28 de setembro de 2012

Voltaremos à despesa de 2006 e tudo ficará resolvido?

De acordo com o post do Vivendi,  soubemos que o economista Cantiga Esteves referiu na televisão que bastaria reduzir a despesa do Estado para valores de 2006 para começar a haver equilíbrio.

Fomos ao Eurostat e só conseguimos apanhar as contas consolidadas de 2007 em diante:


Despesa em 2007 = 169 319 x 0,444 = 75,1 mil milhões de euros
Parece-me ser um valor de despesa bastante semelhante àquele que teremos em 2012 !

Receita em 2007 = 169 319 x 0,411 = 69,6 mil milhões de euros
Penso que em 2012 nem sequer chegaremos a este valor !

2006 não terá sido MUITO diferente de 2007, pelo que não estou bem a ver onde foi Cantiga Esteves buscar dados para justificar tal afirmação.

E em relação à trajetória da despesa, há rúbricas que já não voltam atrás com a facilidade que Cantiga Esteves induz aos telespectadores ao afirmar o que afirmou:

Juros em 2007: 5 mil milhões €
Juros em 2012: 8 mil milhões €

Despesa Social em 2007: 31 mil milhões €
Despesa Social em 2012: 39 ou 40 mil milhões €       (ainda não sabemos em concreto)

Só nestas duas rúbricas a despesa aumentou +/-12 mil milhões de euros em 5 anos.

Não se volta atrás assim sem mais nem menos e muito menos com um passo de mágica.
É preciso dizer à população a dor que tal redução na despesa trará.

Tiago Mestre

6 comentários:

vazelios disse...

Tiago,

Tenho duas questões em que tenho estado a pensar, pressupondo desde já que não concordo com impressão de dinheiro vindo do nada como tu sabes, e não concordando com mais impostos, sem se ver resultados na diminuição da despesa. Despesa que não seja só FP, salarios, enfim. Era importante para a população ver alguma justiça. Nem que seja areia para os olhos.


Mas aqui vai:


1º Com a impressão de dinheiro nos EUA e Europa, haverá mais cedo ou mais tarde, inflação, quiçá hiperinflação, assim que se duvidar do poder destas duas moedas. Neste cenário, outras divisas como ienes, reais, francos suiços tratam logo de evitar que as suas moedas valorizem demasiado.

Mas imaginemos que não imprimem assim tanto e que as suas divisas valorizam um pouco, ou seja, ficando o Euro e Dollar consideravelmente desvalorizados em relação às outras divisas e até às commodities.

Neste cenário, não ficariamos a UE e os EUA mais competitivos porque primeiro perdemos poder de compra e diminuimos importações, e segundo porque ao termos moeda mais barata, logo os nossos produtos ficam mais baratos? (é preciso é produzir claro)

Claro que temos o reverso da medalha, com tanta divida na UE e EUA, a mesma aumentaria com a desvalorização da moeda. Mas a minha questão é, não será a impressão de moeda uma propria desvalorização da mesma que poderá impulsionar exportações e melhorar o défice comercial?

Temos de ser mais competitivos de alguma maneira em relação a Chinas Indias e outros países com outras "regras de mercado".


2º Sobre o aumento de impostos consecutivos e quebra de receitas via impostos.

Eu se fosse o Vítor Gaspar, e tendo menos conhecimento tecnico mas mais bom senso que muita gente, pensaria: Ora bem, se não aumentar impostos nesta altura, muitas empresas vão falir na mesma, porque a crise vai bater de qualquer maneira. Com isso aumenta o desemprego. Logo menos IRC e menos IRS. As pessoas vão ficar na mesma assustadas e vão contrair o consumo, o que poderá levar a mais falências e desemprego.

Se aumentar os impostos, posso acelerar processos de falências e desemprego, mas por outro lado posso compensar essa quebra que já vai haver de qualquer maneira, sacando IRS às milhões de pessoas que não vão ser despedidas, para já.

Por outro lado se diminuir impostos a minha receita fiscal vai por aí abaixo, e nesta altura em que tenho de cumprir o défice é impensável.

O ideal é diminuir impostos, principalmente das empresas, mas no primeiro ano da legislatura era praticamente impossível. Mas penso que já se deveria estar a trabalhar nessa matéria.

Eu acho que seria interessante um estudo tecnico sobre isto.

Porque acho falsa a noticia e os muitos comentários que ouço por aí que a receita fiscal está a diminuir porque se aumentou impostos.

Porque sabemos que a receita fiscal não caiu mais porque o IRS a está a sustentar.

Esta minha ultima pergunta é apenas uma dúvida, quando me ponho no lugar dele.

Também acho que já chegámos um limite para muita gente, tem de se taxar outras coisas e cortar-se IMENSO na despesa.

Também já acho que passámos o ponto da curva de Laffer em que começa a ser contraproducente o aumento de impostos.

Se não tivesse havido aumento de impostos teria havido quebra de receita e de consumo de certeza, resta saber quanto! Qual seria a melhor opção?

Gostava de te ouvir falar destes 2 temas se puderes.

Abraço

Pedro Miguel disse...

Tiago, corrigi o meu comentário ao artigo anterior e completei com alguns dados.

Despesa em 2006: 72,7 mil milhões €
Despesa Social em 2006: 29 mil milhões €

Juros em 2006: 4,45 mil milhões €
Juros em 2007: 5 mil milhões €
Juros em 2008: 5,19 mil milhões €
Juros em 2009: 4,78 mil milhões €
Juros em 2010: 4,94 mil milhões €
Juros em 2011: 6,62 mil milhões €
Juros em 2012: 8 mil milhões €

vazelios disse...

outra pergunta que gostava de ver respondida é: Se tudo continuasse na mesma, em que ano os encargos com PPP começam a baixar e também os juros. Ouvi 2017 para os juros mas não faço ideia...

Isso claro que depende se das taxas em que nos formos endividar mas a pergunta é para os encargos actuais

Filipe Silva disse...

Primeiro a função pública não paga impostos, o que o estado faz é baixar lhes o salário.

Por isso pode aumentar os "impostos" sobre estes que a receita aumenta ficticiamente.

Diminuir despesa actualmente implica diminuir despesa social e salários, isto é, cortar empregos, salários e prestações sociais.

Pensar que as PPP são a diminuição que impede que se tenha de cortar no resto é um logro.

Mais uma vez o nacional monetarismo vai só levar a um aumento dos problemas.

As desvalorizações não resolve qualquer problema, a única coisa que fazem é a transferência de riqueza dos consumidores para os produtores ineficientes.
Dado que o consumidor irá pagar por um produto similar um preço mais elevado.

Para não falar que a desvalorização pode levar a um aumento do preço do bem a exportar por via do aumento do custo das matérias primas, energia etc...

Se as exportações tiverem uma grande componente de valor nacional sim, se for como por exemplo a Galp que importa refina e exporta poderá ser o contrário.

Inflação já existe, dado que esta não é mais que o aumento da massa monetária, agora se esta vai se reflectir no aumento dos preços isso é outra história.
Mas na comida e energia já se verifica isso, o caso do petróleo é paradigmático.

Os impostos estão a quebrar devido a uma estrutura economica insustentável, assente no consumo, dado que esse vinha via crédito, sendo que este diminuiu brutalmente, as actividades dependentes deste estão a falir, situação normal, o Estado ao aumentar os impostos acelera esse processo e destrói ainda mais empresas e o sector produtivo vai caindo ainda mais.

O problema é o excesso de consumo durante anos, via crédito, esse ajustamento vai se fazer, o que deveria estar a ocorrer é uma diminuição do emprego no sector de bens de segunda ordem e um aumento do sector de bens de primeira ordem.

Os impostos devem baixar em todos os sectores, seja sobre empresas. familias sobre capital etc..

Isso leva a uma discussão sobre o que é o Estado e sobre se é moral ou não o que este faz.

Os impostos são sempre contraproducentes.

Problema do Estado e da democracia é este mesmo, quando acaba o "dinheiro" fica a divida para pagar, sempre que a despesa aumenta não diminuí, a evidência empírica assim o demonstra.

O emprego é uma consequência de uma economia dinâmica, não pré requisito.
Não é emprego depois riqueza, mas o contrário cria se riqueza e o emprego vem por acréscimo.

Por algum motivo se diz que para se criar emprego liquido tem de se criar uma dinamica de crescimento, argumentava se que para o emprego ser liquido teria se de ter uma taxa de crescimento acima de 2%, não faço ideia se é verdade ou não.
O que demonstra que primeiro vem a poupança depois o investimento depois a criação de emprego

Tiago Mestre disse...

Vazelios, sobre as PPP:

lembro-me de ouvir o Medina Carreira dizer que o pico dos encargos seria por volta de 2020, mais prá frante, mais pra trás.
A partir daí começaria a descer.

Mas as previsões não servem de nada porque se basearam em pressupostos que agora são totalmente irreais. Vamos indo e vamos vendo, como se diz...

Vivendi disse...

O link correto do programa com João Cantiga Esteves:

http://www.tvi24.iol.pt/programa/4322/234