18 de julho de 2012

Portugal no TOP3 mundial

Há algum tempo que procurávamos este gráfico. Zerohedge concedeu-nos esse privilégio:


Em função do seu PIB, Portugal encontra-se em 3º lugar no somatório de toda a dívida detida pelo público, privado e cidadãos.

À exceção da Irlanda, somos o único país que excede nas 3 rúbricas os 100% do PIB.

Para um país com o nosso PIB per capita, e sem a UE, o prémio de risco que os credores nos concederiam nunca nos permitiria exceder os 50 a 60% nas três rúbricas. Estaríamos ao nível de uma República Checa ou de uma Nova Zelândia, talvez.

Como foi então possível deteriorarmos tanto as nossas contas?
Podemos agradecer à UE e o €.

Foram estas 2 instituições que introduziram nos credores mundiais a falsa sensação de que emprestar a Portugal seria como emprestar à Alemanha. Aproveitámos a boleia, e de que maneira.
A Grécia, país com características económicas bastante semelhantes às nossas, parece um menino bem comportado se compararmos as dívidas do privado e dos cidadãos.

É por todo este acumular de asneiras, sempre com o patrocínio da UE, que ficamos na dúvida se não será melhor abandonar a UE e o €. As consequências seriam muito feias, mas a verdade é que há 15 anos substituímos o risco dos credores, que lá nos ia pondo alguma ordem, por um PAI que nos deixou fazer todas as asneiras e mais alguma sem acautelar as consequências no futuro.
Era preciso dinheiro? Os bancos da UE têm, patrocinados pelo BCE, claro.

A austeridade que a UE agora pede só apareceu porque os credores forçaram tal cenário. Não fosse assim e tudo continuaria a assobiar para o lado. É por isso que tenho as maiores reservas no sucesso destas operações políticas. Veja-se o caso da França: como não foi atacada pelos credores, por acaso ouvimos Durão Barroso vociferar contra as políticas de "crescimento" de Hollande, como revogar o aumento das reformas e do IVA que Sarkosy tinha já aprovado? Não, não ouvimos.

É por isso que quando vemos na televisão gente a pedir mais Europa, mais crédito às empresas, mais anos para fazer ajustamento nas contas públicas, menos austeridade, mais crescimento, menos desemprego, salta-nos a pergunta aos paladinos do crescimento e de mais Europa:

Quanta mais dívida então é que querem? Qual é o limite que vos deixa confortáveis?
Já estamos em 370% do PIB.
400% está bem?
500%?
Ei, porque não 1000% do PIB? Desde que a UE garanta que paga aos credores caso agente falhe, tá-se bem, não é?

Tudo somado deveríamos reduzir de 370% para 150% do PIB na pior das hipóteses, ou seja, diminuir a dívida de 629 mil milhões para 255 mil milhões. Aaauchh!
É só uma redução de 370 mil milhões de euros: 2 anos do PIB português.

Tiago Mestre

12 comentários:

Anónimo disse...

Tiago,

Vai perdoar-me concerteza a minha ignorãncia nesta matéria! Mas quando se fala em 120%(+/-)/PIB, as 3 rubricas que descreve não se encontram já incluídas? Isto é a soma das 3 rubricas não perfazem os 120%? Este valor de 370% está-me a fazer um pouco de urticária!! Perde 5 minutos do seu tempo a explicar-me o seu ponto de vista?

Agradeço desde já a sua disponibilidade em responder-me. Caso não o faça agradeço-lhe na mesma :) só não me peça para lhe devolver o tempo perdido comigo. ;)

Abraço

O "anónimo"

Tiago Mestre disse...

Caro anónimo, infelizmente é mesmo 370% do PIB:

107% do PIB é a dívida do Estado: aprox. 183 mil milhões

153% do PIB é a dívida das empresas: aprox 261 mil milhões

106% do PIB é a dívida das famílias/cidadãos: aprox 181 mil milhões

107+153+106 = 366% do PIB

Considerei o PIB como sendo 171 mil milhões, que é o valor de referência para 2011.

O Estado vai continuar a aumentar o stock de dívida porque não se vislumbra défice ZERO no horizonte, antes pelo contrário (estou sempre a bater nesta tecla aqui no blog).
E como estamos em recessão (PIB desce), rapidamente passaremos dos 107% atuais (ao dia de hoje já é superior de certeza) para 115-120% do PIB

Empresas e famílias é que espero que comecem a reduzir dívida.

Será sempre penoso para a economia e para os cidadãos reduzir dívida, porque muito do consumo e da "prosperidade" vivida em Portugal são fruto deste fluxo de capitais que desde 2001 nos bafeja a cara. São milhares de salários, subsídios e pensões que vivem deste dinheiro emprestado, e que deixando de vir, esse poder de compra "eclipsa-se" de um dia para o outro.
Para piorar o poder de compra, teremos que nos próximos anos "roubar" à riqueza nacional o dinheiro para amortizar o capital e pagar os juros. Este fenómeno era "esquecido" até aqui porque como vinha sempre mais crédito, pagava-se capital e juros com esse mesmo dinheiro. O clássico esquema Ponzi.

Medina Carreira chegou a avançar com o número de 31 mil milhões de euros de crédito que Portugal inteiro contraiu ano após ano, nesta última década. Daí termos chegado a 370% do PIB, ou mais concretamente: 629 mil milhões de euros de dívida total que Portugal detêm para com credores.

Espero ter ajudado na compreensão

Filipe Silva disse...

Boas Tiago

Este valor devia ser afixado como está a divida americano em central Square.

Como descalçar esta bota?

A sociedade esta dependente de divida, seja ela publica seja ela extrangeira, Portugal está drogada em dinheiro que não tem.

Falas em o Privado pagar as suas dividas, isso devia ser o caminho, mas será possível?

Se as familias e empresas começarem a pagar as suas dividas, a famosa desalavancagem, deixam de consumir, mesmo o facto de não consumirem mais com base em credito, provocam uma quebra do consumo, levando a que todos os empregos que estavam baseados neste desapareçam.
O que leva a um crescimento das despesas do Estado e uma diminuição das suas receitas.

Logo este vai aumentar os impostos, reduzindo a capacidade de pagar dividas do sector privado, e diminuindo ainda mais o consumo etc... levando a um ciclo de quebra da capacidade de criação de riqueza do sector privado.

As pessoas ainda não compreenderam que a situação é insustentável, e que o dito Estado Social é o cancro da economia nacional.

A realidade é que os problemas todos da economia nacional foram criados pelo Estado(politicos), seja directamente seja indirectamente, desvirtuaram o ciclo de crescimento, é o mesmo quando ouvimos dizer que a culpa é dos banqueiros gananciosos que a ganancia destes criou a crise de 2007, quando a realidade isto so aconteceu porque a FED deu lhes dinheiro de graça e estes fizeram os seus esquemas, sem este dinheiro não havia esquemas, logo não havia crise.

Enquanto a teoria dos ciclos económicos da escola austríaca não for ensinada na escola, não vamos a lado nenhum.

O sistema do pós guerra, mais após 1971 com a inconvertabilidade do Dólar em ouro que o sistem é de Boom Bust, mas o problema é que o Boom é cada vez maior, e o Bust maior ainda é.

Somos como o D.quixote a lutar contra moinhos de vento.

Tiago Mestre disse...

Filipe, a desalavancagem, pouca ou muita, não sei, forçará o Estado a fazer qualquer coisa, mas desde que tenha armas para o fazer.
É verdade que as receitas irão cair e as despesas provavelmente aumentarão.

A troika foi a arma que Portugal arranjou. Manterá o status quo por mais 2 ou 3 anos, que poderão ser 4, 5 ou 10 anos.

Saindo a troika de cena, o Estado perde a capacidade de cumprir compromissos.

Quanto mais cedo não houver défice, mais cedo poderemos mandar a troika embora, ou caso ela vá embora por vontade própria, que possamos sofrer o menos possível.

vazelios disse...

Boas!

Concordo por inteiro com o Filipe, devemos reduzir a dívida mas consequentemente reduzimos o consumo.

É como já disse: Há dinheiro a mais nuns sitos e divida a mais noutros.

Das duas uma: Ou empresas e pessoas reduzem a divida e com ela reduzem tanto o consumo que já não dá para reduzir mais, voltando novamente a subir (no longo prazo), ou há um reequilibrio da balança.

Há muito dinheiro que não existe a não ser em computadores, e outro dinheiro investido. Muito mais do que o povo tem para pagar as suas dividas.

No longo, longo prazo os mais abastados acabarão por sofrer também caso não haja uma solidariedade e reequilibrio.

Afinal todos, cada um à sua maneira, uns por trabalharem pouco, outros por se endividarem demais, outros por roubarem demais, somos culpados nisto. Porquê pagar só uns?

Até podemos pagar só nós, mas vamos acabar sem nenhum e o virus passará a atacar outros mais abastados.

Demorará décadas para pagar essas dividas particulares, e eu não tenho nenhuma! Enquanto isso os ricos quererão rentabilizar os seus investimentos, não quererão pagar nada. Não haverá algo de errado?

É altura de ensinar os principios da escola austriaca, ensinar as pessoas a poupar e duma vez por todas explicar às pessoas como chegámos até aqui. Andamos a falar de novelas na televisão.

Agora o caso Relvas, que é lamentável, cobre tudo em vez de se falar no que é importante.

Não vejo telejornal há uma semana!

Tiago foste à reunião do instituto von mises? Como foi?

Não consegui chegar a tempo.

Abraços

Vivendi disse...

Eu já tinha publicado acerca. E a informação na altura estava acima de 700 mil milhões.

http://vivendi-pt.blogspot.com/2012/02/o-numero-aterrador.html


Agora é só dividir esse montante por cada um dos portugueses, mandar imprimir uns autocolantes e colar na testa daqueles que ainda não perceberam onde estão metidos.

Mais de 70 mil € a cada português.

Nuno disse...

Mesmo que conseguissemos resolver o problema da dívida, o que eu não acredito, não voltaria a acontecer o mesmo, dando o euro todos os incentivos para que isso aconteça?

Filipe Silva disse...

Não dado que hoje o mercado já percebeu que não existe solidariedade total.
Até 2007 existia eurobonds implicitas hoje isso já não se verifica.

Além que os investidores não vão emprestar às mesmas taxas que anteriormente.



Só poderá acontecer se existir monetização da divida

André disse...

Em complemento; o banco Merrill Lynch esteve a tentar ver quais seria os impactos da saída do Euro dos países membros, e as conclusões são bastante curiosas:

http://www.contrepoints.org/2012/07/17/90683-zone-euro-qui-interet-en-sortir

Tiago Mestre disse...

Há muitas opiniões e considerações sobre este assunto. Recordo-me o ano passado de outro estudo, ou do Citi ou da UBS, já não me recordo, em que as quedas no PIB de alguns países poderiam ascender aos 40-50% do PIB com a saída do €. Enfim, dá para tudo.

Eu concordo com o Filipe que a saída do € é coisa má, e voltando ao escudo teríamos que lidar com outro tipo de problemas, tipo inflação a sério, porque já conhecemos as opiniões dos políticos e dos economistas da nossa praça.

Mantermo-nos no € é fazermos parte de um sistema corrompido, planificador e pouco à nossa medida. As eurobonds implícitas que o Filipe fala duraram até 2010, e ainda duram em França.

Com este cenário montado, mesmo assim considero que voltar ao escudo é assunto sério e que deve ser discutido. Eu acho que das 2 más opções, a menos má seria eventualmente abandonar o €. Mas este é assunto sujeito a tantas incertezas que fico na dúvida.

André disse...

Eu pessoalemente também acho que a saída do Euro também seria um erro. O Euro tem muitos defeitos e a UE é mais um grande monstro burocrático e totalitário que um promotor da liberdade, mas de toda a maneira se queremos ter de novo um mundo estável e com progresso assinável vamos ter de avançar dia menos dia para um padrão-ouro (ou algo de equivalente) e abrir cada vez mais as fronteiras e as economias. Ora no papel o Euro e a UE são exactamente isto.

Quanto à saída do Euro, eu acho que as consequências a curto prazo não seriam muito diferentes de uma bancarrota do Estado (álias a primeira é bem capaz de dar origem à segunda, ou o inverso vá): diminuição rápida do nível de vida via inflação, cortes no crédito, desemprego, Estado a mobilisar os impostos só para pagar as indemnizações, cortes brutais na despesa pública. Mas a vantagem é que teriamos instrumentos próprios e uma certa auntonomia para gerirmos a nossa austeridade (o problema é que teremos de viver em regime de austeridade permanente durante dez anos, isto se cortamos efectivamente na despesa).

Não nos esqueçamos que a bancarrota de 1892 contribui para uma austeridade permanente que só terminou em 1947 isto porque os governos monárquicos não chegaram a resolver a questão das finanças públicas a tempo (basicamente esperaram até a chegada de João Franco para começarem a sério), sendo inclusive travados (como havia de ser se demoraram quase 20 anos para COMECAR a trabalhar) pela República. A República esteve depois intertida com a Primeira Guerra Mundial (destrído assim os esforços feitos em 1913 por Afonso Costa) até Álvaro de Castro retomar a situação em 1924. Mas outra vez isto de pouco serviu visto que entre 1926 e 1928 os militares voltaram a brincar com o Orçamento, até Salazar lá conseguir resolver aquilo, e mesmo assim foram necessário 19 anos para saírmos da austeridade (e mesmo assim a Segunda Guerra Mundial não desculpa tudo, porque se não tivesse existido o país nunca teria tido excedentes comercais de 12% que deram uma bela almofada a Salazar. Recordo que nos anos 30 os excedentes orçamentais deverem-se em larga medidia a aumento de impostos, em particular a carga sobre as colónias, que se perderem a seguir em larga medida para subsdiar a agricultura, nomeadamente para pagar o desastre da Campanha do Trigo, e para controlar outros sectores económicos via o corporatismo).

Por isso se alguém pensar que a saída do Euro, ou a restruturação da dívida são as soluções milagres para Portugal eu convido-o a rever muito bem a nossa História e a pensar bem o futuro.

Fernando Ferreira disse...

Concordo com o que o Andre disse. De alguma forma o Euro funciona como uma especie de padrao-ouro para os paises aderentes. Estes, pura e simplesmente, nao podem imprimir dinheiro a primeira dificuldade e disso os politicos nao gostam nada. No entanto, eu penso que o euro vai ter de acabar, pelo menos no formato que existe agora. Todo o sistema monetario mundial tem de mudar. Todas as experiencias de dinheiro FIAT do passado acabaram no colapso ou no regresso voluntario ao padrao-ouro. Desde 1971, quando o President Nixon acabou com a ultima ligacao ao padrao-ouro, que vivemos com um sistema monetario completamente FIAT e e' esse o problema. Seja que sistema financeiro for que renasca das cinzas, tem de ser um que esteja FORA do controlo dos politicos. Cumprimentos!