13 de setembro de 2012

O PIB, esse malandro

Segundo o jornal i, o governo previa para 2013 um crescimento da economia de 0,2%, contudo, segundo as novas contas, haverá recessão, e não é pouca: de 1%.

Isto significa que teremos 3 anos seguidos de recessão.

PIB de Portugal no arranque da década:

2009:  -2,6
2010    1,4
2011:  -1,5
2012:  -3,3
2013:  -1

A média destes 5 anos é: -1,44%
E dos últimos 3: -1,9%
Não sabemos se a inflação já está descontada, mas não é isso que muda a tendência. Fonte

Nós compreendemos as intenções otimistas dos vários governos em prever crescimento da economia lá mais para a frente, aliás, dificilmente a sociedade e a oposição política perdoariam o realismo do governo caso este anunciasse recessões sucessivas.
E como esta é mais uma das muitas verdades profundamente incómodas, ninguém se quer chegar à frente.

É por causa desta e de muitas outras verdades incómodas que se vão enrolando as palavras nas televisões, e o discurso político recua para um patamar de discussão infantil.

Para que os leitores do Contas não se deixem influenciar pela conversa estragada do crescimento do PIB na televisão, voltamos a publicar um dos primeiros gráficos que realizámos para o Contas em Novembro de 2010 e publicado em Dezembro do mesmo ano no 1º post, e que muito nos orgulha:


É esta a nossa projeção, baseada na história económica de 1 século:

- Uma década (2010-2020) em que a média dos PIB's de cada ano rondará os -0,7%

Não é preciso nem ser economista nem engenheiro nem governante para produzir este gráfico. Bastará saber matemática do 9º ano e brincar com o Excel, mais nada.

Mas oxalá estivéssemos enganados e o país soubesse corrigir de outra maneira menos difícil os seus problemas estruturais.

Com um PIB deste nível, caros leitores e leitoras, esqueçam a luta pelo Estado Social, tal e qual como hoje o conhecemos, e muitos outros serviços que consideramos como garantidos pelo Estado.
A festa terminou, e não vale a pena encontrar aqui ou acolá os bodes expiatórios, porque esses, já se safaram. Para purgarmos as nossas emoções, até é importante atirar as culpas para o político A ou o corrupto B ou o banqueiro C, mas objetivamente, isso não resolver nada.
Lutar pelas ideologias centro-direita, centro-esquerda ou outras também me parece uma perda de tempo, porque elas só funcionam quando há dinheiro para distribuir. Quando o que temos para distribuir é dívida, ninguém quer pegar na vaca fria.

A evolução do PIB de um país é uma coisa muito lenta, que reflete o somatório de milhões e milhões de decisões tomadas durante décadas por milhões de pessoas. Hoje somos aquilo que construímos desde a década de 70, incluindo a Europa, o resto do Mundo, a globalização, o petróleo, etc. É muita coisa somada e não dá para arranjar um culpado, metê-lo na prisão e no dia seguinte as coisas começarem a melhorar.

Simplesmente não é assim que as coisas funcionam, por muito que desejássemos que o fosse.

Tiago Mestre

1 comentário:

Rebelo disse...

No gráfico apresentado foi contabilizada a inflação gerada durante as décadas de 80 e 90? Não é difícil aumentar artificialmente o PIB sob desvalorização da moeda.

Se for esse o caso, as décadas 30-70 são ainda mais extraordinárias, considerando a valorização do escudo durante esse período.