10 de setembro de 2012

De França, com amor! (Parte 3)


Caro anónimo,

Tanto quanto julgo saber, a escola austríaca fundamenta-se muito mais no estudo dos comportamentos humanos, com o vetor liberdade acima de todos os outros, do que propriamente em modelos matemáticos/economicistas que tentam meter o pessoal lá dentro e forçar a realidade a dar os resultados que os académicos gostariam de obter. Posso estar enganado, mas não reconheço a Mises ou a Hayek essa pretensão de encaixar gente no seu modelo matemático.

Atribuo muito mais esse enamoramento pelas teorias económicas aos keynesianos, que esses sim, sem respeitar as motivações e a complexidade do ser hunano, acreditam que o estímulo é igualmente interpretado por todos. Sabemos que não é, bastará ver à nossa volta que identificaremos casos de gente que se sente muito bem a viver do subsídios e outros com imensa vergonha de estarem desempregados e quererem a todo o custo regressar ao trabalho.

Mas isto são contas de outro rosário.

- Sobre uns ganharem muito mais do que outros.

Acredito que seja verdade, e com a globalização, talvez esse rácio aumente ainda mais, mas isso não me parece que torne os pobres muito mais pobres. Pode contribuir para, mas o verdadeiro motivo das pessoas que eram pobres continuarem pobres nas sociedades ocidentais é simplesmente não darem bem conta da dicotomia prazer vs refreio. Já escrevi sobre isso no Contas.
"O dinheiro não é de quem o ganha, mas de quem o poupa."

Mas quem julga que ganha pouco por conta de outrém, pode sempre experimentar por conta própria, e assim saber o que vale verdadeiramente o seu suor, e tirar as suas conclusões. Tenho a sorte de já ter sido trabalhador por conta de outrém e hoje trabalho por conta própria. Como em tudo na vida, há prós e contras de ambos os lados. Nos anos 90 muitos foram aqueles que, importunados pelas "injustiças" do patrão, decidiram montar negócio por conta própria. Uns safaram-se, outros não, e outros aproveitaram logo para desviar capital da empresa para seu proveito. É por isso que insisto que não devemos meter as mãos no fogo por ninguém, nem por nós próprios.

E já agora, os ricos ao acumular riqueza também criam as condições para que os pobres prosperem, não pela via cega de aumento salários e direitos dos trabalhadores já existentes, mas sim pela via da invenção, criatividade e surgimento de novas oportunidades de negócios. É nisso que os ricos querem apostar, em empreendedores que tudo farão para dar boa conta dos seus investimentos. O dinheiro dos ricos não está propriamente parado, está antes a servir direta ou indiretamente alguém (via bancos)

- Sobre a minha aspereza em tratar a despesa como um alvo a abater (a expressão é forte mas paciência) sem ter em conta a dimensão social que o Estado representa na sociedade

Infelizmente não vejo outro modo de "atacar" o problema. Reduzir a despesa é um imperativo apenas e só porque esta se manteve 10 a 15 mil milhões acima das receitas nos últimos 4-5 anos.
Se a despesa fosse 50 mil e a receita 50 mil = défice zero, não estaria aqui a vociferar para se cortar na despesa e a "lutar" por esta convicção.
Mas como não é assim, e sempre que cortar despesa significa cortar serviços/pensões/ordenados, essa é uma realidade à qual não poderei fugir.
Para ser coerente, sendo eu apologista do corte de despesa pelos motivos acima descritos, tenho que ser apologista também da redução/extinção de serviços e pessoas agarrados ao Estado. Estaria a mentir a todos vós se dissesse o contrário.

Houve "alguém" que no ano passado nos quis fazer acreditar que com o corte de umas gorduritas no estado, o equilíbrio do défice seria possível. Não acreditei na conversa e não votei PSD.
Enfim, vejam a embrulhada em que essa pessoa se meteu agora, aumentando impostos sem apelo nem agravo e sem conseguir reduzir despesa quase nenhuma..

Tiago Mestre

3 comentários:

Vivendi disse...

Queime-se a constituição.

O problema aqui chama-se PS e também das múmias vivas socialistas maçônicas que enquanto estiverem vivos não quererão qualquer alteração de virgula na constituição.

A melhor alternativa é mesmo começar a fechar as fundações e institutos e privatizar as empresas estatais. O tribunal constitucional vai perder a pedalada e a moralidade que não tem. Mas este PSD é fraco demais.

Portugal está a ir e em direção rápida para ser um país condenado invés de se tornar um país livre.


Anónimo disse...

Era interessante por um ano não existirem serviços públicos nenhuns, para a privada saborear a falta ou não que os Serviços públicos fazem. Um aninho só com a privada. Os funcionários públicos (605 mil) íam todos para a moblidade especial (subsídio de desemprego) a ganhar 55% do seu salário mensal. Acabavam-se as PPP's, Fundações, Institutos, tudo congelado. Era um corte expectacular na despesa pública. O mesmo aconteceria à Assembleia da República e demais órgãos de soberania. Tudo congelado, em gestão corrente (a Troika fazia as contas). Só 1 aninho, para saborearmos. Sem Estado é que era bom.

Filipe Silva disse...


Em relação À questão da escola Austríaca segundo sei, nem Hayek nem Mises formalizaram, um dos aspectos que faz com que não tenha muita visibilidade na Academia é que é uma teoria não formalizada.

Os keynesianos tem por habito fazer simplificações, muita gente ficaria escandalizada ao saber que maioria dos modelos utilizados, tem apenas 2 produtores 2 consumidores e partem dai para a analise, adoram o cetris paribus.

Com a dimensão do Estado actual, iria existir grandes problemas, mas que a criatividade humana trataria de resolver.