Caros leitores e leitoras, preservar o status quo de moeda mundial, como é o caso do dólar americano, não é trabalho para gente incompetente e/ou fraca de espírito.
Manter o dólar como reserva monetária mundial significa que a luta pela preservação do seu valor deve ser o topo das prioridades do banco que o gere.
Neste caso, sendo esse banco um aglomerado de bancos privados - RESERVA FEDERAL - só podemos adjetivar esse trabalho de uma maneira: MISERÁVEL.
Na tentativa vã de evitar o colapso dos mercados e da economia (fenómenos naturais quando rebentam bolhas), a reserva federal achou que a sua intervenção nos EUA através de impressão de dinheiro faria mais sentido do que ficar quieta, ou seja, o custo de não fazer nada seria superior ao custo de fazer alguma coisa, e assim se fez.
Acreditamos mesmo que Ben Bernanke tivesse estudos sobre esta matéria e que revelavam que a opção de fazer alguma coisa seria sempre mais vantajosa. Enfim.
O problema aqui é que os modelos matemáticos usados para chegar a estas conclusões não conseguem prever o que acontece à confiança dos investidores e governantes do planeta caso este instrumento comece a ser usado repetidamente sem um acompanhamento forte do crescimento do PIB americano.
Basicamente, os modelos preveem decisões racionais que refletem consequências racionais, e omitem, porque não conseguem incorporar, as tais decisões irracionais que levam a consequência imprevisíveis.
É impossível dizer em que momento é que alguém deixará de acreditar numa moeda, mas sabemos que caso essa moeda seja violada dia sim dia também, algum dia o pessoal começará a libertar-se dela.
Desde a década de 60 com JFK que os déficits americanos foram compensados com impressão de moeda. Supostamente, e de acordo com as regras de Bretton Woods, esta monetização do défice com dólares deveria ser sempre acompanhada pela aquisição de ouro que cobrisse esses novos dólares impressos, ou seja, só podiam imprimir dólares se primeiro o ouro estivesse do lado de cá.
Só assim poderiam provar que a moeda em circulação estava coberta por ouro no Fort Knox.
A realidade assim não se desenvolveu, e como era caro adquirir ouro, alguém foi decidindo imprimir dólares sem ter a respetiva cobertura em ouro. O valor de 35 dólares por onça que foi acordado em Bretton Woods estava ameaçado, e quando os restantes governos centrais descobrissem a aldrabice, os EUA estava f*****.
Charles de Gaulle percebeu o esquema e pediu a conversão de todos os dólares que possuía por ouro, não fosse a coisa piorar. E com este precedente, entre muitos outros que desconhecemos, Nixon, a 15 de Agosto de 1971 cortou o mal pela raiz:
O dólar não mais ficaria agarrado ao ouro - assunto resolvido
O pessoal não gostou ao início, e muitos dólares que estavam parados pelo mundo começaram a circular e a retornar aos EUA. Já todos sabemos o que acontece quando temos mais dinheiro a competir pelos mesmos bens: INFLAÇÃO.
Só Paul Volcker, diretor do FED na década de 80 é que lá conseguiu absorver muitos desses dólares que andavam a estragar a formação de preços. Como? Aumentando a taxa de juro da Reserva Federal para valores que ultrapassaram os 10-15% (não sabemos agora precisar).
Desta forma, sempre que o FED emprestava dinheiro, este exigia ao devedor que pagasse a totalidade do capital mais os juros astronómicos, absorvendo o excesso de dólares que circulavam na economia e trancando-os nos cofres do FED.
Foi assim que se estancou a hemorragia que sangrava na economia americana.
Passaram os anos 80, os anos 90, e no final do milénio assistiu-se à primeira leva de impressão de dinheiro para tapar buracos e evitar a ressaca das bolhas. Alan Greenspan começou por salvar os credores da LTCM (Long Term Capital Management), empresa de investimentos que colapsou com o defualt da dívida da União Soviética, entre outros maus investimentos.
Criou-se o precedente, e as portas de impressão monetária que a LTCM abriu já ninguém as fecharia.
Foi um regaboff completo até aos dias de hoje, com os EUA a apresentar deficits permanentes, ajudas monetárias aos bancos, às empresas, descida das taxas de juro para 0%, enfim, foi tanta a ajuda às instituições públicas e privadas que, algum dia, alguém começaria a duvidar da força do dólar.
E nestas coisas às vezes basta um precedente para depois todos irem atrás.
Fazendo uma pesquisa no site Zero Hedge com as palavras "China Gold Import", é isto que aparece:
A pouco e pouco o pessoal vai-se tentando livrar do jugo do dólar e dos incompetentes que o governam.
A inflação só ainda não disparou mais porque a impressão de dinheiro do FED é em grande parte alocada em investimentos que não se traduzem numa circulação imediata de moeda.
Ou seja, serve para comprar ações, levitar o mercado imobiliário, pagar os salários da função pública, dar liquidez e colateral às operações financeiras diárias, entra no mercado dos derivados, etc, etc.
E até nisto os EUA estão a meter-se num grande buraco, porque se há coisa que é má é termos dentro de nós uma doença que não se revela, dando a sensação que tudo está bem.
Com os EUA e o dolar é isto que se está a passar. Muito abuso e quase total ausência de sintomas. No dia que a doença se revelar, será tarde de mais.
Esperem pelo dia do repatriamento em massa de dólares para vermos o que é a inflação a funcionar.
Mario Draghi, o atrasadinho de serviço na Europa, como anda sempre a reboque do farol ideológico que é a política monetária americana, decidiu em Agosto apostar forte na monetização da dívida europeia, na esperança que tudo se recomponha.
O ouro, como reserva de valor intrínseco e não sujeito a manipulação humana, é novamente uma referência nas transações entre países com moedas diferentes.
Mas convenhamos, não é pelos méritos do ouro que o pessoal o usa, até porque é caro para servir de suporte à moeda de papel.
Usa-se porque a confiança no sistema Fiat está a desaparecer e não há melhor solução.
Não é certamente por culpa do ouro ou dos apologistas deste.
São os keynesianos de serviço e que tanto apregoam a impressão ilimitada que não previram nos seus modelos a falta de confiança gerada com a repetição destas asneiras, e que não querendo assumir o disparate, arranjam todos os subterfúgios para ir mantendo o sistema fiat cada vez mais podre, recorrendo cada vez mais à própria impressão para tapar buracos de impressões anteriores.
Se os políticos dessem bom uso deste sistema monetário, ele até teria mais méritos do que o padrão ouro, mas na hora da verdade, a tentação de imprimir é grande, e como é pouco de cada vez, que se lixe, ninguém se há-de importar porque é só desta vez.
Pois, até surgir a próxima vez, e a próxima, e a próxima, e a próxima...
Tiago Mestre
1 comentário:
Uma excelente sintese Tiago
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