos. Esta crença não perdurará para sempre, sobretudo quando os resultados estão tão distantes das promessas dos políticos.
Até quando?
Tiago Mestre
O resgate estatal espanhol do BANKIA é mais um caso de ajuda de um Estado soberano, que não tem dinheiro para mandar cantar um cego, a uma entidade que, de livre consciência e sem pressões, decidiu investir fortemente no imobiliário.
Salvam-se os investidores à custa dos contribuintes, já de si depauperados e sem grandes perspetivas de futuro, a julgar pelo desemprego que graça em todas as faixas etárias.
Foi assim em 2008 nos EUA e em Portugal com o BPN, em 2009 na Alemanha com o Commerzbank , em 2010 na Irlanda e na Bélgica com o DEXIA, em 2011 novamente com o DEXIA, e em 2012 com o BANKIA.
Pelo meio, os bancos têm sido bafejados com liquidez ilimitada por parte do BCE e da Reserva Federal, mas também não é suficiente. As apostas que os bancos fizeram dariam lucros fabulosos caso se revelassem certeiras, mas ninguém quis ponderar os prejuízos caso corressem mal.
A juntar a todo este otimisto banqueiro tivemos a classe política, incapaz de agir nas horas difíceis, adiando o mais possível, e no último momento, optando pela salvação dos bancos com recurso ao único ativo tangível que os países ocidentais ainda possuem: os seus cidadãos e as suas depauperadas economias.
O BANKIA, como muitos outros bancos, DEVERIA IR À FALÊNCIA COMO QUALQUER OUTRA EMPRESA, POR MUITOS ESTRAGOS QUE TAL FENÓMENO INDUZA NA SOCIEDADE.
Mas não, nas condições atuais, salvam-se os incompetentes com o dinheiro dos competentes e pede-se aos dois que concorram "livremente" no mercado. Isto não é mercado, porque privar as companhias de fecharem as portas é uma amputação elementar às regras do mercado, bem como privá-las do sucesso dos seus investimentos. Fica uma espécie de fascismo liberal, como já o dissemos antes, em que as asneiras de uns e os sucessos de outros são "controlados" e "geridos" pelo estado omnipresente, continuando-se a pedir que concorram no "suposto" mercado livre.
Mas em que raio andam estes políticos a pensar?
A lei, quando nasce, deve ser igual para todos aqueles que estão inscritos na sociedade nas mesmas circunstâncias. Criar 2 tipos de regras distintas para gente que se apresenta nas mesmas condições é discriminar uns em benefício de outros.
A sociedade tem tolerado tudo isto porque acreditou, desde 2008, num fim maior que justificava todos estes atropelos: que tais resgates seriam em benefício de todos. Esta crença não perdurará para sempre, sobretudo quando os resultados estão tão distantes das promessas dos políticos.
Até quando?
Tiago Mestre
Bankia Deja vú (Parte 3)
A julgar pela desconfiança dos investidores nas ações do Bankia, que já estiveram a cair mais de 25% esta manhã, algo não está a correr bem na negociação entre Madrid e Bruxelas acerca deste resgate que o governo espanhol quer fazer ao Bankia.
Aparentemente, o EFSF e o ESM são para financiar dívidas públicas, e não bancos. Alguma ideia os burocratas arranjarão para contornar este obstáculo, já que a Espanha não pode ir sozinha ao mercado de dívida obter 19 mil milhões de euros assim sem mais nem menos. Os juros a 10 anos ultrapassam os 6,5% no mercado secundário. Precisa de ajuda, e será o ESM e o EFSF a proporcionar a almofada, acreditamos nós.
Mas pensamos que muitos investidores já não acreditam na conversa, mesmo com o EFSF e o ESM em ação. Estão fartos de tanta aldrabice e de tanta mentira, e desde que os burocratas decidiram o perdão unilateral da dívida grega em que os privados "parolos" ficaram a perder e os outros a ganhar, já pouca gente se interessa por ativos tão arriscados como as dívidas soberanas da periferia europeia.
A fuga de capitais no Bankia deve continuar a todo o vapor, e daqui a umas horas o resgate de 19 mil milhões poderá já não ser suficiente. É a loucura..
Tiago Mestre
27 de maio de 2012
A crise europeia entra numa nova fase
Caros leitores e leitoras, à medida que os eventos vão ocorrendo, novas ideias e conclusões vamos tirando do que se está a passar.
Não é fácil prever como as coisas se irão desenrolar, contudo há motivos e razões suficientemente fortes que nos ajudam a compreender a direção dos acontecimentos:
Julgamos perceber minimamente o jogo de forças entre a Grécia e a UE, a Alemanha e a UE, o BCE e os Estados membros, os banqueiros e o BCE, passivos vs ativos, etc, etc.
Só depois de perceber este jogo de verdades e dissimulações, ou seja, estudar o passado, é que podemos dizer que, caso não haja nenhum epifenómeno, o futuro continuará a ser a mesma "carpete" de passos que foi o passado.
As "soluções" que a Europa encontrou para "resolver" o problema das dívidas soberanas foi sempre um mecanismo de aparências, na tentativa de restaurar a confiança dos mercados. Bastaria a reposição da confiança para que os investidores retomassem a sua atividade diária de aquisição de dívida e de ativos europeus. Basicamente, a falta de liquidez era o único problema na cabeça dos governantes, e esta combate-se com: liquidez forçada, sobretudo vinda do BCE ou de fundos que pedem emprestado ao planeta baseando-se na garantia da Alemanha.
A insolvência nunca esteve em cima da mesa nas mentes europeias... até Março, com o perdão unilateral da dívida grega. Mas mesmo este perdão ficou ferido de morte: foi apenas para alguns, para aqueles credores privados que aceitaram o acordo. Para os que não aceitaram o acordo, como o fundo soberano da Noruega e outros, e para os que se recusaram desde o início a assumir perdas, como o FMI e o BCE, nada lhes aconteceu, porque os pagamentos dos juros e do capital continuam a ser realizados.
A lei "deveria" dizer que a insolvência atinge todos aqueles que se encontram nas mesmas circunstâncias, ou seja, quem possui obrigações "iguais" perante a lei, sofre da mesma maneira. Como todos sabemos, não foi esse o caso. O FMI e o BCE puseram-se logo de fora, "impossibilitados" de assumir perdas por serem entidades isentas desse tipo de chatices. Os investidores até poderiam aceitar este cenário inaceitável, caso ele "resolvesse" o problema.
Mas como não resolveu nada e o cenário repetir-se-á no futuro, nenhum investidor quer ficar na linha de espera ver a sua riqueza eclipsar-se e a de outras entidades não, só porque os governantes assim o decidem.
Quem pode, foge, claro!
Como já aqui escrevemos, em 2 anos de políticas totalmente erradas, mentiras sucessivas e cenários cor-de-rosa, as populações esvaziaram a sua confiança nos governantes. Em 2010 foram os investidores que o fizeram, baseando-se em análises técnicas e estudos de mercado, antecipando as dificuldades dos governantes em acudir à crise. Em 2012 serão as populações, na medida em que foram acreditando nos governantes e na sua verborreia semântica. Mas ao fim de 2 anos temos a evidência empírica de que entre o que eles dizem e o que acontece na realidade - a bota não bate com a perdigota.
A fuga de capitais dos bancos, já em marcha silenciosa na Grécia desde há uns meses, contagiou-se para o resto da periferia.
Em primeiro lugar são os investidores institucionais, aqueles a quem o dinheiro não reconhece pátria, seguindo-se os particulares, os cidadãos do país, que, à falta de possuírem contas bancárias noutros países, veêm-se na contingência de levantar o dinheiro em numerário e guardá-lo algures, mas sem ser no banco. Curiosamente, em Portugal os portugueses até reforçaram os seus depósitos, certamente pelo apelo que os bancos fizeram e pela ignorância generalizada da população, que teima em não acreditar que coisas piores acontecerão. Talvez seja esta capacidade de conviver com a desgraça, sem perder a fé nem a esperança num futuro melhor, que nos permitirá sair desta alhada com menos danos colaterais do que os nossos vizinhos europeus, mesmo os mais ricos.
Aqui está um exemplo da nossa veia mais católica em oposição ao racionalismo protestante europeu. Não é por acaso que a nossa independência perdurou, mesmo com algumas suspensões de curta duração, durante tantos séculos. Perdurará mais uma vez, certamente.
A hipótese real da Grécia sair do Euro, e as permanentes tergiversações dos líderes europeus sobre esta matéria só adensam a desconfiança dos cidadãos, e se assim é com a Grécia porque será diferente com os restantes países da periferia? Em Espanha, o Bankia perdeu 4 mil milhões de euros em depósitos de quinta para sexta-feira. A hemorragia já estava ocorrendo quando os líderes do G8 jantavam ao som da Liga dos Campeões e mais ainda no outro jantar desta semana, entre os líderes da zona euro. Foram os institucionais a fazê-lo, certamente, enquanto as lideranças discutiam assuntos totalmente anacrónicos face à nova realidade que até dá pena, como as EUROBONDS.
Seria impossível em menos de 24 horas levantar 4 mil milhões de euros em numerário pela população espanhola, e caso fosse possível, seria impossível que não se desse por isso.
É esta a nova realidade europeia, uma realidade que conjuga a incapacidade dos governantes em lidar com o problema, porque há muito que deixou de ser um problema para se tornar numa inevitabilidade, e a desconfiança das populações no sistema e naqueles que o gerem.
Para quem se interessa pela década de 30 do século passado, parece que estamos a viver um deja vú, com a agravante de que hoje o mundo é realmente globalizado, somos 9 mil milhões de criaturas, as dívidas mundiais eclipsam mais de 10 vezes o PIB mundial e os recursos naturais, nomeadamente o petróleo, motor da riqueza ocidental, produz-se longe, em países instáveis, e é hoje muito caro, refletindo a incapacidade dos produtores em entregar a quantidade desejada pelos consumidores.
Com a total liberdade no movimento de capitais, os institucionais farão tudo para se protegerem, e nada os impedirá de tal desígnio. Transferirem a sua riqueza de um banco italiano ou espanhol para outro de Hong Kong está à distância de click. As autoridades europeias já pensaram certamente nisto, e não demorará muito até se ventilar a ideia da imposição do controlo de capitais, à boa maneira do planeamento centralizado. Será uma política que falhará redondamente, tanto por ser ineficaz como por amedrontar ainda mais os investidores, reforçando ainda mais a sua ineficácia. Talvez nunca venha a conhecer a luz do dia, mas a planificação centralizada em concordância com as grandes instituições privadas europeias ganha terreno a cada dia que passa. É uma espécie de Fascismo Liberal, que, como todas as grandes planificações, esboroar-se-á por não respeitar as leis da natureza e da gravidade.
A desconfiança, sendo ela uma ideia agarrada a um sentimento, é como um vírus que se propaga exponencialmente. E já todos nós sabemos o resultado de curvas exponenciais.
A semana que hoje começa promete...
Tiago Mestre
Não é fácil prever como as coisas se irão desenrolar, contudo há motivos e razões suficientemente fortes que nos ajudam a compreender a direção dos acontecimentos:
Julgamos perceber minimamente o jogo de forças entre a Grécia e a UE, a Alemanha e a UE, o BCE e os Estados membros, os banqueiros e o BCE, passivos vs ativos, etc, etc.
Só depois de perceber este jogo de verdades e dissimulações, ou seja, estudar o passado, é que podemos dizer que, caso não haja nenhum epifenómeno, o futuro continuará a ser a mesma "carpete" de passos que foi o passado.
As "soluções" que a Europa encontrou para "resolver" o problema das dívidas soberanas foi sempre um mecanismo de aparências, na tentativa de restaurar a confiança dos mercados. Bastaria a reposição da confiança para que os investidores retomassem a sua atividade diária de aquisição de dívida e de ativos europeus. Basicamente, a falta de liquidez era o único problema na cabeça dos governantes, e esta combate-se com: liquidez forçada, sobretudo vinda do BCE ou de fundos que pedem emprestado ao planeta baseando-se na garantia da Alemanha.
A insolvência nunca esteve em cima da mesa nas mentes europeias... até Março, com o perdão unilateral da dívida grega. Mas mesmo este perdão ficou ferido de morte: foi apenas para alguns, para aqueles credores privados que aceitaram o acordo. Para os que não aceitaram o acordo, como o fundo soberano da Noruega e outros, e para os que se recusaram desde o início a assumir perdas, como o FMI e o BCE, nada lhes aconteceu, porque os pagamentos dos juros e do capital continuam a ser realizados.
A lei "deveria" dizer que a insolvência atinge todos aqueles que se encontram nas mesmas circunstâncias, ou seja, quem possui obrigações "iguais" perante a lei, sofre da mesma maneira. Como todos sabemos, não foi esse o caso. O FMI e o BCE puseram-se logo de fora, "impossibilitados" de assumir perdas por serem entidades isentas desse tipo de chatices. Os investidores até poderiam aceitar este cenário inaceitável, caso ele "resolvesse" o problema.
Mas como não resolveu nada e o cenário repetir-se-á no futuro, nenhum investidor quer ficar na linha de espera ver a sua riqueza eclipsar-se e a de outras entidades não, só porque os governantes assim o decidem.
Quem pode, foge, claro!
Como já aqui escrevemos, em 2 anos de políticas totalmente erradas, mentiras sucessivas e cenários cor-de-rosa, as populações esvaziaram a sua confiança nos governantes. Em 2010 foram os investidores que o fizeram, baseando-se em análises técnicas e estudos de mercado, antecipando as dificuldades dos governantes em acudir à crise. Em 2012 serão as populações, na medida em que foram acreditando nos governantes e na sua verborreia semântica. Mas ao fim de 2 anos temos a evidência empírica de que entre o que eles dizem e o que acontece na realidade - a bota não bate com a perdigota.
A fuga de capitais dos bancos, já em marcha silenciosa na Grécia desde há uns meses, contagiou-se para o resto da periferia.
Em primeiro lugar são os investidores institucionais, aqueles a quem o dinheiro não reconhece pátria, seguindo-se os particulares, os cidadãos do país, que, à falta de possuírem contas bancárias noutros países, veêm-se na contingência de levantar o dinheiro em numerário e guardá-lo algures, mas sem ser no banco. Curiosamente, em Portugal os portugueses até reforçaram os seus depósitos, certamente pelo apelo que os bancos fizeram e pela ignorância generalizada da população, que teima em não acreditar que coisas piores acontecerão. Talvez seja esta capacidade de conviver com a desgraça, sem perder a fé nem a esperança num futuro melhor, que nos permitirá sair desta alhada com menos danos colaterais do que os nossos vizinhos europeus, mesmo os mais ricos.
Aqui está um exemplo da nossa veia mais católica em oposição ao racionalismo protestante europeu. Não é por acaso que a nossa independência perdurou, mesmo com algumas suspensões de curta duração, durante tantos séculos. Perdurará mais uma vez, certamente.
A hipótese real da Grécia sair do Euro, e as permanentes tergiversações dos líderes europeus sobre esta matéria só adensam a desconfiança dos cidadãos, e se assim é com a Grécia porque será diferente com os restantes países da periferia? Em Espanha, o Bankia perdeu 4 mil milhões de euros em depósitos de quinta para sexta-feira. A hemorragia já estava ocorrendo quando os líderes do G8 jantavam ao som da Liga dos Campeões e mais ainda no outro jantar desta semana, entre os líderes da zona euro. Foram os institucionais a fazê-lo, certamente, enquanto as lideranças discutiam assuntos totalmente anacrónicos face à nova realidade que até dá pena, como as EUROBONDS.
Seria impossível em menos de 24 horas levantar 4 mil milhões de euros em numerário pela população espanhola, e caso fosse possível, seria impossível que não se desse por isso.
É esta a nova realidade europeia, uma realidade que conjuga a incapacidade dos governantes em lidar com o problema, porque há muito que deixou de ser um problema para se tornar numa inevitabilidade, e a desconfiança das populações no sistema e naqueles que o gerem.
Para quem se interessa pela década de 30 do século passado, parece que estamos a viver um deja vú, com a agravante de que hoje o mundo é realmente globalizado, somos 9 mil milhões de criaturas, as dívidas mundiais eclipsam mais de 10 vezes o PIB mundial e os recursos naturais, nomeadamente o petróleo, motor da riqueza ocidental, produz-se longe, em países instáveis, e é hoje muito caro, refletindo a incapacidade dos produtores em entregar a quantidade desejada pelos consumidores.
Com a total liberdade no movimento de capitais, os institucionais farão tudo para se protegerem, e nada os impedirá de tal desígnio. Transferirem a sua riqueza de um banco italiano ou espanhol para outro de Hong Kong está à distância de click. As autoridades europeias já pensaram certamente nisto, e não demorará muito até se ventilar a ideia da imposição do controlo de capitais, à boa maneira do planeamento centralizado. Será uma política que falhará redondamente, tanto por ser ineficaz como por amedrontar ainda mais os investidores, reforçando ainda mais a sua ineficácia. Talvez nunca venha a conhecer a luz do dia, mas a planificação centralizada em concordância com as grandes instituições privadas europeias ganha terreno a cada dia que passa. É uma espécie de Fascismo Liberal, que, como todas as grandes planificações, esboroar-se-á por não respeitar as leis da natureza e da gravidade.
A desconfiança, sendo ela uma ideia agarrada a um sentimento, é como um vírus que se propaga exponencialmente. E já todos nós sabemos o resultado de curvas exponenciais.
A semana que hoje começa promete...
Tiago Mestre
25 de maio de 2012
Bankia deja vú - Dexia e BPN (Parte 2)
Em menos de 24 horas, as necessidades de financiamento do Bankia passaram de 15 mil milhões para 19 mil milhões de euros.
O site Zerohedge especula que este aumento da ajuda em 4 mil milhões de euros se deve à fuga de capitais que o banco sofreu nas últimas horas.
Esta é uma consequência evidente de que os erros, quando são gigantescos, se pagam muito, muito caro!
Hoje, a corrida aos bancos não se faz na caixa da respetiva dependência; faz-se pela Internet, em silêncio.
Não se controla a hemorragia, não se limita, e se se tenta limitar, é o caos.
E como ninguém quer o caos, deixa-se andar. São só mais 4 mil milhões de euros em 24 horas, o que é isso?
Tiago Mestre
O site Zerohedge especula que este aumento da ajuda em 4 mil milhões de euros se deve à fuga de capitais que o banco sofreu nas últimas horas.
Esta é uma consequência evidente de que os erros, quando são gigantescos, se pagam muito, muito caro!
Hoje, a corrida aos bancos não se faz na caixa da respetiva dependência; faz-se pela Internet, em silêncio.
Não se controla a hemorragia, não se limita, e se se tenta limitar, é o caos.
E como ninguém quer o caos, deixa-se andar. São só mais 4 mil milhões de euros em 24 horas, o que é isso?
Tiago Mestre
Student Loans... ou empréstimos para estudar em português
Caros leitores e leitoras, tivemos conhecimento recentemente de que estão a ser concedidos empréstimos a cidadãos e cidadãs que estejam matriculados na universidade, desde que cumpram certos critérios.
Aparentemente o Estado aceita dar o seu aval aos créditos concedidos, diminuindo o risco para a instituição credora e favorecendo o devedor com spreads mais baixos.
Não havendo o aval do Estado, e os créditos para estudantes pouco se diferenciariam de um qualquer crédito ao consumo.
Mas com o aval, o estudante tem direito a períodos de carência e juros mais baixos. Muda tudo.
Na nossa opinião, mesmo que o mercado laboral estivesse de boa saúde, este tipo de instrumentos financeiros é um fardo de difícil perceção para quem contrai o empréstimo. O passivo que o indivíduo está a acumular ainda antes de ter condições para começar a liquidá-lo é deveras pernicioso. Os banqueiros, conhecendo como o esquema funciona, retiram dividendos de todo um processo que assenta na falsa perceção dos jovens de que tirar um curso superior, mesmo não tendo dinheiro para o fazer, é melhor do que não tirar curso nenhum.
Mas todos sabemos que o mercado laboral, sobretudo o das profissões que requerem estudos superiores, já conheceu melhores dias. Aliás, suspeitamos mesmo que poucos cursos haverá que possuam condições mínimas de empregabilidade.
Ou seja, se o aluno herda um passivo referente a um ato que perspetiva rentabilizar através do exercício de uma profissão no futuro, tal cenário só é viável se o futuro se realizar como se perspetivou.
Mas, e se o futuro se desenrolar de forma diferente e as perspetivas de empregabilidade não se efetivarem?
Bom, aí temos um problema, porque o Estado só garantiu o empréstimo, não garantiu a empregabilidade!
E é para nós este o grande "gato" de todo este esquema. Não é garantido que o futuro receba a energia que concedeu ao passado, aliás, é altamente improvável que o futuro venha alguma vez a receber essa mesma energia.
Este esquema é só de um sentido: a ruína para o devedor.
Para os quase devedores que eventualmente nos leiam, sugerimos que se preocupem primeiro em obter rendimentos próprios recorrendo a profissões que não exijam este grau de escolaridade, e só depois avançar para um projeto desta natureza.
Sobre o ensino superior em si mesmo, suspeitamos que grandes mudanças ocorrerão num futuro próximo, no sentido do encerramento de escolas superiores, politécnicos e até universidades. Nenhum político quererá assumir o encerramento per si, mas através de esquemas de fusões e outras criatividades que nos escapam, a água lá será conduzida ao moinho. Desta forma, a revolução opera-se forma silenciosa, e todos aqueles adolescentes e adultos mais desatentos, com vontade de estudar e sem dinheiro, poderão meter-se num beco sem saída.
A economia portuguesa, salvo honrosas exceções em certas áreas da engenharia, já pouco precisa de novos licenciados, e em muito desespera por serralheiros, eletricistas, canalizadores, técnicos de frio e eletrónica, eletromecânicos, agricultores, e muitos outros ofícios que não exigem curso superior.
Com o retrocesso da economia que esperamos evidenciar nesta década pelo menos, muitas profissões que exigem uma sociedade com um certo grau de complexidade desaparecerão. Simplesmente não haverá dinheiro para financiar atividades de caráter mais subjetivo ou menos importante para a nossa sobrevivência coletiva. As profissões que requerem cursos superiores serão, na nossa opinião, as mais afetadas.
Só estaremos disponíveis para pagar aquilo que verdadeiramente nos faz mais falta. O que é substituível ou dispensável deixará de ser relevante para as nossas vidas.
Tiago Mestre
Aparentemente o Estado aceita dar o seu aval aos créditos concedidos, diminuindo o risco para a instituição credora e favorecendo o devedor com spreads mais baixos.
Não havendo o aval do Estado, e os créditos para estudantes pouco se diferenciariam de um qualquer crédito ao consumo.
Mas com o aval, o estudante tem direito a períodos de carência e juros mais baixos. Muda tudo.
Na nossa opinião, mesmo que o mercado laboral estivesse de boa saúde, este tipo de instrumentos financeiros é um fardo de difícil perceção para quem contrai o empréstimo. O passivo que o indivíduo está a acumular ainda antes de ter condições para começar a liquidá-lo é deveras pernicioso. Os banqueiros, conhecendo como o esquema funciona, retiram dividendos de todo um processo que assenta na falsa perceção dos jovens de que tirar um curso superior, mesmo não tendo dinheiro para o fazer, é melhor do que não tirar curso nenhum.
Mas todos sabemos que o mercado laboral, sobretudo o das profissões que requerem estudos superiores, já conheceu melhores dias. Aliás, suspeitamos mesmo que poucos cursos haverá que possuam condições mínimas de empregabilidade.
Ou seja, se o aluno herda um passivo referente a um ato que perspetiva rentabilizar através do exercício de uma profissão no futuro, tal cenário só é viável se o futuro se realizar como se perspetivou.
Mas, e se o futuro se desenrolar de forma diferente e as perspetivas de empregabilidade não se efetivarem?
Bom, aí temos um problema, porque o Estado só garantiu o empréstimo, não garantiu a empregabilidade!
E é para nós este o grande "gato" de todo este esquema. Não é garantido que o futuro receba a energia que concedeu ao passado, aliás, é altamente improvável que o futuro venha alguma vez a receber essa mesma energia.
Este esquema é só de um sentido: a ruína para o devedor.
Para os quase devedores que eventualmente nos leiam, sugerimos que se preocupem primeiro em obter rendimentos próprios recorrendo a profissões que não exijam este grau de escolaridade, e só depois avançar para um projeto desta natureza.
Sobre o ensino superior em si mesmo, suspeitamos que grandes mudanças ocorrerão num futuro próximo, no sentido do encerramento de escolas superiores, politécnicos e até universidades. Nenhum político quererá assumir o encerramento per si, mas através de esquemas de fusões e outras criatividades que nos escapam, a água lá será conduzida ao moinho. Desta forma, a revolução opera-se forma silenciosa, e todos aqueles adolescentes e adultos mais desatentos, com vontade de estudar e sem dinheiro, poderão meter-se num beco sem saída.
A economia portuguesa, salvo honrosas exceções em certas áreas da engenharia, já pouco precisa de novos licenciados, e em muito desespera por serralheiros, eletricistas, canalizadores, técnicos de frio e eletrónica, eletromecânicos, agricultores, e muitos outros ofícios que não exigem curso superior.
Com o retrocesso da economia que esperamos evidenciar nesta década pelo menos, muitas profissões que exigem uma sociedade com um certo grau de complexidade desaparecerão. Simplesmente não haverá dinheiro para financiar atividades de caráter mais subjetivo ou menos importante para a nossa sobrevivência coletiva. As profissões que requerem cursos superiores serão, na nossa opinião, as mais afetadas.
Só estaremos disponíveis para pagar aquilo que verdadeiramente nos faz mais falta. O que é substituível ou dispensável deixará de ser relevante para as nossas vidas.
Tiago Mestre
Anda toda a gente a pedir as Eurobonds...
Já chateia tanta lenga-lenga acerca das Eurobonds.
A periferia e a França desejam-nas, o resto da Europa detesta-as. E percebe-se porquê?
Beneficia a uns, prejudica a outros.
Caso as Eurobonds entrem em ação, algo que duvidamos, mas como tb já vimos tanta coisa... a reação natural dos mercados será de suspeitar e de no médio prazo começar a fugir. E se as Bunds alemãs deixarem de existir para se imiscuirem nas Eurobonds, então ainda pior.
O EFSF e o ESM já são Eurobonds, mas como estão suportadas por garantias de cada Estado membro, o seu plafond está limitado àquilo que os Estados aceitam como sendo razoável.
E por ser plafonado é que não transmite muita segurança aos investidores, já que é fácil fazer umas contas e perceber que um resgate a Espanha ou à Itália excede largamente o plafond.
As EUROBONDS seriam o céu como limite, a ausência de plafond, a loucura para quem quer continuar a gastar mais do que pode, só que os mercados, atentos ao que se anda a passar, rapidamente perceberiam o logro, e como as EUROBONDS precisam MUITO dos mercados, a sua vida útil seria curta.
As EUROBONDS, a existirem, serão um instrumento com todos os defeitos típicos da UE:
- Não exige nada aos Estados Membros
- Dispersa o risco, aliviando quem tem mais passivo e carregando em quem tem menos
- Não distingue o cumpridor do prevaricador
- Tenta "enrolar" os investidores fazendo-os acreditar que o risco dispersa-se, sobretudo lá para os lados do norte da Europa.
Não é preciso ser um génio para perceber que as EUROBONDS não são mais do que um espasmo nervoso dos políticos mais amedrontados.
Em 2008, talvez os investidores ainda fossem na conversa, mas hoje, depois de terem sido enganados tantas vezes com as promessas dos líderes europeus, não acreditamos que se cheguem à frente. Já perceberam que tecnicamente a UE está numa enorme embrulhada, e politicamente não é possível resolvê-la.
Já escrevemos aqui no Contas acerca da falta de confiança que as populações sentem para com a política europeia. Os investidores são pessoas, cidadãos que quando investem é porque confiam, quando não investem ou investem na queda, é porque não confiam.
Mentiu-se demais, perdeu-se a credibilidade e só resta um caminho para a expiação: A dissolução do projeto europeu.
Tiago Mestre
A periferia e a França desejam-nas, o resto da Europa detesta-as. E percebe-se porquê?
Beneficia a uns, prejudica a outros.
Caso as Eurobonds entrem em ação, algo que duvidamos, mas como tb já vimos tanta coisa... a reação natural dos mercados será de suspeitar e de no médio prazo começar a fugir. E se as Bunds alemãs deixarem de existir para se imiscuirem nas Eurobonds, então ainda pior.
O EFSF e o ESM já são Eurobonds, mas como estão suportadas por garantias de cada Estado membro, o seu plafond está limitado àquilo que os Estados aceitam como sendo razoável.
E por ser plafonado é que não transmite muita segurança aos investidores, já que é fácil fazer umas contas e perceber que um resgate a Espanha ou à Itália excede largamente o plafond.
As EUROBONDS seriam o céu como limite, a ausência de plafond, a loucura para quem quer continuar a gastar mais do que pode, só que os mercados, atentos ao que se anda a passar, rapidamente perceberiam o logro, e como as EUROBONDS precisam MUITO dos mercados, a sua vida útil seria curta.
As EUROBONDS, a existirem, serão um instrumento com todos os defeitos típicos da UE:
- Não exige nada aos Estados Membros
- Dispersa o risco, aliviando quem tem mais passivo e carregando em quem tem menos
- Não distingue o cumpridor do prevaricador
- Tenta "enrolar" os investidores fazendo-os acreditar que o risco dispersa-se, sobretudo lá para os lados do norte da Europa.
Não é preciso ser um génio para perceber que as EUROBONDS não são mais do que um espasmo nervoso dos políticos mais amedrontados.
Em 2008, talvez os investidores ainda fossem na conversa, mas hoje, depois de terem sido enganados tantas vezes com as promessas dos líderes europeus, não acreditamos que se cheguem à frente. Já perceberam que tecnicamente a UE está numa enorme embrulhada, e politicamente não é possível resolvê-la.
Já escrevemos aqui no Contas acerca da falta de confiança que as populações sentem para com a política europeia. Os investidores são pessoas, cidadãos que quando investem é porque confiam, quando não investem ou investem na queda, é porque não confiam.
Mentiu-se demais, perdeu-se a credibilidade e só resta um caminho para a expiação: A dissolução do projeto europeu.
Tiago Mestre
Bankia deja vú - Dexia e BPN
Caros leitores e leitoras, na tentativa de não assustar os mercados, os políticos metem-se em cada alhada que dá pena só de assistir.
Em 2008 foi Teixeira dos Santos e Vitor Constâncio a forçarem a nacionalização do BPN. Contra as indicações do então presidente do BPN, Miguel Cadilhe, que tinha tomado posse meses antes para tentar salvar o banco pela via... privada, o Estado armou-se em valentão e, julgando que a brincadeira não custaria mais do que 300 ou 400 milhões de euros, acabou por ir parar à módica quantia de 3 ou 4 mil milhões de euros. O erro foi gigantesco, contudo pouquíssima gente pode atirar pedras hoje, já que à época todo o espectro político, jornalístico e economistas de praça conformaram-se com a decisão. Lembramo-nos de Francisco Louçã, se não nos falha a memória, como sendo o único líder político a rejeitar esta proposta.
Compreendemos a decisão do governo: mais vale internar já o paciente do que deixá-lo arrastar-se pela via pública contaminando tudo e todos. Há quem aponte falhas na supervisão de Vítor Constâncio, contudo só quem lá está é que pode dizer se era possível ou não prever este tipo de eventos.
Mas o que interessa aqui não é tanto os fundamentos da decisão, mas sim os princípios éticos subjacentes à mesma. Basicamente optou-se, mais uma vez, pela solução mais fraca. O medo do contágio interferiu na racionalidade e nos princípios da boa gestão da coisa pública. O contribuinte, chamado à mesa, pagou e calou sem ter uma única palavra a dizer sobre o assunto.
Mas os políticos portugueses não estão sozinhos; eles são uma imagem quase perfeita da elite política europeia da atualidade: por terem edificado um projeto europeu tão grande e com tantas falhas, andam todos "cagados" de medo com a possibilidade de que ele possa ruir, e à primeira racha na parede, toca de intervir com pedreiros, trolhas, pintores, etc. Tapa-se o assunto, mas estruturalmente não se resolve nada. É por isso que é nossa convicção que o edifício terá que ruir ou tornar-se num fantasma impossível de albergar quem quer que seja.
E nesta senda de tapar rachas, tivemos no Verão quente de 2011 a 2ª intervenção estatal no banco DEXIA em 3 anos, carregando ainda mais os contribuintes belgas e franceses.
Mas 2012 trouxe outro presente no sapatinho: BANKIA, qual aglomerado de Cajas falidas. Também esta instituição foi "reorientada" em finais de 2010, sendo o resultado da fusão 7 Cajas de Ahorro.
O plano era "fixe": Fundem-se as Cajas, dá-se um nome atraente, tenta-se captar mais depósitos para colateralizar os empréstimos da bolha imobiliária, e vamos rezar para que a economia cresça, as casas valorizem, os empréstimos ganhem nova vivacidade e os devedores liquidem o que têm a liquidar.
Oops, saiu tudo ao contrário, o que em final de 2010 não era difícil de prever: desemprego disparou, imobiliário continuou e continua a desvalorizar, delinquência no crédito não pára e, a anunciar o canto do cisne: a fuga de depósitos para outras instituições bancárias, preferencialmente do Norte da Europa.
Perdendo o dinheiro dos depósitos, retira-se a única fonte viável de colateralização dos empréstimos. Sem esta energia só já resta o recurso abusivo aos empréstimos do BCE, que ajudam na liquidez, mas que agravam o balanço dos bancos. Os mercados estão atentos e não perdoam.
Quando o BANKIA foi nacionalizado no início de Maio, as autoridades espanholas afirmavam que a instituição era solvente.
Semana e meia depois já precisava de 4,5 mil milhões de euros.
A 23 de Maio a fatura ascendia a 9 mil milhões de euros
E a 24 de Maio, ONTEM, o valor ia em 15 mil milhões de euros. Cronologia e fontes aqui.
É A LOUCURA DESCONTROLADA.
É brincar com o povo, é enganar e dissimular para salvar a pele e manter o status quo só mais uns tempos.
Em qualquer tomada difícil de decisão, como esta em que "nacionalizo ou não nacionalizo"; as coisas passam-se mais ou menos assim:
Se nacionalizo já amparo o problema já, com eventuais repercussões negativas num futuro incerto.
Se não nacionalizo, o problema avoluma-se já, rebenta nas minhas mãos, posso perder eleitores e o lugar, deixo de receber salário, mas tomo a decisão moralmente correta que só terá benefícios num futuro incerto e talvez distante.
Decidir nestas condições E OPTAR pela 2ª não é para qualquer um; é só para quem é estadista e tem "tomates" do tamanho do mundo.
Não é preciso ser-se muito inteligente nem possuir doutoramento em economia. É preciso coragem, e isso não se aprende na escola.
Em tempos, o governador do Banco do México, a propósito dos políticos mexicanos lhe pedirem para imprimir pesos, ele informou: Só por cima do meu cadáver!
Foi rapidamente substituído por outro governador.
É por isso que acreditamos que o adiamento das decisões difíceis e o recurso à impressão de dinheiro continuarão a fazer parte da nova ordem mundial, até, até... a coisa rebentar por algum lado...
Continuamos a apostar num cenário de hiper-inflação, mesmo num mundo onde os ativos se desvalorizam de dia para dia!
Parece paradoxal, mas é o que nos cheira.
Tiago Mestre
Em 2008 foi Teixeira dos Santos e Vitor Constâncio a forçarem a nacionalização do BPN. Contra as indicações do então presidente do BPN, Miguel Cadilhe, que tinha tomado posse meses antes para tentar salvar o banco pela via... privada, o Estado armou-se em valentão e, julgando que a brincadeira não custaria mais do que 300 ou 400 milhões de euros, acabou por ir parar à módica quantia de 3 ou 4 mil milhões de euros. O erro foi gigantesco, contudo pouquíssima gente pode atirar pedras hoje, já que à época todo o espectro político, jornalístico e economistas de praça conformaram-se com a decisão. Lembramo-nos de Francisco Louçã, se não nos falha a memória, como sendo o único líder político a rejeitar esta proposta.
Compreendemos a decisão do governo: mais vale internar já o paciente do que deixá-lo arrastar-se pela via pública contaminando tudo e todos. Há quem aponte falhas na supervisão de Vítor Constâncio, contudo só quem lá está é que pode dizer se era possível ou não prever este tipo de eventos.
Mas o que interessa aqui não é tanto os fundamentos da decisão, mas sim os princípios éticos subjacentes à mesma. Basicamente optou-se, mais uma vez, pela solução mais fraca. O medo do contágio interferiu na racionalidade e nos princípios da boa gestão da coisa pública. O contribuinte, chamado à mesa, pagou e calou sem ter uma única palavra a dizer sobre o assunto.
Mas os políticos portugueses não estão sozinhos; eles são uma imagem quase perfeita da elite política europeia da atualidade: por terem edificado um projeto europeu tão grande e com tantas falhas, andam todos "cagados" de medo com a possibilidade de que ele possa ruir, e à primeira racha na parede, toca de intervir com pedreiros, trolhas, pintores, etc. Tapa-se o assunto, mas estruturalmente não se resolve nada. É por isso que é nossa convicção que o edifício terá que ruir ou tornar-se num fantasma impossível de albergar quem quer que seja.
E nesta senda de tapar rachas, tivemos no Verão quente de 2011 a 2ª intervenção estatal no banco DEXIA em 3 anos, carregando ainda mais os contribuintes belgas e franceses.
Mas 2012 trouxe outro presente no sapatinho: BANKIA, qual aglomerado de Cajas falidas. Também esta instituição foi "reorientada" em finais de 2010, sendo o resultado da fusão 7 Cajas de Ahorro.
O plano era "fixe": Fundem-se as Cajas, dá-se um nome atraente, tenta-se captar mais depósitos para colateralizar os empréstimos da bolha imobiliária, e vamos rezar para que a economia cresça, as casas valorizem, os empréstimos ganhem nova vivacidade e os devedores liquidem o que têm a liquidar.
Oops, saiu tudo ao contrário, o que em final de 2010 não era difícil de prever: desemprego disparou, imobiliário continuou e continua a desvalorizar, delinquência no crédito não pára e, a anunciar o canto do cisne: a fuga de depósitos para outras instituições bancárias, preferencialmente do Norte da Europa.
Perdendo o dinheiro dos depósitos, retira-se a única fonte viável de colateralização dos empréstimos. Sem esta energia só já resta o recurso abusivo aos empréstimos do BCE, que ajudam na liquidez, mas que agravam o balanço dos bancos. Os mercados estão atentos e não perdoam.
Quando o BANKIA foi nacionalizado no início de Maio, as autoridades espanholas afirmavam que a instituição era solvente.
Semana e meia depois já precisava de 4,5 mil milhões de euros.
A 23 de Maio a fatura ascendia a 9 mil milhões de euros
E a 24 de Maio, ONTEM, o valor ia em 15 mil milhões de euros. Cronologia e fontes aqui.
É A LOUCURA DESCONTROLADA.
É brincar com o povo, é enganar e dissimular para salvar a pele e manter o status quo só mais uns tempos.
Em qualquer tomada difícil de decisão, como esta em que "nacionalizo ou não nacionalizo"; as coisas passam-se mais ou menos assim:
Se nacionalizo já amparo o problema já, com eventuais repercussões negativas num futuro incerto.
Se não nacionalizo, o problema avoluma-se já, rebenta nas minhas mãos, posso perder eleitores e o lugar, deixo de receber salário, mas tomo a decisão moralmente correta que só terá benefícios num futuro incerto e talvez distante.
Decidir nestas condições E OPTAR pela 2ª não é para qualquer um; é só para quem é estadista e tem "tomates" do tamanho do mundo.
Não é preciso ser-se muito inteligente nem possuir doutoramento em economia. É preciso coragem, e isso não se aprende na escola.
Em tempos, o governador do Banco do México, a propósito dos políticos mexicanos lhe pedirem para imprimir pesos, ele informou: Só por cima do meu cadáver!
Foi rapidamente substituído por outro governador.
É por isso que acreditamos que o adiamento das decisões difíceis e o recurso à impressão de dinheiro continuarão a fazer parte da nova ordem mundial, até, até... a coisa rebentar por algum lado...
Continuamos a apostar num cenário de hiper-inflação, mesmo num mundo onde os ativos se desvalorizam de dia para dia!
Parece paradoxal, mas é o que nos cheira.
Tiago Mestre
24 de maio de 2012
...ainda sobre as rendas excessivas no setor da energia
Foi notícia largamente amplificada na semana anterior as rendas excessivas no setor energético que o Estado pagava aos produtores. Este post vem fora de tempo, mas mesmo assim achamos importante dar a nossa visão sobre este assunto
O governo, pela mão de Álvaro Santos Pereira decidiu revogar/alterar alguns destes contratos, tornando-os menos atraentes para os produtores.
Cabe aos produtores decidir se com estas novas condições lhes interessa continuar a investir na produção de energia elétrica em Portugal.
A ENDESA já veio dizer que irá hibernar a Central do Pego, unidade que produziu energia elétrica mais de 50% do tempo neste Inverno que passou.
A EDP também já informou que está a rever a política de investimentos à luz destas novas condições, nomeadamente a futura construção de 2 novas barragens.
Sobre os contratos com produtores em regime de cogeração, estamos de acordo na revogação destes contratos, na medida em que caso o calor como sub-produto da produção elétrica não seja aproveitado, não se justifica a subsidiação. Acreditamos que a maior parte da cogeração em Portugal não aproveita o calor do gerador para os processos industriais do produtor.
As eólicas, que tanta implantação tiveram em Portugal, só assim o conseguiram devido à subsidiação do Estado. De outra forma haveria muito menos eólicas, algo que seria desejável à luz do que se sabe hoje. Temos demasiadas eólicas subsidiadas que, em dias de total ausência de vento, exige-se a compensação a 100% por parte das hídricas e das centrais convencionais a carvão e gás natural. Cortar neste contratos obrigará aos produtores a fazerem contas, contudo desconhecemos se os cortes são fortes ou fracos, e de que forma isso afetará a rentabilidade do negócio. Uma coisa é certa, este dinheiro que os produtores recebem é essencial para que o investimento se mantenha de pé. Todo o negócio foi efetuado nestes pressupostos de rentabilidade. Sem dinheiro não há produção de energia elétrica.
Quis-se tornar Portugal num país tendencialmente isento de importações de combustíveis fósseis para a produção de energia elétrica. A ideia é bonita mas não funcionou. Precisamos sempre de ter centrais térmicas em stand-by à espera dos dias em que não há vento nem água.
Só para lembrar: a energia elétrica não se acumula. O que se consome é instantaneamente produzido.
E sobre as centrais térmicas e hídricas que estão à espera de produzir quando não há vento, até aqui eram subsidiadas pelos contratos de potência garantida. Estes contratos, tanto quanto sabemos já vêm do tempo do Eng. Mira Amaral, Ministro da Energia e Indústria do tempo de Cavaco Silva. Foram anuladas há uns anos e voltaram em Agosto de 2010.
Desta forma assegura-se a permanente disponibilidade das centrais em caso de necessidade, que ocorre com bastante frequência. Cortar nestes contratos de potência garantida é pegar pela "ponta errada do pau", julgamos nós. Estes já existiam antes do advento das eólicas e não era por acaso: ao longo do dia há uma grande oscilação no consumo de energia elétrica e há centrais que estão paradas ao longo do dia à espera de "entrar".
Sempre assim foi porque tecnicamente é esta a realidade, e se juntarmos as eólicas à equação, ainda pior, porque além da variação do consumo ainda temos que acrescentar a variação da produção pelas eólicas. É mais complexidade que se adiciona ao sistema.
Cortar nestes contratos de potência garantida é sugerir no médio prazo que em condições de pouca água e nenhum vento não haja centrais térmicas suficientes para garantir o abastecimento de energia elétrica em Portugal. Quem tanto gostaria de cortar à bruta nestas rendas, certamente que, por exercício de coerência, não se importaria de ser o primeiro a deixar de ter em casa energia elétrica, caso não haja energia para toda a gente.
O assunto veio para a praça pública pessimamente mal explicado pelos políticos. Preocuparam-se mais em dizer que o dia era histórico e outras banalidades, em vez de explicar o que verdadeiramente se passou e os riscos que corremos em cortar unilateralmente nestes contratos de abastecimento de energia elétrica. Criaram-se as condições para a ignorância ser rainha e a opinião pública cobaia desta.
Para agravar a situação, o presidente da Endesa afirmou que o governo não foi sério. Disse uma coisa à porta fechada e depois promulgou outra. Não temos motivos para desconfiar da pessoa, pelo que ficamos preocupados quando assuntos desta importância se tratam desta forma.
Tiago Mestre
Nigel Farage e o parlamento europeu
Nigel Farage há muito que anda a avisar o Parlamento Europeu, ou antes, a pregar no deserto
Tiago Mestre
Tiago Mestre
Anda muita gente a falar da China...
Caros leitores e leitoras, temos lido muita coisa sobre a China e da travagem económica que está a sofrer.
Estando esse país tão distante da nossa realidade, é sempre difícil "sentir o pulso" àquela sociedade tão... esquisita.
Suspeita-se que o PIB é "fabricado" nos gabinetes ministeriais, e que desde 2007 não há correlação entre a atividade económica e os valores deste indicador.
Recentemente houve uma instituição que analisou o crescimento do consumo de energia eléctrica, e este já está muito longe dos 2 dígitos de crescimento de outrora.
A concessão de empréstimos diminuiu e a bolha imobiliária, esse maná de crescimento económico, parece que já viveu melhores dias.
Sabemos que uma boa parte das grandes empresas europeias e norte-americanas, sobretudo as que estão cotadas em bolsa, dependem em grande escala das vendas e da rentabilidade provenientes do Oriente.
Uma efetiva contração na aquisição deste bens por parte do gigante chinês revelar-se-á altamente prejudicial às empresas ocidentais, já que nos seus mercados domésticos já se viveram melhores dias.
A Europa já se encontra em quase recessão e os EUA só não o estão porque Barack Obama gera um défice anual de 1,3 triliões de euros, financiado com emissão de dívida pública. Esta loucura um dia terá que acabar, e quando as taxas de juro subirem por receio dos investidores, cuidado com a caixa de Pandora.
A vantagem de uma China mais fraca é o retorno de algumas atividades industriais novamente para o Ocidente. Mas tal deslocalização demora tempo, e nenhum investidor acorda e pensa em tirar as suas indústrias da China para um país que é substancialmente mais caro nos custos de produção.
Mas uma China mais fraca também significa menores exportações, um superavit comercial menor, deixando menos dinheiro disponível ao investidor chinês para comprar dívida americana ou europeia.
Outra consequência é a de alguma redução nas importações de bens produzidos pela Europa, sobretudo da Alemanha, com consequências nefastas para esta economia tão dependente das exportações.
A equação é complexa e com muitas variáveis. Emitir opiniões é sobretudo um exercício de astrologia!
Aqui vai a análise em 4 minutos de Charles Biderman no seu estilo inconfundível:
Tiago Mestre
Estando esse país tão distante da nossa realidade, é sempre difícil "sentir o pulso" àquela sociedade tão... esquisita.
Suspeita-se que o PIB é "fabricado" nos gabinetes ministeriais, e que desde 2007 não há correlação entre a atividade económica e os valores deste indicador.
Recentemente houve uma instituição que analisou o crescimento do consumo de energia eléctrica, e este já está muito longe dos 2 dígitos de crescimento de outrora.
A concessão de empréstimos diminuiu e a bolha imobiliária, esse maná de crescimento económico, parece que já viveu melhores dias.
Sabemos que uma boa parte das grandes empresas europeias e norte-americanas, sobretudo as que estão cotadas em bolsa, dependem em grande escala das vendas e da rentabilidade provenientes do Oriente.
Uma efetiva contração na aquisição deste bens por parte do gigante chinês revelar-se-á altamente prejudicial às empresas ocidentais, já que nos seus mercados domésticos já se viveram melhores dias.
A Europa já se encontra em quase recessão e os EUA só não o estão porque Barack Obama gera um défice anual de 1,3 triliões de euros, financiado com emissão de dívida pública. Esta loucura um dia terá que acabar, e quando as taxas de juro subirem por receio dos investidores, cuidado com a caixa de Pandora.
A vantagem de uma China mais fraca é o retorno de algumas atividades industriais novamente para o Ocidente. Mas tal deslocalização demora tempo, e nenhum investidor acorda e pensa em tirar as suas indústrias da China para um país que é substancialmente mais caro nos custos de produção.
Mas uma China mais fraca também significa menores exportações, um superavit comercial menor, deixando menos dinheiro disponível ao investidor chinês para comprar dívida americana ou europeia.
Outra consequência é a de alguma redução nas importações de bens produzidos pela Europa, sobretudo da Alemanha, com consequências nefastas para esta economia tão dependente das exportações.
A equação é complexa e com muitas variáveis. Emitir opiniões é sobretudo um exercício de astrologia!
Aqui vai a análise em 4 minutos de Charles Biderman no seu estilo inconfundível:
23 de maio de 2012
Adenda ao Pacto Orçamental - o disparate ratificado em Assembleia
Esta adenda que foi hoje aprovada no Parlamento é tão insignificante e irrelevante que até nos custa a falar sobre ela.
Assenta na necessidade de atenuar o ímpeto austero do Pacto Orçamental Europeu, ou Regra Dourada, como lhe queiram chamar, aprovada por todos os países em... final de Março de 2012. Há apenas mês e meio...
Se querem mesmo crescimento económico por via do estímulo estatal, então o melhor é esquecer o espírito do próprio pacto, porque este EXIGE redução do défice para próximo de 0...
Já em Abril tínhamos escrito aqui no blog acerca da irrelevância deste Pacto e de como ele seria violado logo após a sua promulgação, seguindo a "boa" tradição europeia em não respeitar os compromissos assumidos. Foi fácil demais prever este resultado.
Esta adenda é só mais uma das muitas violações.
E logo agora, em que todos acham a austeridade uma coisa má, ou seja, auf wiedersehen ao cumprimento do Pacto Orçamental.
Eis a cronologia das violações ao tal Pacto em apenas 45 dias:
1. Espanha alivia as metas do défice;
2. Itália adia por um ano das metas do défice;
3. Grécia não cumpre qualquer meta imposta e renuncia desde já a fazê-lo no futuro;
4. Holanda não quer implementar austeridade porque fragiliza o já de si "frágil" crescimento económico do país.
5. Hollande em França exige compromisso para o crescimento
6. Portugal ratifica uma adenda de crescimento ao Pacto já previamente ratificado
Visto de fora, na perspetiva do investidor, isto é uma autêntica anedota.
Infantilidades difíceis de acreditar para qualquer cidadão com o mínimo de senso comum.
Quem pode, foge, claro!
Tiago Mestre
Assenta na necessidade de atenuar o ímpeto austero do Pacto Orçamental Europeu, ou Regra Dourada, como lhe queiram chamar, aprovada por todos os países em... final de Março de 2012. Há apenas mês e meio...
Se querem mesmo crescimento económico por via do estímulo estatal, então o melhor é esquecer o espírito do próprio pacto, porque este EXIGE redução do défice para próximo de 0...
Já em Abril tínhamos escrito aqui no blog acerca da irrelevância deste Pacto e de como ele seria violado logo após a sua promulgação, seguindo a "boa" tradição europeia em não respeitar os compromissos assumidos. Foi fácil demais prever este resultado.
Esta adenda é só mais uma das muitas violações.
E logo agora, em que todos acham a austeridade uma coisa má, ou seja, auf wiedersehen ao cumprimento do Pacto Orçamental.
Eis a cronologia das violações ao tal Pacto em apenas 45 dias:
1. Espanha alivia as metas do défice;
2. Itália adia por um ano das metas do défice;
3. Grécia não cumpre qualquer meta imposta e renuncia desde já a fazê-lo no futuro;
4. Holanda não quer implementar austeridade porque fragiliza o já de si "frágil" crescimento económico do país.
5. Hollande em França exige compromisso para o crescimento
6. Portugal ratifica uma adenda de crescimento ao Pacto já previamente ratificado
Visto de fora, na perspetiva do investidor, isto é uma autêntica anedota.
Infantilidades difíceis de acreditar para qualquer cidadão com o mínimo de senso comum.
Quem pode, foge, claro!
Tiago Mestre
Já temos as contas do Estado para o 1º quadrimestre de 2012
Caros leitores e leitoras, a Direção Geral do Orçamento já publicou as contas dos primeiros quatro meses.
2012
Receita total acumulada:
11.103 milhões de euros
Despesa total acumulada:
14.162 milhões de euros
Diferença (défice):
3,05 mil milhões de euros aprox
... e o que aconteceu em 2011?
Receita total acumulada:
11.351 milhões de euros
Despesa total acumulada:
13.804 milhões de euros
Diferença (défice):
2,4 mil milhões de euros aprox
A receita caiu, mesmo com o aumento dos impostos em 2012. É a chamada fadiga fiscal...
A despesa aumentou, devido sobretudo aos juros.
Tirando os juros da equação, a despesa corrente baixou 337 milhões de euros em 2012 face a 2011.
OU SEJA, A REDUÇÃO REAL DA DESPESA PÚBLICA FOI DE 337 MILHÕES DE EUROS FACE A 2011.
Este valor certamente que baixará mais quando não se pagarem os subsídios de férias e de Natal, já que se pagaram em 2011.
Parece-nos pouco, e apelidar esta redução de pouco mais de 300 milhões de euros de AUSTERIDADE parece-nos uma brincadeira. Nem se pode considerar uma austeridadezinha, sequer!
Se não houvesse corte de subsídios, num ano a redução de despesa seria de 900 milhões de euros. Sempre é qualquer coisa, mas quando estamos habituados a ter défices anuais de 10, 12, 15 mil milhões de euros, é pouco, achamos nós!
Tiago Mestre
2012
Receita total acumulada:
11.103 milhões de euros
Despesa total acumulada:
14.162 milhões de euros
Diferença (défice):
3,05 mil milhões de euros aprox
... e o que aconteceu em 2011?
Receita total acumulada:
11.351 milhões de euros
Despesa total acumulada:
13.804 milhões de euros
Diferença (défice):
2,4 mil milhões de euros aprox
A receita caiu, mesmo com o aumento dos impostos em 2012. É a chamada fadiga fiscal...
A despesa aumentou, devido sobretudo aos juros.
Tirando os juros da equação, a despesa corrente baixou 337 milhões de euros em 2012 face a 2011.
OU SEJA, A REDUÇÃO REAL DA DESPESA PÚBLICA FOI DE 337 MILHÕES DE EUROS FACE A 2011.
Este valor certamente que baixará mais quando não se pagarem os subsídios de férias e de Natal, já que se pagaram em 2011.
Parece-nos pouco, e apelidar esta redução de pouco mais de 300 milhões de euros de AUSTERIDADE parece-nos uma brincadeira. Nem se pode considerar uma austeridadezinha, sequer!
Se não houvesse corte de subsídios, num ano a redução de despesa seria de 900 milhões de euros. Sempre é qualquer coisa, mas quando estamos habituados a ter défices anuais de 10, 12, 15 mil milhões de euros, é pouco, achamos nós!
Tiago Mestre
Grécia pode sair do Euro... mas por vontade dos líderes europeus?
Parece-nos que os líderes europeus embarcaram em mais uma jogada de propaganda ao anunciar ao mundo que estão a estudar a saída da Grécia do Euro.
A notícia do estudo de saída da Grécia do Euro está a ser difundida por todo o lado.
Parece-nos chantagem para com o povo grego.
A ver se o Syriza perde ao ponto de haver coligação maioritária entre o PASOK e a Nova Democracia.
É o que nos parece...
Eles são todos demasiado mentirosos para embarcar numa verdade tão profunda como esta, especulamos nós...
Tiago Mestre
A notícia do estudo de saída da Grécia do Euro está a ser difundida por todo o lado.
Parece-nos chantagem para com o povo grego.
A ver se o Syriza perde ao ponto de haver coligação maioritária entre o PASOK e a Nova Democracia.
É o que nos parece...
Eles são todos demasiado mentirosos para embarcar numa verdade tão profunda como esta, especulamos nós...
Tiago Mestre
Será mais crédito a solução para a nossa economia? Humm..
Caros leitores e leitoras, temos ouvido em demasia nos canais de comunicação social vários "especialistas" a pedir que haja mais crédito concedido à economia, porque esta está desesperada desta fonte de "riqueza".
Só para desmistificar: se assim o fosse, então os nossos exportadores estariam a reduzir as suas exportações, e não a aumentar!
Lamentamos que esta ideia tenha ganho aderência, porque de facto ela não reflete a realidade, e os exportadores aí estão para o comprovar.
Mas há já quem argumente que caso houvesse mais crédito, então os exportadores venderiam ainda mais.
Quem fala sobre estas coisas não pode ter muita experiência a gerir empresas, ou se a tem, escapou-lhe o essencial na arte da gestão.
Antes da haver crédito barato e abundante, os empresários portugueses precisavam sempre, mas sempre, de recorrer a fundos internos para financiar a atividade: ou através de injeção de capital social ou com lucros transitados do exercício anterior. Por muita vontade que os empresários tivessem em gastar o dinheiro que não tinham, a realidade impunha-se com uma força tal que rapidamente os fazia descer à terra.
Os bancos só emprestavam, e a juros elevados, caso o dinheiro fosse emprestado a gente muito séria, com um passado imaculado ou quase, e que servisse para efetuar investimentos reprodutivos, ou seja, que se pagasse a si mesmo e ainda se traduzisse em lucros para o proprietário.
Emprestar dinheiro era uma atividade de risco muito bem calculado, sendo a taxa de juro o barómetro desse mesmo risco.
Mas entretanto com a entrada do euro a coisa abandalhou-se: o crédito deixou de servir para investimentos reprodutivos e espalhou-se para todo o tipo de transações. Os empresários, sequiosos de gastar o que não tinham, começaram a usar dinheiro emprestado para financiar parcialmente atividades correntes, como pagar a fornecedores, salários, impostos, recolha de lucros, dividendos, etc, etc. Quando esta nova realidade se impôs, ninguém se apercebeu da armadilha em que tinha caído, porque mantendo um bom nível de crescimento de vendas, dinheiro emprestado era coisa que não faltava e falta de liquidez era algo de verdadeiramente ridículo.
Os próprios patrões, muitos deles enriqueciam de um dia para o outro: usavam e abusavam da liquidez "infinita" da empresa para financiar todo o tipo de gastos pessoais e familiares. Sabemos de casos em que se chegou a meter nas contas o vestido da noiva...
Automóveis topo de gama adquiridos a crédito, com "suaves" prestações de 600 e 800 euros por mês permitiam fazer vida de rico e mostrar o poder da nova burguesia.
Mas algo de negativo germinava no balanço das empresas. Os rácios de solvabilidade e autonomia financeira degradavam-se cada vez mais, colocando-as num patamar cada vez mais precário. Com uma pequena oscilação nas vendas e na rentabilidade, rapidamente a empresa assumia uma trajetória de colisão com a realidade no médio prazo.
E se a década de 90 ainda foi um maná para muitos empresários, a década de 2000 só já o foi para alguns. Apesar do crédito ter sido mais do que abundante até 2008, a economia já encolhia fortemente em comparação com a década de 90. Era o crédito que mantinha muitas empresas levitadas, não por serem fortes e altamente produtivas, mas porque PAGAVAM DESPESAS CORRENTES ROUBANDO ENERGIA AO FUTURO.
As contas caucionadas, por serem difíceis de gerir e fáceis de utilizar e esgotar, foram um instrumento financeiro que promoveu esta trajetória insustentável.
Os créditos tipo bullet, em que só se paga o capital ao longo da maturidade e a juro paga-se de uma só vez na última prestação, também ajudaram a adiar as decisões difíceis. Mas esta extravagância financeira só estava acessível a grandes empresas ou semi-públicas, como chegámos a ler no Relatório e Contas do Metropolitano de Lisboa no exercício de 2009.
O crédito barato adiou as decisões difíceis, tanto na mente dos empresários como na mente dos políticos em relação às contas do Estado.
Se a restrição de crédito tivesse ocorrido mais cedo, teríamos ajustado a economia com um desemprego muito mais baixo, rácios de endividamento inferiores, setor produtivo com mais peso no PIB e menor dependência do exterior. Numa expressão: teria sido menos difícil mudar de vida.
Por cada dia que passa em que adiamos as decisões difíceis, as variáveis acima descritas degradam-se mais, tornando o futuro ajustamento cada vez mais penoso. Corremos o risco de adiar tanto no tempo as reformas difíceis que quando acabar a "teta" para chuchar, já não teremos nem portugueses nem empresas para reestruturar.
O crédito é um veneno porque relaxa as preocupações de quem tem responsabilidades!
Para os empresários, 2008 torna-se no ano em que o crédito entra no seu canto do cisne: começou por ser mais caro, e a partir de finais de 2010 passa a ser fortemente restringido.
Para os políticos as coisas continuam mais ou menos na mesma:
Se não há crédito privado há a TROIKA: mais um balão de oxigénio enquanto nos enterramos dia-a-dia em mais dívida... Dizem as más línguas que o 2º resgate é inevitável e já vem a caminho.
Com este artigo chegamos à conclusão que o crédito pode ser útil, mas em situações muito específicas e altamente rentáveis, ou seja, a energia que ao futuro pedimos, ao futuro entregaremos.
Os empresários e bons gestores, se quiserem ser dignos desses nomes, devem apresentar balanços das suas empresas, sobretudo aquelas com mais de 5-6 anos de atividade, em que:
Autonomia financeira é superior a 35%
Solvabilidade superior a 75%
Liquidez geral superior a 100%
Rentabilidade líquida do exercício superior a 5-8%, dependendo da atividade.
O resto é conversa e pato-bravismo!
Tiago Mestre
Só para desmistificar: se assim o fosse, então os nossos exportadores estariam a reduzir as suas exportações, e não a aumentar!
Lamentamos que esta ideia tenha ganho aderência, porque de facto ela não reflete a realidade, e os exportadores aí estão para o comprovar.
Mas há já quem argumente que caso houvesse mais crédito, então os exportadores venderiam ainda mais.
Quem fala sobre estas coisas não pode ter muita experiência a gerir empresas, ou se a tem, escapou-lhe o essencial na arte da gestão.
Antes da haver crédito barato e abundante, os empresários portugueses precisavam sempre, mas sempre, de recorrer a fundos internos para financiar a atividade: ou através de injeção de capital social ou com lucros transitados do exercício anterior. Por muita vontade que os empresários tivessem em gastar o dinheiro que não tinham, a realidade impunha-se com uma força tal que rapidamente os fazia descer à terra.
Os bancos só emprestavam, e a juros elevados, caso o dinheiro fosse emprestado a gente muito séria, com um passado imaculado ou quase, e que servisse para efetuar investimentos reprodutivos, ou seja, que se pagasse a si mesmo e ainda se traduzisse em lucros para o proprietário.
Emprestar dinheiro era uma atividade de risco muito bem calculado, sendo a taxa de juro o barómetro desse mesmo risco.
Mas entretanto com a entrada do euro a coisa abandalhou-se: o crédito deixou de servir para investimentos reprodutivos e espalhou-se para todo o tipo de transações. Os empresários, sequiosos de gastar o que não tinham, começaram a usar dinheiro emprestado para financiar parcialmente atividades correntes, como pagar a fornecedores, salários, impostos, recolha de lucros, dividendos, etc, etc. Quando esta nova realidade se impôs, ninguém se apercebeu da armadilha em que tinha caído, porque mantendo um bom nível de crescimento de vendas, dinheiro emprestado era coisa que não faltava e falta de liquidez era algo de verdadeiramente ridículo.
Os próprios patrões, muitos deles enriqueciam de um dia para o outro: usavam e abusavam da liquidez "infinita" da empresa para financiar todo o tipo de gastos pessoais e familiares. Sabemos de casos em que se chegou a meter nas contas o vestido da noiva...
Automóveis topo de gama adquiridos a crédito, com "suaves" prestações de 600 e 800 euros por mês permitiam fazer vida de rico e mostrar o poder da nova burguesia.
Mas algo de negativo germinava no balanço das empresas. Os rácios de solvabilidade e autonomia financeira degradavam-se cada vez mais, colocando-as num patamar cada vez mais precário. Com uma pequena oscilação nas vendas e na rentabilidade, rapidamente a empresa assumia uma trajetória de colisão com a realidade no médio prazo.
E se a década de 90 ainda foi um maná para muitos empresários, a década de 2000 só já o foi para alguns. Apesar do crédito ter sido mais do que abundante até 2008, a economia já encolhia fortemente em comparação com a década de 90. Era o crédito que mantinha muitas empresas levitadas, não por serem fortes e altamente produtivas, mas porque PAGAVAM DESPESAS CORRENTES ROUBANDO ENERGIA AO FUTURO.
As contas caucionadas, por serem difíceis de gerir e fáceis de utilizar e esgotar, foram um instrumento financeiro que promoveu esta trajetória insustentável.
Os créditos tipo bullet, em que só se paga o capital ao longo da maturidade e a juro paga-se de uma só vez na última prestação, também ajudaram a adiar as decisões difíceis. Mas esta extravagância financeira só estava acessível a grandes empresas ou semi-públicas, como chegámos a ler no Relatório e Contas do Metropolitano de Lisboa no exercício de 2009.
O crédito barato adiou as decisões difíceis, tanto na mente dos empresários como na mente dos políticos em relação às contas do Estado.
Se a restrição de crédito tivesse ocorrido mais cedo, teríamos ajustado a economia com um desemprego muito mais baixo, rácios de endividamento inferiores, setor produtivo com mais peso no PIB e menor dependência do exterior. Numa expressão: teria sido menos difícil mudar de vida.
Por cada dia que passa em que adiamos as decisões difíceis, as variáveis acima descritas degradam-se mais, tornando o futuro ajustamento cada vez mais penoso. Corremos o risco de adiar tanto no tempo as reformas difíceis que quando acabar a "teta" para chuchar, já não teremos nem portugueses nem empresas para reestruturar.
O crédito é um veneno porque relaxa as preocupações de quem tem responsabilidades!
Para os empresários, 2008 torna-se no ano em que o crédito entra no seu canto do cisne: começou por ser mais caro, e a partir de finais de 2010 passa a ser fortemente restringido.
Para os políticos as coisas continuam mais ou menos na mesma:
Se não há crédito privado há a TROIKA: mais um balão de oxigénio enquanto nos enterramos dia-a-dia em mais dívida... Dizem as más línguas que o 2º resgate é inevitável e já vem a caminho.
Com este artigo chegamos à conclusão que o crédito pode ser útil, mas em situações muito específicas e altamente rentáveis, ou seja, a energia que ao futuro pedimos, ao futuro entregaremos.
Os empresários e bons gestores, se quiserem ser dignos desses nomes, devem apresentar balanços das suas empresas, sobretudo aquelas com mais de 5-6 anos de atividade, em que:
Autonomia financeira é superior a 35%
Solvabilidade superior a 75%
Liquidez geral superior a 100%
Rentabilidade líquida do exercício superior a 5-8%, dependendo da atividade.
O resto é conversa e pato-bravismo!
Tiago Mestre
O que valem mesmo as nossas exportações?
Caros leitores e leitoras, em primeiro lugar devemos agradecer a todos os exportadores que, neste período difícil que Portugal atravessa, nos têm aliviado de maiores males.
As exportações ocupam aproximadamente 35% do PIB português, sendo que com estas alterações na economia doméstica, ou seja, redução da procura interna, talvez a sua quota chegue aos 40% ou até mais.
Para se perceber melhor:
PIB de 2009 = Consumo Privado (66,6%) + Consumo Público (20,7%) + Investimento (22,3%) + Exportações (33%) - Importações (42,7%)
PIB de 2011 = Consumo Privado (66,3%) + Consumo Público (20,2%) + Investimento (18%) + Exportações (35,5%) - Importações (39,3%)
As exportações têm ganho quota de percentagem relativa no PIB, o que é positivo, mas advêm em parte da queda relativa do Investimento e das Importações.
Se a queda das importações é um bom sinal porque minimiza o défice comercial e promove a produção interna, já o Investimento é uma componente fundamental no desenvolvimento de futuras exportações portuguesas, pelo que a queda relativa desta parcela é vista por nós com certa preocupação.
Acreditamos que em 2012 o Consumo Privado baixe para valores a rondar os 60% e as exportações se aproximem dos 38%.
Quando em 2011 a classe política fez as previsões macro-económicas para 2012, quis acreditar que a redução do Consumo Público (abaixamento da despesa e do défice) não influenciaria de sobremaneira o Consumo Privado, e se as exportações mantivessem o bom ritmo de 2010, talvez escapássemos a uma recessão mesmo com austeridade pelo meio.
Era esse o sonho. Mas rapidamente se percebeu que quem acredita muito em sonhos rapidamente passa a ter pesadelos.
O Consumo Privado não aguentou a pressão do Consumo Público, ou seja, a redução dos salários dos funcionários públicos, o aumento dos impostos, a retenção de 50% do subsídio de Natal, a redução das deduções e outros fenómenos que tais resultou numa redução generalizada do consumo, sobretudo de bens mais duradouros, ou seja, que não fazem tanta falta no dia-a-dia. A venda de automóveis é talvez o melhor exemplo. O desemprego tinha que se impor, era inevitável.
Uns não gastaram porque deixaram de ter, e outros tinham mas preferiram poupá-lo.
O Investimento também se ressentiu, mas esse não depende só de nós, depende da riqueza de terceiros e se esses se sentem cativados em investir cá. Com o nível de impostos que temos e a justiça que funciona mal, só mesmo os salários baixos e um grau elevado de qualificações é que pode seduzir investidores, quer domésticos, quer estrangeiros. Mas para já, o investimento está em queda, ou seja, o que de bom se fez na educação está a ser neutralizado por questiúnculas de funcionamento da justiça e guerrinhas de políticos.
O Consumo Público ainda tem uma grande trajetória de queda para fazer, já que com receitas totais de 65 mil milhões de euros, o Estado gasta 85 mil milhões de euros em despesa. Esta diferença grosseira de 20 mil milhões de euros tem que ser reduzida a zero.
Mas quando as despesas chegarem aos 65 mil milhões, já a receita não será de 65, porque entretanto as receitas dos impostos caíram e o consumo retraiu ainda mais. O Estado terá sim uma receita de 55 ou até 50 mil milhões. Nestas condições, é necessário continuar a reduzir despesa até que esta iguale a receita. O equilíbrio sustentado entre receita e despesa não sabemos quando será atingido, mas acreditamos que será próximo dos 50 mil milhões ou até menos.
Moral da história: o Estado tem que reduzir a despesa de 85 para 50 a 55 mil milhões. SÃO SÓ 30-35 MIL MILHÕES DE EUROS DE REDUÇÃO.
Genericamente gastamos:
9 mil milhões em juros,
9 mil milhões em saúde,
8 mil milhões em educação,
2 ou 3 mil milhões em obras públicas e
quase 40 mil milhões em segurança social
Somando outras rúbricas menos importantes, como a defesa, a justiça e a administração interna chegamos aos tais 85 mil milhões.
Aceitam-se sugestões desde já para cortar a despesa em 35 mil milhões de euros. Nós já temos umas ideias, mas os eleitores não iriam gostar!
E é preciso ter em conta que já vamos com 15% de desemprego e uma dívida para pagar de 195 mil milhões de euros...
Para sermos realistas, é neste cenário que devemos trabalhar, sem tabus nem medos. Para quem reconhece esta evidência matemática, sugiro que se comece a preparar imediatamente porque não vale a pena ficar à espera dos meios de comunicação social para ganhar consciência desta realidade. O governo continuará a assumir cenários demasiado cor-de-rosa e os media apenas amplificam as "suas" vontades.
A força das exportações como almofada da queda da procura interna possui as suas limitações: depende da vontade externa em querer comprar português e de ter dinheiro para o fazer. Neste aspeto, os cenários macro-económicos dos nossos parceiros europeus e norte-americanos não é bonito de se ver, sendo Angola, Moçambique e Brasil, todas ex-colónias nossas, as nossas grandes esperanças! Mas tanto quanto sabemos, também estes países estão a restringir o movimento de pessoas, bens e capitais. Toda a gente sabe as dificuldades que existem na obtenção de visto para ir trabalhar para Angola ou para o Brasil.
Querem que se invista lá mas depois não querem que o dinheiro saia de lá! Uma espécie de protecionismo de um só sentido.
A médio prazo isto não são boas notícias para nós.
Em conclusão, as nossas exportações dependem muito de fatores que não controlamos, pelo que é nossa sugestão que o governo olhe sempre com cautela para esta rúbrica do PIB e que não se baseie nos impostos dela para prometer aos eleitores dinheiro para isto ou dinheiro para aquilo.
Para já, são as exportações que nos ajudam a ter uma recessão de 3% em vez de 5 ou de 6%, e um desemprego de 15% em vez de 19 ou 20%
Tiago Mestre
As exportações ocupam aproximadamente 35% do PIB português, sendo que com estas alterações na economia doméstica, ou seja, redução da procura interna, talvez a sua quota chegue aos 40% ou até mais.
Para se perceber melhor:
PIB de 2009 = Consumo Privado (66,6%) + Consumo Público (20,7%) + Investimento (22,3%) + Exportações (33%) - Importações (42,7%)
PIB de 2011 = Consumo Privado (66,3%) + Consumo Público (20,2%) + Investimento (18%) + Exportações (35,5%) - Importações (39,3%)
As exportações têm ganho quota de percentagem relativa no PIB, o que é positivo, mas advêm em parte da queda relativa do Investimento e das Importações.
Se a queda das importações é um bom sinal porque minimiza o défice comercial e promove a produção interna, já o Investimento é uma componente fundamental no desenvolvimento de futuras exportações portuguesas, pelo que a queda relativa desta parcela é vista por nós com certa preocupação.
Acreditamos que em 2012 o Consumo Privado baixe para valores a rondar os 60% e as exportações se aproximem dos 38%.
Quando em 2011 a classe política fez as previsões macro-económicas para 2012, quis acreditar que a redução do Consumo Público (abaixamento da despesa e do défice) não influenciaria de sobremaneira o Consumo Privado, e se as exportações mantivessem o bom ritmo de 2010, talvez escapássemos a uma recessão mesmo com austeridade pelo meio.
Era esse o sonho. Mas rapidamente se percebeu que quem acredita muito em sonhos rapidamente passa a ter pesadelos.
O Consumo Privado não aguentou a pressão do Consumo Público, ou seja, a redução dos salários dos funcionários públicos, o aumento dos impostos, a retenção de 50% do subsídio de Natal, a redução das deduções e outros fenómenos que tais resultou numa redução generalizada do consumo, sobretudo de bens mais duradouros, ou seja, que não fazem tanta falta no dia-a-dia. A venda de automóveis é talvez o melhor exemplo. O desemprego tinha que se impor, era inevitável.
Uns não gastaram porque deixaram de ter, e outros tinham mas preferiram poupá-lo.
O Investimento também se ressentiu, mas esse não depende só de nós, depende da riqueza de terceiros e se esses se sentem cativados em investir cá. Com o nível de impostos que temos e a justiça que funciona mal, só mesmo os salários baixos e um grau elevado de qualificações é que pode seduzir investidores, quer domésticos, quer estrangeiros. Mas para já, o investimento está em queda, ou seja, o que de bom se fez na educação está a ser neutralizado por questiúnculas de funcionamento da justiça e guerrinhas de políticos.
O Consumo Público ainda tem uma grande trajetória de queda para fazer, já que com receitas totais de 65 mil milhões de euros, o Estado gasta 85 mil milhões de euros em despesa. Esta diferença grosseira de 20 mil milhões de euros tem que ser reduzida a zero.
Mas quando as despesas chegarem aos 65 mil milhões, já a receita não será de 65, porque entretanto as receitas dos impostos caíram e o consumo retraiu ainda mais. O Estado terá sim uma receita de 55 ou até 50 mil milhões. Nestas condições, é necessário continuar a reduzir despesa até que esta iguale a receita. O equilíbrio sustentado entre receita e despesa não sabemos quando será atingido, mas acreditamos que será próximo dos 50 mil milhões ou até menos.
Moral da história: o Estado tem que reduzir a despesa de 85 para 50 a 55 mil milhões. SÃO SÓ 30-35 MIL MILHÕES DE EUROS DE REDUÇÃO.
Genericamente gastamos:
9 mil milhões em juros,
9 mil milhões em saúde,
8 mil milhões em educação,
2 ou 3 mil milhões em obras públicas e
quase 40 mil milhões em segurança social
Somando outras rúbricas menos importantes, como a defesa, a justiça e a administração interna chegamos aos tais 85 mil milhões.
Aceitam-se sugestões desde já para cortar a despesa em 35 mil milhões de euros. Nós já temos umas ideias, mas os eleitores não iriam gostar!
E é preciso ter em conta que já vamos com 15% de desemprego e uma dívida para pagar de 195 mil milhões de euros...
Para sermos realistas, é neste cenário que devemos trabalhar, sem tabus nem medos. Para quem reconhece esta evidência matemática, sugiro que se comece a preparar imediatamente porque não vale a pena ficar à espera dos meios de comunicação social para ganhar consciência desta realidade. O governo continuará a assumir cenários demasiado cor-de-rosa e os media apenas amplificam as "suas" vontades.
A força das exportações como almofada da queda da procura interna possui as suas limitações: depende da vontade externa em querer comprar português e de ter dinheiro para o fazer. Neste aspeto, os cenários macro-económicos dos nossos parceiros europeus e norte-americanos não é bonito de se ver, sendo Angola, Moçambique e Brasil, todas ex-colónias nossas, as nossas grandes esperanças! Mas tanto quanto sabemos, também estes países estão a restringir o movimento de pessoas, bens e capitais. Toda a gente sabe as dificuldades que existem na obtenção de visto para ir trabalhar para Angola ou para o Brasil.
Querem que se invista lá mas depois não querem que o dinheiro saia de lá! Uma espécie de protecionismo de um só sentido.
A médio prazo isto não são boas notícias para nós.
Em conclusão, as nossas exportações dependem muito de fatores que não controlamos, pelo que é nossa sugestão que o governo olhe sempre com cautela para esta rúbrica do PIB e que não se baseie nos impostos dela para prometer aos eleitores dinheiro para isto ou dinheiro para aquilo.
Para já, são as exportações que nos ajudam a ter uma recessão de 3% em vez de 5 ou de 6%, e um desemprego de 15% em vez de 19 ou 20%
Tiago Mestre
22 de maio de 2012
O problema europeu nunca esteve contido, apenas se criou a ilusão de que estava!
Numa notícia da edição online do Expresso, a instituição internacional que responde por 450 instituições bancárias, o IIF, informou a comunidade internacional de que as perdas dos bancos espanhóis devido aos créditos delinquentes e à desvalorização das casas que estão "agarradas" aos empréstimos ascenderão aos 210 mil milhões de euros.
Vindo esta informação do organismo politicamente correto que é o IIF, podemos sempre amplificar este valor para mais de 300 ou 400 mil milhões de euros. 210 mil milhões é um valor por baixo para não assustar a malta!
Não esquecer que foi este organismo que levou os bancos credores da dívida grega a embarcar naquele perdão infame de dívida, já que os bancos que não entraram no acordo continuam a receber os pagamentos e não se prevê que lhes venha a acontecer coisa alguma.
Mas esta notícia é mais uma machadada na credibilidade da elite política europeia.
Fomos informados vezes sem conta desde janeiro de 2010 que primeiro não havia problema nenhum, que depois era só a Grécia, depois Irlanda e Portugal. Com estes 3 países "protegidos" de ataques externos dos malditos mercados, a Europa voltaria novamente a renascer e tudo estaria bem. Mas a verdade é que só a ponta do icebergue é que estava à mostra. Depois veio a Itália, a Bélgica, e agora é a vez da Espanha expor as suas vulnerabilidades. Prejuízos imensos que toda a gente espera que seja o BCE a suportar.
Com as economias a afrouxarem, e para total desagrado dos políticos, o nível da água começou a baixar e a uma velocidade tal que não deu tempo à classe política para se preparar. Basicamente só tiveram tempo para mentir na tentativa de reanimar os investidores e fazê-los acreditar que os problemas eram poucos e as soluções mais do que suficientes.
O que foi feito foi sempre temporário e descoordenado com a realidade. Compreendemos a dificuldade da elite política em querer ir à procura da verdade e transmiti-la à população. Ninguém quer ser o mensageiro da catástrofe, e hoje, apesar de não a declararem, já não existem mensagens otimistas e agradáveis ao ouvido.
O nível da água continua hoje a baixar e não se vê fim à vista, ou seja, o icebergue é muito, mas mesmo muito maior do que se suporia.
Hoje a Europa está muito mais pobre, tanto economica como politicamente. O capital de confiança política que as populações acumularam durante anos esvaziou-se em 2 anos. Disse-se tudo, mas tudo, para que as populações acalmassem e os investidores não perdessem a credibilidade no euro.
Mas ao fim de 2 anos, BASTA, já não há declarações otimistas e inspiradoras. Pede-se às populações, em jeito de desespero, que acreditem que a Grécia é para continuar no Euro sem terem qualquer mecanismo que possa consubstanciar essa "vontade". Serão os gregos a dizer se querem ou não querem, é a vontade deles, e não a da Comissão Europeia ou da Alemanha. Pede-se que acreditem que as políticas de crescimento servirão para reanimar o mercado de trabalho, em particular o dos jovens. Pede-se, pede-se, mas a malta já não acede. Só se cai uma vez, à segunda só já cai quem quer. É a velha história do miúdo que pede ajuda ao amigo sem precisar, até ao dia em que precisa mesmo mas ele já lá não está.
As raízes da crise financeira e económica estão profundamente agarradas à terra, e não é com umas curas aqui e acolá que a árvore recupera. Os investidores já percebem hoje que o crescimento europeu de 20 e tal anos foi tudo insuflado com dinheiro pedido emprestado ao futuro. Esse futuro chegou e pedir mais dinheiro ao futuro que há-de-vir já não cola. O futuro (investidores) negou-se a aceitar esse risco.
Hoje ficámos a saber que a Espanha terá que "suportar" perdas bancárias que eclipsam os valores do resgate a Portugal.
E segundo o Público, os bancos gregos, via BCE e com recurso ao programa de empréstimos ELA, estão a receber dinheiro que os mantêm à tona de água por mais um dia.
São mais 100 mil milhões de euros que se pedem emprestados ao Bundesbank para suportar instituições gregas totalmente falidas.
Um dia esta "solidariedade" terá que acabar, nem que seja com a Alemanha a sair do euro e deixar o BCE à sua sorte.
Que mais faltará para reconhecerem as evidências?
Coragem Política
Tiago Mestre
Vindo esta informação do organismo politicamente correto que é o IIF, podemos sempre amplificar este valor para mais de 300 ou 400 mil milhões de euros. 210 mil milhões é um valor por baixo para não assustar a malta!
Não esquecer que foi este organismo que levou os bancos credores da dívida grega a embarcar naquele perdão infame de dívida, já que os bancos que não entraram no acordo continuam a receber os pagamentos e não se prevê que lhes venha a acontecer coisa alguma.
Mas esta notícia é mais uma machadada na credibilidade da elite política europeia.
Fomos informados vezes sem conta desde janeiro de 2010 que primeiro não havia problema nenhum, que depois era só a Grécia, depois Irlanda e Portugal. Com estes 3 países "protegidos" de ataques externos dos malditos mercados, a Europa voltaria novamente a renascer e tudo estaria bem. Mas a verdade é que só a ponta do icebergue é que estava à mostra. Depois veio a Itália, a Bélgica, e agora é a vez da Espanha expor as suas vulnerabilidades. Prejuízos imensos que toda a gente espera que seja o BCE a suportar.
Com as economias a afrouxarem, e para total desagrado dos políticos, o nível da água começou a baixar e a uma velocidade tal que não deu tempo à classe política para se preparar. Basicamente só tiveram tempo para mentir na tentativa de reanimar os investidores e fazê-los acreditar que os problemas eram poucos e as soluções mais do que suficientes.
O que foi feito foi sempre temporário e descoordenado com a realidade. Compreendemos a dificuldade da elite política em querer ir à procura da verdade e transmiti-la à população. Ninguém quer ser o mensageiro da catástrofe, e hoje, apesar de não a declararem, já não existem mensagens otimistas e agradáveis ao ouvido.
O nível da água continua hoje a baixar e não se vê fim à vista, ou seja, o icebergue é muito, mas mesmo muito maior do que se suporia.
Hoje a Europa está muito mais pobre, tanto economica como politicamente. O capital de confiança política que as populações acumularam durante anos esvaziou-se em 2 anos. Disse-se tudo, mas tudo, para que as populações acalmassem e os investidores não perdessem a credibilidade no euro.
Mas ao fim de 2 anos, BASTA, já não há declarações otimistas e inspiradoras. Pede-se às populações, em jeito de desespero, que acreditem que a Grécia é para continuar no Euro sem terem qualquer mecanismo que possa consubstanciar essa "vontade". Serão os gregos a dizer se querem ou não querem, é a vontade deles, e não a da Comissão Europeia ou da Alemanha. Pede-se que acreditem que as políticas de crescimento servirão para reanimar o mercado de trabalho, em particular o dos jovens. Pede-se, pede-se, mas a malta já não acede. Só se cai uma vez, à segunda só já cai quem quer. É a velha história do miúdo que pede ajuda ao amigo sem precisar, até ao dia em que precisa mesmo mas ele já lá não está.
As raízes da crise financeira e económica estão profundamente agarradas à terra, e não é com umas curas aqui e acolá que a árvore recupera. Os investidores já percebem hoje que o crescimento europeu de 20 e tal anos foi tudo insuflado com dinheiro pedido emprestado ao futuro. Esse futuro chegou e pedir mais dinheiro ao futuro que há-de-vir já não cola. O futuro (investidores) negou-se a aceitar esse risco.
Hoje ficámos a saber que a Espanha terá que "suportar" perdas bancárias que eclipsam os valores do resgate a Portugal.
E segundo o Público, os bancos gregos, via BCE e com recurso ao programa de empréstimos ELA, estão a receber dinheiro que os mantêm à tona de água por mais um dia.
São mais 100 mil milhões de euros que se pedem emprestados ao Bundesbank para suportar instituições gregas totalmente falidas.
Um dia esta "solidariedade" terá que acabar, nem que seja com a Alemanha a sair do euro e deixar o BCE à sua sorte.
Que mais faltará para reconhecerem as evidências?
Coragem Política
Tiago Mestre
Tergiversações portuguesas...
Se há 1 ano a trajetória era insustentável, e o endividamento irresponsável a causa de todos os males, desde aí que já fomos e viemos à austeridade, estando nós agora na fase da necessidade de crescimento e de emprego, que por outras palavras também se pode dizer "endividamento irresponsável".
Há 1 ano a dívida era o tumor, o alvo a abater, e porquê? Porque era a consequência de muita irresponsabilidade, muita asneira, muita gordura que não servia para nada e que confiscava os contribuintes.
Ok, então vamos lá cortar no que está mal para ver se o défice cai e se a dívida pára de crescer.
Ganhou o PSD e a festa começou. Percebeu-se que gorduras e rendas chorudas era coisa que pelos vistos não existia em quantidade suficiente para baixar o défice. Foi necessário cortar aonde? Nos salários, pensões e subsídios.
Com estes cortes o inevitável aconteceu: a procura interna baixou, o consumo diminuiu, o PIB entrou em recessão e o desemprego, essa calamidade social, galopou. Todos os economistas que eram fervorosos adeptos dos cortes nas gorduras e do abaixamento do défice perceberam as reais consequências dessa política e entretanto "tiveram" que mudar de opinião:
Até querem que se cumpra o programa da troika para que venha o dinheirinho, mas agora também querem que a troika saiba que eles também querem crescimento. Desesperamos por crescimento económico.
Com este pequeno resumo percebemos a qualidade, não só técnica, mas também moral, dos economistas da nossa praça. É ao sabor do vento que as suas opiniões voam. As palavras são de circunstância e as ideias trocam-se consoante os dados económicos disponíveis.
É preciso malhar em alguém dizendo que algo está mal. Sócrates foi um perfeito bode expiatório pela sua irresponsabilidade. A Troika substituiu Sócrates e é agora acusada de ser demasiado responsável, ou seja, quer cumprir a austeridade que assumiu.
Mas já toda a gente quer aliviar as metas da troika. Por favor, não nos atirem com mais austeridade que agente não aguenta. Vejam lá o crescimento, por amor de Deus!
Com esta incoerência percebe-se quão difícil é arranjar gente que nos ilumine e que nos esclareça. A opinião pública e os portugueses perdem muito com estas variações mensais de opinião e como ninguém sabe o que nos espera, passámos a ser umas "baratas tontas". Ninguém sabe se o que está a fazer é bem ou mal feito. Sobrevive-se na esperança de conquistar mais um dia com vida sem perceber as reais consequências dos atos, tanto em nós como nos outros.
De opinião em opinião enterramo-nos um pouquinho mais.
Como é urgente preparar as pessoas para o que aí vem.
Tiago Mestre
Há 1 ano a dívida era o tumor, o alvo a abater, e porquê? Porque era a consequência de muita irresponsabilidade, muita asneira, muita gordura que não servia para nada e que confiscava os contribuintes.
Ok, então vamos lá cortar no que está mal para ver se o défice cai e se a dívida pára de crescer.
Ganhou o PSD e a festa começou. Percebeu-se que gorduras e rendas chorudas era coisa que pelos vistos não existia em quantidade suficiente para baixar o défice. Foi necessário cortar aonde? Nos salários, pensões e subsídios.
Com estes cortes o inevitável aconteceu: a procura interna baixou, o consumo diminuiu, o PIB entrou em recessão e o desemprego, essa calamidade social, galopou. Todos os economistas que eram fervorosos adeptos dos cortes nas gorduras e do abaixamento do défice perceberam as reais consequências dessa política e entretanto "tiveram" que mudar de opinião:
Até querem que se cumpra o programa da troika para que venha o dinheirinho, mas agora também querem que a troika saiba que eles também querem crescimento. Desesperamos por crescimento económico.
Com este pequeno resumo percebemos a qualidade, não só técnica, mas também moral, dos economistas da nossa praça. É ao sabor do vento que as suas opiniões voam. As palavras são de circunstância e as ideias trocam-se consoante os dados económicos disponíveis.
É preciso malhar em alguém dizendo que algo está mal. Sócrates foi um perfeito bode expiatório pela sua irresponsabilidade. A Troika substituiu Sócrates e é agora acusada de ser demasiado responsável, ou seja, quer cumprir a austeridade que assumiu.
Mas já toda a gente quer aliviar as metas da troika. Por favor, não nos atirem com mais austeridade que agente não aguenta. Vejam lá o crescimento, por amor de Deus!
Com esta incoerência percebe-se quão difícil é arranjar gente que nos ilumine e que nos esclareça. A opinião pública e os portugueses perdem muito com estas variações mensais de opinião e como ninguém sabe o que nos espera, passámos a ser umas "baratas tontas". Ninguém sabe se o que está a fazer é bem ou mal feito. Sobrevive-se na esperança de conquistar mais um dia com vida sem perceber as reais consequências dos atos, tanto em nós como nos outros.
De opinião em opinião enterramo-nos um pouquinho mais.
Como é urgente preparar as pessoas para o que aí vem.
Tiago Mestre
21 de maio de 2012
Este Presidente Cavaco nunca poderá ser o presidente dos portugueses
Após as declarações totalmente irrelevantes da cimeira do G8, certamente em conformidade com o que se passou em Camp David, a história de incluir o "crescimento" na agenda económica ganhou ainda mais força, ao ponto de Barack Obama sugerir aos parceiros europeus que façam aquilo que os EUA está a fazer em política económica e orçamental.
Se o caminho é o desastre das contas públicas, então Barack Obama lidera, acompanhado de perto pelo Japão. Esta conferência dos 8 mais ricos deveria chamar-se dos 8 mais endividados.
Vai daí, e pegando no que de "bom" ali se disse, vem Cavaco Silva pedir à troika que olhe também pelo "crescimento".
Ainda há 1 ano ouvíamos este senhor falar da política de Sócrates como sendo de uma "trajetória insustentável", para agora vir pedir menos austeridade e novamente políticas de crescimento e emprego, à la Sócrates.
Com estas afirmações, Cavaco Silva deve um pedido de desculpas a José Sócrates. Titubear ao sabor do vento e das ondas é para fracos. Gente de coragem assume as consequências do que diz e do que faz.
Tiago Mestre
Se o caminho é o desastre das contas públicas, então Barack Obama lidera, acompanhado de perto pelo Japão. Esta conferência dos 8 mais ricos deveria chamar-se dos 8 mais endividados.
Vai daí, e pegando no que de "bom" ali se disse, vem Cavaco Silva pedir à troika que olhe também pelo "crescimento".
Ainda há 1 ano ouvíamos este senhor falar da política de Sócrates como sendo de uma "trajetória insustentável", para agora vir pedir menos austeridade e novamente políticas de crescimento e emprego, à la Sócrates.
Com estas afirmações, Cavaco Silva deve um pedido de desculpas a José Sócrates. Titubear ao sabor do vento e das ondas é para fracos. Gente de coragem assume as consequências do que diz e do que faz.
Tiago Mestre
20 de maio de 2012
Alguém se lembrou do Plano Marshall e agora todos o querem
Caros leitores e leitoras, mas quem não gosta de um bom plano Marshall?, em que mais dinheiro sob a forma de dívida é injetado nas economias para que elas não "decrescam" e continuem a subir até à estratosfera?
Hoje foi um ilustre do PSD, Jorge Moreira da Silva, a incentivar os caloiros da JSD a acreditarem na ideia de que um Plano tipo Marshall é do que a Europa precisa.
Do que a Europa precisa é de um Plano anti-Marshall, através da redução progressiva da presença do Estado na economia, redução do stock de dívidas e dos créditos que se julga "estimularem" a atividade privada, quando promovem exatamente o contrário, aumento das taxas de juro para que os aforradores, esses sim, catalisadores do investimento e da riqueza, possam "ganhar" dinheiro em ter o dinheiro parado no banco e ajudar quem quer vencer mas não tem o dinheiro.
Pelo meio, os bancos de investimento terão que sofrer pesados prejuízos e muitas falências. Quem depositou dinheiro nestes bancos tem duas opções: ou o retira/transfere, ou o perde. Não há riqueza escondida que possa ser usada para liquidar os prejuízos destas instituições e manter o status quo como se nada tivesse passado.
A economia tem que sofrer uma grande ressaca, claro: está drogada por este dinheiro virtual.
Mas como nenhum político quer avisar as populações do que se está a passar e que se devem preparar para o que aí vem, nada como ir injetando estes bombons semânticos e agradáveis ao ouvido.
O Plano Marshall foi concebido depois de uma guerra que destruiu a Europa, exatamente para a reconstruir. Os EUA financiaram o plano porque podiam: eram o maior credor mundial, exportavam muito mais do que importavam e a agricultura e a indústria produziam bens que o planeta precisava a preços que ninguém conseguia acompanhar.
Quem quer um plano Marshall hoje deveria primeiro pensar em arranjar uma guerra, daquelas que deixa um continente de rastos e depois um país suficientemente rico que nos financiasse a reconstrução.
Este é um exercício mental que apelidamos de indecoroso, desadequado da realidade e historicamente ignorante.
Tiago Mestre
Hoje foi um ilustre do PSD, Jorge Moreira da Silva, a incentivar os caloiros da JSD a acreditarem na ideia de que um Plano tipo Marshall é do que a Europa precisa.
Do que a Europa precisa é de um Plano anti-Marshall, através da redução progressiva da presença do Estado na economia, redução do stock de dívidas e dos créditos que se julga "estimularem" a atividade privada, quando promovem exatamente o contrário, aumento das taxas de juro para que os aforradores, esses sim, catalisadores do investimento e da riqueza, possam "ganhar" dinheiro em ter o dinheiro parado no banco e ajudar quem quer vencer mas não tem o dinheiro.
Pelo meio, os bancos de investimento terão que sofrer pesados prejuízos e muitas falências. Quem depositou dinheiro nestes bancos tem duas opções: ou o retira/transfere, ou o perde. Não há riqueza escondida que possa ser usada para liquidar os prejuízos destas instituições e manter o status quo como se nada tivesse passado.
A economia tem que sofrer uma grande ressaca, claro: está drogada por este dinheiro virtual.
Mas como nenhum político quer avisar as populações do que se está a passar e que se devem preparar para o que aí vem, nada como ir injetando estes bombons semânticos e agradáveis ao ouvido.
O Plano Marshall foi concebido depois de uma guerra que destruiu a Europa, exatamente para a reconstruir. Os EUA financiaram o plano porque podiam: eram o maior credor mundial, exportavam muito mais do que importavam e a agricultura e a indústria produziam bens que o planeta precisava a preços que ninguém conseguia acompanhar.
Quem quer um plano Marshall hoje deveria primeiro pensar em arranjar uma guerra, daquelas que deixa um continente de rastos e depois um país suficientemente rico que nos financiasse a reconstrução.
Este é um exercício mental que apelidamos de indecoroso, desadequado da realidade e historicamente ignorante.
Tiago Mestre
Relvas - o reformista de serviço
É com esta gente que Passos Coelho conta para efetuar reformas estruturais:
1. Relvas recebia e talvez ainda receba SMS com informações de recortes de jornais (clipping), potenciais nomes para potenciais cargos, e outras informações que desconhecemos
2. Com esta evidência, o SIED é de facto uma marioneta do governo que está no poder, fazendo "trabalhinhos de casa" que interessam aos ministros mas que de pouco vale ao "interesse público".
3. Relvas, em Comissão Parlamentar, afirmou que os SMS's lhe chegam mas que não lhes dá importância. O telemóvel também o inibe de efetuar resposta porque é "muito básico".
4. Também em comissão parlamentar, Relvas dá a conhecer um conjunto da factos que serão posteriormente investigados pela jornalista do Público.
5. Dessa investigação resultaram um conjunto de perguntas que questionam certas incoerências proferidas pelo ministro na comissão.
6. Relvas não responde às perguntas da jornalista e telefona-lhe, informando-a que caso o jornal publique estas incoerências, ele faria um black out ao Público de todos os ministros e publicaria na Internet informações privadas da jornalista
7. A jornalista dá conhecimento destes telefonemas ao conselho de redação, tendo este deliberado emitir uma nota de imprensa em que expõe todas estas pressões de Relvas.
8. Perante este tomada de decisão, Relvas desculpa-se à jornalista por aquilo que fez.
Comentários para quê?
Tiago Mestre
1. Relvas recebia e talvez ainda receba SMS com informações de recortes de jornais (clipping), potenciais nomes para potenciais cargos, e outras informações que desconhecemos
2. Com esta evidência, o SIED é de facto uma marioneta do governo que está no poder, fazendo "trabalhinhos de casa" que interessam aos ministros mas que de pouco vale ao "interesse público".
3. Relvas, em Comissão Parlamentar, afirmou que os SMS's lhe chegam mas que não lhes dá importância. O telemóvel também o inibe de efetuar resposta porque é "muito básico".
4. Também em comissão parlamentar, Relvas dá a conhecer um conjunto da factos que serão posteriormente investigados pela jornalista do Público.
5. Dessa investigação resultaram um conjunto de perguntas que questionam certas incoerências proferidas pelo ministro na comissão.
6. Relvas não responde às perguntas da jornalista e telefona-lhe, informando-a que caso o jornal publique estas incoerências, ele faria um black out ao Público de todos os ministros e publicaria na Internet informações privadas da jornalista
7. A jornalista dá conhecimento destes telefonemas ao conselho de redação, tendo este deliberado emitir uma nota de imprensa em que expõe todas estas pressões de Relvas.
8. Perante este tomada de decisão, Relvas desculpa-se à jornalista por aquilo que fez.
Comentários para quê?
Tiago Mestre
18 de maio de 2012
Ensaio sobre o mercado de trabalho - relação entre empregado, empregador e legislação
Pretende-se com este ensaio reflectir de forma simples e desassombrada sobre as forças que estão presentes entre os vários agentes do trabalho e a complexidade que hoje se vive no mercado laboral.
Em jeito de começo e teorizando, podemos afirmar que quando ocorre uma contratação laboral, subjaz uma conjugação de vontades entre empregado e empregador. Na perspectiva do empregado, este deseja obter o máximo de rendimento com o esforço que considera adequado, e na perspectiva do empregador, este deseja o mínimo de despesa e o máximo de rendimento.
A duração do contrato também deverá ser uma conjugação de vontades, e quando uma das partes não está satisfeita com os resultados que está a obter, deverá ser livre para terminar o contrato sem custos envolvidos para ambas as partes. Os custos extraordinários ou a ausência de receita que uma das partes já tenha incorrido no passado serão o mote para dar o contrato como terminado.
Os actos de trabalhar a troco de dinheiro e de pagar a troco de trabalho deverão ser em benefício de ambas as partes, promovendo o encontro de pessoas que se identificam e separando as pessoas que não se identificam, gerando relações honestas e uma moralidade acima de suspeitas ou manipulações.
O mercado de trabalho, como qualquer outro mercado, é sujeito à regra mais elementar: a da oferta e da procura. É preciso ter em mente esta noção para se compreender como o mercado pode ser desfavorável para uma das partes quando existe um desequilíbrio entre a oferta e a procura.
Nas últimas décadas em Portugal temos assistido ao aparecimento do Estado como influência externa cada vez mais evidente no mercado de trabalho. Esta entrada considero-a como uma manipulação da lei da oferta e da procura, na medida em que vai muito mais longe do que apenas uma regulação do sector.
Uma regulação do sector significaria uma vigilância apertada das regras que estão acordadas entre ambas as partes e proceder em conformidade quando uma das partes as viola. O Estado parece-me a entidade adequada para proceder a este tipo de actividade, mas não tem sido esse o caso. A regulação foi descurada e o foco foi dado à manipulação propriamente dita com a mão dos legisladores, a saber:
1) Inserção na Constituição Portuguesa da proibição de despedimento sem justa causa, Artigo 53º. Esta é talvez a primeira grande medida de manipulação do mercado, na medida em que se exige ao empregador que mantenha o trabalhador no posto de trabalho, independentemente da sua productividade. Apenas em casos de extrema gravidade e com provas insofismáveis é que o empregador pode despedir o trabalhador. O empregador vendo este cenário pela frente começa a ter mais relutância em empregar pessoal, sabendo da responsabilidade financeira e social que recai sob os seus ombros se errar na pessoa com quem estabeleceu contrato. Normalmente o despedimento acaba por se realizar por acordo mútuo, significando um custo adicional, para além daquele que o trabalhador já representou para a empresa enquanto esteve no posto de trabalho. Do lado do empregado, sabendo da dificuldade que assiste ao empregador em despedi-lo por não ser suficientemente produtivo, poderá optar por se limitar a fazer o estritamente indispensável, prejudicando o empregador, a continuidade da empresa e os restantes trabalhadores.
2) As Indemnizações por não renovação de contrato são também um peso adicional para o empregador e uma protecção adicional para o ex-empregado.
3) Os critérios do subsídio de desemprego e restantes rendimentos que o complementam são um grande estímulo para pessoas que evitam entrar no mercado de trabalho. Bastará fazer algumas contas para se perceber que é preferível continuar a gozar dos subsídios, evitando todo um conjunto de riscos, despesas e falta de tempo pessoal que uma actividade laboral exige. Considero esta questão uma das maiores entorses artificais alguma vez criadas à lei da oferta e da procura, dificultando a vida a muitos empregadores que ainda estão dispostos a contratar trabalhadores.
2) As Indemnizações por não renovação de contrato são também um peso adicional para o empregador e uma protecção adicional para o ex-empregado.
3) Os critérios do subsídio de desemprego e restantes rendimentos que o complementam são um grande estímulo para pessoas que evitam entrar no mercado de trabalho. Bastará fazer algumas contas para se perceber que é preferível continuar a gozar dos subsídios, evitando todo um conjunto de riscos, despesas e falta de tempo pessoal que uma actividade laboral exige. Considero esta questão uma das maiores entorses artificais alguma vez criadas à lei da oferta e da procura, dificultando a vida a muitos empregadores que ainda estão dispostos a contratar trabalhadores.
Sobre as manipulações acima referidas, deduz-se que o legislador teve a (boa) intenção de proteger o trabalhador contra fenómenos temporários de escassez de trabalho ou até de alterações súbitas de humor das entidades patronais. Mas como em qualquer manipulação, ocorre mais cedo ou mais tarde um fenómeno de ricochete, e esse aparece do lado do empregador que se sente cada vez mais desprotegido na sua actividade. Como consequência, optará por minimizar novas contratações, recorrendo a trabalhadores temporários e certamente em muitos casos recusando trabalho pedido por clientes para não assumir mais responsabilidades. E assim, medidas legislativas que preconizavam segurança para os trabalhadores e crescimento da economia resultam exactamente no oposto, como se constata em Portugal e nos países que apostaram forte na protecção excessiva do emprego.
Independentemente das manipulações acima referidas, há ciclos económicos provocados por desequilíbrios entre produção e consumo que levam a desequilíbrios no mercado laboral:
Num cenário de prosperidade económica e de muita oferta de emprego, os trabalhadores saem a ganhar, com perspectivas de segurança no emprego, aumento de salários e busca de melhores condições. O empregador, com o desejo de crescer a sua actividade e respectivos lucros, pouco se interessa das obrigações que lhe assiste na celebração de contratos de trabalho. Vemos neste caso que a manipulação legislativa pouco reflexo tem no mercado laboral.
Num cenário de declínio económico, destruição de riqueza e de emprego, o empregador tenta reduzir custos, nomeadamente na mão-de-obra, mas vê-se confrontado com obrigações indemnizatórias e legislação que não acautelou em período de prosperidade. Muitos empregadores optam por manter a empresa em actividade, levando-a à exaustão financeira, acabando por encerrar a actividade já em fase de desespero e não assumindo as obrigações que se lhe exigem para com trabalhadores, fornecedores, credores e o Estado. Em síntese, por não se conseguir restruturar a empresa, geram-se danos à sociedade que não se podem corrigir.
Para terminar este ensaio, olhando para o contexto actual de Portugal com o seu clima económico de recessão, verificamos que os empregadores possuem uma enorme relutância em contratar e uma enorme vontade em despedir. Se a legislação laboral começar a inverter o seu ciclo de protecção dos direitos do trabalhador e facultar mais liberdade ao empregador, terá forçosamente que haver uma correcção na lei da oferta e da procura, já que a manipulação que outrora houvera tenderá a diluir-se ou até a desaparecer. Dá-se assim espaço ao empregador para conquistar os direitos que julga seus e que estiveram "trancados" durante anos. Neste contexto de recessão, isso significará no curto prazo despedimentos em larga escala, como nunca Portugal teve na sua história recente. A médio prazo veremos se toda esta manipulação seguida de recessão e liberalização de despedimentos resultará em algo de positivo para Portugal.
Tiago Mestre
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