18 de julho de 2012

Comissão Europeia continua a desafiar sem pudor as mais elementares leis da gravidade

Parece que continuamos no país das maravilhas.

Lemos na edição online do Jornal de Negócios que a Comissão Europeia reviu em alta a dívida pública em função do PIB para Portugal em 2013, subindo 3 pontos percentuais para:
118,5% do PIB


Motivos deste aumento?
Empréstimo às autarquias
PIB caiu mais do que se esperava

Até aqui, nada, mas as conclusões para 2014 e daí em adiante são a glória da quimera:

“O perfil de declínio de dívida a começar em 2014 parece robusto mesmo contra perspectivas de crescimento mais fracas”



Portanto perspetiva-se que em 2014 a dívida começará a baixar. E como? Só com défice ZERO, mas não é essa a receita da CE.

Segundo percebemos, esse desígnio começará dentro de ano e meio. Quando toda a gente implora pela desistência da austeridade, pedir mais 2 anos e sei lá que mais facilidades, acabar 2014 com menos dívida do que em 2013 só pode estar no domínio dos sonhos. E que sonhos. 
É por estas estimativas mentirosas que as instituições e seus líderes morrem na praia, a meio caminho entre a solidez da terra e a total incerteza do mar.

No mesmo artigo a CE também nos "ensina" quais os critérios a utilizar para que a redução da dívida seja uma realidade:
  • Crescimento real do PIB de 2% mais inflação de 2%
  • Financiamento abaixo dos 5% (ao dia de hoje, e desde há um ano que anda pelos 10%)
  • Superavit orçamental primário de 3%

É caso para dizer: assim também eu. Nestas condições já não é preciso défice ZERO, mas conseguirá Portugal atingir estes critérios?

Com um Estado a consumir quase 50% do PIB e em processo de austeridade, como poderá a economia crescer 2%? Crescemos 0,7% ao ano na última década. Por passo de magia iremos crescer 2% agora?
Financiamento a 5%? É preciso confiança. Para isso é preciso gente séria e credível.
Superavit orçamental de 3%. Era preciso austeridade a todo o vapor e não haver mais buracos.

Eis alguns buracos que estão à espera de serem destapados:
  • Dívida da CP, Metro Lisboa e Metro Porto: 10 mil milhões euros, crescendo 600 a 700 milhões ao ano. São a jóia da coroa.
  • Dívidas das empresas municipais: não se sabe, aparentemente, mas deve estar para lá dos mil milhões.
  • Conflito entre Águas de Portugal e Municípios que não querem pagar a fatura que a AdP lhes apresenta por tratar das águas.
  • Défice energético: não se sabe ao certo, mas ultrapassa os 2 mil milhões de euros. Cresce 500 milhões euros aproximadamente ao ano.
Grosso modo, podemos desde já antecipar a incorporação de 15 mil milhões de euros algures no futuro da dívida pública portuguesa. A CE não enfiou lá estas rúbricas com certeza, pelo que podemos desde já antecipar que da projeção de 118% subiremos para 126% do PIB, ou seja, de 200 mil milhões aprox para 215 mil milhões, falando em números.

Mas 118% ou 126% do PIB é quase indiferente, porque num caso ou noutro só aparece uma mensagem no ecrã dos credores:
GAME OVER


Onde é que esta malta estacionou a nave? Este irrealismo é confrangedor e lança o debate num plano totalmente alheio às leis da gravidade:



Tiago Mestre

6 comentários:

Filipe Silva disse...

Não lhe chamam ciencia económica?

Há que dar o aspecto de cientifico ao que estes tecnocratas fazem.

Algo que a mim me causa confusão, é que nestas previsões, das duas uma ou o pessoal é adivinho ou por e simplesmente inventa cenários que batem com as conclusões que querem apresentar.

A realidade é que o Estado tal como está é insustentável, se os impostos baixarem e houvesse algum crescimento económico o saldo da balança comercial tornava se deficitário e o problema da divida iria retornar.

Penso que temos actualmente um choque entre a economia privada(não patrocinada pelo estado), e os interesses publicos(sector publico e economia privada patrocinada).
O que passa nos media é apenas os interesses a manifestarem se, professores, medicos, igreja, empresas das PPP, edp, e companhia.

OS que realmente trabalham e fazem algums coisa por eles e pelo país, não se escutam na tv a manifestar.

É interessante que se fale no desemprego dos professores, como se estes fossem mais que os trolhas, e carpinteiros, etc.....
Hoje vi na tv um professor a dizer que eram cultos, etc... a dar a entender que o desemprego destes nao podia ocorrer pk estes eram mais que os outros, a mim revolta-me um pouco este tratamento dos que não tem cursos como sendo de terceira e os licenciados de primeira
(sou licenciado, não penso um pedaço de papel me faça valer mais que os outros)

vazelios disse...

Filipe aposto na possibilidade de inventarem cenários. Não são eles que estão no desemprego...

Eles estão lá bem com o trabalhinho deles, desde que façam muitas cimeiras reuniões e almoços cobertos pela imprensa o pessoal acha que eles andam a bufar da cabeça.

Tiago, pegando no game over, o problema é que eles acham que têm o "Play again?"

Já aconteceu, já houveram muitos crashes e bancarrotas, pensam que pode acontecer outra vez.

O problema é que os níveis de divida e problemas são tão elevados que só com um enorme ajustamento economico (e os problemas sociais que daí resultam) ou com uma solução milagrosa nunca vista poderá dar mais uma vida.

Tiago Mestre disse...

Foi o que nos ensinaram desde pequeninos: estuda, tira um curso e candidatas-te a outro tipo de vida, que é o mesmo que dizer, tornas-te "superior" à restante populaça.

Houve quem se deixasse levar por esta ladaínha e agora revolta-se porque as condições de progresso já lá não estão, e houve quem não foi na conversa, tirou o curso mas está atento à realidade e sabe que não há almoços grátis.

Ainda ontem estive o dia todo num Hospital em Lx a fazer serviço técnico, e à hora do almoço fui ao refeitório. Era ver os médicos com o seu estetoscópio ao pescoço, como quem diz: não nos confundam com o resto da populaça.
Há anos que eu vejo isto. Até suspeito que o estetoscópio é já mais um adereço do que um instrumento.

Dá-me vontade de rir ver estas caricaturas. É sinónimo de que ainda há por aí muita gente a (querer) viver bem acima da média e mostrá-lo a toda a gente.

Falta-lhes o colapso para acordarem

Tiago Mestre disse...

Vazelios, é isso mesmo. No ecrã deles aparece: Play Again?
Game Over fica para o resto da malta.

Não te cheguei a dizer mas fui à tertúlia na semana passada. Cheguei lá pelas 20.20 e verifiquei que afinal aquilo era um jantar de pessoas!
Fiquei desolado porque não era nada aquilo de que estava à espera.
Ainda por cima ouvi um "raspanete" da minha namorada por não me ter informado bem. Enfim!

Anónimo disse...

Ouvir raspanetes da namorada faz sempre bem!!! Acorda-nos! hehehehe

Sou do Norte, da cidade berço mas especificamente e o cenário de pomposidade, imagem e status são importantissimos!!!! Pelo menos é o que esta populaça aqui pensa! (my own opinion). Aqui vive-se para o show-off! À decadas que é assim! A boa máquina(carro), A casa maior e com piscina (embora a piscina se encha de tada a variedade de insectos, as férias em Cauncun, o Ipad, o Iphone, o Ipod, enfim mil uma artimanhas para se parecer aquilo que não se é! mas depois tenta-se conversar com esses inergumenos e o que nos sai? a fava!!!!

Pergunto-me todos os dias como é que esta gente consegue? E porque me pergunto? porque eu faço contas todos os dias e pouco me sobra!!! Mas tenho as contas em dia!!!!

Creio ser um pouco o retrato do país, como já lhe chamaram aqui, das maravilhas!!!

"anónimo"

Tiago Mestre disse...

Caro anónimo, pelo que me vou apercebendo, o pessoal que aparenta todos estes sinais de riqueza está a viver no limite, para não dizer mesmo em incumprimento.

Antigamente eu achava sempre que quem mostrava possuir, possuía mesmo, e era porque tinha acumulado excedente. Que ingénuo que eu fui.

Quando começo a ver que posso "comprar" um carro pela empresa, contrato leasing, em que por 400€ por mês "ganho" o direito de conduzir um carro de média alta, é difícil dizer não. E por 500€ já levo um de gama alta. A malta pensa assim: por mais 100€, o que é que é isso nas contas da empresa? Nada.

Na minha empresa eu pago 200€ por mês por um carro que não me custou mais de 20.000€, novo. Leasing de 4 anos. Mas por 400€, estendendo o contrato por mais 1 ano ou 2 posso adquirir um carro de 50 ou 60.000€. A tentação é grande.

Ipad's e Iphone's, e tralha dessa custam 500€. Se for pela empresa, entra como despesa (abate no lucro) e ainda se vai buscar o IVA. A tentação também é grande.

Se a empresa começar a ter muita despesa e dar prejuízo, mais cedo ou mais tarde a tesouraria começa a rebentar.

1ª solução: deixa-se de pagar ao estado a TSU, a SS, o IVA e o IRS. "Poupam-se" logo milhares de euros por mês. O Estado, se quiser, que venha atrás de mim e logo se vê quem ganha.

2ª solução: atrasam-se pagamentos aos fornecedores tanto quanto possível. "poupam-se" logo outros milhares ao fim do mês.

3ª solução: atrasam-se salários aos trabalhadores. não se pagam horas extraordinárias, etc, etc.

O que não faltam são "soluções" para manter a aparência.


Quem não tem empresa e não tem dinheiro, pede crédito para comprar esta tralha em 2 anos, e quanto ao carro, também é fácil.
Compra-se em 2ª mão por 20.000€ um BMW série 5 diesel de 2007, 180.000km, com crédito a 4 anos. Mensalidade de 200€ aprox por mês. Tá resolvido o problema!!