Caros leitores e leitoras, a ânsia de salvar a todo o custo o projecto da moeda única teve hoje mais um episódio. Foi a vez do professor Paul de Growe, economista reconhecido e professor de economia da Universidade de Leuven vir defender em público a solução mais do que "evidente" para os problemas da Europa, e já agora, acrescentamos nós, da humanidade em geral: pôr o BCE a imprimir dinheiro, comprar dívida dos países em barda e manipular o mercado tanto quanto puder. A notícia vem na edição online do Diário Económico de hoje, e por ser extensa escusamo-nos a transcrevê-la.
Em síntese, Paul de Growe afirma que se o BCE não actuar, a zona euro morre porque nenhum país consegue suportar o aumento de juros das suas dívidas. Somos levados a concordar com a análise do problema, mas da solução já discordamos, porque a entrada do BCE não é solução nenhuma, apenas adia o inevitável. Não existe na história nenhum país que tenha aplicado a solução de imprimir dinheiro e que tenha resolvido a longo prazo os seus problemas estruturais. E não é por acaso do destino ou por incompetência na aplicação da solução; é porque a solução na sua essência trás mais desvantagens do que vantagens. É verdade que imprimir dinheiro no curto prazo livra-nos do peso de não conseguir obter financiamento para pagar as despesas, mas logo que os mercados tomam conhecimento desta operação, a destruição da credibilidade da moeda entra em acção e toda a gente quererá desfazer-se das suas notas e moedas. Qualquer pessoa quererá trocar as suas notas por bens hoje, em vez de o fazer amanhã, com receio de que o preço do bem suba significativamente.
Estamos longe deste cenário porque a impressão de dinheiro na UE tem sido tímida em comparação com a Reserva Federal dos Estados Unidos, que com a sua política de impressão massiva de moeda desde 2007 tem desvalorizado o dólar a uma velocidade difícil de acompanhar, gerando fenómenos de inflação planetários, como se viu em 2010 e 2011 com o preço do petróleo e de produtos alimentares. Contudo, o mundo ocidental depara-se com níveis de crescimento rastejantes, obrigando à estagnação de salários e por essa via limitando o aumento da inflação. Este fenómeno designa-se por "estagflação", ocorrendo em simultâneo um aumento do preço de bens e matérias primas e uma diminuição dos salários e do rendimento do trabalho.
Imprimir mais dinheiro não resolverá o problema de base que é a decadência das economias do ocidente, apenas adia o incumprimento dos países com dívidas problemáticas. Esta opção não se pode considerar como solução, é tão só tapar o sol com a peneira e não querer atacar os verdadeiros problemas que estão na base das economias ocidentais.
Se há dívidas de alguns países que são insustentáveis, é dever do mercado marcá-las como indesejáveis e torná-las desinteressantes para os investidores. Só assim se pune quem abusou e premeia quem fez o seu trabalho de casa. Portugal abusou muito, para nossa infelicidade, logo terá que entrar em incumprimento com os seus credores, obrigando-os a assumirem o prejuízo. O capitalismo é isso mesmo, uma busca permanente pelo mercado de um equilíbrio entre comprador e vendedor que induza confiança entre as partes.
Tiago Mestre
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