Caros leitores e leitoras, com todas as pressões que se estão a acumular pelo mundo inteiro de que o sistema está na iminência de falhar e que poderemos ter um desastre sistémico mundial, as vozes dos apologistas das impressoras de dinheiro começam a fazer-se a ouvir com cada vez mais intensidade.
Cremos aqui no Contas que o ser humano, neste tipo de encruzilhada, se deixará levar pelo peso das circunstâncias e colocará os princípios e a ética bem guardados no guarda-fatos. A 7 de Outubro já tínhamos escrito que as coisas encaminham-se para uma impressão massiva de moeda, tanto pelos países ocidentais como pelos emergentes, já que estes não vêm outra alternativa senão continuar a acompanhar a desvalorização do dólar.
É que à medida que as dívidas soberanas forem colapsando, bancos e instituições financeiras falirem em catadupa e os mercados de acções verem dias negros sucessivos, a tentação dos políticos em aplicar a "bomba atómica" será cada vez maior. É verdade que nos últimos 4 anos já muito dinheiro se imprimiu para resgatar variadíssimas instituições, mas os problemas apenas se adiaram e nada ficou resolvido. Não havendo outra solução no horizonte, iremos continuar a utilizar a mesma, que não é solução nenhuma. Cremos que os políticos ainda acreditam que há muitos países que podem importar alguma da inflação que está a ser provocada nos EUA e na Europa e portanto imprimir mais alguns biliões não fará muita mossa interna.
Esta tem sido a política dos bancos centrais ocidentais porque a globalização lhes permite esta "exportação" de moeda para outros países, e enquanto a globalização os acomodar nesta viagem e a inflação não atacar fortemente os seus próprios países, continua-se a fazer asneira.
Assistimos na imprensa em geral a uma "demonização" do capitalismo e da sua falta de regulação, mas estamos em crer que o problema está a ser visto pela perspectiva errada. Quem está a deixar o capitalismo muito mal é o socialismo praticado por políticos que se apoiam em teorias económicas "keynesianas". Então vejamos:
Quem é que permitiu que governos criassem défices sistematicamente ano após ano? A classe política.
Quem é que promoveu planos de acção social, como subsídios, apoios a desfavorecidos e outros sem ter as receitas suficientes da economia privada? A classe política.
Quem criou esquemas de remuneração de reformas que não podem ser financiadas com os descontos que todos nós fazemos obrigatoriamente? A classe política.
Quem é que se apoiou em endividamento para financiar todas estas extravagâncias? A classe política.
Quem é que ajudou a que os bancos se tornassem instituições de vital importância para os Estados soberanos, tornando-os profundamente dependentes? A classe política.
Quem é que permitiu aos banqueiros jogar com os políticos como se estes fossem meros pedintes? A classe política.
Quem é que baixou as taxas de juro dos bancos centrais para "estimular" a economia? A classe política.
Quem é que emprestou dinheiro sem critério a bancos, tornando-os entidades gigantescas? A classe política.
Quem permitiu que os bancos de investimento se fundissem com os bancos de retalho onde as pessoas guardam os seus depósitos? A classe política.
Quem promoveu políticas para que se emprestasse dinheiro a pessoas sem condições de o pagar? A classe política.
Quem permitiu que se abrisse o comércio a países que tinham condições laborais totalmente dispares das praticadas no mundo ocidental, não salvaguardando que as regras do jogo fossem iguais para todos? A classe política.
Quem criou as condições para que os investidores se deslocalizassem de países com custos laborais mais caros para outros mais baratos? A classe política.
Quem é que resgatou as instituições financeiras quando estas estavam falidas? A classe política.
Quem é responsável por deixar os lucros no privado e socializar os prejuízos quando os alguns privados se vêm em apuros? A classe política.
Quem tem o poder de imprimir dinheiro e financiar quem bem lhe apetece, às custas dos contribuintes? A classe política.
Quem permite que as off-shore e os paraísos fiscais se mantenham no activo, violando as regras do jogo capitalista? A classe política.
A lista continua...
Se o capitalismo for interrompido no ocidente, arrastando as democracias com ele, o seu carrasco terá sido o pior dos socialismos, o falso socialismo que julga que o Estado sabe conduzir melhor o destino dos dinheiros amealhados pelos que empreendem, que investem, que arriscam e que geram riqueza, entregando-os a quem julgam que não sabe trabalhar e que não sabe gerar riqueza.
No fim das contas teremos os contribuintes a odiar fazer descontos para o estado e os beneficiários a adorar viver do estado sem se preocupar com horários e responsabilidades. Esta transferência de riqueza é imoral, insustentável e cria as condições para que os ricos escondam todo o seu património para evitar tributação e os pobres exponham toda a sua miséria, sobretudo a falsa, para receber subsídio.
Tiago Mestre
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