19 de setembro de 2012

Paulo Portas falou ontem aos alemães, Vitor Gaspar fala hoje

Eis uma potencial explicação para o que se passou ontem e se irá passar hoje:

Schauble e Merkel, ao "terem mudado de opinião" acerca da impressão de dinheiro por parte do BCE, perceberam que corriam o risco do eleitorado alemão se afastar.
São necessárias "contra-políticas" para atenuar este descontentamento alemão.
E de quem se foram lembrar? Dos tugas, claro!

País simpático, gente afável, protestos pacíficos, clima agradável. Ou seja, uma cambada de parolos que não se importam de serem instrumentalizados.

Então, o que é que os políticos portugueses podem e devem dizer aos alemães?

Segundo Paulo Portas, somos gente honrada e cumprimos o que prometemos, apesar de todos os problemas que surgem diariamente.
Que significa também isto:
Obrigadinho por nos terem emprestado o dinheirinho porque vai valer a pena. Saúde para todos é o que desejamos.

E pronto, ontem foi uma marioneta, hoje será outra.
Lamentamos aqui no Contas que tal plano tenha sido concebido e que os políticos portugueses tenham participado de corpo inteiro. Para agravar este plano instrumentalizador, o discurso, como seria de esperar, é tudo menos uma aproximação à realidade.
É um conjunto de inverdades que relevam os aspetos positivos e omitem o desastre que tem sido o plano de consolidação orçamental.
Quando as coisas não correm bem devem ser referidas como tal.
É assim que os verdadeiros líderes se comportam, como foi recentemente com José Mourinho ao assumir as responsabilidades pelas derrotas do Real Madrid.

Mas não, insistem neste churrilho de inverdades e esperanças irrealizáveis, tudo patrocinado por Schauble e Merkel que não têm pudor em instrumentalizar o seu eleitorado recorrendo à instrumentalização dos políticos portugueses que coitadinhos, só têm a agradecer aos alemães pelo dinheirinho que emprestaram e que tanta falta nos faz.

Talvez Merkel e Passos Coelho desconheçam a cultura alemã, e por isso esquecem-se que esta reage de forma bem diferente à cultura portuguesa quando percebe que lhe estão a mentir e a tomá-la por "parva" para que certos fins sejam atingidos. O limite da paciência deles é diferente do nosso.

São estes comportamentos da elite europeia que me aborrecem solenemente, refletindo a falta de caráter e a falta de VIDA vivida por parte destes senhores e senhoras. Estas mentirinhas dão sempre asneira no futuro. É um clássico, mas como não têm coragem de alterar comportamentos, repetem sempre os mesmos erros.

Daí o meu ceticismo e o meu pessimismo (um bocado exacerbado) em relação a este gente, ao contrário  do Vazelios e do Carlos Antunes, que são um pouco mais "indulgentes"..

Tiago Mestre

5 comentários:

Carlos Antunes disse...

Tens razão Tiago, sou um pouco mais indulgente...

PARTE 1
Na minha linha de raciocínio, a Alemanha tem interesse no Euro e sabe que imprimir dá (muita) asneira! Quer o Euro! E quer o Euro forte (idealmente até como rival/substituto do dólar como moeda mundial, e como alguém aqui referiu, o Euro poderia ser o novo "padrão ouro").
Mas, face ao "xeque à raínha" que os americanos fizeram ao Euro (exportando a sua crise de dívida e concentrando os mercados nos problemas dos países mais frágeis do Euro), a Alemanha viu antecipar-se-lhe o tempo de tomada das grandes decisões.
A política de pequenos passos consumados e de integração gradual que vinha sendo praticada com sucesso nas últimas décadas na U.E. (ultrapassando as renitências nacionais mais acérrimas, sobretudo nos países mais ricos/fortes) foi estilhaçada pelos americanos.
Com o ataque às "presas mais fáceis" da zona Euro, e aproveitando as fragilidades deixadas pelas construção (possível, na altura) da moeda única, as diferenças na Europa emergiram de forma cristalina, e há que tomar decisões "de fundo". JÁ!
Ou nos unimos (e com um orçamento único e organização tipo Federação) ou nos separamos. Daí o ataque americano (oficialmente nossos "aliados").
Isso pressiona muito os líderes europeus, pois têm realidades económicas e sociais muito diferentes para gerir , e, consequentemente, opiniões públicas com interesses muito diferentes (e até opostos), cuja integração de forma gradual foi agora impedida.

Carlos Antunes disse...

PARTE 2
Por isso, a Alemanha está a tentar segurar o Euro, e um Euro forte (sem imprimir), mas já percebeu que não tem dinheiro para resgatar todos (Espanha/Itália)...
Está assim a tentar ganhar tempo e margem de manobra, para as grandes decisões, pois as opiniões públicas e sociedades não estão preparadas.
E para "consumo interno" (para a sua opinião pública) e como aviso aos países do sul, a Alemanha está a fazer estes países do sul “sangrarem” e expiarem os seus pecados (reconhecendo erros e que precisam de ajuda).
Para que a sua opinião veja que o futuro da Europa será medido pelo rigor alemão e não pelo desvario do Sul. E para que todos saibam quem verdadeiramente tem poder na Europa.
O que Schauble veio hoje dizer (à sua opinião pública) é que Portugal tem mais credibilidade, ou seja, o que queria dizer é: está a reconhecer os seus erros e a fazer a penitência.
Mas há 2 problemas: o primeiro é que toda a gente sabe, até Gaspar, que isto não dá para aguentar muito tempo - este expiar dos nossos pecados está a matar a nossa economia e que isto é uma espiral recessiva.
E o segundo é ainda pior: chama-se Grécia (que se recusa a expiar a sua culpa no desvario, não conseguindo assim Schauble domá-la e apresentar o Euro como um bom projecto ao povo alemão).
Daí o risco de fragmentação, com que os americanos especulam…

Filipe Silva disse...

Muita confusão faz o Carlos Antunes.

Aconselho a leitura do Livro "A tragédia do Euro" de Phyllip Bagus

A Alemanha não queria o Euro, se não me engano 80% da população era contra a moeda única.
Mas foi o preço exigido pelos Franceses pela unificação germanica.

Os americanos não exportaram crise nenhuma, o mercado esta globalizado logo é natural que as repercursões sejam a nível mundial.

O que ocorre é duas visões sobre a economia, uma a americana em que o keynesianismo e monetarismo imperam e outra a Alemã uma visão mais próxima da visão da escola austríaca.
Isto é muito importante, os anglo sáxonicos querem resolver a crise via inflação, os alemães tem pavor e com razão da inflação.

Quem estudar um pouco sobre a escola Austríaca percebe porque é que a inflação não resolve nada, cria a ilusão no curto prazo, mas no médio longo prazo os efeitos são altamente nocivos.
Aconselho ler Huerta de Soto sobre o fenómeno da inflação.

Ninguém diz que a Alemanha quer que o Euro funcione como uma espécie de padrão ouro, o que acontece é que para países como Portugal, este está a comportar se dessa forma, não é bem o padrão ouro, mas replica alguns dos seus efeitos.

A questão não é expiar os pecados, mas corrigir o desequilibrio economico que Portugal tem.

Temos uma situação gravissima, um desequilibrio brutal, na minha opinião estamos pior que a Grécia.

A situação é muito complexa, e sinceramente a sociedade portuguesa não tem capacidade para o que é necessário fazer, digo isto porque o ajustamento é brutal,

E ainda nem começou, existem variaveis que não controlamos e que serão decisivas para o país.

Por muito que a Alemanha queira e acredito que queira ajudar, não tem força para tal.

Temos de aprender a contar connosco e perceber que NÃO somos ricos, e que não temos dinheiro para o EStado que temos, e que a saída do Euro é bem pior do que a manutenção.

Interessante que se diga que a Alemanha foi a principal beneficiária do Euro, quando isso é mentira, o Tiago postou um gráfico do Zerohedge há uns tempos em que claramente demonstrava que Portugal Grécia etc... tinham sido altamente beneficiados, o rendimento disponivel das familias tinha aumentado brutalmente, quando comparado por exemplo com a Austria e a Alemanha não tinha tirado grande beneficio.

A Alemanha não tem poder, como vimos na ultima conferencia do BCE, criar moeda nova não resolve um problema de competitividade.

O problema da economia europeia é simples, excesso de manipulação das taxas de juro e intervenção dos Estados que não permitem que o ajustamento seja feito.

SE o mercado de trabalho fosse completamente liberalizado, e o governo tivesse capacidade de cortar despesa À seria, a recessão seria muito mais pronunciada, não faço ideia quanto, mas a recuperação seria muito mais rápida.

O euro só acaba se as pessoas deixarem de ter confiança na moeda,

Carlos Antunes disse...

Filipe,

Sei que a Alemanha não queria o Euro, mas tens que ver que uma coisa é o que o povo quer, outra é o que os seus líderes/elites querem.

E já li essa versão de que o Euro foi uma imposição dos franceses para aceitarem a unificação alemã - perspectiva interessante e bastante plausível.

Também é verdade que nessa altura, eu, se fosse alemão - e quer fosse do povo ou da elite política e económica - também me custaria muito deixar o Marco...

Mas eu falo do presente (agora que o Euro é uma realidade e está aí).
Sei que o povo alemão porventura preferiria o regresso Marco, mas, neste momento, tenho esperança que as elites políticas e económicas alemãs consigam ver a "big picture" e que no médio-longo prazo terão mais vantagens com uma Europa unida (em torno deles) e com uma moeda única/Euro (herdeiro e moldado na mesma forja do Marco).

E quando falo de expiação por parte dos países do sul, estou, no fundo, também a falar de ajustes, de reformas estruturais . De ajustes dolorosos no ponto de vista económico e social que nos façam parecer à opinião pública alemã como parceiros minimamente credíveis e fiáveis para poderem partilhar uma mesma moeda.
Bem sei que o que conta são os ajustes técnico-económicos (menos estado, orçamentos equilibrados) mas digo "expiação" porque a perspectiva moral desses ajustes também me parece importante para que seja vendável à opinião pública alemã (além da correcção técnica).

Mas uma coisa devo confessar: não sou economista!
As minhas opiniões são meras "impressoões/especulações".
E por isso, gosto de passar nestes blogs, para ver a vossa perspectiva mais técnica.
E deixa-me preocupado a vossa desesperança nesta matéria... (se assim é, como já escrevi noutro post, será que não devemos estudar a alternativa de declarar bancarrota e regressar ao escudo, recomeçando do 0? Mas voltamos à velha história das desvalorizações e competir no mercado dos salários baixos? E isso é futuro? O que achas que nos acontecerá a curto/médio prazo?
É que, além do lado económico e técnico, temos que ter minimamente em conta o plano social…
E se a Europa não se unir e nos abrigar debaixo do seu guarda-chuva, o que nos restará?
Por isso é que eu acho que este Governo faz tudo para ser “bom aluno”. Têm medo…
E também sei que os alemães, às tantas se acharem que afinal esse projecto não é realizável - ou que só é viável com a saída impreterível de alguns países - nos dão um chuto no… (por isso é que eu não gosto nada do poker que a Grécia está a jogar com os alemães – é que eles deixam-nos mesmo cair se virem que não dá).

Tiago Mestre disse...

Carlos, li agora no testosterone pit um artigo que vai no sentido do que disseste:

A elite política alemã está a tentar agradar aos dois lados:

- Usa os argumentos de imposição de disciplina e rigor aos países fracos para justificar alguma impressão.

- E usa os argumentos de necessidade de crescimento económico e de evitar o colapso do Euro para também justificar alguma impressão e ir comprando tempo

Até aparenta ser uma estratégia bem montada, mas raia a própria esquizofrenia, como apelidou o testosterone pit.

Mas segundo consigo perceber, a estratégia vem atrasada, ou seja, é uma fabricação política para tentar amenizar os confrontos ideológicos que se começaram a formar há 2 anos e meio quando a Grécia pediu resgate oficial.

O sentimento de descontentamento pelo € e o saudosismo do Marco Alemão voltaram à tona, e provavelmente a sociedade alemã já está "demasiado" dividida em relação a esta matéria, ou seja, estas 2 correntes ideológicas já se polarizaram e o distanciamento pode já ser irreversível.

Não sei se é irreversível, o que sei é que os políticos na sua (falta) de estratégia e na tentativa de comprar só mais num dia (tática) deixaram as tensões e as incoerências à solta. A opinião pública alemã pensa o que quiser.
E é aí que entram as culturas e o modo como funcionam.

Deixar estas "tensões" ideológicas à solta em solo alemão é coisa que não gosto. É quase um paradoxo, mas posso afirmar o seguinte:
Esta União Europeia que vive em declínio económico, na tentativa de unir os povos, promove clivagens e tensões entre eles para que certos desígnios sejam atingidos.

Schauble e Merkel já viram isto há meses, daí pedirem palestras aos bons alunos em solo alemão.

Vi ontem as declarações de Schauble e, não tendo sido elas nada de especial, retive isto:
"Vitor Gaspar é um dos mais respeitados ministro das finanças da Europa"

Um à parte:
Se eu fosse ministro da Irlanda ou de outro país qualquer, gostava que ele me dissesse em que é que se baseia para fazer tal comparação, e já agora, em que é que Gaspar é melhor ou pior do que os outros...

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