5 de setembro de 2012

A troika já sugeriu qq coisa ao governo, nós é que ainda não sabemos

Caros leitores e leitoras, pelo modo como as notícias têm saído cá para fora, e pelo não afastamento do aumento de impostos proferido hoje pelo Primeiro Ministro, parece que ninguém quer pegar na vaca fria.

E pelos vistos, a vaca fria é um qualquer aumento de impostos que se anunciará na próxima segunda-feira.

Compreendemos a necessidade do governo em tentar captar JÁ mais receitas.

Será uma taxa especial aos subsídios de Natal no privado?

Com um buraco de 1 a 2 mil milhões de euros, só um corte desses compensa o desfalque.

Com soberba nossa, queríamos fazer novamente aqui um apelo ao governo de que a solução de continuar a subir impostos, em teoria, até pode garantir um pouquinho mais de coleta, mas a depressão que tal fenómeno gera na população, a par da redução real do seu poder de compra, acabará por retraí-la ainda mais no consumo, desabando o edifício da coleta fiscal e produzindo um resultado contra-producente.

Ou seja, o governo, com medo e incapacidade de tomar decisões incisivas e altamente dolorosas, acaba por perpetuar este estado desgraçado de coisas, refreando o desejo tanto daqueles que perderam poder real de compra, como aqueles que não sabem se um dia precisarão de cortar ou não, mas pelo sim pelo não, corta-se já.

Consumir é um desejo natural do ser humano. Não precisa de ser estimulado para que desponte naturalmente na nossa mente. Mas a par do desejo de consumir há o desejo de perdurar a nossa existência no futuro, e essa, mais do domínio da consciência, pede à mente que tenha calma, que atenue o ímpeto e que salvaguarde o dia de amanhã.

Vivemos num permanente conflito de interesses entre estas 2 forças que se guerreiam entre elas.

E consoante as condições específicas da pessoa e da circunstância em si, pode-se dar o caso de ser o desejo de consumir a ganhar a batalha, como noutra circunstância inversa dar-se o oposto.
Somos assim mesmo, balançamos ao sabor das circunstâncias e da confiança (ou falta dela) que essas mesmas circunstâncias nos projetam.

Não haja dúvida de que as facilidades ao crédito que inundaram o país no final da década de 90, patrocinados pela CEE, desequilibraram brutalmente esta relação de forças entre desejo e refreio durante uma década inteirinha.

Já ninguém dúvida que o desmame terá que ser feito algures no tempo. O problema é que ninguém quer fazê-lo já porque dói muito. Mais vale adiar para que sejam outros a lerpar, claro!

Quando o aumento de impostos e a redução de despesa se mantêm nos radares durante tantos ANOS, é natural que todos se sintam visados, tantos aqueles que perdem o seu poder de compra, como aqueles que, na dúvida, optam por refrear o ímpeto.
Nestas condições de funcionamento de uma sociedade, em que a resolução dos problemas é adiada com receio das consequências, obrigamos a mesma a cair muito mais e durante muito mais tempo.

Esta perpetuação da austeridadezinha será madrasta para nós, e a própria troika veio caucionar este modelo, ao dar 3 anos a Portugal com a obrigação de lhes devolver 78 mil milhões de um empréstimo concedido há 1 ano algures num futuro ainda mais longínquo.

A troika não conhece bem a nossa cultura, o que é natural, e certamente irá deixar-se influenciar pela carpideira nacional de "Não mais austeridade, por favor".

O povo irá novamente cortar no consumo porque ainda há muita tralha que se compra e que é completamente desnecessária ao quotidiano, e o governo, quando der por ela, já será tarde de mais, porque mais lojas fecharam, as receitas já caíram mais do que se previa e a despesa não acompanhou porque os subsídios de desemprego subiram.

Novo problema para resolver!

Não é fácil, mas parece que se está a fazer tudo para que se torne ainda mais difícil no futuro.

Tiago Mestre

6 comentários:

Vivendi disse...

Concordo estimado Tiago!

Medina Carreira avisou e bem no último programa que os próximos anos serão muito complicados para assistirmos a uma inversão da economia.
E podia ser diferente. Bastaria cortar na despesa e liberalizar a economia.

Filipe Silva disse...


O problema é que mesmo o corte na despesa vai fazer cair as receitas.

Muita da despesa é receita de alguém, se o Estado cortar nas duas despesas em bens e serviços ao privado leva a que os impostos cobrados a estes diminua.

A realidade é uma é impossível fugir À recessão, a teoria da escola Austríaca explica muito bem este fenómeno, enquanto se mantiver este tipo de politicas e não assumir que é necessário passar pelas dores da recessão.
O Estado tem de cortar despesa até ao ponto de começar a ter superavits e conseguir diminuir a divida.

O caminho é cortar divida e pedir a renegociação da mesma.
Assumir que o tipo de vida e de consumo que até agora se teve não é possível manter.
Portugal passa por uma depressão do nível de 1929, o desemprego real é superior já a 20%, o rendimento médio tem vindo a cair de forma acentuada.
Crescimento só virá quando a economia estiver completamente reestruturada para as actuais circunstâncias.

Não vejo como é possível que venha a existir crescimento económico enquanto os excessos da bolha de crédito estejam limpos.

Algo fascinante para mim é a crença em homens providenciais que existe na sociedade portuguesa, ninguém quer assumir o controlo do seu futuro, preferem que seja um terceiro a o fazer.

O Medina faz excelentes analises à realidade, mas falha ao achar que o caminho passa pelo Estado.

Eu não faço ideia de como se descalça uma bota como a que Portugal tem de descalçar.
Sinceramente acho que não é possível Portugal resolver os seus problemas, isto é, quantas pessoas conhece o Tiago que pensem da forma como pensamos?

Tiago Mestre disse...

Acredito que muita gente, dia a dia, já interiorizou para si mesma que esta crise é mesmo a doer. As anteriores recessões passaram, mas esta será para ficar.
E o pessoal está a adaptar-se, cortando onde pode.

A maior parte das pessoas não pensa nem racionaliza como nós, mas já vai sentindo como nós porque foram direta ou indiretamente tocadas pela crise.

Nós racionalizamos sobre estas questões porque nos preocupamos, mesmo que a crise ainda não tenha batido à nossa porta. É a consciência a preocupar-se por antecipação, e não descansamos enquanto não percebermos o fenómeno na sua plenitude e as soluções para ele.

Os políticos e os economistas da nossa praça, ou por ignorância ou por medo, ignoram a matemática e inventam argumentos para alarmar o pessoal e arranjar alçapões para fugir da árdua realidade.

Sexta-feira vou falar 30 minutos para os estudantes de eng eletrotécnica na FEUP, a convite da Assoc dos Est. de Eng. Electrotécnica.
Penso que estarão alunos universitários do país inteiro.

Deram-me liberdade para falar do que quiser, e vou carregar também neste assunto para ver se cativamos mais gente a aderir às nossas ideias..

Fernando Ferreira disse...

O Pedro disse: "Acredito que muita gente, dia a dia, já interiorizou para si mesma que esta crise é mesmo a doer."
Experimente ler o Pedro os comentarios das noticias do Expresso e vai ver que so' encontra revoltados com a "austeridade" e a clamar por "medidas de crescimento", isto e', despesismo do estado.
A coisa ainda tem de piorar muito para abrir os olhos a muita gente, se e' que alguma vez vao abrir.
Boa sorte la com os estudantes da FEUP, mais certo a maioria continua a pensar que estudar (e outros pagarem as suas propinas) e' um "direito" que eles tem. Depois faca um posto a contar sobre a reaccao.
Cumprimentos!

Tiago Mestre disse...

Fernando, até gosto do nome Pedro, mas a mãe Joana decidiu que me chamaria Tiago!!

As reações que vês são a purga que o povo português faz constantemente. é isso que previne a panela de rebentar.

Mas nas micro-decisões diárias do tipo: gasto ou não gasto? quem já foi tocado pela crise já tende a pensar 2 vezes.

A queda no consumo interno a que assistimos não é só fruto daqueles que perderam poder de compra, é também daqueles que têm medo de um dia o perder.

Tento basear-me naquilo que os números nos dizem

Anónimo disse...

Tiago,

"Bota" discurso lá à malta da FEUP. É preciso alertar - ainda? - esta malta nova p/a a dura realidade porque ainda vivem um bocadinho à margem da luta do dia-a-dia.

Bruno Morais