Caros leitores e leitoras, começa a aparecer em algum imprensa internacional cada vez mais jornalistas a referir a necessidade de Espanha recorrer a um resgate total.
Compreendemos estas conclusões naturais por parte dos jornalistas que, vendo o país num beco sem saída, pensam logo em partir a parede e continuar em frente. É sempre aquela velha história de aplicar as mesmas receitas esperando resultados diferentes.
Espanha possui um mercado de dívida pública que, só ela, ultrapassa a totalidade do ESM, com os seus 700 mil milhões de euros.
Com umas contas básicas, é possível chegar à conclusão de que o ESM não chega para Espanha, bem como as responsabilidades que recaem sobre a Itália para ajudar neste resgate rapidamente se voltariam contra a própria Itália.
Caso Espanha peça mais ajuda, Itália ficará cada vez mais na mira da desconfiança. E com juros a rondar 6% nas maturidades mais longas, só isso é já sinónimo de falência do Estado italiano no médio prazo. Se subirem para 7 ou 8%, a falência transfere-se do médio para o curto prazo. Passa a Itália a precisar JÁ também de um resgate.
Há muito que os líderes deveriam ter reconhecido a sua incapacidade em resolver questões desta magnitude. Julgavam que salvando um país após o outro, algum dia a Europa ficaria protegida da ira dos mercados.
Mas a Europa deixou-se amarrar pela necessidade dos mercados, recorrendo a dívida e mais dívida para manter status quo. Algum dia os investidores iriam perceber que tudo isto era insustentável, e ninguém quis ver quais seriam as consequências quando a debandada começasse.
Agora corre-se contra a prejuízo, mas quanto mais se corre, mais o desastre se aproxima, uma espécie de corrida desesperada a fugir da ira dos investidores mas em direção ao penhasco.
Deixamos aqui alguns epifenómenos que podem espoletar o princípio do fim:
. Banco constitucional alemão chumbar ESM;
. Parlamento alemão chumbar próxima ajuda;
. Cimeira europeia suspende pagamento da troika à Grécia;
. Agências de rating baixarem a Alemanha de AAA para AA;
. Incumprimento no pagamento de obrigações por parte da Grécia;
. Crash de Verão nas bolsas;
. Falência de um grande banco europeu, americano ou inglês;
. Golpe de Estado na Grécia, Espanha ou Alemanha;
. Ira dos mercados para com a França e o seu setor bancário
etc
Infelizmente, começam-se a por na fila muitos epifenómenos que podem dar início à derrocada. Quantos mais forem, maior a probabilidade da ocorrência de algum, e menor a capacidade dos políticos em gerir o delay and pray.
Tiago Mestre
4 comentários:
Excelente análise... vai ser um fim de ano assustador! Já para não falar do 2013.
O bicho vai pegar!
Pelo menos a coisa que se faça ao pouco. Para dar tempo para absorver as ondas de choque. 1º a saída da Grécia e para o ano se vê a Ibéria...
Calma calma, já está tudo resolvido, acabaram de descobrir a solução para todos os males da europa:
"As declarações do membro do Banco Central Europeu (BCE), Ewald Nowotny, trouxeram algum ânimo ao mercado, já que este responsável reconheceu o mérito dos argumentos a favor de atribuir uma licença bancária ao mecanismo permanente de estabilidade europeia, algo a que o BCE se tem mostrado avesso.
Esta licença bancária ao fundo de resgate europeu permitiria ao fundo depositar as obrigações compradas como garantia perante o BCE, o que daria capacidade ilimitada ao fundo para comprar dívida de países com problemas."
Et voilá, tudo resolvido :) se o BCE não faz, arranja-se outro que o faça.
Hummm... pois, se calhar não resolve, cheira-me a inflação...
http://economico.sapo.pt/noticias/juros-espanhois-aliviam-pela-primeira-vez-em-dez-dias_149100.html
É por isso que a Alemanha torce o nariz a essa carta branca que querem dar ao ESM.
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