14 de julho de 2012

Profissão de enfermeiro... (parte 2)


Decidi escrever este comentário num novo post em resposta aos comentários publicados no anterior: Profissão de enfermeiro fica sujeita à lei da oferta e da procura 

Caro anónimo,
Se há instituições de saúde a exigir 90 horas aos seus funcionários quando deveriam ser apenas 40, denunciem. Se tal fosse efetivado, mais enfermeiros seriam necessários para efetuar o mesmo serviço. Teriam a lei da oferta e da procura a vosso favor. Mas se transigem e se deixam levar pelo medo de perder o posto de trabalho (que eu percebo isso muito bem nos dias que correm), haverá um preço a pagar mais cedo ou mais tarde. Por favor, sejam coerentes nas ideias e nos atos, e não se queixem da situação.


Sobre a ARSLVT aceitar preços de 10€ quando a empresa paga 4,95€ aos enfermeiros:

Presumo, porque não sei, que a estes 4,95€ é preciso adicionar 23,75% de TSU, 11% de SS, 12% de IRS.
Sendo uma empresa, e não um vão de escada, necessita de arrendar imóvel. Tendo a ISO9000, precisa de diretor de qualidade. Por cada grupo de enfermeiros são necessários diretores operacionais que supervisionam a ação dos seus funcionários nas várias instituições de saúde por onde estão espalhados. 1 diretor remunera-se de forma superior aos funcionários produtivos, precisa de carro e outros meios para visitar as instituições, falar com os seus enfermeiros, perceber os seus problemas e falar com o cliente para resolver pendentes e novas sugestões.
É necessário pessoal administrativo para gerir faturas, pagar salários, gerir compras e controlar a empresa nos seus processos administrativos. É preciso serviços de consultoria, e que não são nada baratos, para verificar contratos, legalidade, cláusulas, etc.

A gerência/administração também terá que ser remunerada pelas responsabilidades operacionais e estratégicas da empresa. Remuneram-se acima dos diretores.

Tendo a empresa dívidas e créditos, o que é comum, é necessário amortizar capital e pagar juros.

Sendo os enfermeiros quadros da empresa privada e não a recibos, é necessário garantir que estes recebam 14 meses de salário e produzam 11 meses para ter 1 mês de férias aprox. Torna-se necessário incluir no preço final ao cliente o 12º mês de férias do pessoal, o pagamento a outros profissionais para cobrir férias e incorporar os 2 subsídios que são de lei, tanto quanto ainda julgo saber.
Paralelamente, a empresa deve assegurar um fundo que garanta os pagamentos de indemnizações em caso de despedimento (isto quase ninguém faz) porque como custa dinheiro, ninguém quer incorporar este acréscimo no preço final ou retirar dos lucros da empresa.

Caso os clientes se atrasem a pagar (que é o costume), é preciso avançar com o dinheiro para pagar salários. Não podendo os sócios entrar com a totalidade do capital para esta rúbrica, torna-se necessário obter financiamento (dívida flutuante), recorrendo-se às contas caucionadas que, pela sua natureza financeira, cobram juros bem acima das dívidas estruturadas com maturidades mais elevadas. Toca de elevar mais uns cêntimos no preço final. Em toda e qualquer fatura passada ao cliente, é preciso sobrecarregar com 23% de IVA o valor final. Caso a empresa compre pouca coisa e tenha todos os funcionários como contratados, pouco ou nada conseguirá ir buscar ao IVA das compras. Ou seja:
IVA deduzido (que a empresa pode ir buscar) = ao IVA das vendas - o IVA das compras.

Caso a empresa tenha lucro no final do ano, e oxalá que sim, esse não deve ser inferior a 5% das receitas totais por questões de sustentabilidade da empresa (isso ficaria para outro post). Se faturar um milhão €, teria lucro de 50.000€. Terá que pagar ao Estado 25 a 30% deste valor em IRC mais a derrama municipal. Caso os sócios/acionistas queiram retirar dividendos, têm que pagar 25% desse valor em IRS (já nem sei bem quanto é porque está sempre a mudar)

E às vezes ainda é preciso satisfazer caprichos e devaneios da administração (corrupção, gastos sumptuosos), ineficiências da direção (falta de liderança e de gestão) e falta de produtividade dos produtivos (desmotivação, faltas ao trabalho, esquivam-se ao que é chato), resultando em perdas operacionais e de rentabilidade que, a se generalizarem, somos todos nós que pagamos porque compramos um serviço de saúde mais caro do que aquele que poderia ser.

Tudo somado, termos um trabalhador a ganhar 4,95% e a empresa a vender a 10€ não me parece ato de proxenetismo, mas sim das condições reais que temos no país. Não é uma questão de concordar ou não concordar com o nosso leitor enfermeiro. É a radiografia do que é o país, e essa é que manda para toda e qualquer extração de opinião.

Por experiência própria vos digo que na minha empresa os trabalhadores produtivos ganham à hora por volta dos 4,75€. No fundo depois ganham mais porque recebem mais 2 meses e vão de férias 1. Pela natureza do trabalho em si não costumam faturar mais do que 5 horas diárias.
Por tudo isto vendo o valor hora desse mesmo serviço entre os 25 e 27€/hora ao cliente. 5 vezes mais!!
E na empresa está tudo contado ao milímetro. O teto dos salários não excede os 1100€ líquidos. Carros da gerência e direção, 1 está pago os outros quase. Nenhum custou mais de 20.000€.
Tudo decisões minhas e do meu sócio porque prezamos a sustentabilidade da empresa e queremos salvaguardar o seu futuro.
Mas perdemos diariamente clientes porque aparecem sempre chicos-espertos a vender serviços de 17€/hora. O cliente não está preocupado se aquele valor é sustentável. É mais barato e pronto. Até ao dia em que se chateiam, ou vai à falência, ou o técnico magoou-se e foi para o "estaleiro" e a empresa não tem mais ninguém para o substituir. Mais cedo ou mais tarde, o cliente volta-nos a pedir, mas tem que aceitar as nossa condições de preço. A tradição diz-nos isto. Até ver tem corrido bem, apesar de que a economia interna está mesmo a bater mal e o futuro é uma grande incógnita.

É preciso compreender os custos de contexto, os riscos enormes que se correm e de tudo quanto é preciso numa empresa a operar em Portugal para que ela entregue um serviço ou produto ao cliente.
Oxalá que para eu ter 10% de lucro na empresa não tivesse que subir o preço final do serviço 4 ou 5 vezes face ao custo da respetiva mão de obra, mas os custos de contexto são os que temos e não aqueles que gostaríamos de ter. Muitos fogem aos custos de contexto prevaricando: exigem mais aos trabalhadores sem remunerar, não pagam ao Estado, não entregam a TSU, o IRS, o IVA e ficam com ela, Compram carros e bens incompatíveis com os rendimentos da empresa, etc, etc. A lista é tão grande.

Quando eu escrevo aqui no Contas que é preciso baixar a despesa pública e a receita, através da diminuição dos impostos, não superando os 30% do PIB, não é porque me apetece. É porque reconheço que o que temos é totalmente insustentável. Não obstante reconheço que essa transição será de tal forma dolorosa para a sociedade, sobretudo para aqueles que dependem do Estado, que duvido da sua eficaz implementação.

Espero que com este pequeno exemplo pessoal o nosso leitor enfermeiro reconsidere a sua opinião, e aceite humildemente que as ideias expressas nos posts que escrevo derivam de alguma experiência no terreno e na paixão de querer compreender o que somos enquanto povo e como isso se reflete no quotidiano da nossa economia e da nossa sociedade. Não me levará certamente a mal este reparo.

E por favor, não se deixe influenciar pelas notícias que vêm a público do ordenado do Catroga e de outros ex-ministros, e das corrupções para aqui e para acolá que nos levam os milhões.
Oxalá que não fosse assim e fosse de outra maneira, mas é o que temos, e devemos, tanto quanto possível, dar as condições à opinião pública para que saiba refletir serenamente sobre estes casos e evitar que se repitam no futuro. Não estou certo que isso possa acontecer, mas pelo menos tentamos. Só a justiça tem a capacidade de decidir judicialmente sobre atos passados. Nós, cidadãos anónimos, por muito que barafustemos, pouco influenciamos a decisão dos juízes, a não ser que a opinião pública martele forte e feio. Mas até nisso há perversidade, porque o juiz deve aplicar a lei com o mínimo de ruído, mas enfim.


Quanto muito, podemos tentar influenciar o futuro, percebendo a sociedade, a nossa história e escrutinando o presente, mas não muito mais do que isso.

Tudo dependerá da nossa formação moral e ética que nos impele, como cidadãos de corpo inteiro, na tomada de decisão do dia-a-dia.
Se algum dia estivermos na cadeira do poder, aí é que veremos se transigimos ou se intransigimos, e perceberemos melhor as dificuldades dos políticos que agora lá estão.
Se dizemos NÃO por convicção quando todos à nossa volta nos pedem SIM ou se promulgamos leis que beneficiam o país mas que sabemos que irão prejudicar amigos ou às vezes até família.; É nesses momentos raros que vemos a fibra de que somos feitos.
Isto já foi um à parte, claro.

Tiago Mestre

16 comentários:

Filipe Silva disse...

Excelente Post.

O que dizes é a realidade, maioria das pessoas não tem noção do que o Estado cobra para que se crie emprego e riqueza para o País.

As pessoas só vêm quanto pagam pelo serviço e quanto recebe a mão de obra, o resto é irrelevante
E depois saí asneira, isto é, ficasse com uma noção da realidade errada, este aspecto é aproveitado pela esquerda para vender o seu peixe, peixe estragado é verdade.

O desemprego existe não só pelos elevados salários cobrados em Portugal para a sua produtividade, mas com enorme responsabilidade por parte do Estado, com a sua burocracia e pelos impostos que cobra à economia privada, e os impostos continuam a aumentar, mudam lhes o nome e siga o confisco.

A grande vantagem da crise, é a percepção que vivemos numa sociedade socialista (apesar de todos dizerem que não), e que o Estado come tudo o que houver via impostos.
E perceber que apesar de muito alarido na Tv não existem liberais em Portugal, que tudo é esquerda

Anónimo disse...

Agradeço a resposta brilhantemente fundamentada. No entanto, considero que não deveriam haver intermediários na contratualização. Penso que as empresas e empreendedores no contexto actual devem se dirigir para o sector primário e secundário, essencialmente, procurando não viver à sombra do Estado Socialista. Milhares de empresas privadas vivem à custa desse Estado, assim como, muitos dos funcionários públicos (como argumentam). São actividades sem valor acrescentado. Vender recursos humanos... que parasitismo. Produzam alguma "coisa" que gere riqueza. Os departamentos de RH das empresas e Administração Pública é que deviam funcionar melhor, pura e simplesmente. Este facilitismo de desorçamentação é que dá muito jeito para "enganar" as contas úblicas... por isso mesmo optou-se pela contratação de serviços a empresas privadas. Pensam os Administradores Públicos que controlam assim os custos... a curto médio prazo sem dúvida, mas a longo prazo esses custos irão disparar. Vê-se bem o que deu e está a dar (e vai dar) as PPP's.

Anónimo disse...

Allyson Pollok mostra as consequências das «privatizações» no NHS...

E «nós não temos a Europa a respirar no nosso pescoço»

«É uma altura muito difícil no Reino Unido. Assistimos nos últimos 20 anos a um aumento das privatizações no NHS e se este Governo tiver sucesso no prosseguimento da legislação veremos o desmoronar do sistema de Saúde», salientou Allyson Pollok.

O financiamento privado está a provocar o «desmoronamento» do NHS. Falta de transparência, riscos não avaliados, perda de controlo dos gastos e dívidas que irão empenhar as gerações futuras foram as conclusões trazidas do Reino Unido por Allyson Pollock para servir de exemplo a Portugal.

Allyson Pollock, médica de formação e professora de Investigação de Saúde Pública e Política, no Queen Mary, University of London, veio a Portugal, convidada pela Associação Portuguesa de Economia da Saúde para contar a experiência do Reino Unido em relação à iniciativa de financiamento privado (PFI — private finance initiative) e explicar o que pode acontecer se o nosso país enveredar por essa opção.

E não foi uma boa experiência a que trouxe esta expert em PPP, autora de vários livros sobre o NHS (o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido), também professora de Política de Saúde Pública Internacional na University of Edinburgh e ex-directora de investigação e desenvolvimento nos hospitais do NHS Trust.

«É uma altura muito difícil no Reino Unido. Assistimos nos últimos 20 anos a um aumento das privatizações no NHS e se este governo tiver sucesso no prosseguimento da legislação veremos o desmoronar do sistema de Saúde», salientou. Recorde-se que o governo britânico está agora a renegociar a legislação devido às críticas de associações de médicos e doentes contra a entrega da gestão de serviços de saúde a consórcios, aumentando os receios de privatização do sistema.

«É muito importante que Portugal olhe para o que está a acontecer, até porque nós não temos a Europa a respirar no nosso pescoço», avisou, lembrando que esta «ideologia de privatizar, ventos que vêm dos Estados Unidos, além de estar a acontecer no Reino Unido está a afectar a Europa e, recentemente, até África».

Segundo a especialista em Saúde Pública, «é preciso, como cidadãos, olhar para trás e pensar qual a evidência de que o resultado é bom e se é mesmo uma alternativa ao sistema público».

Na sua opinião, estes 20 anos demonstraram que não.

Governos reduzidos «ao papel de cobradores de impostos»

As PFI têm «reduzido os governos ao papel de cobradores de impostos e o sector privado está agora a engordar e a decidir quais os serviços de um hospital e como devem funcionar», salientou, evidenciando o segredo comercial dos contratos como «o maior problema de todos». Nos contratos de parcerias público-privadas «não se conhecem os detalhes, o dinheiro envolvido, e, na maioria dos casos, são mesmo confidenciais». Para a investigadora, este é um «processo repleto de falta de transparência pública, o primeiro dever de qualquer governo».

O que tentam esconder esses contratos é a grande questão. De acordo com Allyson Pollock, a realidade é que as PFI «não são investimentos, mas sim dívidas públicas, uma forma de o Governo esconder a fragilidade do Estado, que fica com dívidas diluídas no tempo». «Se não estão convencidos», sublinhou, sacando dos dados, «números mais recentes revelam que em 2010 foram assinados 749 contratos no Reino Unido, num valor de 48,4 biliões de libras (aproximadamente 592 milhões de dólares)». E, tendo em conta que no NHS os hospitais nunca tiveram dívidas antes, este «é um valor abismal com enormes implicações».

Anónimo disse...

A mudança de paradigma aconteceu em 1991, recordou, quando foram criados os NHS Trusts (corporações), que ficaram responsáveis por gerar rendimentos através da competição. Este esquema, referiu, «levou a que o Governo começasse a contratar com os privados pelos serviços clínicos e não só pela construção, com taxas altíssimas e contratos muito longos».
Segundo a especialista, os impostos e taxas de juro têm custos muito elevados e, necessariamente, «impacte na sustentabilidade, uma vez que os gestores têm de pagar as suas dívidas através dos orçamentos que supostamente seriam para cuidados aos doentes».
Como exemplo, referiu que o hospital onde trabalhou durante 10 anos começou com um contrato de 60 milhões de libras e terminou com um custo de 450 milhões. O resultado, disse, espelha-se em «administradores hospitalares pressionados para reduzir serviços, fechar hospitais, reduzir o número de camas, cancelar serviços e cortes no pessoal».
Por agora, observou, «o Governo ainda está a conseguir injectar dinheiro para tornar estes investimentos sustentáveis, no entanto, em tempos de austeridade, o problema torna-se maior, pois os governos não podem gastar».
«A situação ainda vai piorar»
Para Allyson Pollock, se as PFI têm sido um problema «a situação ainda vai piorar», pois os contratos de parcerias público-privadas estão presos a uma taxa de indexação que em Inglaterra, neste momento, rondam os 4 ou 5%.
Feitas as contas, o argumento a favor das PFI, um value for money, ou seja, o risco ser transferido do público para o privado que tem mais capacidade de gestão, caiu por terra. Segundo a investigadora, ao que «temos vindo a assistir é que os riscos ou são mantidos ou sofrem mesmo uma inversão quando os contratos são renegociados, porque os contratos a 30 anos têm vindo a ser estendidos para os 60 anos», sublinhou, lembrando que, ironicamente, «a maioria dos envolvidos estará morta quando estes contratos chegarem ao fim».
Renovando o desejo de que «alguma coisa tem de ser feita» para mudar a situação, Allyson Pollock advertiu que «os bancos estão a equilibrar as suas contas com o NHS» devido aos grandes dividendos, e que «até os conservadores consideraram as PFI “uma inaceitável face do capitalismo”».
«Portugal deve aprender a reavaliar os contratos»
O nosso país «pode cair na mesma situação» em que o Reino Unido mergulhou e, como tal, aconselhou Allyson Pollock, Portugal «deve aprender a reavaliar os contratos, saber quem está envolvido, o que está a acontecer, realizar auditorias, saber quais os retornos e riscos». Segundo a autora dos livros NHS plc — The Privatisation of Our Health Care e co-autora do The New NHS: A Guide, «as implicações políticas são muito sérias: falta de transparência a todos os níveis, perda do controlo dos gastos, implicações democráticas a longo prazo com dívidas financeiras que irão empenhar as gerações futuras».

Anónimo disse...

"Por favor, sejam coerentes nas ideias e nos atos, e não se queixem da situação."

(...)no tempo da escravatura o amo também achava que era de seu direito a ser mais humano que o escravo.Isso mudou. Ora se o escravo aprendesse a viver com isso ... hoje não era um "Homem livre".

Anónimo disse...

Michael Porter, Professor da Harvard Business School, disse: "... reduzir salários dos médicos e enfermeiros não cria valor. Estes profissionais devem ser bem pagos."

Anónimo disse...

Na minha opinião (DE), qual o valor mínimo/hora para a prestação de serviços de Enfermagem?
A propósito do um valor mínimo aceitável (a servir de referência) para a prestação de serviços, tem sido aventado o valor/hora correspondente da "base" (pressupõe que seja o primeiro "nível"/índice) da carreira de Enfermagem - o que me parece manifestamente injusto!
Em primeiro, como todos sabemos, padecemos de uma retribuição salarial (a tal constante na respectiva carreira) muito pouco razoável (e discriminatória comparativamente a outras classes licenciadas)! Em segundo, estabelecendo um cenário hipotético: considerando o mesmo valor/hora (hipoteticamente, 8 euros), o Enfermeiro com vínculo (direito a férias, subsídios, compensações, etc), aferirá - sempre! - um rendimento global superior!
Nesta matéria concordo com absoluto com o Sindicato dos Enfermeiros:
"Para não faltar nada no cenário, um sindicato veio fazer o preço dos 11€ x 7 = 77€ x 5 dias = 385 €/ semana x 4 semanas = 1540€. Curiosidade; o dito sindicato da suspeita acha, finalmente, este valor/hora justo. Nós também.
Até que enfim; leram o DL 34/90, artigo 3º, o qual determina como salário de entrada dos licenciados em Enfermagem 1520€/mês, desde há 22 anos!!!"
11 euros/hora - concordo; uma compensação um pouco mais coerente e compatível com as qualificações, diferenciação e responsabilidades de um Enfermeiro! (se pensarmos que nos dias de hoje qualquer trabalhador indeferenciado aufere entre 7 a 10 euros...)
Não esquecer que relativamente aos Enfermeiros (e profissionais em geral) com vínculo, o Estado tem um encargo total, em média e a grosso modo, contabilizável como dobro do valor/hora desse Enfermeiro...
Daqui em diante, se se continuar a recorrer ao outsourcing (esperemos que para necessidades não permanentes), que vai ter de "esmagar" a respectiva margem serão as empresas e não os Enfermeiros (as ditas empresas mantinham, inflexivelmente, o seu lucro). Basta isto, para que a selecção natural dê continuidade à sua obra (sempre inacabada)...
__________________________________
Nota: fórmula para cálculo de valores/hora= 12 x vencimento/52 x (carga horária semanal).
Fonte: http://doutorenfermeiro.blogspot.pt

Anónimo disse...

Consultas s.f.f.:
http://2.bp.blogspot.com/-aIqNgJr1PrE/T_YrCWM6JEI/AAAAAAAAGHE/pvma1xRNseo/s1600/599864_10151014876903617_268745849_n.jpg

Anónimo disse...

«O comentador Miguel Sousa Tavares repudiou, em directo, na SIC a retribuição económica dos Enfermeiros, num processo que classificou como "indigno" e "revoltante".
Realçou também o facto do Estado, ao pagar "salários de miséria" aos Enfermeiros não está a "poupar" nem "a defender o interesse público", uma vez que a "maior parte do bolo vai para os intermediários".»

Anónimo disse...

Gostaria que publicitassem, sff:
http://videos.sapo.pt/kzZH4Ua8qCjuDPNQkL9a

"O PARLAMENTO É O CENTRO DA CORRUPÇÃO EM PORTUGAL"
Entrevista de Paulo Morais, ex-vice-presidente da Câmara Municipal do Porto.

Já o disse em vários comentários aos seus digníssimos "post's", mas esta entrevista denuncia com conhecimento de causa para onde vão os nossos milhões. Não são só os trabalhadores/funcionários públicos que geram ineficiência e que são improdutivos. A despesa pública (em milhares de milhões) é e foi autorizada por alguém!... agora vamos ter de pagar.

Anónimo disse...

CBC: For Past 30 Years Most Economic Gains Have Gone to Top One Percent:
"Over the past 30 years, the benefits of economic growth in Canada, the US and much of the rest of the world, have gone increasingly to the top one percent of the population. For the majority of families, however, incomes have stagnated. This rise in inequality coincided with a sea change in government policy. Beginning in the 1980s, governments in much of the English-speaking world embarked on what has been called the neoliberal revolution - deregulation, privatization and tax cuts, aimed at liberating markets and stimulating the economy. The rising tide was supposed to lift all boats, but it didn't. Jill Eisen explores what happened."
http://jessescrossroadscafe.blogspot.pt/

Tiago Mestre disse...

Caro anónimo,

acerca de os empresários se dedicarem mais ao setor primário e secundário e evitarem o encosto ao setor público:
Não poderia estar mais de acordo, mas para isso o Estado tem que querer ter recursos próprios, e não ter a tentação de sub-contratar tudo e mais alguma coisa (que é o costume). Os empresários foram na boleia, claro!

Sobre a privatização do SNS:
não tenho opinião formada sobre se certos serviços se devem privatizar ou não. Sei que as privatizações que têm ocorrido nos últimos 25 anos em Portugal metem-me nojo. E porquê? Porque na realidade é para tapar buracos orçamentais, para encurtar défices. E como o estado parte em desvantagem negocial, porque quer vender para sacar o guito, concede privilégios aos privados. Os empresários apanham a boleia.
Alegar-se que serve uma agenda ideológica não será atribuir demasia credibilidade à classe política desta democracia? Se navegarem à vista já não é nada mau, para não dizer que vivem dia após dia, totalmente sem rumo.

Não gosto de discutir méritos e defeitos de privatizações, público vs privado, quando o modus operandi de tudo isto é um manual de como NÃO se devem fazer negócios.

Filipe Silva disse...

Interessante que falam sempre do neo-liberalismo, na redução da regulamentação,etc... sempre que uma bolha esvazia.

A realidade é que este é o resultado do socialismo, não foi na URSS que no final, um pequeno punhado de gente tinha tudo e a quase totalidade não tinha nada?

A acumulação de riqueza por parte de 1% da população é devido à acção do estado,
Principalmente À forma como o sistema financeiro foi criado com interesse dos politicos e dos banqueiros em mente.

A realidade é que o livre mercado a nível mundial cada vez mais tem vindo a ser diminuído desde o final da segunda guerra mundial.

A época da historia onde existiu mais desenvolvimento foi o século XIX quando o mercado livre foi o mais livre da história.

Em relação aos enfermeiros, médicos e companhia é uma vergonha a parcialidade como são tratadas estas profissões pelos media, ou não fossem previligiadas em relação às outras profissões.

Actualmente a maioria das profissões são altamente especializadas, estes gostam de dizer que são especiais, mas são uns meros técnicos, um politico, ou um economista (krugman comes to mind) degraça muito mais vidas do que um mau médico alguma vez conseguirá.

Anónimo disse...

Ainda não percebi esta trapalhada toda... Se não querem aceitar os valores que pagam, é simples trabalhem noutra área. Ninguém é obrigado a assinar contratos que não quer...

Mudem de profissão que foi o que milhares de portugueses (arquitetos, engenheiros, professores, sociólogos, psicólogos, etc) fizeram nestes últimos anos....Não têm mãos?? arregacem as mangas e força..

Não vejo esta preocupação com as outras áreas de emprego... porquê tanto alarido?? interesses?? lobbys???

Preocupem-se mas é o com que importa.

Há tanta miséria por aí, casos dramáticos (fome, muita e escondida)...

Anónimo disse...

Bem eu sou o enfermeiro anónimo...

Este post é uma resposta a vários comentários...

Em primeiro os enfermeiros não São mais especiais que outro grupo profissional qualquer...apenas exigem dignidade...apesar de achar justo o valor de 1500 euros que li atras mas sabendo que há pessoas a passar fome e que não se pode dar aquilo que não se têm (dinheiro, pois o sistema está falido pela estupidez perpetuada de vários anos) pedir isso e estupidez...mas também Nao exagerem e ofereçam 4 euros... Acho ridículo atribuir este valor a um médico, enfermeiro, engenheiro, etc...trabalhar por esse dinheiro e a recibo verde nem para sobreviver dá( há que descontar a retenção na fonte e a segurança social no mínimo, isto se Nao for necessário a contabilidade organizada)

Em relação ao não fazer nada...trabalhei num local onde reduziram ao pessoal. Após verificar que isso trazia prejuízo para os utentes e para os profissionais...apresentamos primeiro estudos científicos publicados internacionais que referem dotações seguras para cada turno...mas reparamos que as direcções e chefias gozam de uma arrogância...pelo que argumentos fundamentados na evidência de pouco importa. Após isso começamos a cada turno participar de forma formal...e após dezenas de participações lá fomos avaliados psicologicamente para determinar situações de burnout e avaliaram também situações de risco...e tínhamos razão...a direcção foi notificada e aconteceu uma mão cheia de nada...estamos em Portugal e como este caso há muitos...por isso Nao acause de nada fazer infelizmente de pouco serve fazer muito neste canto do mundo.

Aprecio o seu blog apesar de Nao concordar com tudo...e Nao tenho a minha opinião deformada pelas notícias e comentadores tipo Miguel Sousa Tavares e afins dos noticiários...neste momento discutir onde está o dinheiro e quem i roubou, apesar de importante, apenas nos rouba energia para resolver o problema e sinceramente acredito que não temos justiça para condenar esse pessoal pelo que seria uma imensa perda de tempo...

Em resposta aos comentários de mudar de actividade...sou enfermeiro, gosto do que faço e faço-o com competência...por isso prefiro mudar de país se possível...a troika "dá" dinheiro mas Nao capacita os portugueses de praticar democracia participativa...sem uma tomada de consciência da população Nao saímos deste buraco...e infelizmente perdi a uns meses a esperança nisso.

Em relação a solução para este país (não sou economista e por isso posso estar a propor a maior estupidez, mas é a minha opinião)...Nao se pode gastar o que não se têm...por isso com o que se têm há que haver escolhas! Nao se pode simplesmente ter tudo...saude, estradas, subsídios, estádios e por aí além...por isso como país e de forma participativa(aqui Nao.sei.como) teria de haver um compromisso sobre o que queremos para nós e do nosso estado...sabendo que os recursos São finitos...

Desculpem o post enorme

Desde já obrigado pela vossa dedicação em manter quem vos visita informado

Tiago Mestre disse...

Caro enfermeiro, a tua atitude de mostrar às chefias que a fadiga influencia a prestação do serviço é sempre de louvar.

Mas como tenho alertado aqui no Blog, dificilmente convencemos o próximo por meio de exposições analíticas e racionais, é por isso que o desafio do Contas é tão difícil.

Para convencer qualquer português de um ideal que ele discorda, é preciso defendê-lo com bons argumentos, que resulte na prática e tenha evidências, sem aviltar as convicções do visado e oferecer muito carinho e amor.

Num país onde impera o sentimento fácil, a emoção à flor da pele e a desconfiança endémica, estudos científicos internacionais e credíveis pouco influenciam a gestão.

É por isso que o recurso à greve acaba por ser um expediente recorrente. Como ninguém cede, se não vai a bem, vai a mal.

Seria preferível que as chefias colocassem a mão na consciência e percebessem que estão a abusar da sorte dos seus funcionários, mas depende do perfil de cada chefe e da sua "vassalagem" perante as suas próprias chefias.

Muita gente não concorda com as regras que lhe são impostas, mas poucos se demitem.
Vamos indo, deixa andar, amanhã será diferente, etc, etc.