António Borges, consultor do atual governo e falando hoje numa conferência, veio dizer à população que qualquer aluno dele de 1º ano de Economia que não percebesse o alcance da medida TSU chumbaria na sua cadeira.
E mais, os empresários, ao não perceberem esta medida, incorreram num enorme disparate.
E pronto, revela-se o homem, revela-se a teoria.
Há uns tempos escrevemos sobre o problema dos teóricos que se apaixonam pela sua teoria e que não aceitam uma realidade diferente daquela que desejariam.
Evitei dar a minha opinião aqui no blog acerca desta medida, tanto por ela ser irrelevante para as contas do governo como por eu próprio ser empresário e beneficiar diretamente com ela. Achei que não ficaria bem, mas como o assunto já é passado, eis o que penso:
Por ser uma transferência de riqueza do trabalhador para a empresa, é de suspeitar que este, desmotivado por tal extorsão forçada, exerça outro tipo de comportamentos na sua vida profissional que não é compatível numa empresa que se quer organizada.
Provavelmente teria trabalhadores a:
- Desleixarem-se nos horários;
- A estarem menos disponíveis para colaborar em horas e dias mais complicados para si e para a sua família;
- A não mostrarem força de vontade em querer aprender e defender os interesses da empresa e da sua administração
- Trazerem mais problemas financeiros pessoais e familiares para a empresa, sob a forma de penhoras dos salários, pedirem dinheiro emprestado uns aos outros (não seria a primeira vez), etc
- E inventarem toda a sorte de mentiras e justificações para não fazerem aquilo que acham pouco digno na sua profissão mas que às vezes é preciso mesmo fazer.
Enfim, o ganho financeiro com a TSU poderia não ser suficiente para compensar estes riscos comportamentais que degenerariam numa empresa menos organizada e menos rentável.
Vai daí, e juntamente com o meu sócio, pensámos no seguinte:
1º Devolver 50% da TSU aos trabalhadores sob a forma de aumento de salários base
2º E os outros 50% ficarem de reserva para baixar o valor hora aqui ou acolá para seduzir um cliente novo ou existente.
Estávamos nesta fase da análise e da respetiva comunicação aos trabalhadores quando se percebeu que a medida caiu por terra no Conselho de Estado.
Espero que António Borges não me chumbe, ou então desisto da cadeira primeiro.
Em termos macro-económicos, as consequências seriam +/-estas:
- o consumo interno levaria mais uma machadada (o que era mau)
- a recessão seria muito mais agudizada (mau),
- a queda nas receitas dos impostos abriria mais um rombo na execução orçamental do Estado (mau)
- as importações cairiam ainda mais (bom)
- as exportações talvez aguentassem mais algum tempo (bom),
- a balança atingiria mais depressa o superavit (bom)
- os empresários pagariam menos impostos, sobrando mais dinheiro para tesouraria (bom), pagariam mais depressa a fornecedores (bom), recorreriam menos ao crédito para financiar a empresa no dia-a-dia (bom), poderiam baixar preços aos clientes (bom), mas com mais dinheiro no bolso e sem vontade de declarar lucros e rendimentos, provavelmente despejariam este excesso de dinheiro em compras sumptuárias, fugas aos impostos, etc, etc (mau)
Ficar como estamos ou abraçar a medida TSU é escolher entre uma coisa má e outra igualmente má. É uma diferença sem distinção, na medida em que são os impostos, na globalidade, que têm de baixar, e não trocar percentagens de um lado para o outro.
Tiago Mestre
6 comentários:
É uma diferença sem distinção, na medida em que são os impostos, na globalidade, que têm de baixar, e não trocar percentagens de um lado para o outro.
Esta frase resume tudo.
Em Portugal inventa-se demais.
Caso fosse prof. de economia a única coisa que os meus alunos precisariam de saber como sair da crise: É a despesa, estúpido!
Analisando já os próximos tempos creio que poderá haver um corte definitivo (imposto de fora) para a extinção dos 2 subsídios à função pública e pensionistas. Uma imposição na renegociação de dívidas das PPPs, a obrigação de uma reorganização administrativa (extinção de autarquias)e continuar com as privatizações das EP.
E no final, só restará depois reestruturar a dívida portuguesa.
O que achas Tiago?
Abraço e bom fim de semana.
Vivendi, estou confuso:
Por um lado há metas para cumprir nos défices, via imposição germânica. Ninguém cumpre,mas enfim.
Por outro, o ESM e o OMT de Draghi darão largueza por uns tempos para que os políticos adiem as decisões difíceis, esqueçam a austeridade e mantenham défices bem luminosos
Em que ficamos?
O OE 2013 de Espanha prevê aumento da despesa face a 2011 !!
E como tentarão baixar o défice?
Aumentando impostos.
É esta a tática vigente
Interessante sobre a TSU é o seguinte todos se revoltaram por ser uma aumento da parte do trabalhador e uma diminuição do empregador, mas quem é que é beneficiado com a Segurança Social?
As empresas já prestam um enorme serviço social ao empregarem e criarem riqueza.
Outro factor interessante, principalmente nos opinion makers tipo Gomes Ferreira, que diziam que a medida se fosse feita por aumento de IVA e diminuição não era um ataque aos trabalhadores, mas não é uma ataque aos consumidores?
Se tivessem aumentado o IVA não iria existir na mesma uma transferencia dos consumidores para os empresários?
Não são os consumidores a sua esmagadora maioria trabalhadores?
Se um trabalhador tivesse essa desmotivação só iria arranjar lenha para se queimar, se a empresa for à falência este iria para o desemprego, como não existe grande criação de emprego a sua probabilidade de ficar no desemprego seria esmagadora.
Podem dizer mas tem o subsidio de desemprego, mas esse não é ilimitado e já foi diminuído.
Que tem a empresa a ver com uma acção por parte do Estado?
Quando este diminuiu as horas de trabalho não vi nenhum trabalhador muito incomodado porque assim se iria dificultar a vida aos empresários.
Diminuição do consumo vai ocorrer, seja por aumento da TSU seja por aumento do IRS.
Sendo que a medida que se perspectiva como alternativa vai fazer ainda mais estragos na economia.
Ninguém quer cortes nas despesas, isso das PPP é fogo de vista para quem não quer ver o essencial.
75% é prestações sociais e salários da função pública.
Os juros não podemos fazer nada neste momento, por isso não interessam para a discussão, é um dado.
O Tiago argumenta que as importações é algo mau, sendo que a sua diminuição é algo positivo, não podia estar mais em desacordo.
As importações são positivas, o importador entrega dinheiro e fica com o valor.
Se eu opto por comprar um determinado produto e este é importado é porque na formulação das minhas preferências eu Escolho aquele produto sendo que este maximiza a minha utilidade.
Se não tenho capacidade para comprar determinado bem porque me é retirado o rendimento que o permitia por uma entidade coerciva, o que se verifica é um atentado à minha liberdade.
A realidade é que todas as manifestações e a esmagadora maioria da população quer continuar o saque, mas não quer que lhe roubem a ela, mas sim no do lado, no vizinho.
Aqui está demonstrado porque a educação não pode e não deve ser pública, as pessoas ficam a pensar que o Estado é necessário e que sem este não podemos viver.
O sistema usa a educação a saúde de forma a tornar as pessoas completamente dependentes.
Ver o caso do conselho de ética, que mais não disse que é preciso pensar que os recursos não são ilimitados, foi logo atacado pela sociedade socialista.
Diz muito quando um economista que hoje faz anos, Von Mises, o maior economista do século XX nem nas faculdades de economia nacional é falado, no meu caso foram 10minutos numa aula de revisões para uma cadeira de história do Pensamento económico.
Só por este exemplo percebemos porque estamos onde estamos
"Se tivessem aumentado o IVA não iria existir na mesma uma transferência dos consumidores para os empresários?"
Claro que sim. aumentar IVA ou aumentar SS diria que é quase a mesma coisa, já que todos os trabalhadores serão consumidores certamente.
"Se um trabalhador tivesse essa desmotivação só iria arranjar lenha para se queimar..."
Segundo penso, o português tem dificuldade em perceber esse alcance, ou seja, reage de forma muito mais extemporânea e pouco refletida, e neste caso, teria facilmente um bode expiatório para atacar: o patrão, porque lhe tinha ficado com parte do dinheiro da SS. Estando o patrão todos os dias em contacto com ele, esse "tiro ao boneco" manter-se-ia, mas sabendo que foi o governo, e não o patrão a decidir daquela forma.
"O Tiago argumenta que as importações é algo mau, sendo que a sua diminuição é algo positivo, não podia estar mais em desacordo."
Em si mesmas, as importações não são nem boas nem más. O comprador é livre e deve continuar livre para adquirir o que quiser, dentro do seu poder de compra. O problema é quando se importa mais do que se exporta, e cobre-se a diferença com crédito. O monstrinho começa a crescer na sala.
E um ano ou outro assim não tem crise, complementado com anos de superavit, mas ter deficits durante 15 ou 20 anos de 5,10 ou 15 mil milhões de euros redundou em parte nos tais 345% de endividamento do PIB. Eram 31 mil milhões a chegarem todos os anos, e se calhar ainda estamos perto desse valor.
E pode-se ainda dar o caso das importações estarem a ser substituídas (parte delas) por produção doméstica, mas sobre isso não tenho dados e duvido muito que tal seja uma realidade.
Aumentar o IVA é bastante mais penalizador. Aliás, mesmo muito mais penalizador.
Um desempregado paga IVA, mas não vai pagar o aumento da TSU.
Os fazedores de opinião tiveram medo de ser a favor e nem se informaram.
Já ouvi alguns dizer que era melhor diminuir o IRC, ok, mas se as empresas não tem lucro, não vai ser a descida de IRC que as vai ajudar.
A descida das importações no geral é boa, porque uma parte é substituída por consumo interno.
Se os produtos ficam mais baratos para fora, também o ficam para dentro.
Sim, é um problema ter deficit da balança comercial, mas é uma grande vantagem ter superavit, por isso se o conseguirmos manter, melhor.
Na questão da TSU, mesmo não descendo os preços, cria um pequeno excedente para desbloquear a economia.
Fornecedores iriam ser pagos, daria alguma liquidez a bancos... por aí fora... sempre era uma injecção de 2 mil milhões de desbloqueio.
O que me agrada na descida da TSU é principalmente uma:
- uma verdadeira medida estrutural, uma medida como ninguém tem coragem de fazer em Portugal.
Tivesse ela sido feita 15 anos atrás e as coisas não estariam iguais certamente.
Em vez disso, o povo pede mais nevoeiro para não ver a desgraça.
Historicamente, Portugal diz proteger o trabalhador, quando na verdade o prejudica e prejudica o patrão.
A constituição levou com um prego em cima e há alguns paradigmas económicos em que não se pode mexer.
O mais estúpido é que muita população concorda que deviam ser diferentes e só não os aceita porque a mudança passa por si.
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